Toda ação educativa produz no sujeito uma transformação para ele e para a sociedade. O ensino, portanto, é uma atividade eminentemente prospectiva que tende provocar mudanças. Mudanças da realidade de cada um em seu meio no qual está inserido. Esta mudança se objetiva através da aprendizagem. Entretanto, se a aprendizagem deixar de acontecer ou se ela for de baixa qualidade, as mudanças não ocorrerem. Logo, a escola deixa de ser um lugar de aprender e de ensinar. Diagnosticar este real da escola configurando quais os obstáculos que vão constituir-se em problemas para a aprendizagem é nosso objetivo. Objetivo este que podemos enunciá-lo em três níveis:
PRIMEIRO: É o sócio-político, porque a ação educativa é subsidiária da realização das políticas educacionais mais amplas.
SEGUNDO: O pedagógico. São os objetivos relacionados diretamente, com a ação pedagógica imediata: a didática e os conteúdos de ensino.
TERCEIRO: O psicopedagógico. Visa especialmente as mudanças em relação ao sujeito que aprende e a maior participação deste sujeito no mundo da cultura.
PALAVRAS CHAVES: Aprendizagem, escola, diagnóstico, ação, transformação e sociedade
O CONTEXTO DO DIAGNÓSTICO
Segundo TRINCA (1984, p1) o termo diagnóstico origina-se do grego diagnósticos e significa discernimento, faculdade de conhecer, de ver através de. Aspectos, características e as relações que compõe um todo que seria o conhecimento do fenômeno, utilizando para isso processos de observações, de avaliações e após procede-se às interpretações que se baseiam em nossas percepções, experiências, informações adquiridas e formas de pensamento.
Portanto pode-se afirmar que é um processo no qual se analisa a situação do aluno com dificuldades dentro do contexto da escola, da sala de aula, da família; ou seja, é uma exploração problemática do aluno frente à produção acadêmica.
Dentro de uma perspectiva psicopedagógica, o trabalho com as famílias pode ser considerado fundamental e indispensável para modificar as atitudes de alguns alunos, mas, mesmo assim, esse trabalho somente se constituirá em uma das partes do diagnóstico, já que ele estará centralizado, principalmente, no conhecimento e na modificação da situação escolar. (BASSEDAS E COL 1996, p25)
Segundo BASSEDAS e col (1996) existem sujeitos e sistemas envolvidos no diagnóstico psicopedagógico. Lançar-se-á um olhar à escola como instituição social, podendo ser considerada de forma ampla, como um sistema aberto que compartilha funções e que se inter-relaciona com outros sistemas que integram todo contexto social.
Os protagonistas da aprendizagem na escola são: o professor, o aluno, a direção da escola, a equipe técnica e a de apoio.
Em nível interno, a escola pode-se tornar uma instituição potenciadora ou, então, pelo contrário, pode ser fonte de conflitos, dependendo de como estejam estruturados e se relacionem os diferentes níveis hierárquicos ou subsistemas, como a equipe dirigente, a administração entre outros.Observamos enquanto psicopedagogas em nossa prática que o diagnóstico da aprendizagem escolar se situa num espaço e num tempo.
.ESPAÇO:
a) Para que o psicopedagogo possa viabilizar sua ação que se constitui na criação de um ambiente psicopedagógico, do qual falaremos mais adiante.
b) Lugar espacial onde transcorre a ação educativa que leve o psicopedagogo a aliar a teoria com a prática, diagnosticando o “não aprender”.
TEMPO:
Refere-se a duração das atividades que envolvem a ação psicopedagógica diagnóstica considerando os vários fatores intervenientes: o ano letivo, a situação dos alunos, de como é feito o aproveitamento de suas potencialidades, a complexidade de fatores que envolvem a instituição.
OS FUNDAMENTOS DE UM DIAGNÓSTICO ESCOLAR
Um diagnóstico psicopedagógico pode diferenciar-se de outros diagnósticos escolares de maneira pela qual fundamentamos nossa prática. Esta prática engloba o professor, o aluno e o conhecimento contextualizado na escola, especificamente na sala de aula, lugar onde se constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas tendo como pano de fundo a instituição escolar.
Os fundamentos de um diagnóstico também revelam um tempo, um lugar e um espaço que é dado para aquele que aprende e para aquele que ensina. Historicamente a prática educativa e a prática psicopedagógica são derivadas das distintas teorias de aprendizagens que sustentam as concepções diferentes em relação à tríade: professor, aluno e conhecimento.
É inegável a influência das teorias de aprendizagem e das teorias do conhecimento em relação aos três níveis que vamos enfocar, ou seja, o sócio-político, o pedagógico e o psicopedagógico. Delimitemos, para fins didáticos, especificamente o empirismo e o inatismo, mais as teorias de aprendizagem que decorrem destes campos filosófico, citando algumas como o condutismo e as teorias cognitivas positivistas da aprendizagem.
O empirismo fundamenta-se na idéia de que o conhecimento está unicamente fundado na experiência. Nesta concepção o sujeito cognitivo é comparável a uma folha de papel em branco, aonde vão se escrevendo as impressões procedentes do mundo externo.
Esta concepção admite um sujeito epistêmico considerado como receptáculo, que a principio está vazio e que progressivamente vai sendo “enchido” pelos dados fornecidos da realidade. Logo o processo de diagnostico institucional é de grande valia pois nos indicará parâmetros de como intervir com eficiência nas escolas,sendo salutar observar quais correntes filosóficasinfluenciam nas instituições escolares, bem como embasam as teorias de aprendizagem que ora fundamentam a pratica pedagógica da escola,portanto se faz necessário lançar um olhar a instituição escolar e seus elementos.
Sendo assim trabalhar numa escola faz pressupor que o professor esteja ensinando numa comunidade determinada com as suas características sócias culturais e econômicas particulares. A ação educativa da escola não pode ser desvinculada das funções educativas dos pais dos alunos, e, conseqüentemente, o professor também deve manter contato com eles.
(BASSEDAS E COL 1996 ,p25) O ponto de partida centraliza-se através do movimento: objeto do conhecimento para o sujeito que aprende e para o sujeito que ensina. O aluno aprende a resposta em cada situação. Este está inserido em dois sistemas diferenciado: a escola e a família, sendo de fundamental importância a relação que estabelece com cada sistema e como interrelaciona os dois.
Consideramos o aluno como um sujeito que elabora o seu conhecimento e sua evolução pessoal a partir da atribuição de um sentido próprio e genuíno às situações que vivem e com as quais aprende. Neste processo de crescimento, exerce papel primordial a capacidade de autonomia de reflexão e de interação constante com os outros sujeitos da comunidade. (BASSEDAS E COL 1996,p32)O lugar do professor é o lugar daquele que gerencia o processo da aprendizagem. Sua principal ação é mediar o objeto do conhecimento. O professor tem a responsabilidade de estimular o desenvolvimento de todos os alunos pela aprendizagem de uma série de diversos conteúdos, valores e hábitos. O papel solicitado ao professor na situação de ensino-aprendizagem é o de uma atuação constante, com intervenções para todo o grupo de aula e para cada um dos alunos em particular, visando a observação sistemática do processo de cada aluno durante a aprendizagem, para poder intervir no mesmo com uma ajuda educativa adequada. (BASSEDAS E COL 1996,p29). Mas se faz necessário também entender por níveis os processos educativos e curriculares, os aspectos organizacionais, estruturais e funcionais,assim como todos os elementos envolvidos no processo ensino aprendizagem claro que os elementos fundamentais são os pares educativos que se constituem dos alunos, professores, familiares e profissionais que contribuem e de alguma forma estão ligado com a educação e conseqüentemente com a instituição de ensino.
Desta forma Piaget, através de sua obra, revoluciona as diversas áreas do conhecimento humano. Segundo Piaget (1970 p.20), “o estudo do sujeito epistêmico se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar, etc) constitutivas da lógica, e não ao sujeito individual, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte”.
Por um lado critica as idéias dos empiristas pela pobreza de suas propostas associacionistas, conexistas e por outro valoriza a importância do externo na construção do conhecimento coincidindo com isto com os próprios empiristas.
Para Piaget o conhecimento é construído na interação do sujeito com o objeto em uma relação de interdependência. Tal conjectura leva Piaget a apresentar o sujeito cognoscente como aquele que constrói o conhecimento através de sua ação sobre os objetos, sendo que nesta ação estão contidos os conhecimentos que organizam e nutrem o mundo interno e externo do sujeito que age.
Piaget, apesar de delimitar suas investigações ao campo só do conhecimento, não chegando às aquisições escolares, revoluciona também a aprendizagem. Porque o que ele descobre em relação à construção do conhecimento se pode generalizar para a aprendizagem através do processo mental. Pois são as operações mentais que levam o sujeito a interagir como meio.
Ao mesmo tempo em que sujeito constrói seus instrumentos de pensamentos, constrói também seus objetos de conhecimento, isto é suas representações.
Justificamos aqui, buscarmos a fundamentação do diagnóstico escolar à luz do construtivismo. Acreditamos que o conhecimento se dá num processo de objetivação no qual o sujeito continuamente elabora seus conflitos sobre a realidade que o cerca. Por isso a questão do diagnóstico escolar visto sob este prisma vai diferenciar do diagnóstico tradicional. A diferença vai residir especialmente no processo do aluno, porque à medida que entendemos quais os esquemas mentais que o aluno utiliza para resolver conflitos no aprender vamos também poder explicar as fraturas neste processo. O diagnóstico que pensamos construir é a partir de um sujeito que aprende em interação com o objeto do conhecimento, e que possui uma dramática própria, original, sua. Aqui está o nosso desafio. O diagnóstico escolar tradicional ao contrario oferece segurança, porque praticamente tem receitas corretivas para o que “não aprende”. Colocamo-nos, entretanto, no lugar de quem se pergunta buscando as articulações que justifiquem o não aprender. Nesse sentido, um diagnóstico é sempre uma hipótese diagnóstica.
ASPECTOS GERAIS DE UM DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO À LUZ DE UM SUJEITO QUE CONSTRÓI SUA APRENDIZAGEM
A teoria psicogenética é, portanto um dos referentes teóricos no qual vamos nos aprofundar para o nosso estudo, de técnicas de diagnóstico. A idéia de diagnóstico remetemo-nos ao que significa ensinar e aprender. O diagnóstico deriva da concepção de sujeito que temos: sujeito da aprendizagem e a aprendizagem do sujeito.Desta significação os lugares distintos ocupados pelo professor, pelo aluno, em relação ao conhecimento contextualizado pela escola e sala de aula. O lugar de aprender e o lugar de ensinar dinamizam a prática educativa.Um ponto importante para se perceber este processo de constituição do sujeito se dá através da questão dos limites. Muitas vezes a queixa escolar e a produção da criança gira em torno da dificuldade em aceitar as normas e o formalismo necessário para construir determinados conteúdos acadêmicos. Outras vezes é a dificuldade em aceitar os erros e o esforço que a aprendizagem demanda, ou seja, a aceitação dos próprios limites é que esta em jogo.
Nesta dialética do ensinar e do aprender, qual o lugar do psicopedagogo? Qual sua intervenção? Abordar o problema da circulação do conhecimento? O papel do professor enquanto transmissor do conhecimento? O aluno enquanto sujeito que está em processo de aprendizagem?
O professor é autorizado a ensinar e está no lugar daquele que tem o conhecimento, porém diferenciamos “estar no lugar de” com “ser o conhecimento”. Portanto, o lugar que o professor ocupa em relação ao conhecimento é de mostrar. Mostra um recorte do conhecimento aos alunos, através de uma situação-problema que ele mesmo a construiu para este fim. O professor medializa a ação de aprender, porque ensina. Ensina e aprende.
No momento de ensinar estrutura o que aprende sob a forma de construção de uma situação da qual viabiliza representar o conhecimento que quer transmitir. O eixo principal da questão do diagnóstico sobre o aprender repousa nas dimensões: do aluno, do professor, e dos três níveis inter-relacionados na ação educativa, ou seja Sócio-político, Pedagógico,e
Psicopedagógico. O sócio-político inclui não apenas as políticas educacionais, mas a própria organização da escola como instituição destinada a ensinar ou a produzir fracassos dos alunos conforme sua classe social. O pedagógico refere-se ao processo de ensino: a relação dos conteúdos e a didática. Pensamos que uma didática eficiente possa representar uma ação preventiva de problemas de aprendizagem. Porque a didática preventiva é aquela que lança desafios aos alunos para que avancem a partir do ponto que se encontram, isto é, do conhecimento já construído.
O psicopedagogo prioriza o sujeito que aprende ou que fracassa ajudando-o a situar-se em um lugar que possibilite a aprender. A intervenção psicopedagógica funciona mais como “ser o outro”, ser mais um, ser, enfim, o terceiro dos alunos e esses entre si. O psicopedagogo com o trabalho de ensinar a aprender recorre a critérios de diagnóstico no sentido de compreender a falha ( problemas) na aprendizagem. Nesse sentido, Scoz (1994, p. 22) coloca que: [...] os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade.
Aprender significa incorporar os conhecimentos em um saber pessoal. É isto que o psicopedagogo precisa diagnosticar. Diagnosticar a escola como um lugar onde acontece a aprendizagem, e o nível desta. Se ela é ou só transmissão de conhecimento sistematizado, sem o significado, ou se vincula os conhecimentos com o saber dos alunos, possibilitando assim transformá-los.
Este diagnóstico consiste na busca de um saber para saber-fazer. Através das informações obtidas nesse processo de investigação, o psicopedagogo inicia a construção de seu plano de trabalho. O diagnóstico Psicopedagógico pode ser entendido como uma avaliação clínica, um exame realizado a partir de uma queixa explícita em relação a alguma dificuldade de aprendizagem. A avaliação liga-se ao não aprender, ou só conseguí-lo lentamente com falhas e distorções. Encontra-se envolvido neste processo de diagnóstico a leitura de um sistema complexo, onde se faz presente manifestações conscientes e inconscientes. Interagem aí o pessoal, o familiar atual e o passado, o sociocultural, o educacional, a aprendizagem.
muitas vezes existem dificuldades no ler, escrever, calcular que não interferem na vida do sujeito, só transformando em sintoma em face de uma exigência ambiental.
ao se instrumentalizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente para o significado do sintoma a nível familiar e escolar, e não o veja apenas em um recorte artificial, como uma deficiência do sujeito a ser por ele tratado. É essencial procurarmos o não dito, implícito existente no não aprender. Buscaremos o sentido do sintoma de aprendizagem, para o próprio sujeito.
( Weiss,M.L. citado por SCOZ e col 1990, p.76) Acreditamos numa aprendizagem que possibilita transformar, sair do lugar rígido, construir. É sob este olhar que pretendemos encaminhar o diagnóstico escolar. Voltamo-nos para a Escola porque é para ela que diariamente dirigem-se milhares de crianças. O olhar para a escola implica em termos uma visão integra da: visão de aprendizagem e visão de mundo. Portanto o psicopedagogo institucional á luz da instituição escolar se concretiza através de uma profunda e clara observação das dimensões que envolvem o diagnostico de aprendizagem e que possibilite uma reflexão e conhecimento dos problemas educacionais que estão vinculados a uma série de variáveis tais como: correntes filosóficas, as políticas educacionais governamentais, aspectos morais, culturais e étnicos que influenciam fortemente a pratica da docência, o modelo didático, a relação dos pares educativos. Enquanto psicopedagogo envolvido em um processo diagnóstico está nos colocando em jogo. Neste jogo há presença e ausência de saber. Suportar o desconhecido que em cada um de nós habita, é a alavanca, o motor que vai impulsionar a construção de novos conhecimentos e permear a pratica de intervenção do psicopedagogo na escola. O diagnóstico sob nosso ponto de vista deve ser encarado como busca constante de saber sobre aprender sendo a bússola que norteará a intervenção psicopedagogica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASSEDAS,E. e col, Intervenção Educativa e Diagnostico Psicopedagogico. 3º ed. Porto Alegre, RS: Artes Medicas,1996
.BOSSA,N. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da pratica. Porto Alegre,RS: Artes Medicas,1994.
RUBISTEIN, E. A especificidade do diagnóstico psicopedagógico. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
SCOZ,B;RUBINSTEIN,E;ROSSA,E.;BARONE,L(org).Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre,RS: Artes Medicas,1987.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar, o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1994.
VISCA, J. Clínica psicopedagógica: a Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
_______. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
WEISS, Maria Lúcia. Psicopedagogia Clínica – Uma Visão Diagnóstica. Porto Alegre,RS:Artes Medicas,1992.
Sobre o Autor
Salete Santos Anderle é docente de ensino fundamental, médio e universitário, psicopedagoga clínica e institucional, orientadora e alfabetizadora. Tem interesse em todas áreas relacionadas a saúde, educação e gestão de pessoas.
PRIMEIRO: É o sócio-político, porque a ação educativa é subsidiária da realização das políticas educacionais mais amplas.
SEGUNDO: O pedagógico. São os objetivos relacionados diretamente, com a ação pedagógica imediata: a didática e os conteúdos de ensino.
TERCEIRO: O psicopedagógico. Visa especialmente as mudanças em relação ao sujeito que aprende e a maior participação deste sujeito no mundo da cultura.
PALAVRAS CHAVES: Aprendizagem, escola, diagnóstico, ação, transformação e sociedade
O CONTEXTO DO DIAGNÓSTICO
Segundo TRINCA (1984, p1) o termo diagnóstico origina-se do grego diagnósticos e significa discernimento, faculdade de conhecer, de ver através de. Aspectos, características e as relações que compõe um todo que seria o conhecimento do fenômeno, utilizando para isso processos de observações, de avaliações e após procede-se às interpretações que se baseiam em nossas percepções, experiências, informações adquiridas e formas de pensamento.
Portanto pode-se afirmar que é um processo no qual se analisa a situação do aluno com dificuldades dentro do contexto da escola, da sala de aula, da família; ou seja, é uma exploração problemática do aluno frente à produção acadêmica.
Dentro de uma perspectiva psicopedagógica, o trabalho com as famílias pode ser considerado fundamental e indispensável para modificar as atitudes de alguns alunos, mas, mesmo assim, esse trabalho somente se constituirá em uma das partes do diagnóstico, já que ele estará centralizado, principalmente, no conhecimento e na modificação da situação escolar. (BASSEDAS E COL 1996, p25)
Segundo BASSEDAS e col (1996) existem sujeitos e sistemas envolvidos no diagnóstico psicopedagógico. Lançar-se-á um olhar à escola como instituição social, podendo ser considerada de forma ampla, como um sistema aberto que compartilha funções e que se inter-relaciona com outros sistemas que integram todo contexto social.
Os protagonistas da aprendizagem na escola são: o professor, o aluno, a direção da escola, a equipe técnica e a de apoio.
Em nível interno, a escola pode-se tornar uma instituição potenciadora ou, então, pelo contrário, pode ser fonte de conflitos, dependendo de como estejam estruturados e se relacionem os diferentes níveis hierárquicos ou subsistemas, como a equipe dirigente, a administração entre outros.Observamos enquanto psicopedagogas em nossa prática que o diagnóstico da aprendizagem escolar se situa num espaço e num tempo.
.ESPAÇO:
a) Para que o psicopedagogo possa viabilizar sua ação que se constitui na criação de um ambiente psicopedagógico, do qual falaremos mais adiante.
b) Lugar espacial onde transcorre a ação educativa que leve o psicopedagogo a aliar a teoria com a prática, diagnosticando o “não aprender”.
TEMPO:
Refere-se a duração das atividades que envolvem a ação psicopedagógica diagnóstica considerando os vários fatores intervenientes: o ano letivo, a situação dos alunos, de como é feito o aproveitamento de suas potencialidades, a complexidade de fatores que envolvem a instituição.
OS FUNDAMENTOS DE UM DIAGNÓSTICO ESCOLAR
Um diagnóstico psicopedagógico pode diferenciar-se de outros diagnósticos escolares de maneira pela qual fundamentamos nossa prática. Esta prática engloba o professor, o aluno e o conhecimento contextualizado na escola, especificamente na sala de aula, lugar onde se constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas tendo como pano de fundo a instituição escolar.
Os fundamentos de um diagnóstico também revelam um tempo, um lugar e um espaço que é dado para aquele que aprende e para aquele que ensina. Historicamente a prática educativa e a prática psicopedagógica são derivadas das distintas teorias de aprendizagens que sustentam as concepções diferentes em relação à tríade: professor, aluno e conhecimento.
É inegável a influência das teorias de aprendizagem e das teorias do conhecimento em relação aos três níveis que vamos enfocar, ou seja, o sócio-político, o pedagógico e o psicopedagógico. Delimitemos, para fins didáticos, especificamente o empirismo e o inatismo, mais as teorias de aprendizagem que decorrem destes campos filosófico, citando algumas como o condutismo e as teorias cognitivas positivistas da aprendizagem.
O empirismo fundamenta-se na idéia de que o conhecimento está unicamente fundado na experiência. Nesta concepção o sujeito cognitivo é comparável a uma folha de papel em branco, aonde vão se escrevendo as impressões procedentes do mundo externo.
Esta concepção admite um sujeito epistêmico considerado como receptáculo, que a principio está vazio e que progressivamente vai sendo “enchido” pelos dados fornecidos da realidade. Logo o processo de diagnostico institucional é de grande valia pois nos indicará parâmetros de como intervir com eficiência nas escolas,sendo salutar observar quais correntes filosóficasinfluenciam nas instituições escolares, bem como embasam as teorias de aprendizagem que ora fundamentam a pratica pedagógica da escola,portanto se faz necessário lançar um olhar a instituição escolar e seus elementos.
Sendo assim trabalhar numa escola faz pressupor que o professor esteja ensinando numa comunidade determinada com as suas características sócias culturais e econômicas particulares. A ação educativa da escola não pode ser desvinculada das funções educativas dos pais dos alunos, e, conseqüentemente, o professor também deve manter contato com eles.
(BASSEDAS E COL 1996 ,p25) O ponto de partida centraliza-se através do movimento: objeto do conhecimento para o sujeito que aprende e para o sujeito que ensina. O aluno aprende a resposta em cada situação. Este está inserido em dois sistemas diferenciado: a escola e a família, sendo de fundamental importância a relação que estabelece com cada sistema e como interrelaciona os dois.
Consideramos o aluno como um sujeito que elabora o seu conhecimento e sua evolução pessoal a partir da atribuição de um sentido próprio e genuíno às situações que vivem e com as quais aprende. Neste processo de crescimento, exerce papel primordial a capacidade de autonomia de reflexão e de interação constante com os outros sujeitos da comunidade. (BASSEDAS E COL 1996,p32)O lugar do professor é o lugar daquele que gerencia o processo da aprendizagem. Sua principal ação é mediar o objeto do conhecimento. O professor tem a responsabilidade de estimular o desenvolvimento de todos os alunos pela aprendizagem de uma série de diversos conteúdos, valores e hábitos. O papel solicitado ao professor na situação de ensino-aprendizagem é o de uma atuação constante, com intervenções para todo o grupo de aula e para cada um dos alunos em particular, visando a observação sistemática do processo de cada aluno durante a aprendizagem, para poder intervir no mesmo com uma ajuda educativa adequada. (BASSEDAS E COL 1996,p29). Mas se faz necessário também entender por níveis os processos educativos e curriculares, os aspectos organizacionais, estruturais e funcionais,assim como todos os elementos envolvidos no processo ensino aprendizagem claro que os elementos fundamentais são os pares educativos que se constituem dos alunos, professores, familiares e profissionais que contribuem e de alguma forma estão ligado com a educação e conseqüentemente com a instituição de ensino.
Desta forma Piaget, através de sua obra, revoluciona as diversas áreas do conhecimento humano. Segundo Piaget (1970 p.20), “o estudo do sujeito epistêmico se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar, etc) constitutivas da lógica, e não ao sujeito individual, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte”.
Por um lado critica as idéias dos empiristas pela pobreza de suas propostas associacionistas, conexistas e por outro valoriza a importância do externo na construção do conhecimento coincidindo com isto com os próprios empiristas.
Para Piaget o conhecimento é construído na interação do sujeito com o objeto em uma relação de interdependência. Tal conjectura leva Piaget a apresentar o sujeito cognoscente como aquele que constrói o conhecimento através de sua ação sobre os objetos, sendo que nesta ação estão contidos os conhecimentos que organizam e nutrem o mundo interno e externo do sujeito que age.
Piaget, apesar de delimitar suas investigações ao campo só do conhecimento, não chegando às aquisições escolares, revoluciona também a aprendizagem. Porque o que ele descobre em relação à construção do conhecimento se pode generalizar para a aprendizagem através do processo mental. Pois são as operações mentais que levam o sujeito a interagir como meio.
Ao mesmo tempo em que sujeito constrói seus instrumentos de pensamentos, constrói também seus objetos de conhecimento, isto é suas representações.
Justificamos aqui, buscarmos a fundamentação do diagnóstico escolar à luz do construtivismo. Acreditamos que o conhecimento se dá num processo de objetivação no qual o sujeito continuamente elabora seus conflitos sobre a realidade que o cerca. Por isso a questão do diagnóstico escolar visto sob este prisma vai diferenciar do diagnóstico tradicional. A diferença vai residir especialmente no processo do aluno, porque à medida que entendemos quais os esquemas mentais que o aluno utiliza para resolver conflitos no aprender vamos também poder explicar as fraturas neste processo. O diagnóstico que pensamos construir é a partir de um sujeito que aprende em interação com o objeto do conhecimento, e que possui uma dramática própria, original, sua. Aqui está o nosso desafio. O diagnóstico escolar tradicional ao contrario oferece segurança, porque praticamente tem receitas corretivas para o que “não aprende”. Colocamo-nos, entretanto, no lugar de quem se pergunta buscando as articulações que justifiquem o não aprender. Nesse sentido, um diagnóstico é sempre uma hipótese diagnóstica.
ASPECTOS GERAIS DE UM DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO À LUZ DE UM SUJEITO QUE CONSTRÓI SUA APRENDIZAGEM
A teoria psicogenética é, portanto um dos referentes teóricos no qual vamos nos aprofundar para o nosso estudo, de técnicas de diagnóstico. A idéia de diagnóstico remetemo-nos ao que significa ensinar e aprender. O diagnóstico deriva da concepção de sujeito que temos: sujeito da aprendizagem e a aprendizagem do sujeito.Desta significação os lugares distintos ocupados pelo professor, pelo aluno, em relação ao conhecimento contextualizado pela escola e sala de aula. O lugar de aprender e o lugar de ensinar dinamizam a prática educativa.Um ponto importante para se perceber este processo de constituição do sujeito se dá através da questão dos limites. Muitas vezes a queixa escolar e a produção da criança gira em torno da dificuldade em aceitar as normas e o formalismo necessário para construir determinados conteúdos acadêmicos. Outras vezes é a dificuldade em aceitar os erros e o esforço que a aprendizagem demanda, ou seja, a aceitação dos próprios limites é que esta em jogo.
Nesta dialética do ensinar e do aprender, qual o lugar do psicopedagogo? Qual sua intervenção? Abordar o problema da circulação do conhecimento? O papel do professor enquanto transmissor do conhecimento? O aluno enquanto sujeito que está em processo de aprendizagem?
O professor é autorizado a ensinar e está no lugar daquele que tem o conhecimento, porém diferenciamos “estar no lugar de” com “ser o conhecimento”. Portanto, o lugar que o professor ocupa em relação ao conhecimento é de mostrar. Mostra um recorte do conhecimento aos alunos, através de uma situação-problema que ele mesmo a construiu para este fim. O professor medializa a ação de aprender, porque ensina. Ensina e aprende.
No momento de ensinar estrutura o que aprende sob a forma de construção de uma situação da qual viabiliza representar o conhecimento que quer transmitir. O eixo principal da questão do diagnóstico sobre o aprender repousa nas dimensões: do aluno, do professor, e dos três níveis inter-relacionados na ação educativa, ou seja Sócio-político, Pedagógico,e
Psicopedagógico. O sócio-político inclui não apenas as políticas educacionais, mas a própria organização da escola como instituição destinada a ensinar ou a produzir fracassos dos alunos conforme sua classe social. O pedagógico refere-se ao processo de ensino: a relação dos conteúdos e a didática. Pensamos que uma didática eficiente possa representar uma ação preventiva de problemas de aprendizagem. Porque a didática preventiva é aquela que lança desafios aos alunos para que avancem a partir do ponto que se encontram, isto é, do conhecimento já construído.
O psicopedagogo prioriza o sujeito que aprende ou que fracassa ajudando-o a situar-se em um lugar que possibilite a aprender. A intervenção psicopedagógica funciona mais como “ser o outro”, ser mais um, ser, enfim, o terceiro dos alunos e esses entre si. O psicopedagogo com o trabalho de ensinar a aprender recorre a critérios de diagnóstico no sentido de compreender a falha ( problemas) na aprendizagem. Nesse sentido, Scoz (1994, p. 22) coloca que: [...] os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade.
Aprender significa incorporar os conhecimentos em um saber pessoal. É isto que o psicopedagogo precisa diagnosticar. Diagnosticar a escola como um lugar onde acontece a aprendizagem, e o nível desta. Se ela é ou só transmissão de conhecimento sistematizado, sem o significado, ou se vincula os conhecimentos com o saber dos alunos, possibilitando assim transformá-los.
Este diagnóstico consiste na busca de um saber para saber-fazer. Através das informações obtidas nesse processo de investigação, o psicopedagogo inicia a construção de seu plano de trabalho. O diagnóstico Psicopedagógico pode ser entendido como uma avaliação clínica, um exame realizado a partir de uma queixa explícita em relação a alguma dificuldade de aprendizagem. A avaliação liga-se ao não aprender, ou só conseguí-lo lentamente com falhas e distorções. Encontra-se envolvido neste processo de diagnóstico a leitura de um sistema complexo, onde se faz presente manifestações conscientes e inconscientes. Interagem aí o pessoal, o familiar atual e o passado, o sociocultural, o educacional, a aprendizagem.
muitas vezes existem dificuldades no ler, escrever, calcular que não interferem na vida do sujeito, só transformando em sintoma em face de uma exigência ambiental.
ao se instrumentalizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente para o significado do sintoma a nível familiar e escolar, e não o veja apenas em um recorte artificial, como uma deficiência do sujeito a ser por ele tratado. É essencial procurarmos o não dito, implícito existente no não aprender. Buscaremos o sentido do sintoma de aprendizagem, para o próprio sujeito.
( Weiss,M.L. citado por SCOZ e col 1990, p.76) Acreditamos numa aprendizagem que possibilita transformar, sair do lugar rígido, construir. É sob este olhar que pretendemos encaminhar o diagnóstico escolar. Voltamo-nos para a Escola porque é para ela que diariamente dirigem-se milhares de crianças. O olhar para a escola implica em termos uma visão integra da: visão de aprendizagem e visão de mundo. Portanto o psicopedagogo institucional á luz da instituição escolar se concretiza através de uma profunda e clara observação das dimensões que envolvem o diagnostico de aprendizagem e que possibilite uma reflexão e conhecimento dos problemas educacionais que estão vinculados a uma série de variáveis tais como: correntes filosóficas, as políticas educacionais governamentais, aspectos morais, culturais e étnicos que influenciam fortemente a pratica da docência, o modelo didático, a relação dos pares educativos. Enquanto psicopedagogo envolvido em um processo diagnóstico está nos colocando em jogo. Neste jogo há presença e ausência de saber. Suportar o desconhecido que em cada um de nós habita, é a alavanca, o motor que vai impulsionar a construção de novos conhecimentos e permear a pratica de intervenção do psicopedagogo na escola. O diagnóstico sob nosso ponto de vista deve ser encarado como busca constante de saber sobre aprender sendo a bússola que norteará a intervenção psicopedagogica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASSEDAS,E. e col, Intervenção Educativa e Diagnostico Psicopedagogico. 3º ed. Porto Alegre, RS: Artes Medicas,1996
.BOSSA,N. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da pratica. Porto Alegre,RS: Artes Medicas,1994.
RUBISTEIN, E. A especificidade do diagnóstico psicopedagógico. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
SCOZ,B;RUBINSTEIN,E;ROSSA,E.;BARONE,L(org).Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre,RS: Artes Medicas,1987.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar, o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1994.
VISCA, J. Clínica psicopedagógica: a Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
_______. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
WEISS, Maria Lúcia. Psicopedagogia Clínica – Uma Visão Diagnóstica. Porto Alegre,RS:Artes Medicas,1992.
Sobre o Autor
Salete Santos Anderle é docente de ensino fundamental, médio e universitário, psicopedagoga clínica e institucional, orientadora e alfabetizadora. Tem interesse em todas áreas relacionadas a saúde, educação e gestão de pessoas.
13 de abril de 2011 às 07:33
Professora, dei uma lida e gostei do que você escreveu. Principalmente por saber que os grandes culpados são os psicólogos, pelo fato de liberar todas as crianças de seus limites, impedindo a disciplina e as regras. Por isso vemos hoje , em semestres já adiantados na faculdade,alunos DESRESPEITANDO o professor que pede silêncio, mas certos alunos continuam conversando, fazendo lição de outro professor, etc.. Isso para mim é um absurdo e deveria ser PUNIDO. Sem punição , não há aplicação de bons modos..
abraços