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Não existe um agora sem muitos antes e não existirá um depois, sem este agora. Lucila Rupp de Magalhães
O estado era de choque. O sentimento de perplexidade. Aquilo não podia estar
acontecendo. Mas estava. Era realidade e não um pesadelo, como poderia se imaginar.
Os cenários ? Um aeroporto e uma estrada deste Brasil brasileiro.
Os personagens ? Cidadãos brasileiros escolarizados.
Situações ? Prosaicas , daquelas que fazem parte do cotidiano. E que, feitas as devidas transposições podem acontecer em outros cenários e com outros personagens. Inclusive com você , caro leitor.

Bem, vamos aos fatos em dois atos, com direito a algumas pontes.
Ato I
Naquela viagem de representação, minha companheira viu-se acometida por uma virose que debilitou profundamente sua resistência física. Inicialmente, chegara o momento do regresso. Voltar para casa a fim de submeter-se a exames e contar com o apoio familiar em tratamento médico, foram as esperanças alimentadas naqueles quatro dias, nos quais a febre, a náusea e outros sintomas lhe acompanharam. Grande educadora, deslocara-se para representar seu Estado natal, como Conselheira de Educação, em um evento que reunia representantes de Conselhos Estaduais de todo o Brasil, a convite do Estado que sediava o Fórum.
Ao procurar sua carteira de identidade, exigência para que se efetivasse o embarque aéreo, deu-se a dura constatação. O documento havia sido perdido. Procura daqui, procura dali. Nada. As lágrimas rolavam-lhe pela face incontrolavelmente.
O jovem que a atendia não demonstrava a menor sensibilidade para o fato. Nenhum outro documento poderia substituir a carteira de identidade, por não ter foto.
Então, ela perguntou-lhe aflita:
- O que posso fazer para resolver isso, a quem me dirijo? Não posso ficar retida nesta cidade, não estou bem de saúde.
Para nosso espanto, ele respondeu prontamente:
- Possivelmente a senhora ficará retida nesta cidade por este motivo. E não adianta chorar.
Sua fisionomia de jovem profissional não demonstrava indiferença, percebia-se, isto sim, certa satisfação em meio a um sorriso irreverente ao declarar enfaticamente a sentença irrecorrível.
Não me contive e interferi naquele diálogo, dizendo-lhe indignada:
- Possivelmente ficará retida?! Não!. Possivelmente ela será liberada porque, possivelmente, aqui existem pessoas responsáveis que avaliarão criteriosamente a situação. E o farão. Além disso, seu papel aqui não é o de intensificar a angústia e a ansiedade de passageiros e sim de ser solidário e agir como um cidadão responsável, buscando e facilitando a solução de problemas, dignamente.
Você está tratando do caso de uma autoridade educacional que, a convite deste Estado, veio representar seu Estado natal. Nada justifica o tipo de tratamento que você está lhe dispensando. Por isso, a quem podemos nos dirigir para resolver este assunto?
Incrível! Funcionou! Ele mudou da água para o vinho. Não somente indicou os responsáveis, fez mais, saiu de seu posto, saltou rapidamente pelo espaço onde se pesam as bagagens e nos acompanhou até o posto onde se encontravam os representantes da Infraero e a Policia Federal. Estes, após o breve relato e devida identificação, autorizaram simpaticamente o embarque.
Ato II
Realmente eles estavam errados. Ultrapassaram quando a faixa amarela era contínua. Por esse motivo foram, justamente, intimados pelo policial a parar no acostamento. Ali estavam um casal com sua filha e vigilante policial.
Indagado pela autoridade sobre a situação, o pai prontamente esclareceu:
- Sei que estou errado, mas minha filhinha, de dois anos, está com febre e desejamos chegar o mais rapidamente possível à cidade. Então, inesperadamente, o policial ordenou bruscamente,
- Abra esta porta!
Ele indicava a porta traseira, que dava acesso ao banco onde a criança dormia em sua cadeira de segurança.
Neste ponto, a mãe aflita, interferiu perguntando:
- Mas por que o senhor quer que se abra essa porta?
Seu instinto maternal, de proteção à filha, manifestou-se. O que desejava aquele policial: conferir se a criança realmente estava com febre? Examiná-la? Acordá-la, ou enfim, o quê?
A pergunta gerou uma reação surpreendente no policial. Ele sentiu-se ofendido e determinou ao pai da criança que o acompanhasse ao posto policial.
Lá chegando, o policial disse-lhe:
- A sua esposa teve um comportamento de desrespeito à autoridade. Pois, além de ser pai, eu sou médico.
O jovem pai, temeroso e conciliador, prontamente tentou esclarecer o acontecido:
- Não foi essa a intenção de minha esposa; tenho certeza. Mas, de qualquer forma, peço-lhe desculpas e, por favor, diga-me como proceder para resolver esta situação.
- Aceito o pedido de desculpas, foi aplicada a multa, sendo, então liberados pai, mãe e filha.
Pontes
E o que têm esses episódios a ver entre si, com a educação e com a vida?
Entre eles poderíamos estabelecer inúmeras relações de tempo, espaço, personagens etc. Quero, contudo, ressaltar uma:
Onde existirem duas pessoas, existirá sempre, uma relação de poder.
O poder permeia as relações humanas. Este poder pode ter diferentes naturezas. Pode ser econômico, de status, afetivo etc. Nos dois casos, temos típicos exemplos de relação de poder no âmbito de status, ou seja, posição social ocupada por alguém em determinado momento e circunstância . Mais ou menos quem manda e decide sobre questões em determinados espaços e funções.
É bom lembrar que esse poder é inerente aos cargos, necessário e desejável. O x da questão encontra-se na forma pela qual é exercido esse poder. Esta pode ser construtiva ou destrutiva, respeitosa ou não, promover a cidadania no exercício de direitos e deveres ou aviltar e agredir indivíduos comuns em uma sociedade que se pretende que seja democrática.
Em ambos os casos, vimos a exacerbação desnecessária do uso do poder. O desrespeito ao outro, sendo que esses comportamentos se consubstanciaram por meio de pessoas que passaram por um processo de educação.
Isto posto, o que esses dois episódios têm a ver com educação?
Vamos a algo bem atual, cujas origens datam de tempos antigos. A lei de Diretrizes e Bases 9394/96, em seu título II, Dos Princípios e Fins da Educação Nacional, Art. 2, assim formulado:
“A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
O que se percebe aqui é a necessidade de uma ação integrada envolvendo família, escola e comunidade, em função do desenvolvimento individual e da consciência coletiva para que se alcance o bem comum.
Por que, então, o jovem atendente e o policial tripudiam no exercício de suas tarefas e agiram arbitrariamente, desconsiderando os direitos de seus companheiros de vida?
Porque toda ação individual ou social perpassa, antes de tudo, por pessoas, ou seja, por cada um de nós. E, por algum motivo, passando pelo filtro das pessoas que são e do processo de socialização e educação que vivenciaram, este tipo de comportamento nelas se instalou e passa a reger suas atitudes no trato com o outro.
No caso do jovem atendente, tornou-se evidente comportamento primário de controle externo. Na medida em que se viu pressionado e vislumbrando a possibilidade de questionamentos, em outras esferas, sobre sua conduta, modificou de imediato sua maneira de agir. Já o policial, talvez até tivesse intenções solidárias; mas a forma de comunicação representou um entrave para a chance de um entendimento.
Essas questões, relacionadas ao exercício do poder e que espocam no cotidiano de todos nós, são básicas para o exercício da cidadania.
Como cidadania entende-se o respeito a si mesmo e ao outro, ela se consubstancia e toma forma por intermédio de ações pessoais e coletivas e exigem o controle interno com base na reflexão endógena, ou seja, no crescimento pessoal. Assim, podemos contar com pessoas escolarizadas, intelectualizadas, mas não necessariamente cidadãs. Por outro lado, a qualificação para o trabalho comporta o saudável exercício do poder. Assim sendo, o papel da família e da escola deve ser conjugado nesta empreitada.
As relações de poder que acontecem nessas interações devem ser motivo de análise e compreensão, desde a educação infantil, passando pela educação básica e atingindo a educação superior. Deve também abranger nesse bojo outros personagens: pais, filhos, amigos, colegas, diretores, supervisores, orientadores, professores, alunos, servente, etc. e etc.
Acredito que, dentre as competências para que se atinjam os princípios e fins proclamados pela educação nacional, destaque-se primordialmente aquela que se refere ao exercício do poder. Isto se pleiteamos verdadeiramente uma sociedade democrática. Poder em todos os âmbitos, de todas as formas e natureza.
Por isso, projetos pedagógicos, conteúdos, temas transversais, atividades diversas e programas educacionais devem privilegiar essas questões.
Finalmente, o que isso tudo tem a ver com a vida?
Talvez, aqui se aplique o que nos diz Fernando Pessoa:
“A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”.
Caso não se atente para questões desse tipo, sem dúvida, em relação ao desrespeito, à cidadania, não adianta chorar


Senpai-Kohai… O fortalecimento e a força...

(por Jordan Augusto)Estes são dois pontos relevantes nesta construção que é a mais importante para caminhada do aluno em uma escola tradicional. Na relação Senpai-kohai, temos a força do dia-a-dia que constrói e o fortalecimento que solidifica esta trajetória. No passado um mestre jamais poderia ser amigo de um aluno, pois esta amizade e carinho poderiam protegê-lo das dificuldades que o caminho ofereceria ao longo de todo o seu treinamento. Aos olhos do mestre, todos os conflitos e dissabores servem para afiar o espírito em construção. Quanto mais difícil o caminho, melhor a apreparação. Muitos ainda pensam assim. Porém, por mais que existam amizade e carinho, a comunicação mestre e aluno nunca foi fácil. Ainda que exista a rendição por parte do aprendiz, ao longo do percurso surgem espinhos e farpas que se manifestam aos poucos. Por mais que o mundo evolua, e os pensamentos se transformem, ainda nos dias de hoje, é pertinente a dificuldade nesta comunicação mestre aluno. Primeiramente porque não existe igual. Os seres humanos são únicos em sua historicidade e em sua constituição bio-psico-social. Por outro lado, somos egocêntricos. Sempre a vida toda. Não somente até os sete anos, como nos foi ensinado. A leitura de mundo de cada ser vivente se faz pelo que ele é como pessoa em um tempo e num espaço. O querer de cada pessoa está condicionado a estes mesmos determinantes. Assim cada um de nós tem necessidades relativas aos nossos próprios percursos de vida e características pessoais e sociais. Imagine-se então quando somos colocados para conviver e trocar pensamentos, idéias, instruções sobre alguma coisa, qualquer que seja o tema. Cada um irá buscar no seu mundinho pessoal os elementos que lhes são próprios e coerentes com o que aprendeu e fazem sentido para si mesmo. Só que cada pessoa se reportará ao seu repertório pessoal que é intransferível. Na interação teremos o encontro desses repertórios. Então, não bate , não casa, não coincide o que eu penso, o que eu acredito, a minha experiência com a do outro. O meu certo, necessariamente não é o certo do outro. O meu jeito de fazer é diferente do jeito de fazer do outro e por ai vai. Quando se diz algo, quando se passa uma instrução, um princípio se acredita que o outro está traduzindo em conformidade com aquilo que eu queria dizer. Entretanto, isto necessariamente não acontece. O outro traduz a mensagem que eu lhe passo pelo seu repertório pessoal, sempre e inevitavelmente diferente do meu. Daí a necessidade de conferir e clarificar percepções, relativas aos processos de comunicação. A grande maioria de mal entendidos, conflitos, incompreensões pode ser mapeada nesse território. Para o zen, os mestres encontram barreiras em uma única palavra: Mu [chin. Wu, nada, não] — esta é a barreira do Zen. É por isto que é chamada a Barreira do Portão de Mu [chin. Wu-men-kuan, jap. Mumonkan] da escola Zen. Se puderem atravessá-la serão capazes de andar juntos, de mãos dadas, com todas as gerações de professores ancestrais. Juntarão as sobrancelhas com os professores ancestrais, verão através dos mesmos olhos e ouvirão através dos mesmos ouvidos. Estarmos conscientes de nosso egocentrismo é um bom começo para nos comunicarmos melhor com os outros, porque estaremos atentos e tentando decifrar o egocentrismo do outro e assim se possibilita o surgimento de pontes e elos que permitam o trato com convergências e divergências. Referências: Conversas com Araki Sensei, Michie Hosokawa, Paulo Hideyoshi, Masa, sadao, Luiz yamada, Hidetaka Sensei. Textos: Galileu - Revista, Livros de Sociologia; Análises sobre a Psicologia Moderna e estudos sobre Freud, Jung, Melanie Klein;Grof; Kapra; Wikipédia, Lucila Rupp de Magalhães - RELAÇÕES INTER PESSOAIS NO COTIDIANO E APRENDIZAGEM - http://www.psicopedagogia.com.br
Internet, relações virtuais e relações interpessoais: um casamento
conflitante.
Rodrigo Netto da Rocha
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo: Com o avanço tecnológico, a globalização chegou para ficar e a
Internet rompeu barreiras e aproximou pessoas. Isto tem gerado uma nova
forma de se relacionar: as relações virtuais. Os relacionamentos agora são
primeiramente “cibernéticos”, ou seja, o relacionamento virtual vem em primeiro
lugar. O contato olho no olho, face a face ou relacionamento interpessoal
acaba sendo deixado de lado e as relações interpessoais diminuem. Esta
crescente utilização da internet como fonte de relacionamento, faz com que
este meio seja para alguns de seus usuários um “mundo de fantasias”, pois
dentro do ciberespaço é possível criar e moldar personagens sem que o outro
saiba qual é a realidade que o espera. Por meio de entrevistas realizadas com
usuários da internet, especificamente do MSN, buscou-se coletar informações
qualitativas mostrando que o uso da internet rompe obstáculos, mas não
substitui o contato pessoal. Mesmo com o rompimento de fronteiras feito pela
Internet as relações interpessoais ainda são importantes para que os laços e
identificação entre os indivíduos ocorram.
Palavra-chave: Internet. Relações virtuais. Relações interpessoais. Internet.
INTRODUÇÃO:
Na era da informação conforme concepções de Castells (2004) e
Honeycutt (1998) tudo avança rapidamente fazendo com que surjam novas
tecnologias. A internet é um bom exemplo que rompeu barreiras trazendo um
jeito diferente de relacionamento: o virtual. Storch (1995) acredita que o
relacionamento interpessoal, que há algum tempo era o ínicio de qualquer
contato, está ficando em segundo plano. A comunicação passa a ter um foco
diferente, busca-se o contato virtual e muitas vezes somente isso. Esta nova
febre se espalhou tão rápido quanto a utilização da Internet. Criaram-se
ferramentas de contato (como messenger, skype, google talk, chats, etc) com o
intuito de aproximar as pessoas e facilitar a vida do homem moderno.
Esta nova “forma” de relacionamento acaba sendo uma via de mão
dupla, pois para algumas pessoas as relações virtuais acabam tornando-se
mais importantes do que as relações interpessoais. A Internet é uma aliada na
criação de pseudo-laços afetivos, pois se sabe que no mundo virtual tudo é
possível. É necessário um entendimento mais aprofundado do que é a Internet
e quais os reais benefícios oferecidos por ela, assim como quais podem ser as
conseqüências que o “mundo virtual” pode acarretar no nosso dia a dia
(STORCH, 1995).
Internet: a grande rede.
O termo surge com base na expressão inglesa “INTER-action or
INTERconnection between computer NETworks” – a Internet é uma grande
rede que interliga computadores pelo mundo todo e tem sua origem no final da
década de 60, 1969, na Califórnia, quando o departamento de defesa dos EUA
resolve criar a ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada). Os
militares tinham o intuito de fazer com que essa agência desenvolvesse uma
rede de comunicações “inabalável”, onde qualquer mensagem chegaria ao seu
destino, mesmo que ocorresse uma catástrofe nuclear. O resultado foi a
ARPAnet.
Em 1983, por razões pragmáticas, a ARPAnet foi divida em dois
segmentos diferenciados, um destinava-se a comunidade civil e outro aos
militares. As redes foram conectadas de modo que seus usuários pudessem
trocar informações; isso tornou-se conhecido como internet. Em 1986, surgiu
um dois mais importantes avanços na Internet que foi a conexão, via NSFNET,
entre computadores de alta velocidade espalhados ao longo dos EUA. No final
da década de 80, 1989, a Internet deixa de ser uma ferramenta utilizada
apenas por acadêmicos e se torna algo mais popular (HONEYCUTT, 1998).
Surge assim a World Wide Web, possibilitando novas formas de
operação na Internet. Inicialmente levou a multimídia até ela, onde tornou
possível a apresentação de imagens coloridas, músicas e imagens em
movimento além de dados e textos, assim a Internet passou a ser muito mais
acessível e divertida (CAIRNCROSS, 2000).
Na percepção de Castells (2004) a era da Internet tem sido anunciada
como o fim da geografia. De fato, a Internet tem uma geografia própria feita de
redes, nós processamos fluxos de informações gerados e processados a partir
de determinados locais.
A cultura da internet é a cultura dos seus criadores. Por cultura
entendo um conjunto de crenças e valores que formam o
comportamento. Os esquemas de comportamento repetitivos geram
costumes que se impem perante as instituições assim como perante
as organizações sociais informais. A cultura diferencia-se da
ideologia, bem como da psicologia ou das representações individuais
(2004 p.55).
O crescimento da Internet tem sido explosivo: em 1985 havia mais de
2.000 computadores ligados na rede, atualmente são mais de 10 milhões de
usuários. A casa mês esta rede incorpora milhões de novos usuários
(HONEYCUTT, 1998).
Além de unir as pessoas geograficamente, a internet serve para facilitar
a vida de seus usuários. Hoje, aqueles que possuem acesso a rede podem
conhecer pessoas, pagar contas, comprar “coisas”, tudo isso com simples
clicar de botões. O que pode ser comprovado com a afirmação de Cairncross:
O mais importante de tudo é que a Internet tornou-se o mais
poderoso motor de inovações jamais visto no mundo. Devido ao seu
protocolo aberto e flexível, milhares de pequenas empresas,
fundadas pelos mais qualificados empreendedores, estão ganhando
(ou, de vez em quando) perdendo) grandes quantidades de dinheiro
desenvolvendo novas formas de usar a Internet. O mesmo fenômeno
aparece em outros países, acompanhando o aumento no uso da
Internet. (2000 p.147)
Segundo Castells (2004) e Cairncross (1998) desde o surgimento da
Internet qualquer tipo de busca tornou-se muito muita fácil e rápida: é possível
achar qualquer coisa sobre qualquer assunto, o que levou a mudança no
comportamento das pessoas.
O fenômeno da Internet contribui fortemente para a criação de laços
econômicos, sociais, culturais entre outros que estreitaram relacionamentos
que até a pouco tempo atrás não existiam. Sem dúvida a internet aliada aos
avanços das telecomunicações constituem uma espécie de infra-estrutura
necessária ao desenvolvimento de uma nova concepção de globalização. A
forte dependência das tecnologias para a própria sobrevivência da estrutura da
sociedade nos revela que há sinais do surgimento de uma comunidade global
cada vez mais virtualizada (CASTELLS, 2004).
Relações Interpessoais: o que é isto?
Como já trazemos uma bagagem cognitiva e de experiências vividas
anteriormente, acabamos criando certos conceitos e preconceitos que poderão
interferir em nossos julgamentos e percepções. Podemos dizer que o ser
humano é um animal racional que vive em sociedade, ou seja, necessita
interagir com outros indivíduos socialmente. Desta forma inicia-se a criação de
laços e identificações entre estes indivíduos podendo ser de prolongada ou
temporária duração (MOSCOVICI, 2002; RODRIGUES, 1981).
Mas para que possamos entender o surgimento da concepção do que
são as relações interpessoais, é necessário um resgate histórico. Seguindo a
idéia de Carvalho (1984) inicia-se na Grécia com dois grandes pensadores:
Platão e Aristóteles. Platão acreditava que o meio social seria o determinante
da conduta do indivíduo, desta forma, atribuía um grande valor à educação,
pois em sua concepção a sociedade dependia do tipo de educação dada aos
jovens. Aristóteles defendia a teoria de que todos os indivíduos possuíam
algumas tendências inatas (cognitivas) pelas quais a educação pouco ou nada
teria a fazer. Estas duas linhas de pensamento influenciaram alguns
pensadores posteriores a estes dois filósofos. Após a decadência grega surge
uma nova explicação: o homem busca o prazer ao invés da dor, também
definida como “teoria hedoista”. Houveram novas teorizações com o intuito de
explicar ou mesmo conceitualizar a forma como os indivíduos se relacionam
entre si. O cristianismo usava a concepção de bem e mal, pregando o livre
arbítrio (o que ia contra os mandamentos cristãos eram pregados pela igreja
como comportamentos maldosos); Maquiavel (séc. XVI) sustentava a idéia de
que natureza humana era mais má do que boa; Montesquieu (séc. XVII) fez um
comparativo comportamental diferenciando o modo de vida europeu das
demais partes do mundo que a pouco haviam sido descobertas; Gobineau
(séc. XIX) pregava a superioridade das raças baseado nas teorias de
Montesquieu, opondo-se a concepção aristotélica. Surgiram posteriormente
idéias ou podemos chamar de correntes de aperfeiçoamento humano com o
passar do tempo pregado por Augustos Comte e Spencer. Já no século XX
tiveram origem duas linhas de idéias: a dos inatistas, que tenta explicar o
comportamento com base nos instintos, tendências, impulsos e desejos inatos
e aqueles que consideram relevante a influência social.
Na busca de interação com os demais indivíduos em um grupo no qual
estão enquadrados, começam a ser elaborados vínculos e situações de
interação, os quais crescem e diminuem de acordo com a percepção do
indivíduo.
Carvalho cita:
Para viver em comum, o homem precisa aprender a reagir desta ou
daquela forma, de acordo com as circunstâncias. Por outro lado,
necessita também saber inibir certas reações. Esta aprendizagem
inicia-se nos primeiros anos de vida, e estende-se através de toda
nossa existência. Constitui o processo de socialização – assunto
comum à sociologia e a psicologia social. Tal processo torna humano
o indivíduo, que nasce simples animal: é através dele que
estruturamos uma personalidade, que nos tornamos um ser social.
(1984, p.19 )
Neste processo, a troca de sentimentos e sensações vividas por ambos,
ou seja, todo o cognitivo trazido por um dos integrantes acaba por influenciar
todo o grupo em suas percepções e sentimentos. Se por exemplo, tivermos um
indivíduo de um grupo em contato com um integrante de outro grupo, a
identificação e interação ente estes dois são menores e menos produtivas, do
que se tais pessoas fossem unidas com colegas de grupo no qual já houve
trocas e contato anterior (MOSCOVICI, 2002)
Pensando em relações interpessoais consequentemente irá se pensar
em contato ou socialização, assim como comunicação com outros indivíduos.
Conforme Magalhães:
Relações interpessoais são as trocas, as comunicações, os contatos
entre as pessoas. Uma interagindo com os outros nas mais
diferentes situações que fazem parte da existência humana. Enfim,
eu diria, sem considerar maiores implicações, que o fenômeno
(corriqueiro, simplório de gente lidando com gente. (1999 p.18 )
O primeiro contato ou “primeira impressão” será positivo ou negativo
conforme a bagagem cognitiva trazida e se os preconceitos prevalecerem ou
não nesta percepção. Como Moscovici (2005, p.34) afirma: “é muito cômodo
jogar a culpa nos outros pela situação equívoca, mas a realidade mostra a
nossa parcela de responsabilidade nos eventos interpessoais. Não há
processos unilaterais na relação humana: tudo que acontece no
relacionamento interpessoal decorre de duas fontes: eu e outro(s)” Não se
pode esquecer que esta percepção, tanto social (do indivíduo no grupo) como
interpessoal (do indivíduo com alguém) sofre diferentes influências.
Os relacionamentos existentes acabam tornando-se mais complexos.
Essa complexidade vai se aprofundando e fazendo com que diferentes fatores
interajam e contribuam com tal processo (MOSCOVICI, 2002; RODRIGUES,
1981).
Relações virtuais
A vida nas metrópoles atualmente vem se tornando cada vez mais
complicada: as pessoas têm buscado um isolamento social com o intuito de
fugir da violência, prezando por sua segurança e tranqüilidade. Fala-se muito
sobre o novo tipo de relacionamento que "nasceu" com a Internet, ou seja, o
"relacionamento virtual" devido ao fato de que, dependendo do que se quer ou
pretende, pode tomar diversos caminhos.
Podemos citar o chat como exemplo dos caminhos que a internet pode
tomar: os equívocos são muito comuns, pois existe a propensão de se levar o
relacionamento um pouco mais além do que um simples bate-papo.
Dificilmente alguém entra apenas para conversar, além do que, propicia uma
certa situação de intimidade que sempre acaba despertando fantasias e
interesses.
Geralmente as pessoas fantasiam sobre seu aspecto físico para atrair a
atenção do sexo oposto o que muitas vezes provoca desapontamentos quando
chega o momento do contato pessoal. Atrevo-me a sugerir que nos casos de
"chat", agíssemos como antigamente: com as famosas e saudosas "paqueras
telefônicas". Nesse caso, como a perspectiva de um conhecimento físico era
iminente, sempre nos descrevíamos "no real".
O outro meio de conhecimento virtual - por e-mail - é o mais
interessante, pois permite que se formem amizades sem quaisquer outros
interesses além de troca de idéias, desabafos. Forma-se um elo muito forte
entre pessoas que sequer se conhecem. Aliás, conhecer-se para que? Se o
entendimento "emaillistico" é perfeito!
E é nessa condição que vemos o grande benefício desse tipo de
amizade: muitas vezes temos uma problema de foro íntimo, que não teríamos
condições de discutir nem mesmo com parentes ou amigos (principalmente
com eles). Então aquele amigo (ou amiga) distante pode muito bem ouvir o
caso e, à distância, sem qualquer envolvimento pessoal, ser de grande valia
para um repensar de coisas (STORCH, 1995).
O Messenger (sistema onde as mensagens são enviadas
instantaneamente) é uma ferramenta de conversa muito utilizada e se
assemelha ao Chat; os principais provedores são o MSN, Yahoo, Google Talk.
Com o intuito de obter uma percepção do usuário foi aplicada uma entrevista
enviada via e-mail, no dia 26 de maio, com três “internautas” diferentes.
Inicialmente criou-se um questionário composto de dez perguntas abertas cuja
finalidade era captar informações de cunho pessoal dos entrevistados.
Navegando pelas ferramentas citadas, buscou-se escolher pessoas de sexos
diferentes e que utilizassem estes meios com finalidades diferentes. O perfil da
entrevista ficou dentro de um determinado parâmetro, onde se escolheu
pessoas com um grau de instrução mais alto (ensino médio no mínimo) sendo
um homem de 24 anos, estudante de Publicidade; uma mulher de 35 anos,
supervisora de Call Center e por último um homem de 18 anos, técnico de
informática. Assim podemos comprovar que sua utilização pode possuir
diferentes finalidades: contatos profissionais, contatos com amigos ou parentes
que estejam distantes, amizades. Constatou-se também que os entrevistados
utilizam esta ferramenta para a criação e manutenção de seus personagens
fictícios.
Relato de um dos entrevistados:
Creio que a Internet pode ser uma ótima ferramenta para a interação da
pessoas, principalmente, com as que estão a longa distância. No
entanto, penso que esses "relacionamentos" virtuais, que algumas
pessoas criam, acabam por não serem sinceros se não forem
transportados para a realidade. A interação entre duas pessoas, ou
mais, exige muito mais que um teclado e um monitor. A presença
humana, no meu ponto de vista, é de extrema importância, pois ali fica
mais difícil mascarar sentimentos. Quando se está na frente de um
computador, o usuário pode ser quem ele quiser, pode inventar mil
personagens. Além disso, só a presença física irá despertar reações
verdadeiras do ser humano. (Marcelo Lima, 24 anos, estudante de
publicidade)
Sabemos que esta famosa rede de computadores mundialmente
conhecida, aproxima pessoas do todos os cantos mas esta aproximação é
verdadeiramente “real”? A Internet acabou criando o que pode-se chamar de
mundo virtual, onde as pessoas criam seus personagens com o intuito de
fugirem da realidade. Muitas são as pessoas que acabam, de uma maneira ou
de outra, esquecendo do real e viciando-se no virtual (STORCH, 1995).
Considerações Finais
O relacionamento entre as pessoas sofreu mudanças consideráveis
graças aos avanços da Internet. Vários mecanismos foram criados para
proporcionar conversação e relacionamento em tempo real entre pessoas de
lugares distantes ou não. Desta forma tanto é possível trocar experiências
profissionais entre colegas distantes, como iniciar uma relação amorosa com
pessoas que nunca se teve contato. A Internet utilizada como ferramenta de interação entre as pessoas, independente do seu intuito, é benéfica devido a amplo leque de facilidades oferecidas. Porém, algo muito comum e bastante freqüente nos relacionamentos virtuais é o fato do usuário poder assumir uma personagem e vivenciá-lo do jeito que achar melhor, sem pudor, sem remorsos ou vergonha. É preciso cuidado e discernimento do real-virtual para o real-real, pois o
individuo, com o tempo, passar a viver mais em função do virtual. É importante
ressaltar que não é possível conceber o “mundo virtual” como uma coisa a parte, separada da realidade.


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
1.1. Nome do Projeto: Garimpando Nossos Sonhos.
1.2. Responsável: Sabrina Meira de Lima - Estagiária do CIEE.
1.4. População-Alvo: Educação Infantil e Ensino Fundamental.
1.5. Vagas: 40 alunos do Ensino Fundamental – 7º e 8º série.
1.6. Local de execução: Escola.

2. DESCRIÇÃO DO PROJETO:
O Projeto Garimpando nossos sonhos apresenta-se em quatro fases básicas:
A primeira fase consiste em disseminar a educação ambiental de forma abrangente, direcionando para o tema reciclagem. Através de uma oficina com os professores, por um profissional voluntário da área de meio ambiente da KW, buscar-se-á atingir os alunos, estimulando a criatividade em torno do tema.
Buscando uma ação concreta, inicia-se a segunda fase, em que se propõe a reciclagem do lixo da escola e estendendo a família, com base num processo participativo.
As fases anteriores remetem ao desejo de conscientização da importância de reciclar e sua realização será em período de aula.
A terceira fase tem o objetivo de despertar para o aprendizado e possibilidades da reciclagem de papel, direcionada à Associação de Alunos. Para isto, realizaremos uma visita ao Projeto “Botando a Boca no Mundo”, de jovens carentes de Ijuí.
Na seqüência, visando estabelecer atividades que promovam o convívio grupal com estímulo empreendedor e solidário, surge a quarta fase, que corresponde à constituição de uma Oficina de papel reciclado, desenvolvendo-se recursos administrativos à gestão do empreendimento e estimulando futuras vendas de produtos reciclados. Estas atividades estão previstas para o turno inverso da aula.
O Projeto terá a sua continuidade e acompanhamento através da dinâmica do cotidiano da Oficina. Em relação ao acompanhamento estabelecer-se-á um padrinho para cada departamento da oficina, ou seja, Rh, Finanças, Produção, Marketing, Comunicação e Diretoria.
Os padrinhos da Oficina reunir-se-ão mensalmente para integrar ações, avaliar e propor melhorias.

2. JUSTIFICATIVA:
O processo de aprendizagem está atrelado às relações interpessoais. Nesse âmbito encontra-se um vasto número de sujeitos, circunstâncias, espaços e tempos. Segundo a psicopedagoga Lucila Rupp de Magalhães (Agosto, 2004), “as relações familiares, sociais, institucionais estão estreitamente relacionadas aos resultados finais de avanços ou estagnações em processos de aprendizagem”.
Considerando a importância das relações interpessoais, merece atenção o resultado do diagnóstico de percepções dos professores, conforme anexo (01), no item relacionamento interpessoal, que aponta:
§ Relacionamento entre alunos: 21% bom e 78% regular.
§ Relacionamento entre colegas: 36% bom e 14% regular.
No que diz respeito a este tema, 8,51% dos alunos entrevistados (anexo 02), definiram que o que menos gostam na escola são as brigas. Já na pesquisa respondida pelos pais (anexo 03), 34 responderam que a maior queixa dos filhos em relação à escola é o relacionamento com colegas.
Diante disso, como interferir e transformar esta realidade, aproveitando a energia dos alunos em prol de um espaço de convivência prazeroso, que fortaleça o relacionamento interpessoal?
Considerando, também, a característica sócio-econômica dos alunos, na maioria classe média baixa, é vital estimular na escola atitudes e valores que permitam a reflexão e a construção de perspectivas de mudança da realidade social, balizadas pelo espírito empreendedor e solidário.
A arte, quando entendida como expressão de vida, constitui uma aliada para estabelecer e fortalecer relações sociais. Assim, surge através da arte, uma proposta voltada a aspectos afetivos e sociais, abrangendo a espontaneidade, a sensibilidade e a criatividade, para a construção do conhecimento; assim, surge o “Projeto Garimpando nossos sonhos” .
O Projeto aborda experiências concretas e reflexivas à construção do saber através de uma empresa pedagógica, estabelecendo relações empreendedoras e solidárias.
Além disso, desperta a consciência da preservação ambiental, abrindo espaço de reflexão e práticas que reforçam o papel de cada um na manutenção e conquista de um espaço saudável.
O Projeto Garimpando nossos sonhos, traz na arte a possibilidade de transformar!

3. OBJETIVOS:
3.1. Objetivo Geral:
Contribuir com a formação de crianças e adolescentes, através de práticas pedagógicas que possibilitem ao educando uma experiência de cidadania concreta, fortalecida em relações sociais solidárias e empreendedoras.
3.2. Objetivos Específicos:
§ Articular, através da reciclagem de papel, espaço de construção do conhecimento, de integração e criatividade;
§ Promover o resgate de vínculos familiares, comunitários e sociais;
§ Disseminar a importância da preservação do meio ambiente;
§ Fortalecer as relações interpessoais e a auto-estima;
§ Oportunizar um projeto social que promova geração de renda em benefício da escola e dos membros da Oficina.
4. METAS:
* Constituir a Oficina, equipando-a com os materiais básicos.
* Realizar experiências de texturas, cores, formas, tamanhos e efeitos decorativos em papel reciclado.
* Comercializar os produtos da Oficina na comunidade, feiras e escola;

Sites de Interesse da Área de Recursos Humanos

Aprendiz - Gilberto Dimenstein
www.aprendiz.com.br
Associação Brasileira de Recursos Humanos ABRH - Bahia
www.abrhba.com.br
Associação Brasileira de Recursos Humanos ABRH - Nacional
www.abrhnacional.org.br
Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento ABTD
www.abtd.org.br
Banco do Brasil –Universidade Corporativa
www.bb.com.br
Canal RH
www.canalrh.com.br
Companhia para Crescer (Geraldo Eustáquio)
www.paracrescer.com.br
Editora Gente
www.gentedit.com.br
Empregos
www.empregos.com.br
Escola Nacional de Administração Pública ENAP
www.enap.gov.br
Fundação de Desenvolvimento Gerencial
www.fdg.org.br
Fundação Getúlio Vargas FGV
www.fgvsp.br
Guia RH
www.guiarh.com.br
IBCO - Instituto Brasileiro de Consultores Organizacionais
www.ibco.org.br
Instituto MVC - M. Vianna Costacurta Estratégia e Humanismo
www.institutomvc.com.br
Intermanagers
www.intermanagers.com.br
QualityMark Editora
www.qualitymark.com.br
Revista Caros Amigos
www.carosamigos.com.br
Revista Gestão Plus
www.gestaoerh.com.br
Revista T&D – Desenvolvendo Pessoas
www.rtd.com.br
Revista Viver Psicologia
www.revistaviverpsicologia.com.br
RH Online
www.rhumos.com.br
Siamar Recursos para Treinamentos
www.siamar.com.br
Zumble Aprendizagem Organizacional
www. zumble.com.br



Crianças que necessitam de compreensão
Rede SACI02/07/2007
Estudo de casos com alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
Francisca Maria Lima Passos e Rosângela Nunes da Silva
Resumo: Este artigo vem mostrar a importância da escola na ajuda às crianças com transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e nessa trajetória percorremos vários caminhos, entre eles a análise sintomática. Nosso objetivo em falarmos do sintoma, foi fazer uma reflexão acerca dessa palavra tão significativa e que na maioria das vezes, pais e professores não prestam atenção no que ela quer transmitir.
Assim, falamos que as dificuldades de aprendizagens tanto podem ter origem orgânica, como também, provenientes das crises familiares vivenciadas pela criança. Citamos os principais sintomas do TDAH, como possíveis causas destas dificuldades.
Abordamos a relação entre a família, a escola e a criança, constatando a importância do vínculo familiar e a força que ele transmite nas crenças que são passadas pelos pais a seus filhos. Quanto à escola, enfatizamos a necessidade de levarmos para a sala de aula uma educação pautada em valores humanos, na qual haja valorização do ser humano em todos os aspectos.
No atendimento à criança com TDAH citamos entre outros autores, Izabel Parolin (2005) que partindo da idéia que todo sujeito é único, com formas diferentes de agir e reagir, com hábitos de vida que influenciam seu desenvolvimento, considera necessário buscar soluções para o transtorno com todos os envolvidos (a criança a família, a escola) e também com profissionais especializados (médicos, psicólogos, terapeutas ).
Finalizamos o nosso artigo com a apresentação de uma pesquisa de campo, realizada com mães de crianças com TDAH e também com professores, cuja finalidade foi mostrar a prática da vivência diária com essas crianças, quando eles perceberam que algo diferente estava acontecendo e que providências foram tomadas.
Esperamos ter contribuído um pouco com essas informações sobre como tratar os TDAH numa visão mais ampla, na qual, tanto a família como a escola esteja trabalhando em conjunto para uma melhor compreensão desta criança, para que ela possa se relacionar melhor com aqueles que estão interagindo com ela.
1. Introdução
O espírito investigativo deve estar presente na vida do individuo. A pesquisa ajuda na compreensão do objeto que se deseja alcançar e quando estamos imbuídos de um ideal, muitos questionamentos vão surgindo e à medida que vamos nos dando conta que nem sempre há respostas , paramos e vamos atrás dos porquês.
O que nos fez pesquisar sobre o assunto foi à curiosidade em saber porquê há, no momento tantas crianças com hiperatividade. O que está por trás do transtorno? Geralmente a maioria das pessoas não procura saber o que os sintomas querem dizer.
Quando a criança apresenta um comportamento diferente das demais, a família fica dividida. Uma parte não dá muita importância e diz que é uma fase, outra procuram logo um profissional para achar soluções, mas nunca se procura saber qual o significado que os sintomas querem transmitir.
Ao chegar na escola e ao fazer contato com a vida social, os sintomas vão ficando mais visíveis, os desafios tanto para os pais como para os professores, se intensificam e a partir daí, começa a peregrinação dos pais pelos consultórios dos especialistas.
Os estudos da terapia familiar sistêmica vêm comprovando cada vez mais a importância do sistema familiar na história do individuo, confirmando que estamos interligados como numa rede de conexão a um grupo familiar, um sistema maior.
As famílias precisam rever algumas posturas, pois estamos vivendo período de grandes mudanças e muitos paradigmas estão sendo quebrados, assim é momento para refletirmos e nos darmos conta que algo está acontecendo no seio da família.
Os motivos que nos levaram a viabilizar esse artigo têm como finalidade mostrar que em toda sintomatologia que a criança hiperativa demonstra, há necessidade de se pesquisar quais os fatores que precisam ser vistos e todas as suas relações e mediações.
Precisamos ter um olhar mais apurado, alargando nossos horizontes, procurando aceitar, compreender e conhecer melhor a criança portadora de transtorno. Portanto, é importante a participação da família, como da escola na ajuda e valorização desse sujeito.
Os instrumentos utilizados para desenvolver esse trabalho será a pesquisa de campo: Estudo de caso acompanhando os cuidados de uma criança com TDAH e entrevista com pais e professores.
Ao trazermos mais informações acerca desse assunto, vai permitir um maior conhecimento para os pais e professores que estão lidando com essa criança. Os dados comprovam quando a escola e a família trabalham juntas, certamente haverá diminuição dos sintomas, favorecendo uma vida mais tranqüila e saudável para o individuo portador desse transtorno.
2. TDAH: Definição
O livro do neurologista Vicente José Assencio Ferreira (2005), “O que todo professor precisa saber sobre Neurologia”, traz este conceito: “Crianças hiperativas, são crianças agitadas, inquietas e com muitas dificuldades de estabelecer ordens e regras. Elas não conseguem ficar paradas para ouvir uma explicação. São também desatentas, impulsivas e com atividades motoras excessivas”. Afirma ainda, que a “hiperatividade” não é doença, e sim um sintoma que pode acompanhar tanto a criança com deficiência mental, autista, síndrome genética, como também crianças mal educadas e sem limites.
Assim, a criança que apresenta alguns sintomas citados acima, já começa a ser olhada de forma diferente. O sintoma exige nossa atenção e a intenção adequada é fazer desaparecer a causa, embora a maioria dos tratamentos visa à eliminação do sintoma, por exemplo: quando estamos com uma dor de cabeça, procuramos logo tomar um remédio para que ela desapareça imediatamente e quase não paramos para nos perguntarmos o que ocasionou essa dor.
A definição de Sintoma segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, Ed. Nova Fronteira 1986 é: Sintoma. S.M.1..Med. Qualquer fenômeno ou mudança provocada no organismo por uma doença, e que, descritos pelo paciente, auxiliam, em grau maior ou menor, a estabelecer um diagnostico. 2. Fig. Sinal, indício. 3. Presságio, pressentimento, agouro etc...
Isabel Parolin (2005) também fala do sintoma. Segundo ela, ao diagnosticar uma criança com TDAH, é preciso procurar saber qual o significado desses sintomas em sua família. Segundo a autora, o sintoma expressa o que não pode ser verbalizado, sendo a oportunidade para aquele grupo familiar entrar em equilíbrio. Entendemos que os sintomas permitam que todo o sistema familiar se dê conta que algo errado existe e precisa ser modificado.
Ao questionarmos sobre o que está por trás do sintoma, o nosso propósito é levar à reflexão. Sabemos o quanto os pais, irmãos, familiares ficam exaustos com o comportamento diferente dessa criança e na maioria das vezes acabam desenvolvendo alguns cuidados e proteção excessiva, interferindo e prejudicando ainda mais suas ações.
Quando dominamos bem o assunto que estamos pesquisando, temos mais condições de investigar a sintomatologia que uma criança está apresentando, daí a importância dos pais se informarem e serem conhecedores do assunto para poderem compreender esse filho e ajudá-lo na sua educação. A autora fala também da necessidade dos pais se auto-avaliarem, procurando em si mesmo algumas características, como a desatenção e a impulsividade, pois já é comprovado que esse distúrbio pode ter componente genético.
Conhecemos alguns casos de crianças hiperativas, filhas de pais que apresentam características semelhantes, no qual tanto a desatenção, como a impulsividade estão presentes, como também encontramos essas características em outros membros da família.
Ana Beatriz em seu livro Mentes Inquietas (2003 pág..53), fala dos três principais sintomas do TDAH, são eles: distração, impulsividade e hiperatividade. O grande instrumento do profissional é a observação. Esse observador, segundo a autora, deve estar atento a todas as informações da família, escola e pessoas que convivem com a criança. Todos esses fatos serão avaliados de forma criteriosa.
* As características descritas por Ana Beatriz no livro de referencia são: 1. Com freqüência mexe ou sacode os pés e mãos, se remexendo no assento, se levanta da carteira. 2. É facilmente distraída por estímulos externos. 3. Tem dificuldade de esperar sua vez em brincadeiras ou em situação de grupo. 4. Com freqüência dispara respostas para perguntas que ainda não foram completadas. 5. Tem dificuldade em seguir instruções e ordem. 6. Tem dificuldade em manter a atenção em tarefa ou mesmo atividades lúdicas. 7. Freqüentemente muda de uma atividade inacabada para outra. 8. Tem dificuldade em brincar em silencio ou tranqüilamente. 9. Às vezes, fala excessivamente. 10. Vive perdendo itens necessários para tarefas ou atividades escolares.
Para maiores esclarecimentos, voltamos a falar que algumas crianças podem estarem passando por algum sintoma de TDAH, como desatenção, comportamentos agitados e até mesmo dificuldades no seu rendimento escolar, em conseqüência de alguns problemas emocionais e não dar-nos conta do mesmo, sub valorizando tal comportamento.
Atualmente, em conseqüência dos pais estarem trabalhando fora, os filhos na grande maioria, ficam privados da presença deles e assume esse papel outra pessoa de confiança da família. Outro fato que deve ser levado em conta: A cada dia que passa aumenta o número de casais separados, conseqüentemente, os filhos sofrem a ausência dos pais, causando transtornos emocionais. Daí estar chamando à atenção no cuidado na investigação dessa criança.
Vicente José (2005), comenta algo de grande importância: “É inadmissível aceitar como diagnóstico da causa da dificuldade no aprendizado a “doença” denominada “hiperatividade”. É comum os pais procurarem o neuropediatra informando que: “meu filho tem o diagnóstico de hiperatividade” e na maioria das vezes é mais cômodo para os pais ter esse parecer, de que procurar saber o que está por trás do sintoma. Os pais precisam estarem atentos para não se deixarem levar por informações que não estão fundamentadas, pois nem toda criança agitada é portadora de TDAH.
Izabel Parolin (2005), no seu livro Família, a Escola e a Aprendizagem aborda questões bem pertinentes, relacionadas à família e à escola. “A cultura delivery construiu um paradigma que prega que quem não é normal, deve ser ajustado, controlado, medicado para que se torne o que esperamos dele. Desse movimento social, surgem às dificuldades com a aprendizagem”. É comum ouvirmos algumas pessoas falarem dessa forma: “aquele menino não para, deve ser hiperativo”, afirmam isso sem estarem embasados em fundamentação teórica.
Seguindo o seu pensamento, precisamos nos dar conta “que cada sujeito é único, tem forma diferente e suas histórias de vida influenciam no seu desenvolvimento”. É importante saber a opinião de uma educadora que conhece tão bem a estrutura organizacional de uma família. Segundo a autora, a forma como o seu núcleo familiar entende, aceita ou não aceita, age ou não reage, será determinante na leitura e no prognóstico da situação.
Na busca de soluções, todos esses envolvidos tentam de todas as formas, por meio de diversos tratamentos resolver o problema, mas não se dão conta que precisam rever também suas ações e posturas dentro do próprio lar. É comum surgirem conflitos e discussões por causa do problema da criança e ela acaba sendo o bode expiatório da família.
Portanto, a leitura dessa família é muito importante, pois permite que o profissional possa ajudá-la a superar os conflitos que estão lhe angustiando. Na maioria das vezes, alguns fatos são ocultados, histórias contraditórias são contadas e elas começam a desenvolver comportamentos agressivos, passando a fazerem parte daqueles alunos que são mal vistos e excluídos dos demais.
A caminhada é longa para os pais e na maioria das vezes sentem-se frustrados, pois aquele filho não corresponde às suas expectativas, olham para outras crianças da mesma idade e o sentimento de tristeza se torna presente. Daí a importância dos pais se informarem o suficiente, para poderem estabelecer uma boa relação com esse filho e se darem conta, que cada sujeito tem uma forma de aprender.
No relacionamento com os colegas, por ser desatenta, é comum ocorrerem situações constrangedoras para essa criança, passando a ser incompreendida pelos demais colegas, em virtude da dificuldade que tem em adequar-se às rotinas e não dar conta das tarefas exigidas pelo professor. Daí, a importância do professor ser inserido no processo de ajuda a essa criança, para poder integrá-la ao grupo, afirma Ana Beatriz( 2005).
A hiperatividade é considerada um distúrbio biopsicossocial que atinge de 3% a 5% das crianças em idade escolar, de preferência meninos. Cresce a preocupação em relação aos cuidados e tratamentos a essas crianças, pois ainda existem pais que preferem aguardar que essa fase passe ou não, para a partir daí, ver qual é a forma mais eficaz de trabalhar essa criança, o que acaba sendo uma tamanha irresponsabilidade e descaso com o déficit da criança, podendo mais tarde, vir afetar a sua adolescência no que se refere à aprendizagem, como também nos relacionamentos.
Afirma Parolin (2005, pág. 87), “a psicopedagogia procura ver o aprendiz em seu processo de aprender e ensinar, levando em consideração a realidade objetiva e subjetiva e o contexto que a criança e o adolescente estão inseridos. Considera também, que o conhecimento em toda a sua complexibilidade em uma dinâmica, em que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais estão entrelaçados”.
Como é importante o processo de avaliação do comportamento de uma criança, pois nem todo aluno agitado, sem limite e desatencioso é hiperativo. Na maioria das vezes, quando é solucionada alguma questão familiar, o sintoma na criança desaparece. Mais uma vez é comprovado o quanto a força do vínculo familiar interfere nos processos familiares, em determinadas crianças.
Durante muito tempo ouviu-se essa frase: “sou burro e não dou para os estudos”. A rigidez em determinadas famílias em não aceitarem o seu filho como ele é, deixava marcas profundas na criança, pois alguns pais estavam sempre reprimindo ou castigando e a auto estima da criança acabava sendo afetada. Esses são relatos que sempre ouvimos contar, isso ocorria por falta de informações na maioria das famílias.
Quando uma criança apresenta distúrbio de aprendizagem, isso interfere não apenas no trabalho escolar, mas em todos os aspectos da vida, em casa, na comunidade e em outras atividades. Os pais desempenham papel importante no auxilio a sua criança no trato com esses distúrbios e a criança vai precisar de muita compreensão, apoio e ajuda da família. Gostaríamos de salientar, que esses transtornos podem acompanhar o indivíduo até a fase adulta.
Como ajudar esse aluno? Tanto a família como os profissionais e a escola devem constantemente estar conversando a respeito de uma estratégia metodológica, que melhor se adapte a essa criança. Essas reuniões como diz Parolin (2005), devem definir bem o papel de cada uma das partes envolvidas e que haja coerência entre as diferentes propostas. Ao concluir sua fala, faz esse comentário: “entendo que uma família ou uma escola que tem uma criança com TDAH não tem um problema, mas uma situação para administrar. Porem, se não for encarada com seriedade, competência e sensibilidade, aí sim, pode vir a tornar-se um transtorno em suas vidas”.
De tudo que foi comentado, ressaltamos a necessidade da família da criança que está desenvolvendo esses sintomas, procurar profissional especializado no apoio a esses tipos de transtornos. Faz-se necessário lembrar a existência de terapias alternativas auxiliares. Conhecemos casos de crianças atendidas na equoterapia, arte-terapia e musicoterapia que reagiram bem nesses tratamentos, melhorando seus comportamentos.
3. O pepel da família
É na família que se estrutura o sujeito, iniciam-se as aprendizagens e que em todo processo avaliativo a sondagem mais importante é sobre as informações da vida desse individuo. Os fatos narrados vão ajudar a conhecer o perfil da criança e o contexto em que ela está inserida. Ao construir a história da família, conhecendo todos os membros desse núcleo familiar, fica mais fácil detectar de onde surgem às dificuldades de aprendizagem, afirma Mara M. Monteiro (2004), em seu livro Leitura e Escrita.
A leitura dessa família vai ajudar o profissional a entender e compreender essa criança. É na interação com os membros da família, que a criança vai estabelecendo os modelos e nesse convívio, vai observando os padrões que vão se cristalizando e enraizando ao longo do tempo.
Izabel Parolin (2005), ao falar do papel da família faz esse comentário: “Cada família tem suas crenças, seus medos, suas ideologias e seus objetivos e isso reflete no cotidiano do grupo familiar e que tudo está relacionado à história dos antepassados dos pais e se estende no dia a dia dos filhos”.
O que foi relatado por esses autores, vem confirmar que essa criança que está desenvolvendo esses sintomas traz padrões repetitivos do sistema familiar, exemplificando: há casos comprovados em que outros membros dessa família possuem características idênticas ao da criança que está passando por esse processo avaliativo de sondagem.
A terapia familiar sistêmica procura dar outro significado ao sintoma. Essa visão sistêmica como diz Parolin, ver o sujeito de forma não-linear, isso quer dizer, que os sintomas que se apresentam nem sempre são de causas aparentemente conhecidas.
Como a família lida com o sintoma? Nessa perspectiva de procurar compreender essa criança com TDAH, há algo que precisa ser entendido, os ciclos evolutivos. Toda as famílias passam por esses processos. Precisamos quebrar os paradigmas modificando as nossas crenças para podermos avançar. É necessário revermos nossas posturas a determinados acontecimentos, essa concepção de mundo que carregamos ao longo da nossa existência, na maioria das vezes nos atrapalha. É comum ouvirmos: “Pra que mudar, se sempre deu certo dessa forma, essas inovações não vão ajudar em nada...”.
No inicio, falamos que o sintoma exige que prestemos atenção no que ele quer dizer, mas na maioria das vezes ele passa despercebido.
Quando os pais suspeitam que há algo errado com a criança, normalmente levam a vários especialistas até acharem um diagnóstico. Nesse percurso esquecem de comunicar a criança o que está lhe acontecendo, talvez isso ocorra porque querem poupar o seu filho, tentando encobrir as suas preocupações e nada é dito. Outro ponto que deve ser destacado: os irmãos dessa criança precisam estar cientes, pois eles também fazem parte da família.
Quando um membro da família sofre, cada um da família sente a dor e demonstra de várias formas. Às vezes acontece que um dos irmãos demonstra reações de indiferença, sentindo vergonha do comportamento do irmão, daí a necessidade de se prestar atenção nesses irmãos, explicando o que estar acontecendo com a criança, para que possam compreender as reações e comportamento do irmão. Daí estar mostrando o quanto o papel da família é fundamental para o desenvolvimento integral dessa criança.
Os pais desempenham papel muito importante no auxílio à sua criança, portanto devem procurar se informar e conhecer tudo a respeito da problemática dos seus filhos, para poderem advogar a causa deles, mas também precisam cuidar de si, ficando atentos às necessidades de outros membros da família. A família estando bem beneficiará a criança.
Ter um filho com TDAH afeta sentimentos e a maioria dos pais não estão preparados para essa situação. A relação do casal sofre abalos, sendo comum ficarem angustiados, com sentimentos de raiva, impotência, culpa, vergonha, tudo isso ao mesmo tempo, como também há casos em que os pais se separam por não saberem lidar com a situação. Entendemos que são reações normais e além de serem mães e pais são também seres humanos.
O livro “Quem Ama não Adoece” do Doutor Marcos Aurélio Dias da Silva (2000), no capitulo que fala das relações de amor com os filhos, (pág. 292) traz este comentário: “A construção de um mundo melhor passa necessariamente pelo aprimoramento das relações entre pais e filhos”. Mais adiante comenta: “A psicanálise nos ensina que todas as formas de doença mental e comportamento anti-social se derivam, direta ou indiretamente de dificuldades nos relacionamentos entre pais e filhos”. Comentando esse pensamento, nos damos conta de quanto é importante um bom relacionamento entre pais e filhos para evitar problemas dessa ordem.
Ao abordamos a psicanálise, queremos mostrar a importância dos pais também passarem por um processo analítico, pois é fato comprovado que os filhos são reflexos da mente dos pais. Há uma imensa variedade de abordagens terapêuticas e cada família deve procurar aquela que mais se identifica. Ao realizarem um trabalho terapêutico, estão aprendendo a lidar com suas emoções, como também entendendo os processos que seus filhos estão vivenciando, aceitando-os com realmente são.
Queremos dizer aos pais, que a criança que necessita de compreensão está nos ensinando algo. Ela é muito especial, encantadora e freqüentemente são muito inteligentes. Nos Estados unidos elas são conhecidas como Crianças Índigos. “São aquelas crianças que apresentam um conjunto de características psicológicas incomuns e um padrão de comportamento ainda não classificado pela ciência. Esse tipo de comportamento faz com que todos os que interagem com ela (principalmente os seus pais) tenham de se adaptar a circunstâncias diferentes e a um tipo especifico de criação”.
4. Escola, um espaço prazeroso...
Quando os pais escolhem esse espaço para ajudar na educação dos seus filhos procuram sempre um lugar que satisfaça às suas expectativas, para continuarem a passarem os seus valores, como também a escolha do método que eles acreditam. É na escola que o individuo complementa a sua educação e nesse espaço prazeroso o sujeito vai a busca de novas formas de conhecimento, que já foi iniciado no ambiente familiar.
É importante que os educadores estejam bem informados para poder posicionar-se a respeito de seu aluno, estando atentos para identificar e encaminhar para tratamento multidisciplinar a criança que está desenvolvendo algum sintoma. A vivencia da criança na escola torna-se bastante complicada na medida em que seus professores desconhecem o que está por trás dessa mudança de comportamento.
Ana Rita (1999, p. 104) em seu livro A emoção na sala de aula, ao falar da relação professor-aluno, traz esse comentário: “A criança é fortemente influenciada pelo tipo de relação que mantém com cada componente de sua constelação familiar, daí a importância, para o desenvolvimento psíquico da criança, dos papéis que cada um representa e das relações que cada um estabelece com ela”. Segundo ela, tanto a escola como a família tem o seu papel no desenvolvimento infantil desta criança.
Como a escola compreende e lida com esse aluno? Segundo Parolin (2005), é importante analisar como os professores lidam com as diferentes formas de ser, de aprender e as diversas formas das crianças se expressarem e também, como enriquecer seus currículos, seus grupos de sala de aula e a si mesmo, a partir do entendimento e do convívio com as diferenças individuais. É necessário que os professores procurem alternativas para ajudar a criança a enfrentar as dificuldades, criando alternativas de auto-avaliação, ou seja, esses conhecimentos possibilitarão uma compreensão mais cuidadosa e dedicada sobre o comportamento dos seus alunos hiperativos.
É importante falarmos um pouco da inclusão de alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais. Salientamos a importância da contribuição do professor na Inclusão desses alunos no contexto da escola, pois dele depende a integração desses alunos com os demais. Sabemos de casos em que a escola matricula esses alunos, somente porque existe uma lei que obriga, entretanto não dedicam atenção especial a eles. Nos casos de crianças com déficit de atenção, alguns professores costumam dizer que eles não aprendem, acham que são deficientes mentais e que devem ser encaminhados para as escolas especializadas. Daí a importância do professor conhecer um pouco sobre neurologia, como afirma Vicente José (2005 ).
Alguns alunos demoram muito na fase de adaptação quando chegam à escola, e alguns desses casos têm a ver com a sintomatologia que a criança apresenta, pois cada caso responde de uma forma diferente. Relataremos um deles: A criança não ficava em ambiente com portas fechadas e para os pais deixava a impressão que a criança se sentia numa prisão, e quando isso ocorria ela chorava o tempo todo. A solução dada pela profissional que tratava do caso, foi deixá-la no parque da escola, permanecendo a sala com a porta aberta. A criança ficava a maior parte do tempo no parque. A mãe ficava por perto. De vez em quando a criança entrava na sala, ficava por algum tempo e depois saia. A presença da mãe na escola dava-lhe segurança. Depois de vários meses, consegui-se sua adaptação na turma e aos poucos foi interagindo com os demais colegas.
É comum algumas crianças passarem por essas dificuldades. Para Vicente José (2005), isso ocorre em conseqüência dos pais não estarem totalmente seguros e confiantes em deixar sua criança afastada deles, principalmente a mãe. Segundo o autor, eles podem estar sendo os “agentes” desencadeadores do medo. Interpretando essa fala, a nível inconsciente a criança percebe toda essa insegurança, daí haver uma demora no processo de adaptação na escola.
Conforme Ana Beatriz (2005), é importante que o educador conheça bastante sobre a patologia dessa criança, para poder ajudá-la na sua integração com os demais colegas. Como na maioria das vezes elas são desatentas e não costumam ouvir as orientações, sofrem isolamentos e são muito criticadas. A escola precisa conhecer esse aluno como um todo (emoção, sentimento, limites, medos, vontade e necessidades).
O papel do professor é muito importante, pois é ele quem vai estabelecer um vinculo entre a escola e a criança. Quando há um bom entrosamento entre a criança e o professor, os pais ficam tranqüilos, pois estão confiando o seu filho a essa pessoa, como também à escola. Para Vicente José (2005), o professor é a “ponte de ligação do mundo particular da criança para o mundo da coletividade” (pág 80).
A humanidade passa por grandes transformações, a escola como parte desse todo precisa rever algumas posturas que ao longo do tempo foram sendo incorporadas. Portanto, há necessidade de levarmos para a sala de aula uma educação pautada em valores humanos, uma educação integral, na qual haja a valorização do ser humano em todos os aspectos.
Maribel Barreto (2005), no seu livro O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação, faz esse comentário: “Quando falamos de educação, devemos lembrar que ela pressupõe um movimento de dentro para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a necessidade de investirmos nas nossas potencialidades.” Comentando a sua fala, esse educador precisa despertar em si o desejo de se autoconhecer e através do “conhecer a si mesmo” passa a compreender a vida, ficando mais fácil ajudar a “criança que necessita de compreensão”.
A concepção de mundo desse educador interfere nessa relação. Esse professor precisa ter boa vontade, carinho, para que esse vínculo se estabeleça da melhor maneira possível. A escola é também um sistema e está interligado à família. Portanto, essa parceria escola – família deve atuar juntas, para promover na criança sua autonomia, valorizando suas capacidades e com amor, que é o elemento primordial nas relações, é possível realizar um trabalho produtivo com a criança que apresenta esse transtorno denominado de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
A família e a escola formam um sistema, uma rede que precisa promover um trabalho em conjunto que contemple o individuo, não isoladamente, mas com todos que estão inseridos no contexto. Dentro dessa abordagem, um terapeuta alemão Bert Hellinger desenvolveu uma terapia chamada Constelação Familiar, que tem obtido inúmeros sucessos em várias partes do mundo.
Na Alemanha, crianças com esses transtornos vêm sendo trabalhadas com essa abordagem com bastante resultado, ajudando os professores a entenderem as dinâmicas das famílias. O livro “Você é um de Nós” já publicado no Brasil foi escrito por uma terapeuta e professora Marianne Franke-Gricksch, vem confirmar a força do vinculo à família de origem. A autora, através da aplicação da abordagem “sistêmica” da terapia familiar dentro da rotina diária de uma escola, encontrou soluções para problemas vivenciados pelos professores, como dificuldades de aprendizagens, conflitos entre eles ou entre eles e professores e comportamentos agressivos. Aqui no Brasil alguns profissionais já estão trabalhando em seus consultórios com esse enfoque.
Ao trazermos essas informações, queremos mostrar como é importante a atuação da escola no encaminhamento para solucionar os problemas.
5. A criança
“Quando observamos os sentimentos infantis somente através do estreito olhar do adulto, não conseguimos traduzir as suas mensagens”, Marcos Meira, Educação Infantil no tempo presente (2002).
Estamos sempre em processo de mudanças e na maioria das vezes não percebemos as sinalizações que as crianças estão nos passando e por estarmos “fechados” não conseguimos detectar as “mensagens” que elas querem transmitir. Essas crianças tão espontâneas nas suas atitudes, não são compreendidas, sendo rotuladas como preguiçosas, esquecidas, agitadas, como se estivessem no “mundo da lua”.
Quem é essa criança que se apresenta com um olhar tão assustado? O que ela quer nos dizer? Porque é tão difícil encararmos o que está por trás do sintoma?
Pais, familiares e a escola precisam compreender os diversos aspectos do desenvolvimento infantil para entenderem as suas crianças. Essas crianças são muito inteligentes e criativas e ao lidarmos com elas, percebemos o quanto são amorosas e os determinados “comportamentos” apresentados por elas, não os fazem diferentes das demais.
Relataremos uma das muitas histórias que conhecemos sobre essas crianças ditas “diferentes”: Certa vez perguntou a sua mãe: “Como vamos para o céu?” Logo em seguida respondeu: “Crescendo as pernas”. Como é surpreendente a reação frente aos problemas naturais da vida humana! Outro caso relatado por outra mãe: “Quando crescer vou trabalhar e vou comprar uma casa bem grande com piscina, e só quem vai morar nesta casa é a minha mãe, a minha princesa”. Realmente, estas crianças são fantásticas!
A criança está sempre num processo de criação. A música “Aquarela” de Toquinho expressa muito bem quem é esse ser, nas suas potencialidades. “Numa folha de papel qualquer eu desenho um sol amarelo e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo... Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul de papel, num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu”...
Essa composição demonstra o quanto é capaz uma criança. Na sua linda imaginação, vai construindo o seu mundo e às vezes “esse mundo” não é compreendido pela família, sociedade e terminam quebrando essa fase de encantamento. Ela se retrai, não expressando mais os seus sentimentos.
A criança que necessita de compreensão, está aqui em nossa frente. Seu olhar é um pedido de socorro. É preciso refletir: seja qual for a situação que a criança esteja vivenciando, tanto a família como a escola precisam se unir, procurando uma solução para ajudar essa criança a se libertar dos estigmas, dos rótulos que lhe são atribuídos. Pais e professores precisam estar bem informados sobre o TDAH. Os tratamentos nessa área estão bem adiantados, permitindo que essas crianças tenham uma vida saudável e que seus pais possam ficar mais tranqüilos e sem culpa.
“Tudo na vida tem o seu tempo, o que significa, naturalmente, perceber que também é necessário tempo para ser criança, tempo para aprender a assumir as responsabilidades e, acima de tudo, o tempo que leva uma educação”, como afirma Marcos Meira em seu livro, Educação Infantil no Tempo Presente.
6. Primeira entrevista:
Idade da criança: 13 anos. 2ª série. Escola pública. Diagnóstico dado pela equipe: Transtorno de Déficit de Atenção.
1 - Em algum momento vocês notaram mudanças no comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Sim. Porque ficava comparando com seu irmão mais velho. Ficava me questionando a mim mesma.
2 – Notaram ou sentiram algumas alterações ou mudanças de comportamento da criança no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas?
Sim. Porque achava estranho o comportamento dele em relação aos professores, pois ficava beijando toda hora e eles reclamavam e perguntavam porque ele se comportava daquela maneira.
3 - A criança manifestou para os familiares ou pessoas mais intimas algum sonho ou sonhos, no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas? (Sonhos tipo pesadelos).
Não.
4 - Houve algum problema sério com familiares da criança como morte, separação, perda de emprego, etc.
Sim. Houve separação, pois viajei para outro estado, ficando ele com a avó. Nesse período o pai também perdeu o emprego.
5 – A criança já apresentou anteriormente sintoma semelhante, ou mesmo de outra modalidade?
Sim. Pois costumava ficar aéreo, meio desligado. Na escola, a professora dizia que ele não aprendia e nos orientou a procurar uma escola especializada.
6 - Vocês tiveram a preocupação em pesquisar se na família existiam alguns casos, parecidos com o que está acontecendo com o seu filho?
Sim. Porque quando era pequeno tinha convulsão e havia um tio avô por parte do pai que também tinha convulsão. Também o meu irmão nasceu com síndrome de down.
7 - Já passaram por essa situação, como: Isso é de família, ele age assim desde pequeno, isso é uma fase, depois passa...
Não dessa forma, mas, lembro que minha mãe costumava dizer: “ um dia você vai ter um filho e alguém vai lhe dizer que seu filho é maluco, para você sentir na pele”. Ela falava isso porque, quem tomava conta dele quando ela ia trabalhar era eu. Tinha apenas oito anos e às vezes eu queria brincar com outras meninas, colocava ele para dormir e saia para rua. O meu irmão acordava, caia da cama e se machucava. Quando ela chegava que via ele sozinho e chorando, ela me batia e me agredia com palavras.
8 - Já se perguntaram: porquê está acontecendo com o meu filho esses comportamentos...
Sim, porque aquelas palavras que ela me disse quando era criança, ficaram na minha mente e quando vi o meu filho com esses comportamentos achava que era castigo. Ficava me questionando: “Será que isto está acontecendo é porque não cuidei tão bem dele, do meu irmão...”
9 - Que atendimentos médicos, psicológicos, etc, tem feito a criança?
Logo no inicio quando apresentou aqueles comportamentos de abraçar e beijar as professoras, a professora não gostava dele, achava que ele era muito bobo. Ele entrou na escola pública com 7 anos. Hoje está sendo acompanhado por uma neurologista, uma Psicóloga, uma fonoaudióloga. Tem melhorado bastante na escola, já consegue prestar atenção nas aulas e nas atividades que são realizadas, tanto na escola, como na clinica. Recentemente ganhou uma medalha do melhor aluno da escola em comportamento.
Fiz esta outra pergunta: Como é o dia a dia de seu filho?
Hoje ele já tem um comportamento bem melhor devido os tratamentos que vem fazendo. Em casa ele é nota mil, porque não dar trabalho algum e está sempre procurando ajudar de todas as maneiras. Se estou lavando roupa, ele quer ajudar, enfim, tudo que estou fazendo ele quer me ajudar.
Fiz mais uma intervenção: A partir de quando vocês notaram a melhora dele?
Quando iniciou o tratamento com a médica começou a tomar remédio, e depois com os tratamentos dos outros profissionais. Na escola senti a mudança quando entrou outra professora e se interessou mais por ele, à escola está mais presente e mais aberta e tem procurado ajudá-lo a vencer as dificuldades. Em casa os irmãos também estão sempre ajudando. Tenho consciência, que a partir do momento que eu e meu marido paramos mais de brigar, ele melhorou bastante. Antes quando a gente brigava, ele chegava na escola brigando e batendo nos colegas. Quando acontecia isso, a professora mandava um bilhete perguntando porque ele estava agindo dessa maneira. Lá na clínica também é feito um grupo de estudo para as mães e agora estou mais tranqüila.
7. Segunda entrevista:
Idade da criança: 9 anos. 3ª série. Escola particular. Diagnóstico dada pela equipe: Transtorno de Déficit de Atenção
1 - Em algum momento vocês notaram mudanças no comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Sim, sempre notei que meu filho era uma criança muito agitada, inquieta e ansiosa, e que mesmo dormindo apresentava-se agitado. Achava que fosse uma fase e que iria passar, porém, quando ele começou cursar a alfabetização que os sintomas se acentuaram percebi que havia algo errado e que ia precisar de ajuda para entender o que estava acontecendo. Busquei um tratamento espiritual e logo depois um tratamento com um psicoterapeuta para nós dois (mãe e filho). Um dia por acaso conversando com uma amiga sobre criança hiperativa ela me falou de um livro chamado no Mundo da Lua, resolvi comprar e ler, foi quando percebi que o comportamento dele era muito parecido com os relatos no livro sobre crianças com TDAH. Conversei com a psicóloga que já havia percebido e estava aguardando um melhor momento para conversar comigo e encaminhá-lo para um neurologista. Quando levei ao médico o diagnóstico apresentado foi TDAH, porém no grau leve.
2 - Notaram ou sentiram algumas alterações ou mudanças de comportamento da criança no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas?
Sim, agitação, e outra característica forte é o esquecimento, perde material escolar (desligado).
3 – A criança manifestou para os familiares ou pessoas mais íntimas algum sonho, ou sonhos, no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas? (sonhos tipo pesadelos ).
Sim, ele relatava que tinha pesadelos com sombras e monstros e ia dormir na nossa cama porque tinha medo.
4 – Houve algum problema sério com familiares da criança, como morte, separação, perda de emprego, etc ?
Não, houve a morte da avó paterna quando ele tinha 2 anos, porém não observei mudança de comportamento em função dessa morte, porque ele era muito pequeno e não tinha uma relação muito próxima com essa avó. Ela morava no interior e tinha problema de depressão.
5 - A criança já apresentou anteriormente sintoma semelhante, ou mesmo de outra modalidade?
Sim, quando bebê ele teve refluxo o que contribuiu para deixá-lo mais agitado e por volta dos 4 anos ele tinha medo de escuro, muitos pesadelos e ia toda noite para minha cama e finalmente aos 7 anos apresentou gastrite.
6 - Vocês tiveram a preocupação em pesquisar se na família existiam alguns casos, parecidos com o que está acontecendo com seu filho?
Sim, depois que li o livro no Mundo da Lua e respondi alguns questionários da neurologista percebi que o pai tem comportamento parecido com o do meu filho e que alguns irmãos do pai (tios) também têm.
7 - Já passaram por essa situação, como: Isso é de família, ele age assim desde pequeno, isso é uma fase, depois passa...
Sim, já escutei isso do pai, dos familiares do pai e de amigos. Isso é coisa de criança, todo menino é danado, depois passa.
8- Já se perguntaram porque está acontecendo com o seu filho esses comportamentos...
Sim, antes de conhecer os sintomas, pensava, porque logo com meu filho?, justo eu que sou uma pessoa organizada e perfeccionista e gosto de tudo certo e no lugar. Porém, depois de muita leitura, ajuda espiritual e de profissionais especializados, percebi que precisava fazer concessões, ser mais flexível e educá-lo com muito amor. Foi muito bom porque buscando alternativas para melhorar a vida dele terminei descobrindo que eu também estava melhorando a minha vida, como ser humano,como mãe e como esposa e até mesmo como filha.
9- Que atendimentos médicos, psicológicos, etc, tem feito a criança?
Hoje ele está bem, recentemente foi dispensado da terapia e estamos observando o comportamento dele. Ele tem uma rotina estabelecida para facilitar o seu dia a dia e deixá-lo mais tranqüilo. A psicóloga achou que a nossa conduta enquanto pais era muito boa e que o acompanhamento que a família tinha com ele era excelente, por isso é que resolveu dispensá-lo e deixar sobre observação dos pais e no caso de uma alteração no comportamento retornar.
8. Terceira entrevista:
Idade da criança: 8 anos. 1ª série - Escola pública. Apresenta sintoma de TDAH na visão da professora.
Perguntas Direcionadas aos pais:
1 – Em algum momento vocês notaram mudanças no comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Eu sempre achei normal o comportamento dele. Para mim tudo era coisa de criança. Meu irmão que vivia me dizendo que ele não era igual às outras crianças da idade dele. Ele sempre falava assim: “esse menino não é normal, parece que é até maluco”.
2 – Notaram ou sentiram algumas alterações ou mudanças de comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Nunca parei para observar essas coisas, achava tudo normal, só me dei conta mesmo do problema no dia que meu irmão mandou que levasse ele no médico e ao chegar na escola à professora dele me chamou para conversar sobre o comportamento dele e me fez a mesma recomendação. Foi aí que passei a observar melhor seus comportamentos e buscar ajudar mais ele, querendo entender porque ele era “diferente” dos outros colegas.
3 – A criança manifestou para os familiares ou pessoas mais íntimas algum sonho ou sonhos, no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas? (sonhos tipo pesadelos).
Meu filho sempre tem sonhos agitados, mas acho natural. Toda pessoa sonha e tem pesadelos e não acho que seja por causa do seu problema.
4 – Houve algum problema sério com familiares da criança como morte, separação, perda de emprego, etc,?
Moramos só ele e eu, porque o pai dele um dia saiu para comprar alguma coisa e não voltou mais, até a sua família diz não saber onde ele está, mais eu não acredito muito nisso, e sei que isso deixa o meu filho muito triste e magoado. Toda vez que alguém pergunta pelo pai ele diz que sou eu. Antes morávamos com minha família, mas comecei a achar que ninguém tem paciência com ele e também não me dão força para ajudá-lo, aí resolvi morar só com ele.
5 – A criança já apresentou anteriormente sintoma semelhante ou mesmo de outra modalidade?
Sempre achei ele um pouco agressivo, toda vez que se irritava batia. Hoje já não acho que bata tanto assim, acho que seus colegas é que batem toda hora nele pela coisas que ele faz e acaba deixando seus coleginhas aborrecidos.
6 – Vocês tiveram a preocupação em pesquisar se na família existiam alguns casos, parecidos com o que está acontecendo com o seu filho?
Não tenho muito conhecimento sobre o assunto. Só agora é que estou ouvindo falar sobre ele mas, ele tem um outro tio que tem um comportamento bastante parecido com o dele. Algumas pessoas chegam a perguntar se é o pai dele.
7- Já passaram por essa situação, como: Isso é de família, ele age assim desde pequeno, isso é uma fase, depois passa...
Tanto já passei, como já disse essas coisas muitas vezes, pois na verdade achava coisa de criança, só que cada vez mais sinto que ele está agitado.
8 – Já se perguntaram: porque está acontecendo com o meu filho esses comportamentos? Eu já me perguntei muito. E sofro com isso. Penso também nele crescer assim e ter mais problemas ainda, sofro quando vejo os colegas se afastarem dele e até a própria família.
9 – Que atendimentos médicos, psicológicos e outros, tem feito a criança?
Ele ainda não recebe nenhum atendimento especializado, porque só a pouco tempo que vim me dar conta da real situação dele e estou procurando ajuda, já que não tenho condições de pagar esses tratamentos, mas, quero muito ajudá-lo, porque amo muito meu filho.
Outra pergunta no decorrer da entrevista: Como é a relação dele com os colegas?
É bastante complicado para ele participar das brincadeiras, os coleginhas não querem deixar. Logo chora, briga e acaba ficando irritado e algumas mães também não querem que seus filhos brinquem com ele, dizem que ele é maluco. Nunca levam ele a sério e tudo que ele diz todos riem e começam a fazer brincadeira que deixa ele chateado, sem falar nos apelidos que são muitos.
9. Entrevistas direcionadas aos professores:
1 - Como você lida com uma criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na sua sala de aula?
Acredito que para determinada situação faz-se necessário uma capacitação ou um preparo específico para tal prática, sendo assim, por não ter este preparo, o primeiro passo é muita calma para trabalhar com esta criança, percebendo os seus interesses e assim desenvolver atividades.
2 - Como é o ambiente em sala de aula? O material utilizado é adequado e interessante para todos os alunos?
Apesar da sala ter um espaço confortável, limpo e agradável, não tem muitos materiais e o pouco que tem não é interessante para todos os alunos mesmo sendo adequado para a sua idade.
2 - Se alguns alunos tem dificuldades para entender o matéria, você adapta ou modifica para que todos entendam? No caso do TDAH o que você faz?
As explicações para serem necessárias faz parte das atividades, mas as crianças sempre desviam a utilização para a sua forma.
3 - Crianças que não prestam atenção as aulas são colocadas em locais diferentes, longe dos objetos que as faz distrair?
De certa forma sim, pois quando deixo perto das demais crianças, acaba se distraindo.
4 - O que você pode fazer dentro do sistema atual para ajudar um aluno que tem TDAH?
Acompanhá-lo para um especialista, aprimorando formas de desenvolver diversas atividades e de forma prazerosa tanto para ele como para todos os outros que estão na sala.
5 - O currículo é flexível e varia de uma aula para outra de acordo com o interesse dos alunos?
Sim, sempre que planejo, acabo alterando ou retirando atividades e fazendo algumas adaptações conforme o processo de desenvolvimento da turma.
6 - Os professores têm autonomia para decidir como agir em relação aos alunos?
Nem sempre, pois não são todos os pais que aceitam determinadas ações.
7 - Como acha que a família pode contribuir no aprendizado do aluno com TDAH?
Levando o mais rápido possível para um psicólogo, e principalmente diretamente de todas as ações da escola e de seus médicos.
Outra pergunta foi feita em relação ao rendimento escolar da criança.
Para mim é muito difícil trabalhar com ele, às vezes perco a paciência e acabo agindo de forma incorreta. Sei que ele tem suas limitações e por isso não consegue acompanhar seus colegas, sei também que tenho culpa nessa situação; na verdade ele está bem distante. Tenho tentado de várias formas mudar esse quadro e às vezes me sinto incapaz por não está conseguindo e vivo me perguntando onde estou errando.
10. Análise das entrevistas com as mães
Analisando as respostas das mães entrevistadas, verificamos em cada uma delas a ocasião que constataram que seus filhos desenvolviam alguns sintomas e a atitude tomada por elas em ajudar seus filhos. Constatamos também, o quanto elas procuravam respostas, uma explicação para o que estava acontecendo.
Em outra característica observada, as três mães relatam que outros membros da família apresentam comportamento parecido, vindo a confirmar o que os autores citados anteriormente, falaram: “Na maioria dos casos há um componente genético e o que a terapia sistêmica fala, também é comprovado”.
No relato da primeira mãe, percebe-se muito bem o vínculo forte da família exercendo influencia na mãe, na crença de que seu filho desenvolvia esse comportamento por “castigo”, originado nas palavras fortes da sua genitora, quando ela ainda tinha oito anos. Izabel Parolin (2005), afirma que cada família tem suas crenças, seus medos, e isso reflete no cotidiano do grupo familiar.
A psicanálise também afirma “A construção de um mundo melhor passa necessariamente pelo aprimoramento das relações entre pais e filhos” (Marcos Aurélio Dias da Silva (2000) em seu livro “ Quem ama não adoece”).
No terceiro caso, a professora da escola é que, verificando o comportamento diferente da criança, orientou à mãe para procurar um médico. Essa mãe relatou de que somente a partir daí, é que ela se deu conta que havia algo estranho com o seu filho. Nos sintomas descritos no desenvolvimento do nosso artigo, falamos que algumas crianças podem estar tendo alguns sintomas de TDAH, e até mesmo tendo dificuldades no seu rendimento escolar, em conseqüência de estarem passando por alguns problemas emocionais. No caso desta criança houve um abandono do pai, como também o afastamento de outros membros da família, pois relata que resolveu morar sozinha com seu filho, mas somente uma equipe multidisciplinar poderá dar o diagnóstico correto.
As entrevistas mobilizaram bastante as mães, principalmente a primeira e a terceira. Notamos na segunda entrevista, uma postura mais esclarecedora da mãe, pois relata que percebeu desde cedo que a criança precisava de ajuda, a partir do momento que começou a ter refluxo e por volta dos quatro anos tinha pesadelo e medo de escuro. Em relação à terceira pergunta, que se refere ao aparecimento de sonhos com pesadelos, no período que antecedeu ao surgimento dos problemas, vem confirmar que os pesadelos e sonhos agitados eram sintomas que a criança estava demonstrando, talvez por ser a mãe mais esclarecida, procurou ajuda tanto em tratamentos espirituais por causa da sua crença, como também começou a fazer análise na abordagem Junguiana.
A terceira mãe agora mais conscientizada, já começa a se dar conta que seu filho precisa de ajuda. A sua fala já é um “pedido de socorro”, diz que a sua família não procura ajudá-la e que se preocupa com o seu futuro, quando ele ficar adulto. Novamente volto o meu foco para a escola. É preciso que a instituição pública tome determinadas atitudes nestes casos, conhecendo lugares onde realizam esses atendimentos para poder enviar a família a buscar ajuda e orientação. Nas instituições particulares já tomam determinadas providencias nessas situações.
11. Análise das entrevistas dos professores
Como é importante a relação do aluno com professor, dele depende também o sucesso do aprendizado do aluno. Essa relação “professor-aluno”precisa ser olhada com muito carinho para podermos entender qual o lugar dele e sua liderança na escola, na comunidade e na sala de aula, como afirma Elizabety Polity (2003) em seu livro Ensinando a Ensinar.
A autora citada fala da importância de uma educação com afeto. Para ela, esse vínculo afetivo é à base de uma estruturação das relações nas questões que se referem às aprendizagens. Ao trazermos essa abordagem, faremos um comentário sobre a fala da mãe na primeira entrevista, ao se referir que a primeira professora costumava dizer que seu filho não aprendia e somente houve um grande progresso, quando iniciou o seu tratamento e mudança de professor. Segundo ela, essa professora se interessou mais por seu filho e ao receber uma medalha de melhor aluno em comportamento na escola, vem comprovar o quanto é importante essa aproximação entre escola e família, principalmente a relação professor-aluno, como afirma também os outros autores citados no artigo. A entrevista desta professora até o presente momento não chegou às nossas mãos, ela ficou de responder em casa e depois nos enviar. A escola nos falou que por motivos pessoais ela se afastou temporariamente da escola.
A professora do segundo aluno não quis responder o questionário alegando falta de tempo. Sabemos que o processo de autoconhecimento não se dá de uma hora para outra. Às vezes, “embutido” numa desculpa pode estar escondido uma resistência nossa. Com esse comentário não estamos afirmando que a professora está com resistência, mas para entendermos o papel do professor precisamos entender como se dá o processo de ensinar.
Conforme Polity (2003), precisamos despertar em nós o desejo de autorizarmos a ensinar. Essa autoridade interna, segundo ela, está ligada a uma “capacidade que outorga ao sujeito, a permissão para no sentir / fazer, poder desempenhar satisfatoriamente aquelas coisas advindas do seu desejo interno”. Portanto, comentando essa fala, nos damos conta que o professor precisa gostar do que faz para poder desenvolver bem a sua prática pedagógica. Como é importante para o professor procurar investir no seu autoconhecimento. Maribel Barreto (2005) em seu livro O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação, fala que “a educação é um movimento que acontece de dentro para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a necessidade de investirmos em nossas potencialidades internas”, isso vem confirmar o que Polity (2003), comenta em seu livro, da importância do professor “autorizar-se a ensinar”.
A terceira professora foi muito atenciosa, percebe-se o seu interesse em querer ajudá-lo e se preocupa com a sua aprendizagem, mas às vezes sente-se culpada e impotente por não conseguir resultados satisfatórios em relação ao restante da turma, trazendo alguns questionamentos: “Quem é o culpado? A escola, a família ou a criança”?
Conforme Polity (2003), “é preciso que o professor conheça um pouco do desenvolvimento psíquico da criança à luz da psicanálise e quais suas implicações no processo de aprendizagem, como também que se pense o papel do professor à luz desses conceitos”. Comentando essa fala, é importante que seja abordado nos cursos de formação de professores a disciplina Psicanálise e a Educação, dessa forma o professor terá mais condição de conhecer o seu aluno e os aspectos do desenvolvimento cognitivo da criança, para não acontecer o que esta professora nos relatou, a sua “incapacidade, se sentido culpada”.
12. Configurações finais
A busca do autoconhecimento é fator preponderante para entendermos as situações vivenciadas pelo indivíduo no contexto onde ele está inserido, inclusive as “crianças que necessitam de compreensão”, que é o titulo deste artigo.
Durante todo o desenvolvimento deste estudo, ficamos nos questionando qual seria a melhor forma de abordar essas questões, para os pais que vivenciam essa problemática com os seus filhos que apresentam dificuldades de aprendizagens, ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Ao introduzirmos como uma das palavras-chaves o sintoma, o nosso objetivo foi questionar, chamar à atenção, refletir sobre o significado que ele quer transmitir e que na maioria das vezes não prestamos muita atenção e não damos a devida importância, deixando ele passar despercebido.
O que precisa ser observado nesses comportamentos que a criança está desenvolvendo, é que nem todo sintoma apresentado pode estar querendo dizer que a criança tem dificuldades de aprendizagens, outros fatores pode estar desencadeando, em virtude da família estar passando por algumas crises. Ao nos referirmos ao autoconhecimento, queremos mostrar o quanto é necessário, tanto para as famílias como também para os professores, terem informações que possibilitem ajudar e compreender os sintomas que a criança apresenta.
Precisamos olhar a família como um todo e não somente a criança isoladamente. Sabemos que a família é uma rede de conexão e que as partes estão interligadas ao todo, daí a importância do estudo da família para compreender o grupo onde ela está inserida.
Portanto, quando os pais procuram uma ajuda terapêutica para o seu filho, com certeza vai ajudá-lo a melhorar seu desenvolvimento tanto pessoal como social e tanto a família como a escola, têm papel fundamental na ajuda a esta criança.
Ao analisarmos as entrevistas com as mães e professores, constatamos que, quando a família está conscientizada da situação, aceitando e compreendendo, surgem alternativas para melhorar a qualidade de vida dela e de toda a família. Em relação à escola, podemos perceber o quanto o professor pode ajudar esse aluno. “Ele precisa estar mobilizado no desejo de querer ajudá-lo, e esse “querer” precisa ser despertado internamente, uma permissão para no “sentir / fazer” poder desempenhar satisfatoriamente aquelas coisas advindas do seu desejo interno”, como afirma Elizabeth Polity (2003) em seu livro Ensinando a Ensinar.
Queremos também mostrar a importância da comunicação entre pais, escola e profissionais para ajudar a criança a superar as suas dificuldades e que a mensagem transmitida pelo sintoma seja compreendida por todos.
A criança que necessita de compreensão está nos falando algo, na sua “linguagem simbólica” ela vem nos mostrar o quanto o vínculo é forte e atuante nas relações familiares e que há necessidades urgentes em serem demolidas as “crenças” que tanto influenciam a família e a escola. A teoria sistêmica tanto no âmbito da família, como na instituição escolar, tem trazido grandes contribuições nos estudos da criança com distúrbio de aprendizagem. O estudo da família tem uma grande importância na compreensão do sintoma e, se incluirmos a visão sistêmica nesse estudo, como também a psicanálise e outras abordagens terapêuticas, a criança com certeza será olhada de outras formas.
13. Referências bibliográficas
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O PAPEL DO PROFESSOR DIANTE DOS DISTÚRBIOS/PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
Anterita Cristina de Sousa Godoy
RESUMOCom a entrada cada vez mais cedo das crianças na escola as dificuldades em “aprender as coisas” também surgem mais cedo, causando em muitas famílias verdadeiros martírios e nas escolas e professoras muita angústia. Num jogo de empurra-empurra pais delegam à escola a obrigação de resolver tal situação e a escola cobra da família um apoio externo. Nossa proposta de reflexão nesse texto assume o posicionamento da professora que, na tentativa de pensar sobre o que fazer quando a criança não aprende, tem duas possibilidades: olhar para as impossibilidades ou para as possibilidades desse aluno em busca de ações que os ajudem, já que somente boa vontade não irá resolver os problemas.
Palavras-chave: professores, problemas de aprendizagem, cotidiano escolar
INTRODUÇÃOUma criança cresce ou tendo uma infância feliz ou uma infância sofrida, custosa, carente... Mas, cresce com um desenvolvimento considerado dentro da normalidade pelos seus pais... Aprende a engatinhar, a andar, a falar, a correr, a brincar, a rabiscar... faz manhas quando quer alguma coisa, chora e fica chatinha quando o sono se aproxima, quer o colo da mãe quando não está boa. Tudo igual, costumamos dizer, só mudam de endereço!Então, essa criança vai para a escola e o paraíso pode começar a se transformar em tártaro... em sofrimento, verdadeiro martírio para a família, às vezes para a escola e para a professora (ou o professor): a criança tem dificuldade em aprender as “coisas” da escola!Pois é justamente na idade escolar que os problemas/distúrbios de aprendizagem começam a ser evidenciados, deixando pais e professores angustiados, por vezes, aflitos. E num jogo de empurra-empurra, os pais delegam à escola a obrigação de resolver esse problema e a escola cobra dos pais a busca (externa) de ajuda para o problema da criança. Deixando a família de lado, já que não é esse o pretenso foco da reflexão aqui proposta, gostaríamos de evidenciar o papel do professor diante dessa problemática. Assim, creio que a questão norteadora da reflexão que começo a desenvolver seja:O que fazer com (ou quando) uma criança que não aprende? Vejo, em meu horizonte, somente duas alternativas: olhar para as suas impossibilidades ou olhar para as suas possibilidades. Ao que parece, normalmente, nos aproximamos muito mais da primeira alternativa. Ou seja, rotulamos o aluno que não aprende e tentamos a todo custo encaminha-lo à profissionais ou instituições que julgamos mais capazes que nós, seus professores, para ajuda-lo em seu aprendizado.Mas, uma pergunta pulsa e instiga-me diante da segunda alternativa que apresentei:Quais as possibilidades que temos diante de uma criança que não aprende? Várias, inúmeras, mas para buscá-las não bastam “boas intenções”, porque o nosso olhar está voltado para os indícios das impossibilidades (PADILHA, 2004, p. 39), é preciso considerar que é a realização sociopsicológica dos pontos fortes da criança, e não o defeito em si, [que] decide o destino de sua personalidade (ibid., p. 39/40). Exatamente isso (e por isso vale a pena ressaltar): não é o “defeito” que a criança possui que determina seu destino, mas a realização social e psicológica de seus pontos fortes – o que ele pode, do que ele é capaz.
1. Como olhar para as possibilidades do aluno?O que deveria ser um exercício comum no magistério, não o é. Para olhar para as possibilidades que uma criança possui, é preciso, pelo menos focar, ao menos, seis pontos, imprescindíveis. Quatro deles, diretamente relacionado ao trabalho pedagógico do professor e dois complementares à ele.Primeiramente é preciso desvendar o que é o típico da escola, isso porque ela está imersa em uma rotina ritualizada que não nos permite ver, apenas enxergar os acontecimentos cotidianos. Conhecer o típico da escola significa buscar uma “abertura” na rotina escolar olhando para as relações que ali acontecem, principalmente, para as relações de ensino, e considerando os fatores tidos como irrelevantes, bem como a trivialidade aparente.Nada na escola se repete. A cada dia um novo acontecimento, uma nova situação, uma nova provocação. Provocados pelo dizer e pelo não dizer, pelo agir e pelo não agir, somos instigados a olhar para a nossa prática pedagógica, cuja rotina evitamos alterar, pois acreditamos muito no ditado “em time que está ganhando, não se mexe”. Acostumados (condicionados?) a acreditar que as dificuldades ou os problemas dos nossos alunos são somente deles, não nos preocupamos em levantar as causas de seus fracassos, apenas os constatamos e ainda não preocupamos em olhar para esse aluno vê-lo como a gente nunca o viu antes. É preciso desfocar o olhar viciado que possuímos para o cotidiano escolar para que, antes de rotular e encaminhar para profissionais especializados, tenhamos um conhecimento maior da criança, também, para que ao encaminha-la (quando isso for realmente necessário) não deleguemos a ela (ou a seus pais) uma função que é nossa: a de dar ao outro que a recebe conhecimento das suas dificuldades. Isso precisa ser feito através de relatórios avaliativos detalhados que vão muito além do “não consegue escrever”, “não sabe ler”, “não para quieta”!Na verdade, nos incomodamos muito com aquele que não se encaixa no modelo “idealizado” de aluno e que acreditamos necessitar de “atendimento especializado”, simplesmente, porque não sabemos o que fazer com ele em sala de aula. Situações como essa pode nos fazer pensar que, durante nosso processo de formação, não foram desenvolvidas as competências e habilidades necessárias para que pudéssemos compreender as dificuldades que nossos alunos apresentam, avalia-las e proceder a um relatório claro e conciso. Com essa constatação voltamos nosso olhar para a nossa formação e a culpamos, porque temos a sensação de que não fomos preparados para lidar com essas situações, esquecendo-nos de que a formação de um professor é permanente e contínua. Não nos tornamos professores somente pela finalização de um curso que culmina com a conquista de um diploma, nos tornamos professores nas relações de ensino que tecemos do decorrer de nossa história de professora, que por sinal, inicia-se muito antes de entrarmos em um curso de formação de professores! Podem ocorrer, sim, falhas no processo de formação como ocorre nos processos de alfabetização. È preciso considerar que os problemas não são só de aprendizagem, mas podem ser de ensinagem. Alicia Fernandez (1994), psicopedagoga argentina, diz que a criança pode não ter um problema de aprendizagem, mas que nós, como docente, podemos ter um problema de ensinagem. Isso mesmo, muitas vezes nós não sabemos como lidar com o processo de ensinagem, o que não significa que não sabemos lidar com os conteúdos que devemos ensinar (embora alguns nos cobre mais atenção e empenho que outros), mas que encontramos algumas dificuldades de relacionamento e/ou de comunicação com alguns alunos o que acaba por interferir ou impedir o desenvolvimento de processo de ensino (que se refere ao trabalho com os conteúdos escolares) (POLITY, 2002). Sim, o processo de aprendizagem e de ensinagem são processos relacionais. Assim como a escola não se faz pelo prédio, mas pelas pessoas que nela trabalham, assim, ensinar e aprender vai além da transmissão do conteúdo, do cumprimento do planejamento. Ensinar e aprender constitui-se num processo de aprender a relacionar-se com o outro, seja esse outro o professor, o autor do livro que estudamos, os colegas, os funcionários da escola, os produtores dos conhecimentos considerados importantes para a humanidade... A escola, o ensinar e o aprender se fazem numa dimensão relacional. É por conta disso que é preciso, novamente, e sempre, olhar para ver (de verdade). Então, é preciso olhar para os nossos alunos para ver o que não sabem, mas também o que eles sabem, pois não podemos nos guiar pelo que a criança não é. É necessário descobrir, como tarefa histórica, a superação do fracasso escolar, nas capacidades (PADILHA, 2004, p. 44). Isso significa que nem todos os sintomas podem ser alocados no mesmo nível, simplesmente porque nem todos os indícios dizem as mesmas coisas. Ou seja, nem sempre uma criança que não pára quieta é hiperativa; que troca as letras é disortógrafa ou que não compreende palavras escritas é disléxica.Quando o foco do olhar situa-se sobre o que a criança não sabe acabamos nos esquecendo do que ela sabe. Ao revelarmos apenas o não-saber do nosso aluno, deixamos de conhecer os conhecimentos presentes nas respostas erradas que elas nos dão. A criança pode não saber escrever, mas ela pode saber que letras são diferentes de números e, ainda mais, que escrevemos com letras e não com números. Existe uma relação dinâmica entre o saber e o não-saber implícita nos exercícios escolares que desenvolvemos com os nossos alunos que nos fornece informações relevantes para o processo de ensino e aprendizagem. Ou seja, é possível indagar o as crianças que erram mais demonstram saber (...) e o que as que acertam mais revelam não-saber (ESTEBAN, 2001, p. 145).Até aqui falamos de ações que dizem respeito especificamente ao trabalho pedagógico do professor, no entanto, outras pessoas podem ajudar-nos nesse processo de identificação dos saberes e não-saberes dos nossos alunos.As outras pessoas que atuam na escola como: a merendeira, o porteiro, a responsável pela limpeza, a secretária, etc; por exemplo, podem estar nos ajudando a coletar informações sobre as crianças: como se comportam no recreio ou durante uma saída para o banheiro, por exemplo, podem fornecer-nos dados enriquecedores. Também o diretor e o coordenador pedagógico são pessoas importantes não só para nos ajudar na coleta desses dados, mas principalmente para nos ajudar a pensar possibilidades de ação junto às crianças que apresentam dificuldades, bem como junto à nossa sala de aula. A família constitui-se num outro pilar fundamental que nos ajuda nos modos de olhar para nossos alunos. Saber como a criança se porta em casa, quais são as suas condições sociais, econômicas, culturais e financeiras pode nos ajudar a olhar para ela por um outro prisma. Como exigir da criança hábito e fluência na leitura se na sua casa não há livros ou jornais, ou revistas e os pais são semi-analfabetos ou alfabetos funcionais?Aproximarmo-nos dessas pessoas (demais funcionários da escola e da família) permite-nos começar a ver coisas que antes não víamos, permitindo captar indícios que nos ajudem a olhar mais detalhadamente cada aluno. São nessas práticas que podemos perceber o quanto o nosso sistema de ensino se isenta da investigação das causas do fracasso escolar e por conseqüência dos problemas ou distúrbios de aprendizagem. Como se passássemos (sempre) para frente os problemas sem nem tocar neles. Afinal, a escola nunca esteve preparada para quem é diferente dela. A escola preparou-se para ensinar a quem aprende igual (PADILHA, 2004, p.119).
2. Quando o encaminhamento do aluno torna-se inevitável...Há casos, no entanto, cujo encaminhamento para profissionais especializados torna-se inevitável, principalmente porque todas as nossas possibilidades de atuação pedagógica (exatamente todas) foram esgotadas. Essas atuações, portanto, não devem se referir somente a mudar de carteira; mudar de professor ou de sala ou mudar de turno ou de turma, mas contemplar o desenvolvimento de um o trabalho pedagógico diversificado com a criança, no qual seja possível visualiza-la em seu todo (cognitivo/afetivo), checando a existência de um problema visão ou audição, ainda não percebido. Ainda assim, é muito importante que essa seja uma decisão conjunta entre nós – professores – a direção e a coordenação pedagógica da escola.Mas, como encaminhar essas crianças?Primeiramente, é preciso que elaboremos um relatório, que deve ser muito bem redigido, isso significa que nossa escrita deve ter a clareza, a coerência e a coesão necessária ao bom entendimento do nosso interlocutor. Não devemos nos esquecer que escrevemos para o OUTRO e não para nós mesmos.Esse relatório deve conter, minimamente, e com o máximo de detalhes:a) o que a criança sabe e não-sabe;b) como a criança se comporta e em que momentos ela se comporta assim;c) se a criança caminhava bem no processo de aprendizagem, em que momento essa situação se reverteu ou em que momentos ela se reverte;d) o que nos chama a atenção na criança.
Jan Hunt (2005) destaca que asclassificações são incapacitantes, porque as crianças acreditam no que lhes dizemos. Se tivermos que classificar algo, que seja o ambiente de ensino e não o aluno: em vez de "criança hiperativa", vamos nos preocupar com as escolas "restritivas de atividade"; em vez de alunos com "falta de atenção", deveríamos pensar nas aulas com "falta de inspiração"; em vez de "criança com fobia escolar" deveríamos usar palavras mais honestas como "ansiosa" e "amedrontada", e tomar mais cuidado ao pesquisar o motivo da ansiedade. (grifos da autora)
Preferencialmente, esse relatório deve ser encaminhado para uma equipe multidisciplinar, principalmente porque não somos apenas cabeça-corpo-mente, somos também: sentimentos, emoções, auto-estima, autonomia, possibilidades, pensamento, ação, querer, decisão...
Algumas consideraçõesSinto que, em muitos casos, nós professores nos sentimos incapazes e com certo sentimento de inferioridade diante de outros profissionais, principalmente aos quais devemos encaminhar nossos alunos que não aprendem. Por exemplo, olhamos um psicólogo como um Psicólogo, mas não nos enxergamos como Professores e, assim, não conseguimos desencadear um diálogo em um mesmo nível. Não podemos esquecer que quem entende do pedagógico, do trabalho efetivo de sala de aula, somos nós: Professores.Mas, a integração entre os profissionais da Educação com os da Saúde, com vistas à melhoria da qualidade de vida do indivíduo e da educação oferecida nas escolas públicas é primordial para que minimizemos os problemas (ou dificuldades) existentes em sala de aula e consigamos formar cidadãos críticos, participativos e saudáveis. Isso significa que tão importante quanto o Psicólogo ou o Psicopedagogo é o Professor. Sendo assim, somente quando a relação de reciprocidade e respeito acontecer entre os profissionais, em vista da criança que necessita dos conhecimentos de ambos, é que conseguiremos olhar para o aluno como a gente nunca olhou antes.É por conta disso que Hunt (2005) nos alerta ainda que um ambiente estressante, punitivo e ameaçador é mais do que suficiente para explicar os problemas de aprendizagem, enquanto Padilha (2004) lembra que ensinar não é ato de violência, mas ato de força. Força para superar o saber espontâneo (p. 125). Ou seja, não é diferenciando, excluindo, obrigando e brigando que iremos conseguir ensinar – porque ensinar inexiste sem aprender, alerta-nos Paulo Freire (1992) – e, isso inclui obrigarmos crianças sem problemas às salas especiais, às instituições especiais, às triagens e sessões para encaminhamento... e tantas outras coisas, que nos faz muitas vezes nos esquecer do trabalho pedagógico em si.Na busca de uma educação que se volte para a formação de um indivíduo numa sociedade mais justa e igualitária, é preciso que procuremos uma teoria simples que explique os fatos e não uma complicada e obscura que não nos permita ver a criança em seu todo. Não precisamos nos confundir com termos técnicos, teorias sem comprovação científica e bodes expiatórios para preservar uma instituição social que falhou com nossos filhos (Hunt, 2005), é preciso acreditar nas possibilidades das crianças e não nas suas impossibilidades, simplesmente porque: Toda criança é uma criança bem-dotada (Jan Hunt).
Bibliografia:ESTEBAN, Maria Teresa. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2001FERNÁNDEZ, Alicia. A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da corporeidade e da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1992.HUNT, Jan. "DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM": uma rosa com outro nome. (s/d) Texto obtido no site: http://members.tripod.com/~Helenab/jan_hunt/distapr.htm Acesso em 15/01/06.PADILHA, Anna Maria Lunardi. Possibilidades de histórias ao contrário ou como desencaminhar o aluno da classe especial. São Paulo: Plexus, 2004.POLITY, Elizabeth. Dificuldade de ensinagem: que história é essa?. Texto publicado em 26/09/2002 no site www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp . Acesso em 15/01/06.
Publicado em 15/02/2008 10:35:00
A Importância do Psicopedagogo Dentro da Instituição Escolar
1. IntroduçãoA Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.Surgiu no Brasil devido ao grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.O presente artigo, que surgiu da preocupação existente com nossa prática como educadora e de nossa crença de que cada um constrói seus próprios conhecimentos por meio de estímulos, tem justamente o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.2. A Formação do Psicopedagogo e a Regulamentação da ProfissãoNo Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome. Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de 360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma grande diversificação na formação.Os cursos de psicopedagogia formam profissionais aptos a trabalhar na área clínica e institucional, que pode ser a escolar, a hospitalar e a empresarial. No Brasil, só poderão exercer a profissão de psicopedagogo os portadores de certificado de conclusão em curso de especialização em psicopedagogia em nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da lei vigente - Resolução 12/83, de 06/10/83 - que forma os especialistas, no caso, os então chamados "especialistas em psicopedagogia" ou psicopedagogos.A lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está na câmara dos deputados federais. Psicopedagogos elaboraram vários documentos nos anos de 1995 e 1996, explicitando suas atribuições, seu campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica, um trabalho que contou com a colaboração de muitos.O psicopedagogo possui a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) como elo de interlocução. A ABPp iniciou com um grupo de estudos formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem, sendo que, atualmente, também busca o reconhecimento da profissão.É do Deputado Federal Barbosa Neto o projeto de reconhecimento desse profissional (Projeto de Lei 3124/97). De início, o deputado propôs uma sondagem entre os políticos da época (1996) sobre a aceitação ou não do futuro projeto. Nesse período, o MEC organizava a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), promulgada em dezembro do mesmo ano. A data que formalizou a entrada do Projeto de Lei é 14 de maio de 1997. Em 24 de junho desse mesmo ano, a ABPp assumiu, em visita à câmara, o reiterar do projeto junto às lideranças políticas do país, do que resultou a sua aprovação no dia 03 de setembro de 1997 pela Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público.Após esta aprovação, o projeto foi encaminhado à 2ª Comissão, que é a de Educação, Cultura e Desporto, acontecendo, então, em 18 de junho de 1998 e 06 de junho de 2000, audiências para aprofundamento do tema. A aprovação nessa comissão ocorreu em 12 de setembro de 2001, após um trabalho exaustivo da relatora Marisa Serrano, do Deputado Federal Barbosa Neto e dos psicopedagogos que articularam tal discussão no Brasil.Em 20 de setembro de 2001, houve mais um avanço político com a aprovação do Projeto de Lei 10891, da autoria do Deputado Estadual (SP) Claury Alves da Silva. O Projeto de Lei 10891 "autoriza o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem".Atualmente, o Projeto de Lei que regulamenta a profissão do Psicopedagogo está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação para ser aprovado. Quando aprovado, irá para o Senado onde terá que passar por três comissões: Trabalho, Educação e Constituição, Justiça e Redação para, finalmente, ser sancionado pelo Presidente da República.No momento, a profissão de Psicopedagogo, tendo em vista o trabalho de outras gestões da ABPp ( Associação Brasileira de Psicopedagogia ) e dessa última, tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Isto quer dizer que já existe a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente. Faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada.3. Áreas de Atuação do PsicopedagogoO psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa.4. O Psicopedagogo na Instituiçao EscolarDiante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não sabem mais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o processo considerado normal e não possuem uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem.Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem.Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo.Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição escolar.A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos que, se existissem nas escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor.Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber.Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências sugerem que um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada". Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o educador se olhe como aprendente e como ensinante. Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno grupo de alunos.Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora, principalmente se os professores forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é positiva. Também o é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio.Segundo Bossa (1994, p.23),... cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem.
5. A Intervenção do Psicopedagogo Junto à Família
O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pela criança em contato com o social, dentro da família e no mundo que a cerca. A família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte da sua educação e da sua aprendizagem.É por meio dessa aprendizagem que a criança é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes. Contudo, na realidade, o que temos observado é que as famílias estão perdidas, não estão sabendo lidar com situações novas: pais trabalhando fora o dia inteiro, pais desempregados, brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados e mães solteiras. Essas famílias acabam transferindo suas responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso, presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que desviar de suas funções para suprir essas necessidades.A escola, como observa Sarramona (apud IGEA, 2005, p 19), veio ocupar uma das funções clássicas da família que é a socialização: A escola se converteu na principal instituição socializadora, no único lugar em que os meninos e as meninas têm a possibilidade de interagir com iguais e onde se devem submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva ....Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família das crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista e de uma anamnese com essa família para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social.O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico.Vale lembrar o que diz Bossa (1994, p.74) sobre o diagnóstico:O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento intelectual. Lembramos que a escola e o meio social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento da criança.Concordamos com Souza (1995, p.58) quando diz que... fatores da vida psíquica da criança podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos processos cognitivos, e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com a família, na medida em que atitudes parentais influenciam sobremaneira a relação da criança com o conhecimento.Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo de aprender. E para isso é importante que os pais contribuam para que ela tenha esse desejo.Existe um desejo por parte da família quando a criança é colocada na escola, pois da criança é cobrado que seja bem-sucedida. Porém, quando esse desejo não se realiza como esperado, surgem a frustração e a raiva que acabam colocando a criança num plano de menos valia, surgindo, daí, as dificuldades na aprendizagem.Para Boszormeny (apud Polity, 2000),uma criança pode desistir da escola porque aceita uma responsabilidade emocional, encarregando-se do cuidado de algum membro da família. Isso se produz, em resposta à depressão da mãe e da falta de disponibilidade emocional do pai que, de maneira inconsciente, ratifica a necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide.A intervenção psicopedagógica também se propõe a incluir os pais no processo, por intermédio de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o papel de meros espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando e opinando.
6. Considerações Finais
A profissão do psicopedagogo não está regulamentada, mas se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada. Enquanto isso, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em cursos de pós-graduação oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas.A psicopedagogia surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem, comprometido com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita, mediante dinâmicas em sala de aula, contemplar a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola.O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento, ajudando o aluno a superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo.A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não, o desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são conseqüentes da história individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança, interações sociais, etc.Nesse contexto, é pertinente concluir que:
É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que seja respondida às suas curiosidades por meio de descobertas concretas, desenvolvendo a sua auto-estima, criando em si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida adulta;
­É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma boa escola ou de bons programas, mas, principalmente, de como a criança é tratada em casa e dos estímulos que recebe para aprender;
É preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando a criança está em casa.
As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que promovam o desenvolvimento.Portando, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.
7. Referências
BRASIL. Projeto de Lei 10.891. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em 25 de julho de 2005.
BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
FERMINO, Fernandes Sisto; BORUCHOVITH, Evely; DIEHL, Tolaine Lucila Fin. Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
IGEA, Benito del Rincón e colaboradores. Presente e futuro do trabalho psicopedagógico. Porto Alegre : Artmed, 2005.
POLITY, E. Pensando as dificuldades de aprendizagem à luz das relações familiares. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em 18 de junho de 2005.
SOUZA, Audrey Setton Lopes. Pensando a inibição intelectual:perspectiva psicanalítica e proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
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Juliane Feldmann
Pedagoga, pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica, com 13 anos de atuação como professora de sala de aula, do ensino fundamental de pré à 4ªsérie, com experiência em alfabetização e atualmente atuando como psicopedagoga clínica e ministrando cursos de capacitação para professores. Quem tiver interesse em receber os informativos dos cursos, me enviem um e-mail (psicojuliane@terra.com.br)
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