DIAGNÓSTICO CONTEXTUALIZADO
RESUMO Este texto considera a Psicopedagogia como um saber híbrido que possibilita perceber o sujeito que aprende como centro do seu contexto. Nesse sentido, aborda o diagnóstico psicopedagógico na realidade escolar, configurando os possíveis obstáculos que poderão constituir-se em problemas de aprendizagem do educando nos níveis sócio-político, pedagógico e psicopedagógico. Considera o contexto, os fundamentos e os aspectos gerais de um diagnóstico psicopedagógico na ótica do sujeito que constrói sua aprendizagem. Aponta para diferenciações na construção, desconstrução e análise dos estudos propostos no seu nível de intencionalidade e de individualidade. Palavras Chave: Escola; Ação; Transformação; Sociedade.
Quando falamos em diagnóstico, pensamos logo em análise, porém só podemos analisar algo se pudermos encontrar o que estamos analisando. Por esta razão quando dizemos que estamos fazendo um diagnóstico temos que saber o que estamos diagnosticando, para que estamos diagnosticando e por que diagnosticar.
Isto nos leva apensar que iremos analisar o problema de aprendizagem durante o diagnóstico psicopedagógico.
Quando pensamos em problema de aprendizagem imaginamos as várias faces que podem compor este problema: Qual a ordem deste problema? familiar? da escola? Do sujeito? da sociedade? de todos estes fatores associados?
Para que se possa compreender qual o tipo de problema existente é necessário que o psicopedagogo esteja atento buscando todas as pistas possíveis.
O olhar psicopedagógico tem que buscar as respostas para as perguntas: Por que este sujeito não aprende? ou por que ele não está conseguindo utilizar suas potencialidades em toda a plenitude? ou o que está impedindo de se desenvolver?. Não são respostas simples de serem encontradas, mas pode ser possível encontrá-las. Precisamos ver aquilo que não está visível, ver o que está dito na entrelinha, no silêncio, na intenção.
É olhar a queixa trazida, pelos responsáveis, pelo professor, pelo próprio sujeito, para o atendimento psicopedagógico com os olhos de Psicopedagogo: um olhar transdisciplinar, construído.
Esta construção precisa partir do que já se sabe; do conhecimento anterior. É construir o presente visualizando o passado com os olhos no futuro. É este o olhar psicopedagógico.
A partir do momento que nos dirigimos, com este olhar, a alguém que veio a nossa procura já não conseguimos mais ouvir somente porque buscamos sentido naquilo que ouvimos, isto é, a escuta Psicopedagógica. Buscamos o sentido da queixa e nos questionamos: por que estão buscando ajuda agora? O que está acontecendo com esta família? O que tem na sua fala que não está sendo dito? Será que ela sabe o que psicopedagogia?
Assim poderemos pensar em inúmeras questões que vem a nossa mente sempre que iniciamos uma nova história.
E temos que nos questionar a cada fala em cada história; temos que suportar não ter respostas para cada pergunta. Temos que aprender a suportar a dúvida apesar dela ser algo difícil de suportar.
Mas por que isso acontece?
Uma das possíveis explicações é que por vezes queremos ter respostas prontas para tudo o mais rápido possível e fazer com que o outro saiba que nós sabemos o que na verdade não sabemos e é neste momento que muitas vezes dizemos aquilo que acreditamos que tem sentido sem nos perguntarmos: sentido para quem?
Se não estivermos atentos deixamos que nossos sentimentos, angustias e medos sejam transferidos para o outro.
Para que conteúdos nossos possam continuar sendo nossos e de nossos educandos, precisamos através da escuta Psicopedagógica formular perguntas aos nossos educandos e tentar encontrar respostas para estas perguntas.
Assim, ao responder as questões que formulamos, eles estarão reflexionando e, a partir daí poderão ressignificar o fato que estão nos relatando ao mesmo tempo em que nós poderemos contextualizar as suas falas, compreender como é seu mundo, quais são suas fantasias, seus medos e, consequentemente compreender o que significa aprender para este educando.
Existe uma relação dialética: ao mesmo tempo em que vai se compreendendo como o sujeito aprende, vai se modificando o jeito deste sujeito aprender.
Mas, estamos falando de diagnóstico ou de intervenção? Estamos falando de diagnóstico interventivo. Não é possível fazer um diagnóstico ficando neutro, acreditando que nada daquilo está tendo significado para o educando.
Fernandez (1990) diz que o diagnóstico serve para o psicopedagogo como a rede para o equilibrista, isto é, é apenas uma segurança, mas que estaremos no trapézio enquanto fazemos o diagnóstico.
Quando iniciamos um atendimento psicopedagógico, precisamos que o educando consiga reconhecer que algo está faltando, principalmente quando estamos atendendo criança, adolescente ou pais encaminhados pela escola.
Pensemos o seguinte: O que faz com que as crianças sejam enviadas à escola? Por que é importante que elas aprendam? que elas convivam com outras crianças? por os pais precisam trabalhar? por acreditar que na escola ela será cuidada? se ela não for na escola, não poderá ter um bom emprego mais tarde?
Sempre que pensamos em diagnóstico psicopedagógico temos que saber ouvir o que o outro tem a dizer, não podemos ter respostas prontas, não existe um caso igual ao outro, existem situações, que com a experiência conseguimos fazer a pergunta mais apropriada para aquele momento.
Outro fato importante é que a questão do diagnóstico psicopedagógico não seja apenas um rótulo, mas que possa visar os aspectos positivos.
Sempre que vamos fazer um diagnóstico temos que nos propor a conhecer a pessoa por inteiro, temos que entender como ela aprende.
O olhar e a escuta Psicopedagógica deverá ter como objetivo verificar como o educando está aprendendo e o que está dificultando o desenvolvimento de suas potencialidades. Só assim poderemos intervir de maneira adequada.
Portanto durante o atendimento psicopedagógico temos que pensar o educando como alguém capaz que vive em um contexto familiar, escolar e social específico e de que maneira vivencia estes espaços para podermos ajudá-lo a ser autor e ator de sua própria história.
ORIGEM DO TERMO DIAGNÓSTICO
O termo diagnóstico origina-se do grego diagnósticos e significa discernimento, faculdade de conhecer.
Para conhecer são analisados os aspectos, as características e as relações que compõe um todo que seria o conhecimento do fenômeno, utilizando para isso processos de observações, de avaliações e interpretações que se baseiam em nossas percepções, experiências, informações adquiridas e formas de pensamento. É um processo no qual se analisa a situação do aluno com dificuldades dentro do contexto da escola, da sala de aula e da família.
Numa perspectiva Psicopedagógica, o trabalho com as famílias pode ser considerado fundamental e indispensável para modificar as atitudes de alguns alunos, mas, mesmo assim, esse trabalho somente se constituirá em uma das partes do diagnóstico, já que ele estará centralizado, principalmente, no conhecimento e na modificação da situação escolar.Bassedas e Col (1996).
Para estes autores, os sujeitos e os sistemas estão envolvidos no diagnóstico psicopedagógico, podendo a escola como instituição social ser considerada de forma ampla, como um sistema aberto que compartilha funções e que se inter-relaciona com outros sistemas que integram o contexto social cujos protagonistas são todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Enquanto psicopedagoga e docente, em nossa prática observamos que o diagnóstico da aprendizagem escolar se situa num espaço e num tempo pré-determinados para que se possa viabilizar a criação de um ambiente psicopedagógico; lugar espacial onde transcorre a ação educativa no tempo previamente estabelecido pela conforme a complexidade dos fatores que envolvem a instituição.
FUNDAMENTOS DE UM DIAGNÓSTICO ESCOLAR
Um diagnóstico psicopedagógico engloba o professor, o aluno e o conhecimento contextualizado na escola, especificamente na sala de aula, lugar onde se constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas tendo como pano de fundo a instituição escolar.
Os fundamentos de um diagnóstico também revelam um tempo, um lugar e um espaço que é dado para aquele que aprende e para aquele que ensina.
Historicamente a prática educativa e a prática Psicopedagógica são derivadas das distintas teorias de aprendizagens que sustentam as concepções diferentes em relação à tríade: professor, aluno e conhecimento.
Consideramos o aluno como um sujeito que elabora o seu conhecimento e sua evolução pessoal a partir da atribuição de um sentido próprio e genuíno às situações que vivem e com as quais aprende. Já o lugar do professor é o lugar daquele que gerencia o processo da aprendizagem. Sua principal ação é mediar o objeto do conhecimento.
É necessário também compreender os processos educativos, curriculares, os aspectos organizacional, estrutural e funcional, bem como todos os elementos envolvidos no processo ensino aprendizagem.
Nesse sentido o diagnóstico é sempre uma hipótese diagnóstica.
ASPECTOS GERAIS DE UM DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO
Aprender é incorporar os conhecimentos
Em um saber pessoal. Judite Rodrigues
A idéia de diagnóstico nos remete ao que significa ensinar e aprender, pois deriva da concepção que temos de sujeito da aprendizagem e a aprendizagem do sujeito.
Desta significação os lugares distintos ocupados pelo professor e pelo aluno em relação ao conhecimento contextualizado pela escola é o lugar de aprender e de ensinar e que dinamizam a prática educativa.
Um ponto importante para se perceber este processo de constituição do sujeito se dá através da questão dos limites. Muitas vezes a queixa escolar e a produção da criança gira em torno da dificuldade em aceitar as normas e o formalismo necessário para construir determinados conteúdos acadêmicos. Outras vezes é a dificuldade em aceitar os erros e o esforço que a aprendizagem demanda, ou seja, é o jogo da aceitação dos próprios limites.
Nesta dialética do ensinar e do aprender, qual o lugar do psicopedagogo? Qual sua intervenção?
O eixo principal da questão do diagnóstico sobre o aprender repousa nas dimensões do aluno, do professor, e dos níveis inter-relacionados na ação educativa, ou seja, Sócio-político, Pedagógico e Psicopedagógico.
O sócio-político inclui a própria organização da escola como instituição destinada a ensinar ou a produzir fracassos dos alunos conforme sua classe social.
O pedagógico refere-se ao processo de ensino: a relação dos conteúdos e a didática.
Pensamos que uma didática eficiente possa representar uma ação preventiva de problemas de aprendizagem, pois a didática preventiva é aquela que lança desafios aos alunos para que estes avancem a partir do ponto que se encontram, isto é, do conhecimento já construído.
O psicopedagogo prioriza o sujeito que aprende ou que fracassa ajudando-o a situar-se em um lugar que o possibilite a aprender, pois pode recorrer a critérios de diagnóstico no sentido de compreender os problemas na aprendizagem.
Nesse sentido, Scoz (1994, p. 22) diz que:
(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade.
Aprender significa incorporar os conhecimentos em um saber pessoal, único, diferente em cada sujeito na sua totalidade.
É isto que o psicopedagogo precisa diagnosticar. Diagnosticar também a escola como um lugar onde acontece a aprendizagem. Este diagnóstico consiste na busca de um saber para saber-fazer por meio das informações obtidas nesse processo de investigação.
O diagnóstico Psicopedagógico pode ser entendido como uma avaliação clínica, um exame realizado a partir de uma queixa explícita em relação a alguma dificuldade de aprendizagem.
A avaliação liga-se ao não aprender, ou só conseguí-lo lentamente com falhas e distorções. Encontra-se envolvido neste processo de diagnóstico a leitura de um sistema complexo, onde se faz presente manifestações conscientes e inconscientes.
Interage aí o pessoal, o familiar anterior e atual, o sociocultural, o educacional, e a aprendizagem.
Ao se instrumentalizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente para o significado do sintoma a nível familiar e escolar e não o veja apenas em um recorte, como uma deficiência do sujeito a ser por ele tratado. É essencial procurarmos o não dito, implícito existente no não aprender.
Acreditamos numa aprendizagem que possibilita transformar, sair do lugar estagnado e construir.
É sob este olhar que podemos encaminhar o diagnóstico escolar. Voltamo-nos para a Escola porque é para ela que diariamente dirigem-se muitas crianças.
Olhar para a escola implica em uma visão íntegra de aprendizagem e de mundo.
Um diagnóstico á luz da instituição escolar se concretiza através de uma ampla observação das dimensões que envolvem a aprendizagem e que possibilita uma reflexão e conhecimento dos problemas educacionais que estão vinculados a variáveis como as correntes filosóficas, políticas e educacionais que influenciam a prática pedagógica.
Portanto, o diagnóstico deve ser encarado como busca constante de saber sobre aprender sendo o fio condutor que norteará a intervenção psicopedagogia.
A FUNÇÃO DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO
De acordo com o DSM-IV, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 1994) os Transtornos da Aprendizagem estão incluídos nos Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou Adolescência. Estes transtornos incluem: Transtorno da Leitura, da Matemática, da Expressão Escrita e da Aprendizagem sem outra especificação.
Os Transtornos de Aprendizagem podem incluir problemas em todas as três áreas que interferem no rendimento escolar, embora o desempenho nos testes que medem cada habilidade isoladamente não esteja acentuadamente abaixo do nível esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência medida e a escolaridade apropriada à idade do indivíduo" ( APA, 1994). Serão esses os transtornos que aqui iremos tratar.
O transtorno de aprendizagem é uma perturbação no processo de aprendizagem, não permitindo ao indivíduo aproveitar as suas possibilidades para perceber, compreender, reter na memória e utilizar posteriormente as informações obtidas.
Num enfoque psicopedagógico, encaramos os transtornos de aprendizagem como um sintoma, um sinal de descompensação, no sentido de que não são permanentes, sendo passíveis de transformação.
Para Pain (1986) a hipótese fundamental para avaliar o sintoma é entendê-lo como um estado particular de um sistema que para equilibrar-se precisa adotar esse tipo de comportamento que poderia merecer um nome positivo, mas que caracterizamos como não - aprender.
Esse é o papel inicial do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem: fazer uma análise da situação para poder diagnosticar os problemas e suas causas. Ele levanta hipóteses a partir de uma anamenese para conhecer o sujeito em seus aspectos neurofisiológicos, afetivos, cognitivos e sociais, bem como entender a modalidade de aprendizagem e o vínculo que o indivíduo estabelece com o objeto de aprendizagem, consigo mesmo e com o outro.
O psicopedagogo procura, portanto, compreender o indivíduo em suas várias dimensões para ajudá-lo a reencontrar seu caminho, superando dificuldades que impeçam um desenvolvimento harmônico e que estejam se constituindo num bloqueio da comunicação dele com seu entorno.
São diversos os fatores envolvidos nos transtornos de aprendizagem: orgânicos, cognitivos, emocionais e ambientais, relacionados a três pólos de procedência: o indivíduo, a família e a escola.
Estando a origem de toda a aprendizagem nos esquemas de ação através do corpo, precisamos verificar, primeiramente, como estão sendo processadas as principais funções e a integridade dos órgãos ligados a elas, para podermos, posteriormente, considerar os aspectos cognitivos.
Estes dizem respeito ao desenvolvimento e funcionamento das estruturas que proporcionam a possibilidade de conhecimento por parte do sujeito, em sua interação com o meio. Nessa área podemos incluir as funções de percepção, discriminação, atenção, memória e processamento da informação. Não podemos nos esquecer de que os fatores motivacionais são muito importantes na construção do significado daquilo que se aprende, formando uma rede de inter-relações entre esses conteúdos e aquilo que já se conhece.
Assim, os aspectos emocionais interferem na construção do conhecimento. Abrangem um amplo campo, desde dificuldades para lidar com as frustrações até sérios transtornos emocionais como psicose e depressão.
Para além das causas individuais, estão as de ordem ambiental, oriundas da família, da escola e da sociedade, como um todo. São fatores intervenientes do próprio modelo de funcionamento da família, da escola e as relações aí estabelecidas..
Torna-se necessário lembrarmos que esses fatores não são estanques, nem aparecem isoladamente. Eles têm uma circularidade causal, como diz Fernández (1990):
A origem do problema de aprendizagem não se encontra na estrutura individual. O sintoma se ancora em uma rede particular de vínculos familiares que se entrecruzam com uma também particular estrutura individua.
Se ao papel da família acrescentássemos o papel da escola teríamos a formação de uma rede, como já foi dito acima, pois ambas são responsáveis tanto pela aprendizagem como pela não-aprendizagem do sujeito.
Modificações na estrutura e funcionamento da rede de relações poderiam trazer melhorias para o educando, desmistificando a sua culpa nos transtornos de aprendizagem permitindo assim ao Psicopedagogo avaliar os envolvidos nos transtornos e consequentemente abrir possibilidades de intervenção para, a partir daí iniciar o processo de superação das dificuldades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas, Matemática, Educação Física, psicopedagoga, Mestre em Educação nas Ciências, Doutora em Ciências do Movimento Humano, autora do livro Educação Física Escolar: Aprender com o Movimento.Docente da FETREMIS-Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/14213/1/DIAGNOSTICO-PSICOPEDAGOGICO-NA-INSTITUICAO-ESCOLAR/pagina1.html.
A Importância do Psicopedagogo Dentro da Instituição Escolar
Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.Surgiu no Brasil devido ao grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.O presente artigo, que surgiu da preocupação existente com nossa prática como educadora e de nossa crença de que cada um constrói seus próprios conhecimentos por meio de estímulos, tem justamente o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.2. A Formação do Psicopedagogo e a Regulamentação da ProfissãoNo Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome. Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de 360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma grande diversificação na formação.Os cursos de psicopedagogia formam profissionais aptos a trabalhar na área clínica e institucional, que pode ser a escolar, a hospitalar e a empresarial. No Brasil, só poderão exercer a profissão de psicopedagogo os portadores de certificado de conclusão em curso de especialização em psicopedagogia em nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da lei vigente - Resolução 12/83, de 06/10/83 - que forma os especialistas, no caso, os então chamados "especialistas em psicopedagogia" ou psicopedagogos.A lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está na câmara dos deputados federais. Psicopedagogos elaboraram vários documentos nos anos de 1995 e 1996, explicitando suas atribuições, seu campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica, um trabalho que contou com a colaboração de muitos.O psicopedagogo possui a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) como elo de interlocução. A ABPp iniciou com um grupo de estudos formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem, sendo que, atualmente, também busca o reconhecimento da profissão.É do Deputado Federal Barbosa Neto o projeto de reconhecimento desse profissional (Projeto de Lei 3124/97). De início, o deputado propôs uma sondagem entre os políticos da época (1996) sobre a aceitação ou não do futuro projeto. Nesse período, o MEC organizava a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), promulgada em dezembro do mesmo ano. A data que formalizou a entrada do Projeto de Lei é 14 de maio de 1997. Em 24 de junho desse mesmo ano, a ABPp assumiu, em visita à câmara, o reiterar do projeto junto às lideranças políticas do país, do que resultou a sua aprovação no dia 03 de setembro de 1997 pela Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público.Após esta aprovação, o projeto foi encaminhado à 2ª Comissão, que é a de Educação, Cultura e Desporto, acontecendo, então, em 18 de junho de 1998 e 06 de junho de 2000, audiências para aprofundamento do tema. A aprovação nessa comissão ocorreu em 12 de setembro de 2001, após um trabalho exaustivo da relatora Marisa Serrano, do Deputado Federal Barbosa Neto e dos psicopedagogos que articularam tal discussão no Brasil.Em 20 de setembro de 2001, houve mais um avanço político com a aprovação do Projeto de Lei 10891, da autoria do Deputado Estadual (SP) Claury Alves da Silva. O Projeto de Lei 10891 "autoriza o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem".Atualmente, o Projeto de Lei que regulamenta a profissão do Psicopedagogo está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação para ser aprovado. Quando aprovado, irá para o Senado onde terá que passar por três comissões: Trabalho, Educação e Constituição, Justiça e Redação para, finalmente, ser sancionado pelo Presidente da República.No momento, a profissão de Psicopedagogo, tendo em vista o trabalho de outras gestões da ABPp ( Associação Brasileira de Psicopedagogia ) e dessa última, tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Isto quer dizer que já existe a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente. Faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada.3. Áreas de Atuação do PsicopedagogoO psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa.4. O Psicopedagogo na Instituiçao EscolarDiante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não sabem mais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o processo considerado normal e não possuem uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem.Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem.Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo.Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição escolar.A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos que, se existissem nas escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor.Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber.Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências sugerem que um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada". Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o educador se olhe como aprendente e como ensinante. Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno grupo de alunos.Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora, principalmente se os professores forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é positiva. Também o é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio.Segundo Bossa (1994, p.23),... cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem.
5. A Intervenção do Psicopedagogo Junto à Família
O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pela criança em contato com o social, dentro da família e no mundo que a cerca. A família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte da sua educação e da sua aprendizagem.É por meio dessa aprendizagem que a criança é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes. Contudo, na realidade, o que temos observado é que as famílias estão perdidas, não estão sabendo lidar com situações novas: pais trabalhando fora o dia inteiro, pais desempregados, brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados e mães solteiras. Essas famílias acabam transferindo suas responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso, presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que desviar de suas funções para suprir essas necessidades.A escola, como observa Sarramona (apud IGEA, 2005, p 19), veio ocupar uma das funções clássicas da família que é a socialização: A escola se converteu na principal instituição socializadora, no único lugar em que os meninos e as meninas têm a possibilidade de interagir com iguais e onde se devem submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva ....Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família das crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista e de uma anamnese com essa família para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social.O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico.Vale lembrar o que diz Bossa (1994, p.74) sobre o diagnóstico:O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento intelectual. Lembramos que a escola e o meio social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento da criança.Concordamos com Souza (1995, p.58) quando diz que... fatores da vida psíquica da criança podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos processos cognitivos, e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com a família, na medida em que atitudes parentais influenciam sobremaneira a relação da criança com o conhecimento.Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo de aprender. E para isso é importante que os pais contribuam para que ela tenha esse desejo.Existe um desejo por parte da família quando a criança é colocada na escola, pois da criança é cobrado que seja bem-sucedida. Porém, quando esse desejo não se realiza como esperado, surgem a frustração e a raiva que acabam colocando a criança num plano de menos valia, surgindo, daí, as dificuldades na aprendizagem.Para Boszormeny (apud Polity, 2000),uma criança pode desistir da escola porque aceita uma responsabilidade emocional, encarregando-se do cuidado de algum membro da família. Isso se produz, em resposta à depressão da mãe e da falta de disponibilidade emocional do pai que, de maneira inconsciente, ratifica a necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide.A intervenção psicopedagógica também se propõe a incluir os pais no processo, por intermédio de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o papel de meros espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando e opinando.
6. Considerações Finais
A profissão do psicopedagogo não está regulamentada, mas se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada. Enquanto isso, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em cursos de pós-graduação oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas.A psicopedagogia surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem, comprometido com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita, mediante dinâmicas em sala de aula, contemplar a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola.O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento, ajudando o aluno a superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo.A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não, o desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são conseqüentes da história individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança, interações sociais, etc.Nesse contexto, é pertinente concluir que:
É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que seja respondida às suas curiosidades por meio de descobertas concretas, desenvolvendo a sua auto-estima, criando em si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida adulta;
É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma boa escola ou de bons programas, mas, principalmente, de como a criança é tratada em casa e dos estímulos que recebe para aprender;
É preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando a criança está em casa.
As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que promovam o desenvolvimento.Portando, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.
7. Referências
BRASIL. Projeto de Lei 10.891. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em 25 de julho de 2005.
BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
FERMINO, Fernandes Sisto; BORUCHOVITH, Evely; DIEHL, Tolaine Lucila Fin. Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
IGEA, Benito del Rincón e colaboradores. Presente e futuro do trabalho psicopedagógico. Porto Alegre : Artmed, 2005.
POLITY, E. Pensando as dificuldades de aprendizagem à luz das relações familiares. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em 18 de junho de 2005.
SOUZA, Audrey Setton Lopes. Pensando a inibição intelectual:perspectiva psicanalítica e proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/48/1/A-Importancia-Do-Psicopedagogo/pagina1.html.
Este estudo deu-se pela necessidade de analisar a importância do psicopedagogo na escola, para verificar o campo de trabalho, o papel que os psicopedagogos estão desempenhando nas escolas, e como está sendo avaliado o trabalho dos mesmos. Foi importante para que pudesse se verificar a atuação dos psicopedagogo, como está o nível de interação entre eles e a escola e qual a forma que está sendo trabalhado. Embora seja uma profissão relativamente nova no Brasil, a psicopedagogia é uma profissão que é reconhecida não só institucionalmente mas também profissionalmente pela importância que tem na ação interativa junto aos professores e alunos de forma a completar o ciclo de aprendizagem. Mas pode-se sentir que embora haja uma grande necessidade do profissional e reconheçam esta importância, ainda não existe um programa de contratação efetiva, pois detecta-se que as escolas não possuem em sua maioria a função de psicopedagogo e outras estão com problemas sérios pela defasagem do profissional em relação ao número de alunos e pelo sistema de atendimento fora da escola, o que quebra o elo de ligação e acompanhamento dos professores em relação aos alunos atendidos. O instrumento para o desenvolvimento deste estudo foi a pesquisa bibliográfica. Espera-se com este estudo conscientizar as autoridades da importância de se ter um psicopedagogo na escola e que isso amplie o campo de trabalho, onde não só beneficiará o profissional mas também o aluno, no processo de aprendizagem
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
O profissional que trabalha com o que chamamos de “problemas de aprendizagem”
Ao refletir um pouco sobre a Aprendizagem, podemos dizer que, desde o momento em que nascemos, iniciamos o processo de aprendizagem. Neste processo, o ser humano constrói sua estrutura de personalidade na trama de relações sociais na qual está inserido.
A aprendizagem vai ocorrendo na estimulação do ambiente sobre o indivíduo maturo, onde, diante de uma situação/problema, se expressa uma mudança de comportamento, recebendo interferência de vários fatores – intelectual, psicomotor, físico, social e emocional. Enquanto transforma a realidade a sua volta, ele constrói a si mesmo, tecendo sua rede de saberes, a partir da qual irá interagir com o meio social, determinando suas ações, suas reações, enfim suas práticas sociais.
Desde o nascimento, o indivíduo faz parte de uma instituição social organizada – a família - e depois, ao longo da vida, integra outras instituições. Nessa interação vai se construindo uma rede de saberes, onde todos os membros da sociedade são parceiros possíveis, contribuindo cada um com seus conhecimentos, suas práticas, valores e crenças. Estas contribuições não são estáticas, se encontram em permanente mudança. Portanto, o conceito de rede de saberes constrói-se a partir do princípio de movimento, de articulação e de co-responsabilidade.
Nossa rede de conhecimentos vai se formando dentro de instituições e assim cada vez mais é necessário inserir a psicopedagogia para estudar como ocorrem as relações interpessoais nestes ambientes. Além da Escola, a Psicopedagogia está cada vez mais presente nos hospitais e empresas. Seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e auxilia no desenvolvimento de projetos favoráveis às mudanças educacionais, visando evitar processos que conduzam as dificuldades da construção do conhecimento.
O Psicopedagogo é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem e tem uma atuação preventiva. Na escola, o psicopedagogo poderá contribuir no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, tais como:
Organização da instituição
Métodos de ensino
Relação professor/aluno
Linguagem do professor, dentre outros
Ele poderá atuar preventivamente junto aos professores:
Explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a aprendizagem
Trabalhando com a formação continuada dos professores
Na reflexão sobre currículos e projetos junto com a coordenação pedagógica
Atuando junto com a família/alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, apoiado em uma visão holística, levando-o a aprender a lidar com seu próprio modelo de aprendizagem, considerando que esses problemas podem ser derivados:
das suas estruturas cognitivas
de suas questões emocionais
da sua resistência em lidar com o novo
ou outra derivação que possa se apresentar.
http://www.colegiosantamaria.com.br/santamaria/aprenda-mais/artigos/ver.asp?artigo_id=35
Simaia Sampaio
1. O que é a psicopedagogia?A Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não só no âmbito escolar, mas alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentes etapas do desenvolvimento, para que possam compreender e entender suas características evitando assim cobranças de atitudes ou pensamentos que não são próprios da idade. Terapeuticamente a psicopedagogia deve identificar, analisar, planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento.2. Quem são os psicopedagogos?São profissionais preparados para atender crianças ou adolescentes com problemas de aprendizagem, atuando na sua prevenção, diagnóstico e tratamento clínico ou institucional.3. Onde atuam?O psicopedagogo poderá atuar em escolas e empresas (psicopedagogia institucional), na clínica (psicopedagogia clínica).4. Como se dá o trabalho na clínica?O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), EOCA, anamnese.Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões, honorários, a importância da freqüência e da presença e o que ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Neste momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá contaminar o diagnóstico interferindo no olhar do psicopedagogo sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou responsáveis.5. O diagnostico é composto de quantas sessões?Entre 8 a 10 sessões, sendo duas sessões por semana, com duração de 50 minutos cada.6. E depois do diagnóstico?O diagnóstico poderá confirmar ou não as suspeitas do psicopedagogo. O profissional poderá identificar problemas de aprendizagem. Neste caso ele indicará um tratamento psicopedagógico, mas poderá também identificar outros problemas e aí ele poderá indicar um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista, ou outro profissional a depender do caso.7. E o tratamento psicopedagógico?O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico, ou poderá ser feito com outro psicopedagogo. Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras situações que forem oportunas. A criança, muitas vezes, não consegue falar sobre seus problemas e é através de desenhos, jogos, brinquedos que ela poderá revelar a causa de sua dificuldade. É através dos jogos que a criança adquire maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder, desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar, adquire maior atenção.O psicopedagogo solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, olhando a organização e os possíveis erros, ajudando-o a compreender estes erros.Irá ajudar a criança ou adolescente, a encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem, organizando, assim, o seu modelo de aprendizagem.O profissional poderá ir até a escola para conversar com o(a) professor(a), afinal é ela que tem um contato diário com o aluno e poderá dar muitas informações que possam ajudar no tratamento.O psicopedagogo precisa estudar muito. E muitas vezes será necessário recorrer a outro profissional para conversar, trocar idéias, pedir opiniões, ou seja, fazer uma supervisão psicopedagógica.8. Como se dá o trabalho na Instituição?O psicopedagogo na instituição escolar poderá:- ajudar os professores, auxiliando-os na melhor forma de elaborar um plano de aula para que os alunos possam entender melhor as aulas;- ajudar na elaboração do projeto pedagógico;- orientar os professores na melhor forma de ajudar, em sala de aula, aquele aluno com dificuldades de aprendizagem;- realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos que possam estar prejudicando o processo ensino-aprendizagem;- encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo etc) a partir de avaliações psicopedagógicos;- conversar com os pais para fornecer orientações;- auxiliar a direção da escola para que os profissionais da instituição possam ter um bom relacionamento entre si;- Conversar com a criança ou adolescente quando este precisar de orientação.9. O que é fundamental na atuação psicopedagógica?A escuta é fundamental para que se possa conhecer como e o que o sujeito aprende, e como diz Nádia Bossa, “perceber o interjogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar”.O psicopedagogo também deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos, lapsos etc.E não parar de buscar, de conhecer, de estudar, para compreender de forma mais completa estas crianças ou adolescentes já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.
http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/a_psicopedagogia.htm
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO
A escola é sem dúvida, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas aos consultórios psicopedagógicos por problemas de aprendizagem, pois a família na maioria das vezes não tem o suficiente conhecimento para detectar tais dificuldades. A família pode achar que alguma coisa não vai bem com a criança, mas é a escola que orienta neste sentido. A escola evidencia e denuncia essas disfunções, mas não tem condições ela mesma de resolver esse problema.
Cabe, portanto, à psicopedagogia contribuir, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar dessas dificuldades, nesses processos instalados, muitas vezes, na própria instituição, a qual cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.
Sabemos que é nas relações entre os indivíduos que se forma o cidadão, e que é através da aprendizagem que a pessoa é inserida, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico. É a sociedade então, que outorga à escola o papel de mediadora nesse processo de inserção no organismo do mundo, sendo ela a responsável por grande parte dessa aprendizagem.
Cada sujeito tem uma história pessoal, da qual fazem parte várias histórias: a familiar, a escolar, o clube e outras, que articuladas, atuam na formação do indivíduo. A escola tem, portanto, um papel importante na formação deste sujeito depois da família e que tanto uma quanto a outra podem contribuir para a formação de algumas dificuldades de aprendizagem que são tratadas em escolas paralelas.
A Psicopedagogia, na instituição escolar, tem uma função complexa e por isso provoca algumas distorções conceituais quanto às atividades desenvolvidas pelo Psicopedagogo. Ela dedica-se a áreas relacionadas ao planejamento educacional e assessoramento pedagógico, colabora com planos educacionais e sanitários no âmbito das organizações, atuando numa modalidade cujo caráter é clínico institucional, ou seja, realizando diagnóstico institucional e propostas operacionais pertinentes.
O campo de atuação até então discreto, pode ser classificado também como da modalidade preventiva muito amplo e complexo, mas pouco explorado. Sobre o trabalho psicopedagógico na escola muito há o que fazer. Como vimos acima grande parte da aprendizagem ocorre dentro da instituição escolar, nas relações estabelecidas entre o professor e o aluno, entre professores, entre currículo, programas e conteúdos, e com o grupo social escolar enquanto um todo, é por isso que se propõe uma visão embasada no modelo sistêmico, onde as relações têm grande relevância.
Pensar a escola à luz da Psicopedagogia é vê-la como num caleidoscópio, multifacetado. Significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade.
Pretendo pontuar aqui minha grande preocupação com os psicopedagogos institucionais atuais que se sentem muitas vezes perdidos com relação à sua função e ao seu papel dentro da escola. Acredito que seu olhar e sua escuta devem estar voltados não só para o compromisso com a escola e com os seus elementos, no caso específico o professor e o aluno, mas que eles também devem incluir neste processo a família e a comunidade que também interferem na aprendizagem assim como estão também incluídos aqueles que decidem sobre as necessidades e prioridades da escola.
Penso que na realidade o Psicopedagogo Institucional deveria se preocupar em detectar as possíveis fraturas do ensinar e do aprender como um todo e propor novas maneiras de ensinar para melhor aprender.
Ao entrar na escola, a criança se depara com um meio com o qual não está habituada: outras crianças, os horários, o professor e o aprender sistemático. Do professor, um profissional da educação, supõe-se que tenha escolhido esta profissão, ensinar o que sabe, e que para tal esteja preparado com técnicas, métodos e estratégias, para que o saber se socialize. Mas as motivações que o levaram a eleger essa tarefa podem ser muito variadas e isso vai determinar a forma de vínculo com seus alunos.
Na sua função clínica-preventiva, após diagnóstico apurado da instituição, cabe ao psicopedagogo:
- detectar possíveis perturbações entre o processo de ensinoe aprendizagem;- participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, afim de favorecer processos de integração e troca;- promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;
- realizar processos de atualização pedagógica para professores dentro deum programa de Educação Continuada.
- rever currículos e programas através de uma visão crítica, entre outras atividades.
Dentro da instituição escolar esta função se confunde com outros profissionais da área de Educação e se mostra ainda muito ampla.
Como a Psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, ela se tem mostrado cada vez mais eficiente para uma atuação clínica-preventiva, pois muitas das dificuldades de aprendizagem se deve à inadequada Metodologia utilizada na escola e aos problemas familiares.
Numa ação clínica-institucional, o psicopedagogo deve adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar visando propor novas alternativas de ação voltadas para a prática pedagógica nas escolas.
O campo de atuação do Psicopedagogo Institucional refere-se não só ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas especificamente ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, o lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo.
A forma de abordar o objeto de estudo pode assumir características específicas, dependendo da modalidade: clínica clássica, clínica preventiva institucional e teórica, umas articulando-se às outras. Quero esclarecer que para mim trabalho clínico não deixa de ser preventivo, uma vez que, ao tratar alguns transtornos de aprendizagem, pode evitar o aparecimento de outros. O trabalho preventivo, numa abordagem psicopedagógica, é sempre clínico, levando em conta a singularidade de cada processo. Essas duas formas de atuação, por sua vez, não deixam de resultar num trabalho teórico. Tanto na prática preventiva como na clínica, o profissional, como já vimos anteriormente, procede sempre embasado no referencial teórico adotado.
Na escola algumas das funções do Psicopedagogo são:- de assessoria (ouvidor e falador sobre a escola) é uma visão de articulador entreos elementos do sistema;- de apoio pedagógico - auxiliar o coordenador pedagógico na elaboração dos conteúdos e nas estratégias didáticas, assim como dar assistência ao corpo docente orientando-o quanto às dificuldades encontradas pelo professor e pelos alunos nas modalidades de ensino e aprendizagem em sala de aula.No campo da aprendizagem específica do aluno:- reduzir a freqüência dos distúrbios de aprendizagem,- reduzir a duração das dificuldades de aprendizagem diagnosticando precocemente;- reduzir as seqüelas e deteriorações (reabilitação);- de assistência familiar: - com pais na compreensão sobre a modalidade de aprendizagem de seu filho e como esta circula na família;- qual é a modalidade de aprendizagem da família, ou seja, a maneira como ela aprende as coisas do mundo;- com famílias disfuncionais (ex.: famílias simbióticas, persecutórias, etc.)- de trabalho com os elementos da própria instituição: - promovendo o trabalho em equipe;- incentivando o desenvolvimento profissional e pessoal;- observando e diagnosticando como a modalidade de ensino e aprendizagem circula no grupo e individualmente para orientar o seu trabalho psicopedagógico com os profissionais da educação e com os alunos.- sensibilizando todos os elementos envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem para uma melhoria na qualidade do relacionamento mútuo (ensino-aprendizagem, professor-aluno, aluno-aluno, professor-pessoal técnico e administrativo, etc.)
Sua função, portanto, é abrangente e complexa, pois envolve o diagnóstico da instituição e a atuação na estagnação da escola e de seus elementos em diferentes níveis.
Considerações Finais
Não é minha intenção dar por concluída minha reflexão sobre este tema, porém, ouso sugerir para finalizar algumas conclusões parciais que encontrei na minha prática.
O despreparo dos educadores para lidar com os aspectos afetivos do processo de aprendizagem tem a possibilidade de acarretar distorções na concepção sobre este processo dificultando a realização de um trabalho mais efetivo com os alunos.
Precisamos ainda compreender que nenhuma teoria ou corrente tomada isoladamente pode dar conta do processo educativo e que este trabalho envolve uma multiplicidade de fatores complexos nos quais inúmeras ciências tem importantes colaborações a nos dar.
Uma ação psicopedagógica institucional deverá compreender não só as determinantes fundamentais dos problemas de aprendizagem, mas também o modo específico dessas determinantes agindo nas suas peculiaridades. Devemos estar capacitados para unir a compreensão teórica à ação real com vistas a uma transformação.
Para que ocorra uma ação verdadeiramente transformadora, é necessário ainda abrir mão de posturas educacionais radicais, e abraçar propostas nas quais as denúncias e críticas ao sistema educacional cedam lugar a um trabalho consistente e articulado, que defina o papel das diferentes ciências em relação à educação e considere o ser humano em toda a sua amplitude, em toda a sua dimensão.
Para que isso ocorra, nós, psicopedagogos, precisaríamos adotar algumas atitudes frente ao nosso trabalho. Atitudes como a humildade, a espera, a generosidade, a gratidão, o olhar e a escuta. Atitudes que permeadas por um cuidadoso critério, de um apurado rigor científico e embasamento teórico poderão nos auxiliar a executar nosso trabalho com mais segurança e assertiva.
http://www.saopauloabpp.com.br/abpp.php?menu=artigos#
A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
Relato de experiência: Salas de Apoio Psicopedagógico nas Escolas Municipais de São Sebastião
Iara Gambale – psicopedagoga, supervisora do trabalho
Inúmeros teóricos e estudiosos têm se debruçado, nas últimas três décadas, sobre a atuação da escola pública. Inserida no seu tempo, ela vê, no seu trabalho, reflexos dos desequilíbrios dos quais padece nossa sociedade.
A tarefa de passar do pensamento à ação tem sido atropelada, invariavelmente, pela rigidez da burocracia que envolve o sistema público de ensino. Iniciativas de valor têm sido inviabilizadas pela inconsistência e fragilidade das ações: a distância entre o discurso acadêmico e as salas de aula tem se mostrado, muitas vezes, intransponível.
Entretanto, a proximidade das instâncias de decisão e execução, que tiveram início com a municipalização do ensino fundamental, tem sido decisiva para o surgimento de propostas que contribuam para o enfrentamento das dificuldades de ensinar e de aprender que tem permeado nosso sistema público.
O município de São Sebastião (São Paulo) tem, através da Secretaria de Educação, demonstrado sua preocupação que se traduziu, entre outras ações, na criação, em 2001, de 9 Salas de Apoio Psicopedagógico em escolas do município. Para o trabalho nas SAP foram designados professores do ensino fundamental especialistas em Psicopedagogia e que passaram a trabalhar num regime de 40h/semanais.
Inicialmente, o olhar dos psicopedagogos dirigiu-se aos alunos, que ainda não dominavam os processos de leitura e escrita, atendidos em sessões individuais ou em duplas. De 2001 a 2003 o número de Salas de Apoio passou de 9 para 21, e os alunos atendidos de 157 para 460. Até o final de 2.003, foram reintegrados ao seu grupo classe um total de 280 alunos.
Surge a questão, tabu para muitos: clínica na escola?
MACEDO(1999) nos chama a atenção, quando afirma que “A explicação para o fracasso não elimina o fracassado que precisa de nós, agora.” A atuação dos psicopedagogos junto aos alunos se constituiu como reconhecimento de que a situação exigia ações urgentes. Para o aluno, que há três ou quatro anos não consegue alfabetizar-se, não há tempo de esperar novas políticas educacionais!
O olhar psicopedagógico, inaugurado com o advento das SAP, possibilitou que se confirmassem as palavras de PAIN(1996) que diz ser a escola um local onde se promove não só o conhecimento, mas também a emergência de sujeitos. Muitos dos alunos tiveram, em seus atendimentos, a primeira possibilidade de serem ouvidos na sua singularidade e de se experimentarem sujeitos. Não seria exagerado afirmar que tem sido difícil, para a escola, reconhecer que o aprender é uma construção singular que cada sujeito faz a partir do seu saber para transformar informações em conhecimentos.
FERNANDEZ(2001) afirma que “ A psicopedagogia é a produção de tempo para que o sujeito possa inventar-se pensante.” A sociedade, a escola e a família dirigem suas ações remetidos ao tempo cronológico – mensurável e exterior aos sujeitos. Cada dia mais, somos capturados pelo cronômetro, ao qual estamos, obrigatoriamente, submetidos. É impossível negar a fluidez das horas. Cabe, entretanto, à psicopedagogia reconhecer que o tempo do sujeito é lógico: não linear, interior, não mensurável e, ainda, imprevisível. O tempo de compreender, de aprender e de saber só acontece “do lado de dentro”, e isso não é determinado pelo calendário escolar. Pode sim, ser facilitado na medida em que sejam criados espaços de possibilidade para a emergência de alunos/sujeitos.
Os alunos atendidos, marcados por múltiplos insucessos, beneficiaram-se com um trabalho que revelava, aos poucos, a multiplicidade e a complexidade dos fatores que envolvem o não aprender. Reconhecendo que o desejo de saber é algo que caracteriza o humano, os psicopedagogos aceitaram o ritmo próprio de cada um deles, aceitaram o limite e acreditaram na mudança possível. Trabalharam buscando significar a aprendizagem, estabelecendo relações com as histórias de vida daquelas crianças, conferindo um colorido particular àquilo que lhes era oferecido para aprender. O espaço de confiança, inaugurado pelas SAP, possibilitou o brincar, rompendo as estereotipias dos rituais de aprendizagem, dita formal, que se desenrolam nas salas de aula.
Embora os números indiquem o sucesso do atendimento às crianças, muitas foram as dificuldades com as quais o trabalho se deparou. A proximidade com a escola e a pressão por uma produção rápida foi, talvez, a maior queixa dos psicopedagogos. Querer e poder modificar-se são coisas diferentes.Diante de histórias de vida muitas vezes dramáticas, foi preciso reconhecer os limites da ação psicopedagógica, já que a psicopedagogia não pode constituir-se como remédio para todos os males, nem tampouco o profissional acreditar-se onipotente. Foi preciso estar atento para não incorrer, segundo CORDIÉ(1996), nas duas armadilhas possíveis: a pedagógica e a da bondade. A não existência de modelos de intervenção pré-determinados exigiu supervisão e capacitação continuada dos profissionais pois, o que promove mudanças é o significado que a dupla confere às propostas, e não as atividades em si.
Na instituição escolar, os psicopedagogos foram ocupando o lugar de interlocutor qualificado junto à equipe escolar, aos serviços de saúde e assistência social e às famílias. Nos contatos com os professores, puderam promover e enriquecer discussões sobre o aprender e o ensinar, sugerindo temas e reflexões para as reuniões. Entretanto, a incorporação do psicopedagogo ao quadro da equipe escolar não se deu sem dificuldades e tropeços. A escola, historicamente, lida mal com o não saber. Os contatos com os professores se pautaram por serem propositivos, evitando que os mesmos se colocassem como esvaziados de saber e crentes que os psicopedagogos só tinham certezas.
Partindo do pressuposto que as famílias, provenientes de um meio sócio-cultural desfavorecido, ao se ocuparem com a subsistência não dispõe de espaços para outros investimentos, os psicopedagogos inauguraram em suas salas um espaço/tempo para que as crianças atendidas pudessem ser olhadas por seus pais. A partir desses contatos, surgiram projetos contemplando as relações família-escola, contribuindo para reflexões a respeito das expectativas de uma e de outra instituição e reconhecendo o papel fundante que cada uma delas tem na constituição da subjetividade das crianças.
O atendimento, que inicialmente se restringia aos alunos, foi, aos poucos, ultrapassando as paredes das Salas de Apoio: das entrevistas com os professores, surgiram pedidos de espaço para os psicopedagogos nos horários coletivos; pais sugeriram a existência de outros momentos de encontro para discutir dificuldades. Os psicopedagogos puderam, em cada escola, desenvolver diferentes projetos de trabalho com o coletivo da escola e com a comunidade.
Pode-se concluir que, nas escolas de São Sebastião, foi possível que a Psicopedagogia atuasse como produtora de “tempo institucional”: criando espaços nos quais alunos, educadores e pais pudessem se constituir sujeitos/autores pensantes.
BIBLIOGRAFIA
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http://www.saopauloabpp.com.br/abpp.php?menu=artigos#
A Importância do Psicopedagogo Dentro da Instituição EscolarIntroduçãoA Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.Surgiu no Brasil devido ao grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.O presente artigo, que surgiu da preocupação existente com nossa prática como educadora e de nossa crença de que cada um constrói seus próprios conhecimentos por meio de estímulos, tem justamente o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.A Formação do Psicopedagogo e a Regulamentação da ProfissãoNo Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome. Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de 360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma grande diversificação na formação.Os cursos de psicopedagogia formam profissionais aptos a trabalhar na área clínica e institucional, que pode ser a escolar, a hospitalar e a empresarial. No Brasil, só poderão exercer a profissão de psicopedagogo os portadores de certificado de conclusão em curso de especialização em psicopedagogia em nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da lei vigente - Resolução 12/83, de 06/10/83 - que forma os especialistas, no caso, os então chamados "especialistas em psicopedagogia" ou psicopedagogos.A lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está na câmara dos deputados federais. Psicopedagogos elaboraram vários documentos nos anos de 1995 e 1996, explicitando suas atribuições, seu campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica, um trabalho que contou com a colaboração de muitos.O psicopedagogo possui a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) como elo de interlocução. A ABPp iniciou com um grupo de estudos formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem, sendo que, atualmente, também busca o reconhecimento da profissão.É do Deputado Federal Barbosa Neto o projeto de reconhecimento desse profissional (Projeto de Lei 3124/97). De início, o deputado propôs uma sondagem entre os políticos da época (1996) sobre a aceitação ou não do futuro projeto. Nesse período, o MEC organizava a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), promulgada em dezembro do mesmo ano.A data que formalizou a entrada do Projeto de Lei é 14 de maio de 1997. Em 24 de junho desse mesmo ano, a ABPp assumiu, em visita à câmara, o reiterar do projeto junto às lideranças políticas do país, do que resultou a sua aprovação no dia 03 de setembro de 1997 pela Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público.Após esta aprovação, o projeto foi encaminhado à 2ª Comissão, que é a de Educação, Cultura e Desporto, acontecendo, então, em 18 de junho de 1998 e 06 de junho de 2000, audiências para aprofundamento do tema. A aprovação nessa comissão ocorreu em 12 de setembro de 2001, após um trabalho exaustivo da relatora Marisa Serrano, do Deputado Federal Barbosa Neto e dos psicopedagogos que articularam tal discussão no Brasil.Em 20 de setembro de 2001, houve mais um avanço político com a aprovação do Projeto de Lei 10891, da autoria do Deputado Estadual (SP) Claury Alves da Silva. O Projeto de Lei 10891 "autoriza o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem".Atualmente, o Projeto de Lei que regulamenta a profissão do Psicopedagogo está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação para ser aprovado. Quando aprovado, irá para o Senado onde terá que passar por três comissões: Trabalho, Educação e Constituição, Justiça e Redação para, finalmente, ser sancionado pelo Presidente da República.No momento, a profissão de Psicopedagogo, tendo em vista o trabalho de outras gestões da ABPp ( Associação Brasileira de Psicopedagogia ) e dessa última, tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Isto quer dizer que já existe a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente. Faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada.Áreas de Atuação do PsicopedagogoO psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa
PSICOPEDAGOGIA NO ÂMBITO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
Sandra Vaz de LimaENTREVISTA PARA EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
Esta entrevista deve ser realizada com a equipe responsável pela instituição, tendo como objetivo identificar a queixa existente sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento do ensinar/ aprender no seu interior.A entrevista se caracteriza por ser aberta e, durante a mesma, realiza-se observações da temática da conversa, a dinâmica dos participantes e o resultado obtido neste momento.A observação da temática, segundo PICHON-RIVIÈRE (1988), está ligada a tudo que é falado durante a entrevista e aos significados latentes que podem ser percebidos através do tipo de comunicação utilizada, do que não é dito mas fica nas entrelinhas, das coerências e incoerências que aparecem no discurso, dos atos falhos que podem surgir, da objetividade ou subjetividade do discurso e do conteúdo abordado.A observação da temática, para identificar a queixa de uma instituição escolar, pode nos auxiliar a delinear melhor a mesma, como por exemplo: a queixa se caracteriza por ser uma queixa lamento, identificada por FERNÁNDEZ (1994) como inibidora do pensamento; isto pode nos levar à hipótese de que a instituição não está conseguindo encontrar soluções por não estar se permitindo pensar, questionar e criticar a situação.Após a realização da entrevista, faz-se necessária a integração dos registros da temática e da dinâmica para que se obtenha um quadro geral a respeito da queixa formulada e se possa proceder a proposta de diagnostico para a instituição, considerando a organização das hipóteses obtidas a partir desta primeira entrevista.
•ENQUADRAMENTO DO PROCESSO DIAGNÓSTICO
O enquadramento é interpretado por VISCA (1987) como um instrumento capaz de manter algumas constantes como um marco, para se poder conhecer a realidade. Segundo o mesmo autor, para se investigar uma realidade, é necessário isolá-la do contexto e integrá-la ao mesmo, e o enquadramento auxiliará na obtenção destes dois critérios.O enquadramento prevê a justificativa e os objetivos do processo diagnóstico a ser desenvolvido, o grupo que será envolvido, o tempo de investigação, o espaço que será utilizado para a mesma, o material que será necessário, os honorários previstos, a entrega de um projeto de diagnóstico após a organização do Primeiro Sistema de Hipóteses.Além do enquadramento junto à instituição, é fundamental que se organize um enquadramento para a equipe responsável pelo diagnóstico psicopedagógico na instituição. Este enquadramento terá como objetivo definir os papéis dos diagnosticadores: quem observará a dinâmica, quem registrará a observação de temática, quem coordenará os trabalhos, quem fará os contatos, quem organizará o material, o tempo necessário para as idas na instituição, o tempo reservado para as reuniões de análise, o espaço reservado para a reunião da equipe de diagnóstico, as leituras que deverão ser realizadas e outras providências especificas para cada caso.A idéia de enquadramento se efetiva na prática, através de um contrato que deve, como diz o nome, ser um trato realizado com, ou seja, em comum acordo.O enquadramento pode ser firmado oralmente ou por escrito; na entanto, quando se trata de um trabalho institucional, que envolve uma enorme malha de relações, é prudente que o mesmo seja documentado, objetivando-se a prevenção de ruídos na comunicação e a eficácia do trabalho.
•OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DO SINTOMA
Em um diagnóstico institucional, os sintomas apresentados na queixa são, primeiramente, vistos como emergentes da dificuldade da instituição. O problema de aprendizagem de um aluno, ou de um grupo de alunos, será analisado a partir das relações que se estabelecem na instituição, e o aluno, ou mesmo o grupo de alunos, será observado, inicialmente, como o “porta voz” ou como o “bode expiatório” da mesma.A observação do sintoma é importante na medida em que nós não partimos de uma percepção do outro, a esse respeito, e sim observamos o sintoma acontecendo, “ao vivo e em cores”, o que facilita a organização do Primeiro Sistema de Hipóteses que norteará a escolha dos instrumentos de investigação.Segundo CARLBERG (1998), esta forma de iniciar o processo diagnóstico possibilita ao profissional uma aproximação do seu objeto de estudos de maneira pouco contaminada.O mesmo autor idealizou um instrumento para a observação e análise do sintoma, o qual denominou EOCMEA (Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino Aprendizagem).Ao explicar sobre o EOCMEA, o autor fala que é necessário uma equipe de três profissionais para a utilização deste instrumento, já que o mesmo será aplicado em grupos: um coordenador e dois observadores que funcionarão como uma unidade operativa, sem caracterizar uma hierarquia entre eles.Iniciar um diagnóstico psicopedagógico institucional pela observação do sintoma, utilizando a EOCMEA, ou qualquer outro instrumento com esse fim, e terminar como o levantamento da história para identificar os elementos causadores de tal sintoma correspondem, segundo VISCA (1987), ao conceito que Jean Piaget toma de Aristóteles: “O primeiro na ordem da gênese é o último na ordem da análise”
O Fracasso Escolar Segundo a Psicopedagogia
.5. A PSICOPEDAGOGIA HOJE
A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final.Vivemos na era do conhecimento. Não se pode pensar no exercício da cidadania sem que o cidadão tenha acesso à formação acadêmica mínima de oito anos mas, na prática, a sociedade demonstra que a exigência real de um segundo grau e, de preferência, com um pós-médio. Temos visto que para exercer qualquer profissão, seja ela a mais simples ou a mais complexa, a pessoa será submetida a treinamentos que devem passar, não apenas por especificidade da função e do local de trabalho, mas por treinamentos de ética, qualidade, perfil de cliente, economia, etc. A pessoa é valorizada por seus diplomas mas também por sua capacidade de construir conhecimento, de gerar instrumentos e serviços adequados ao contexto sócio-econômico-cultural.Estamos vivendo em plena era de globalização, em que o conhecimento e as descobertas científicas circulam com uma incontrolável rapidez e as próprias instituições de ensino têm dificuldade em acompanhar o fluxo dessas informações. É extremamente fácil acontecer um avanço científico em determinada área do conhecimento sem que o profissional especializado saiba, ou ainda, é possível que uma outra pessoa, de outra área do conhecimento venha a saber dessas descobertas antes do especialista. Ao mesmo tempo que o conhecimento circula com facilidade por todos os lados, é necessário saber como encontrá-lo, ter acesso à tecnologia adequada e às fontes de informações seguras do conhecimento.. Diante disso, surge a pergunta: só a informação basta? Sabe-se que não. O que fará a diferença é a forma como a pessoa integra uma informação, transforma-a em aprendizagem e a coloca a serviço da comunidade. Nessa perspectiva, a freqüência à escola não garante o salto qualitativo que requer o movimento social. A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da Psicopedagogia é o ser que aprende, o ser cognoscente e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e adequadamente inserida em um contexto social.
O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se estabelece na relação com o seu "em torno", à medida que se compromete com o seu social estabelecendo redes relacionais. "Para o pensador sistêmico, as relações são fundamentais" (CAPRA, p 47)
A dificuldade de aprendizagem nessa definição é entendida e trabalhada com um agente dificultador para a construção do aprendiz que é um ser biológico, pensante, que tem uma história, emoções, desejos e um compromisso político-social. "A Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo" (RUBINSTEIN, p 127 Nem sempre a Psicopedagogia foi entendida da forma como aqui está caracterizada.A Psicopedagogia, inicialmente, começou tendo como pressuposto que as pessoas que não aprendiam tinham um distúrbio qualquer. (BOSSA, p.42) A preocupação e os profissionais que atendiam essas pessoas eram os médicos, em primeira instância e, em segunda Psicólogos e Pedagogos que pudessem diagnosticar os déficits. Os fatores orgânicos eram responsabilizados pelas dificuldades de aprendizagem na chamada época "patologizante" A criança ficava rotulada e a escola e o sistema a que ela pertencia, se eximiam de suas responsabilidades: "Ela (a criança) tem problemas..."Posteriormente, com a ampliação da visão de que o sujeito não é apenas um ser racional, os psicopedagogos passaram a estudar e a avaliar o processo da aprendizagem. Porém, essa observação levou a uma prática pautada no refazimento do processo de aprendizagem e requeria reposição de conteúdos e repetições até que a criança aprendesse. A criança ficou subdividida em setores e não havia articulação entre o emocional, a cognição, o motor e o social.
Os vários profissionais envolvidos na questão aprendizagem foram percebendo que não bastava retirar o eixo da patologia para a aprendizagem, mas era necessário saber que sujeito era esse, de onde ele vinha e para onde ele queria e podia ir. A constatação que apenas uma área do conhecimento não conseguiria respostas absolutas e definitivas para a situação, deflagrou o que é hoje a Psicopedagogia.
Os profissionais interessados nas questões de aprendizagem entenderam que o caminho era a interdisciplinaridade para compreender a complexidade desse fenômeno. A partir de diferentes referenciais teóricos, tais como a Pedagogia, a Psicologia, a Fonoaudiologia, a Psicanálise, a Sociologia, a Neurologia, etc. foram se construindo e pesquisando outros referenciais, outros instrumentos, outras sínteses. Esse conhecimento foi construído a partir do encontro desses profissionais, pautado em teorias, experimentos, pesquisas, práticas diferenciadas e, o mais provocante, de uma realidade que teimava em incomodar - o fracasso escolar!
Neste raciocínio, a Psicopedagogia não é a justaposição da Psicologia e da Pedagogia e, nem tampouco, um Pedagogo ou um Psicólogo "mais especializado". A Psicopedagogia se propõe a investigar e a entender a aprendizagem com base no diálogo entre as várias disciplinas. O Psicopedagogo é um outro profissional, com um outro referencial, a partir de um outro conhecimento e com um outro olhar.A psicopedagogia, hoje, é entendida num contexto de interdisciplinaridade, sem contudo, perder de vista que "Os diferentes níveis de Realidade são acessíveis ao conhecimento humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em correspondência biunívoca com os níveis de realidade... sem jamais esgotá-la completamente." (NICOLESCU, p 56)
Diante desses avanços, a criança que não está conseguindo aprender é entendida e trabalhada, não como alguém que possui um déficit ou um problema, mas como um aprendiz que possui um estilo de aprender diferente, que está diretamente relacionado ao estilo de família e da comunidade a que pertence.Em face da complexidade das questões aqui levantadas e da delicadeza do nosso objeto e objetivo de trabalho, não prescindimos dos nossos parceiros. Trabalhamos e necessitamos dos Pedagogos, dos Psicólogos, dos Fonodiólogos, etc, mas possuímos os nossos instrumentos de trabalho, os nossos referenciais, a nossa escuta e o nosso olhar.
Analisando a trajetória aqui apresentada, fica claro o entendimento do porquê da formação em Psicopedagogia estar organizada na forma de pós-graduação. Ela exige do aprendiz uma articulação, uma abordagem e um avanço qualitativo inerentes a uma maturidade profissional e acadêmica. Portanto, é necessário muito cuidado na escolha do curso de pós-graduação em Psicopedagogia. Devemos analisar a oferta de disciplinas inerentes a aprendizagem, o número de horas ofertadas, se os professores são psicopedagogos especialistas, se tem estágio supervisionado por um psicopedagogo. Os profissionais psicopedagogos, quando inquirido da necessidade ou relevância do curso de Psicopedagogia ser de especialização, testemunham que apenas a formação é insuficiente para entender e trabalhar, competentemente, com a aprendizagem e seus possíveis percalços.Onde trabalham os psicopedagogos? Como trabalham? Quais as suas ferramentas de trabalho? Os psicopedagogos trabalham em clínicas, em atendimentos individuais, em instituições escolares, hospitais e empresas onde se promova aprendizagem. Os recursos são os que possibilitem entender quais as dificuldades que aquele aprendiz está enfrentando para aprender e quais as possibilidades para mudança que ele apresenta. Os instrumentos não costumam ser os padronizados e sim os jogos, as atividades de expressão artística, a linguagem escrita, as leituras e dramatizações, etc. Enfim, atividades que valorizem o que a criança sabe, que estimulem a expressão pessoal, o desejo de aprender e sua possibilidade de amadurecer, vencer situações e resolver problemas. Os psicopedagogos, tanto em clínicas quanto nas instituições, trabalham com diagnóstico e intervenção.Por tudo o que aqui foi descrito é que estamos lutando pela regulamentação da profissão de Psicopedagogo. Entendemos que, se o projeto de lei que regulamenta a nossa profissão for aprovado, poderemos cuidar da qualidade dos cursos oferecidos e estender o atendimento à comunidade como um todo, já que poderemos participar de concursos públicos, de convênios, etc. A aprovação do projeto de lei será uma oficialização do que já está socialmente reconhecido.
A Associação Brasileira de Psicopedagogia é uma entidade de caráter científico cultural. Fundada em 1980, tem como objetivo principal congregar profissionais psicopedagogos e profissionais afins e promover estudos, pesquisas, cursos, encontros e compartilhamentos. Temos hoje, no Brasil, uma sede nacional localizada em São Paulo, doze(12) seções, onze (11) núcleos que atendem a todo o território nacional.Obviamente que muito ainda necessitamos avançar, mas já conseguimos nos fazer entender, nos diferenciamos e promovemos parcerias sem ocupar ou "invadir o mercado, apenas estamos exigindo uma legalização de uma atuação já legitimada pelo mercado de trabalho" (NOFFS, p 2)
As ações que caracterizam uma comunidade cidadã é a luta por uma comunidade justa, equilibrada, constituída a partir de um objetivo comum e bom para todos. Pois bem, isso nos leva ao entendimento da nossa responsabilidade e do nosso compromisso político social de aprender, em cada novo dia, a promover mais aprendizagens. Como nos ensinou Paulo Freire "Ai de nós, educadores, se deixarmos de sonhar sonhos possíveis..."
A questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância na medida em que é a partir dela que se inicia o percurso para a formação da identidade desse profissional.Alicia Fernández afirma o seguinte: "O pensamento é um só, não pensamos por um lado inteligentemente e, depois, como se girássemos o dial, pensamos simbolicamente. O pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio horizontal e o desejo vertical, Ao mesmo tempo, acontecem a significação simbólica e a capacidade de organização lógica" (1990, p. 67).
O trabalho psicopedagógico não pode confundir-se com a prática psicanalítica e nem tampouco com qualquer prática que conceba uma única face do sujeito. Um psicopedagogo, cujo objeto de estudo é a problemática da aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes. Diz Piaget que "o estudo do sujeito ‘epistêmico’ se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar ,etc.) constitutivas da lógica, e não ao sujeito ‘individual’, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte" (1970, p. 20). Desse sujeito individual ocupa-se a psicopedagogia. O conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. Nesse processo interferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas condições intelectuais que são geradas no meio familiar e sociocultural no qual nasce e vive o sujeito. O produto de tal interação é a aprendizagem.
Na maioria das vezes em programas lato sensu regulamentados pela Resolução n° 12/83, de 06.10.83, que forma os especialistas e que os habilita legalmente também para o ensino superior – ainda que não necessariamente, em termos de conhecimentos, o aluno esteja realmente habilitado para tal.Além das diferenças resultantes da própria divergência acerca do que é a Psicopedagogia, ocorre também que, a depender do enfoque priorizado pelo curso, alguns conteúdos são valorizados em detrimento de outros. Outro aspecto a considerar é que o curso se destina a profissionais com diferentes graduações. Estes se identificam com um referencial teórico que irá nortear a sua prática a partir da formação anterior. Interferem também características de personalidade no perfil desse profissional.Conhecer a Psicopedagogia implica um maior conhecimento de várias outras áreas, de forma a construir novos conhecimentos a partir delas. Ao concluir o curso de especialização em Psicopedagogia, o aluno está iniciando a sua formação, o que deve ser um ponto de partida para uma eterna busca do melhor conhecimento.
2.6 A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA
O trabalho psicopedagógico, implica compreender a situação de aprendizagem do sujeito dentro do seu próprio contexto. Tal compreensão requer uma modalidade particular de atuação para a situação em estudo, o que significa que não há procedimentos predeterminados. Defino esta característica como uma configuração clínica da prática psicopedagógica.O psicopedagogo, procura observar o sentido particular que assumem as alterações da aprendizagem do sujeito ou do grupo. Busca o significado de dados que lhe permitirá dar sentido ao observado. Na medicina, o médico observa o paciente, vê o que se passa, escuta o seu discurso para fazer o diagnóstico e proceder ao tratamento. A expressão "olho clínico", emprestada da Medicina, é freqüentemente utilizada na Psicopedagogia Clínica referindo-se à postura terapêutica do profissional.
Ora, na instituição escolar, a prática psicopedagógica também apresenta uma configuração clínica. O psicopedagogo pesquisa as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar, identificando os obstáculos e os elementos facilitadores, numa abordagem preventiva. Uns e outros (elementos facilitadores e obstáculos) são condicionados por diferentes fatores, fazendo com que cada situação seja única e particular. Esse trabalho requer uma atitude de investigação e intervenção.
A Psicopedagogia preventiva se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, de forma que podemos considerar clínico o seu trabalho.A função preventiva está implícita na atitude de se considerar aquele grupo específico como os sujeitos da aprendizagem, de forma a adequar conteúdos e métodos, ou seja, respeitando as características do grupo a pensar o plano de trabalho. O caráter clínico está na atitude de investigação frente a essa situação como uma situação particular e única, quer dizer, há características problemáticas, experiências condições, manifestações do grupo ou sujeito muitas vezes intransferíveis.O trabalho clínico na Psicopedagogia tem função preventiva na medida em que, ao tratar determinados problemas, pode prevenir o aparecimento de outros.
As características da família, da escola, ou até mesmo do professor podem ser a causa desencadeante do problema de aprendizagem. Assim, essas características que constituem a causa problemática influenciam também na forma de abordagem do profissional. Ainda que o psicopedagogo assim o desejasse, seria-lhe impossível negar a família, a escola, o professor ou mesmo a comunidade.
Para Fernández e Paín, o problema de aprendizagem pode ser gerado por causas internas ou externas à estrutura familiar e individual, ainda que sobrepostas. Os problemas ocasionados pelas causas externas são chamados por essas autoras de problemas de aprendizagem reativos, e aqueles cujas causas são internas à estrutura de personalidade ou familiar do sujeito denomina-se inibição ou sintoma – ambos os termos emprestados da Psicanálise. Segundo essas autoras, quando se atua nas causas externas, o trabalho é preventivo. Já na intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura individual e familiar da criança, o trabalho é terapêutico.
Segundo Alicia Fernández (1990), (para resolver o problema de aprendizagem reativo) necessitamos recorrer principalmente a planos de prevenção nas escolas, porém, uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo deverá também intervir, ajudando através de indicações adequadas para que o fracasso do ensinante, encontrando um terreno fértil na criança e sua família, não se constitua em sintoma neurótico.Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura individual e familiar da criança, vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada. Para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a inteligência e mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar.
É a escola, indubitavelmente, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem. Assim é extremamente importante que a Psicopedagogia dê a sua contribuição à escola, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios nesse processo. "Todo pensamento, todo comportamento humano, remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica" (Paín, apud Fernández, 1990, p. 233).
Quando não se pode negar que o homem é sujeito a uma ordem inconsciente e movido por desejos que desconhece, falar do tratamento psicopedagógico significa muito mais que discorrer sobre métodos definidos de reeducação.Encontramos na literatura orientações de tratamento que estão acompanhadas de um plano de treino de memória visual, onde em síntese as atividades consistem na apresentação de estímulos visuais que, após serem retirados do campo visual da criança, devem ser evocados e representados segundo a instrução do reeducador.
O enquadre que se refere ao estabelecimento do marco fundante da ação terapêutica – a definição do universo da relação clínica – e que, portanto, engloba elementos como tempo, lugar, freqüência, duração, material de trabalho e estabelecimento da atividades, nessa modalidade de tratamento tem como objetivo, sempre, solucionar os problemas de aprendizagem, motivo do encaminhamento.
3. CONCLUSÃO
O fracasso escolar na alfabetização, ainda hoje, faz parte do cotidiano das nossas escolas, acarretando na grande maioria das vezes na reprovação. O trabalho psicopedagógico pode e deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre uma função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.Através da aprendizagem, o sujeito é inserido, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico, que o incorpora à sociedade.A entrada na escola significa antes de mais nada para a criança, uma penetração num círculo social mais amplo, uma ocasião de enfrentar o desconhecido.Esse momento pode representar uma oportunidade para um agravamento de tensões, incertezas e carências que já vem de longe com a criança, mas também pode constituir-se numa oportunidade para que a criança reexperimente o mundo, as pessoa e a vida de outra maneira: mais construtiva, mais confiante, mais feliz.Na sua tarefa junto às instituições escolares o psicopedagogo deve refletir sobre estas questões, buscando dar a sua contribuição no sentido de prevenir ulteriores problemas de escolaridade.O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que essa atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da observação.
Essa constatação reforça a importância do psicopedagogo institucional no sentido de criar condições juntamente com os professores para que a aprendizagem da leitura e da escrita aconteça de maneira eficaz, prazerosa e significativa. Atuando, como assessor, na busca da melhoria do processo de aprendizagem, desenvolvendo um trabalho integrado professor-psicopedagogo-escola no sentido de melhor desenvolver a prática educativa. Isto significa que o professor precisa entender como acontece a aprendizagem da leitura e da escrita, buscando as origens das dificuldades, do fracasso, avaliar, diagnosticar e, acima de tudo, estabelecer um rumo teórico de ação.Portanto, através da intervenção psicopedagógica dirigida aos professores que se acredita no real progresso da aprendizagem voltada sobretudo, a uma educação integrada ao desenvolvimento do aluno como agente produtor do seu meio e não apenas como um resultado.
Se estivermos atentos para isto poderemos contribuir para que a escola corresponda de modo positivo às suas necessidades e expectativas. È uma forma muito eficaz de se prevenir o aparecimento dos temidos problemas de comportamento.Estes, apesar da nossa cautela, muitas vezes se manifestam. Para não agravar ou precipitar a sua evolução a observação continua sendo indispensável e juntamente com ela a atenção e a dedicação.Quando tudo isso não bastar devemos procurar uma orientação especializada pois pode ser que o nosso aluno esteja precisando de algo mais que não depende só de nós
A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação do sintoma. Assim, a relação psicopedagogo-paciente é mediada por atividades bem definidas, cujo objetivo é "solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos" (Pain, 1986, p. 77). Este é um aspecto cuja prática tem me mostrado como bastante complicado na atuação do psicopedagogo, pois está relacionado com a operacionalização do trabalho e conseqüentemente com seu êxito."Somente uma boa avaliação psicopedagógica de fracasso escolar de uma criança pode discernir e ponderar devidamente "o que" e o "quantum" é da criança, da escola, da família e da interação constante dos três vetores na construção das dificuldades de aprendizagem apontadas pela escola".A conquista do espaço na escola significa uma escola aberta, contígua à vida, cheia de presenças humanas, realizando experiências realmente brasileiras.
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A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
RESUMO: A Psicopedagogia nasceu da necessidade de se buscar soluções para a questão do problema de aprendizagem; ela vem caminhando com a intenção de contribuir para uma melhor compreensão desse processo. A Psicopedagogia é uma área de estudos recentes, que resultou da união dos conhecimentos não só da Psicologia e da Pedagogia, mas também de diversas outras áreas como Fonoaudiologia, Medicina, Psicanálise. Porém, mesmo sendo a Psicopedagogia uma área interdisciplinar que teve um crescimento considerável nos últimos anos, ela tem, historicamente, se ligado mais a Educação do que à Medicina e a Psicologia. O profissional da psicopedagogia deve atuar como mediador, intervindo entre o indivíduo e suas dificuldades de aprendizagem, deve conhecer os problemas e interpretá-lo para então intervir da maneira mais correta. Dessa forma, o Psicopedagogo irá auxiliar o indivíduo a retornar o percurso normal da aprendizagem, estabelecendo um vínculo positivo com o mesmo e com seus familiares, objetivando resgatar o prazer de aprender. Destacando como referencial teórico. PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia; aprendizagem; conhecimentos; Educação.
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.
Tem sido muito acentuado os desafios da educação, sendo que os números e a realidade revelam, claramente, que não tem sido fácil superá-los. Acreditamos que há necessidade de um esforço conjunto, envolvendo profissionais de formações distintas, mas complementares, que possam colaborar para a elaboração de novas propostas educacionais, que melhor se ajustem ao perfil da população a ser educada Zorzi apud SCOZ et, al, (2003,p 166).
Surgiu no país baseada em modelos médicos, tendo inicio nos anos 70 cursos de formação de especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com duração de dois anos, preocupados com o grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.
Parente e Renña salienta que:
É necessário "diferenciar com cuidado as crianças com dificuldades de aprendizagem das crianças com dificuldades escolares". Para elas essas últimas revelam a incompetência da instituição educacional no desempenho de seu papel social e não podem ser consideradas como problemas dos alunos. PARENTE e RENÑA- Scoz(1987 op. cit. Sisto 2008)
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.
O presente trabalho tem o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.
1. A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
1.1. HISTORIA E CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA
Segundo Rubinstein,
A Psicopedagogia surgiu da inquietação e insatisfação dos profissionais que tratavam das dificuldades de aprendizagem. ... quero ressaltar que o que estava em evidencia era o tratamento das dificuldades, pouca preocupação havia sobre sua origem levando em conta a historia do aprendiz. A enfase estava em afastar o mal funcionamento por meio de uma boa "ensinagem", e, como consequencia, o aprendiz poderia interar-se voltando a aaprender normalmente. Rubinstein apud SCOZ, et, al(2003, p. 127-128):
Os primeiros Centros Psicoterápicos foram fundados na Europa, em 1946 por Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam conhecimentos da área da psicologia, psicanálise e pedagogia onde se tentava readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou lar e atender muitas outras com dificuldades de aprendizagem apesar destas serem crianças inteligentes. Esperava-se na época através da união psicologia-psicanálise-pedagogia conhecer a criança e o seu meio para que fosse possível compreender o caso para determinar uma ação reeducadora, diferenciando os que não aprendiam dos que aprendiam daqueles que apresentavam algumas deficiências mentais, físicas ou sensoriais.
Esta corrente européia influenciou significativamente a Argentina, tendo surgido ai há mais de 30 anos sendo Buenos Aires a primeira cidade a oferecer o curso. Foi na década de 70 que surgiram lá os Centros de Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Percebendo estes que um ano após o tratamento os pacientes resolviam seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de personalidade como deslocamento de sintoma. Assim resolveram incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica na sua práxis.
Sisto adverte:
Convém lembrar, também, que a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, na teoria psicanalítica, é de causa e efeito, tendo o desenvolvimento emocional como gerenciador primaz do processo de relação com o mundo e determinante de aprendizagens e seus problemas. Sisto, et al. (2008, p. 43)
Nesta época as dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos. Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por médicos na Europa no século XIX e no Brasil. Ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da Escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que este indivíduo esta apresentando na escola.
A Psicopedagogia foi introduzida aqui no nosso país baseada em modelos médicos e foi assim que se iniciaram nos anos 70 cursos de formação de especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com duração de dois anos.
De acordo com Visca (1987):
A Psicopedagogia foi num primeiro momento uma ação subsidiada da Medicina e da psicologia, perfilando-se como saber independente e complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. VISCA (1987, op. cit. CHAMAT. 2008)
Em 1996 foi aprovado em Assembléia Geral no III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, o Código de Ética que assinala dentre outras coisas, que a Psicopedagogia é um campo de atuação em saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana, é de natureza interdisciplinar e o trabalho pode se dar na clínica ou instituição, de caráter preventivo e/ou remediativo e cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação, seguir esse código.
1.2 - Regulamentação
No Brasil vivencia-se ainda a luta, para que se regulamente a profissão de psicopedagogo, de modo que este seja formado em cursos de graduação a exemplo do que já acontece na Europa, em especial, na França e em Portugal, além de outros países.
Em 2005 foi reconhecido o primeiro curso de graduação em psicopedagogia, oferecido pela PUC/RS. Na época o Brasil já contava com outros cursos em andamento: no Centro Universitário La Salle, (Canoas, RS) e no Centro Universitário FIEO (Osasco, São Paulo). Nesta última instituição, em 2006, foi recomendado pela CAPES o primeiro mestrado acadêmico com área de concentração em psicopedagogia.
A regulamentação brasileira tem avançado a partir do Projeto de Lei nº 128/2000 e da Lei n.º 10.891. Entretanto, a regulamentação de qualquer nova profissão, a exemplo das tentativas de regulamentação da psicanálise no Brasil, têm encontrado uma forte barreira constitucional, pois o Art. 5º da Constituição Brasileira prevê o "livre exercício profissional", sendo entendido que é desnecessário e oneroso para o Estado a regulamentação de profissões, exceto quando há risco eminente para a sociedade.
1.3- Quem é o Psicopedagogo
Para Mery (1985).
Psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os propositos teraupeuticos da sua ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicologo, pedagogo, fonaudiologo, professor), ele assumirá sempre a dupla polaridade de seu papel, o que determinará seu modo de ser perante a criança e seus familiare, bem como diante da equipe a que pertence. Mery (1985, p. 48)
O trabalho do pesicopedagogo, possui as seguintes especificidades:
·o "disturbio de aprendizagem" é encarado como uma manifestação de uma pertubação que envolve a totalidade da personalidade;
·o desenvolvimento infantil é considerado a partir de uma perspectiva dinamica, e é dentro dessa evolução dinamica que o sintoma "disturbio de aprendizagem" é estudado;
·a neutralidade do papel de psicopedagogo é negada, e este conhece a importancia da relação transferencial entre o profissional e o sujeito da aprendizagem;
·o objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se a vida normal, respeitando as suas possibiliodades e interesses.
O psicopedagogo deverá respeitar a escola tal como ela é, com suas imperfeições, porque é atraves da escola que o aluno se situará em relação aos seus semelhantes, ai ele optará por uma profissão e participará da construção coletiva da sociedade a qual pertence. Porém, esse fato não empedirá que o psicopedagogo colabore com a melhoria das condições de trabalho numa determinada escola ou na conquista de seus objetivos fazendo com que a criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã, sem impor a mesma normas arbitrarias ou sufocar-lhes a individualidade. Busca-se sempre desenvolver e expandir a personalidade do individuo, favorecendo as suas iniciativas pessoais, sucitando os seus interesses, respeitando os gostos.
Fini, conclui que:
Diante do quadro que se apresenta, é compreensível que um grande número de estudiosos e pesquisadores, em especial nos últimos anos, venha se dedicando a investigar e discutir as razões que contribuem para que algumas crianças tenham sucesso na escola e outras, não.
Quais são as causas do insucesso do aluno na escola? Como compreender o rendimento insatisfatório? Quais são as dificuldades dos alunos? Como enfrentar a situação? Como ajudar alunos e educadores?Fini (2008 op. cit. SISTO, 2008, p. 64-5)
Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar. No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção.
De acordo com Fernández (1991), necessitamos incorporar conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, estando estes quatro níveis basicamente implicados no aprender. Considerando-se o problema de aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que ocupam da inteligência, do inconsciente, do corpo, separadamente, não conseguem resolvê-lo. Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia implica refletir sobre as suas origens teóricas, ou seja, revisar velhos impasses conceituais que subjazem na ação e na atuação da Pedagogia e da Psicologia no apreender do fenômeno educativo.
1.4. Campo de atuação da psicopedagogia
O objetivo basico do diagnostico psicopedagogico é identificar os desvios e os obstaculos basicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social Weiss (2001, p 32).
O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.
Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.
Segundo Weiss (2001, p 30), o sucesso de um diagnostico não reside no grande numero de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação.
Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológicas, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.
O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como: psicólogos assistentes sociais, enfermeiros e médicos.
Nesse aspecto, segundo Pinchon-Rivière (1981),
Existe uma estreita ligação entre o vinculo e a aprendizagem. Aquele que se faz portador de uma problemática vincular, inefavelmente terá problema de vinculação com o "Ser que ensina", transferindo isso para o "conhecimento" para com a família e até com amigos. PINCHON-RIVIÈRE (1981, op. cit. CAMAT, 2008, p. 31),
No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa.
De acordo com o projeto de Lei nº 3.124/97, o psicopedagogo está capacitado para:
·Intervenção psicopedagógica visando à solução dos problemas de aprendizagem, tendo por enfoque o indivíduo ou a instituição de ensino público ou privado;
·Possibilitar intervenção visando à solução dos problemas de aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público ou privado;
·Apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços institucionais;
·Atuar na prevenção dos problemas de aprendizagem;
·Desenvolver pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo de aprendizagem e seus problemas;
·Oferecer assessoria psicopedagógica aos trabalhos realizados em espaços institucionais;
·Orientar, coordenar e supervisionar cursos de especialização de Psicopedagogia, em nível de pós-graduação, expedidos por instituições ou escolas devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação vigente.
Segundo Scoz (1992), a atuação do Psicopedagogo remete-se ora à identidade clínica, ora à institucional, mas ressalta que ambas estão vinculadas ao processo de aprendizagem, sendo assim, o Psicopedagogo é um profissional ligado historicamente à educação.
Entretanto, independentemente da abordagem seguida pelo Psicopedagogo, existem certos princípios éticos que devem fazer parte da atuação deste profissional. Visando assegurar esses princípios, a Associação Brasileira de Psicopedagogia, em assembléia realizada no III Congresso de Psicopedagogia, aprovou o Código de Ética.
2. EDUCAÇÃO E PSICOPEDAGOGIA
2.1. Rendimento escolar e psicopedagogia
PATTO (1991 op. cit. Fini) em seu livro "A Produção do Fracasso Escolar": mostrou que a problemática do fracasso escolar não é contemporânea. Sucessivos levantamentos, dos anos 30 a 90, mostraram sempre elevados índice de evasão e reprovação, principalmente nos primeiros anos na escola publica brasileira, em contraste com a falta de melhoria das mesmas.
É possível que alunos defrontem-se com dificuldades e sejam prejudicados em determinado período escolar. Quaisquer que sejam as razões, os alunos podem ser prejudicados em relação ao melhor aproveitamento de oportunidades de acesso ao saber socialmente valorizado e do desenvolvimento de habilidades e hábitos relacionados ao processo de construção de conhecimento. Tolaine(apud SISTO, et al, 2008 p.65)
Considerando os fatores implicados no processo da aprendizagem, poderíamos pensar no papel de psicopedagogo com relação ao fracasso escolar. O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que diz Bossa (1994) sobre o diagnóstico:
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. Bossa(1994, p. 29)
Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhores rendimentos intelectuais. Lembramos que a escola e o meio social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.
A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento da criança.
Em muitos alunos/pacientes a causa de dificuldade de aprendizagem é familiar, nesse caso essa deve ser conscientizada e trabalhada. Outros casos são problemas do Ser que ensina, e do Ser que aprende, com causas nas relações vinculares, pois segundo Skrpycsar (1996 op. citChamat, 2008), "a rejeição é sentida desde o útero materno", nesse caso o problema pode ser tratado por um psicólogo levando o sujeito a ter uma vida normal, daí a importância do pedagogo enviar o paciente para o mesmo.
O psicopedagogo deve priorizar o conhecimento do paciente, seu papel é focalizar o problema dentro do contexto causa/sintoma e atuar sobre ele de forma planejada para que possa ser feito o diagnóstico que é comunicado aos pais, para que haja uma interação com estes, o que é fundamental para o direcionamento do tratamento psicopedagógico.
O atendimento psicopedagógico pretende facilitar o diagnostico da dinâmica relacional e da aprendizagem, a fim de propiciar mudanças e facilitar o trabalho preventivo, que segundo Paín (1989), a intervenção tem como objetivo, levantar e sistematizar o perfil do aluno, detectar os principais pontos de dificuldades e necessidades apresentadas nos diferentes momentos de sua formação; desenvolver atividades em conjunto com a área pedagógica, atender individualmente o aluno que procura o programa auxiliando em suas dificuldades acadêmicas e fazer o levantamento do aluno ingressante. O psicopedagogo deve estar sempre atencioso e receptivo para atender as necessidades do sujeito, sua família e escola, lembrando que este deve ter o cuidado de não se envolver emocionalmente no problema e, se necessário ter acompanhamento de um profissional psicoterapeuta.
Muitas vezes o aluno não consegue aprender, não por falta de requisitos intelectuais, mas sim por bloqueio e inibições no pensar, gerado por problemáticas efetivas ou emocionais. Segundo Piaget (1970, op. cit. Chamat, 2008), as rupturas no vinculo familiar causam, geralmente, bloqueios e ruptura no vinculo com o "conhecimento". Dai à afirmação que, "afetivo e cognitivo permanecem lado a lado" e, muitos autores apontam que a quebra ou defasagem na relação do "Ser que ensina" como o "Ser que aprende" é desastrosa do ponto de vista da aprendizagem.
O escasso vínculo com o conhecimento torna a aprendizagem e vida social insatisfatória. Chamat (2008) enfatiza que:
Esse vínculo se encontra evidenciado ou com seqüela da ausência dessa vinculação. Essa vinculação, segundo a autora é responsável, pela criatividade e pelo desejo de busca, de lidar com o conhecido e desconhecido, que é o "conhecimento". Chamat (2008, p. 32),
Ter um olhar psicopedagógico de um processo de aprendizagem é buscar compreender como eles utilizam os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. É também buscar compreender a relação do aluno com o conhecimento, a qual é permeada pela figura do professor e pela escola. A Psicopedagogia preocupa-se, portanto, como a criança aprende.
Segundo Scoz (2003) é na escrita do discurso parental que adquirimos elementos que nortearão a posição da criança na estrutura familiar permitindo-nos localizar no sintoma o que é da criança e o que está na marca familiar.
2.2. A atuação da Psicopedagogia na instituição escolar
Para Pain (1989), no tratamento psicopedagógico, busca-se devolver ao sujeito a dimensão de seu poder (poder escrever, poder saber fazer) para que seu eu acredite em suas potencialidades.
A atuação escolar se constitui na totalidade de seus componentes que expressam seus conhecimentos, suas habilidades, seus desejos. A Psicopedagogia leva em conta o sujeito que pensa e deseja, abre o espaço para a construção do saber real, propiciando maior desejo de conhecer ensinante e aprendentes.
A psicopedagogia dirige-se para a relação entre a modalidade ensinante da escola, e a modalidade de aprendizagem de cada aluno.
Com isso, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar deve direcionar seu olhar e escuta, passando pelas relações pessoais e vínculos entre o ensinar e o aprender, nas modalidades de aprendizagem dos sujeitos envolvidos neste processo, nas relações do poder, no mostrar e esconder, na divisão de papeis, tarefas e funções e nas relações entre escola, família e comunidade. Estas contribuições da Psicopedagogia devem procurar propostas que favoreçam a solução de problemas, vislumbrar mudanças, abrir espaços de pensamentos favorecendo que todos desempenhem suas atividades com mais satisfação.
Segundo Visca (2008):
O psicopedagogo, no papel de agente corretor, deve priorizar o "conhecimento" do paciente, mesmo que para tal tenha de realizar encaminhamento a outros profissionais. Seu papel é de focalizar a problemática dentro do contexto causa/sintoma e atuar sobre eles. Deve planejar sua atuação desde o contato telefônico. Visca (op. cit. CHAMAT, 2008, p. 26)
Após o contato telefônico, virá a entrevista com os responsáveis pelo paciente, expondo a causa dos sintomas e a mudança de atuação dos mesmos em relação ao sujeito. Será marcada entrevista com todos os envolvidos com o sujeito, para ouvir a problemática e levantar o diagnóstico.
Analisar a escola, a luz da psicopedagogia significa no processo que inclui questões metodológicas, relacionais e sócio-culturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo, conforme já foi dito, a participação da família e da sociedade.
Existem diferentes enfoques em relação ao que se entende por Psicopedagogia na escola. (...) è dar-se ao professor e ao aluno tempo; possibilitar-se uma postura critica em relação à estrutura da escola e da sociedade que ela representa. Para isto é necessário um posicionamento sobre o que a escola produz.Bossa (1994, p. 68).
Reconhecendo que o ensino precisava de uma mudança, o Programa de Formação de Profissionais da Educação na SMED, propôs uma transformação não só com os professores, mas, com todos aqueles que tem a ver com ensino aprendizagem.
O projeto de uma escola pública eficaz, que cumpre a função de ensinar a todos, depende fundamentalmente da formulação de uma política comprometida com esse objetivo.
E estas decisões governamentais e a teoria pedagógica privilegiam a formação do professor como meio para implementar transformações no sistema de ensino.
Ao professores cabia o papel de agente modernizador das nossas escolas.
Até inicio da década de 80, na área da alfabetização foram feitas tentativas para inverter a ineficiência da escola em relação à aprendizagem da leitura e da escrita, introduzindo novas metodologias.
Segundo Zorzi (2005):
A leitura corresponde a um ato de compreensão, ou seja, a uma busca daquilo que o texto pode significar. Para que a leitura seja possível, há necessidade de se compreender os símbolos ou letras e a significação por eles representados, ou seja, a relação entre símbolos (significantes) e aquilo que ele simbolizam (significados). Zorzi (2005, p. 23)
Então, teve inicio a teoria construtivista enfocando o desenvolvimento da psicologia genética e da lingüística contemporânea, onde possibilitou uma nova compreensão do processo da leitura e da escrita. Com isto, o processo de mudanças em relação à alfabetização proporcionou uma re-definição da escola enquanto institucional, como a re-definição da ação didática faz parte igualmente deste processo. Essa mudança na postura do ensino continua turbulenta e temerosa, possivelmente, porque pode acarretar no nível de poder insegurança a quem se julga o dono deste.
Renovar, abrir espaço para o novo é se submeter a ser construtor do seu conhecimento, e dar abertura ao pensar, a autonomia.
Questiona-se a postura da a escola permitindo aos nossos professores e alunos o espaço de autoria, ou se é construída dentro de uma falsa autonomia.
Uma proposta pedagógica favorecedora e estimulante ao pensamento critico, a autoria, a cooperação, possibilita ao sujeito fazer parte desta mudança de ensino e, com certeza, uma mudança de vida.
Precisa-se trabalhar no sentido de resgatar o desejo de aprender de alunos e alunas, professores e professoras, em um jogo de troca de lugares de quem ensina e de quem aprende, sem que se perda o seu lugar. É uma das possibilidades de humanizarmos a escola, pois, é o desejo que nos marca como seres humanos.
Para Gandin (1988) o sistema escolar se organiza segundo as linhas estruturais da sociedade em que se insere; não é do tipo de escola que produzum tipo de sociedade, mas, um tipo de sociedade que produz um tipo de escola.
Lidar com esse problema na escola é o que a Psicopedagogia se propõe; ressignificar o desejo, promover o pensar, alargar o olhar e a escuta, construir projetos e possibilitar que se façam, é um dos objetivos da Psicopedagogia.
O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se estabelece na relação com o seu, à medida que se compromete com o seu social estabelecendo redes relacionais.
2.3. Educação e família numa visão psicopedagógica sistêmica
Família e escola têm um objetivo comum: estabelecer as melhores condições para favorecer o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens. Esse objetivo requer atuações de qualidade em cada um dos sistemas dirigidos para que as crianças tenham acesso, progressivamente, à cultura de seu grupo social num processo que repercuta de forma favorável em seu autoconceito, na capacidade de relacionar-se construtivamente com outros e nas suas possibilidades de se inserir paulatinamente em novas estruturas e sistemas.
Propor o pensamento psicopedagógico sistêmico no entendimento das questões educativas, na família e na escola é possibilitar uma visão mais ampla entre o ensinar e o aprender na compreensão do quando, onde e como acontece. Seria possibilita aos alunos, crianças e adolescentes, membros de uma família, assimilarem os conhecimentos que vão adquirindo em seus contextos culturais, reunindo-os, religando-os em novas bases de saber. Munhoz (2001, p. 35)
O objetivo acima também requer a existência do conhecimento mútuo, da formação de vínculos e do estabelecimento de acordos entre esses contextos originários como condição necessária para que o potencial de desenvolvimento de cada um deles chegue a se concretizar. Cada escola é em si mesma, uma comunidade que estabeleceu, ao longo de sua trajetória, uma história de relação e afeto entre seus membros, entre a equipe de docentes, com os alunos, entre a equipe e as famílias. Em cada caso, esses aspectos são diferentes.
Os psicopedagogos podem contribuir de maneira proveitosa para o estabelecimento de canais fluidos de comunicação entre a família e a escola. Quando ocorrem, essas relações são conduzidas pela confiança e pelo respeito mútuos e articulam-se em torno de algumas metas ou objetivos concernentes a ambos os sistemas. São relações nas quais se buscam os aspectos positivos que possuem todos os interlocutores. Paralelamente, os pais respeitam a tarefa educacional da escola, criando-se, desse modo, um contexto de relação cômoda para todos.
O grau em que os familiares possam elaborar expectativas positivas em relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na escola depende da acolhida que esta oferecer não somente aos alunos, mas à família em seu conjunto, assim como dos esforços destinados a manter e a cuidar dessa relação. Assim, há uma variedade de intervenções que estão vinculadas à cultura da escola em relação às famílias.
O psicopedagogo pode colaborar, também, para que a escola sinta interesse em conhecer a opinião dos pais, seja quanto às questões globais, seja quanto a outras mais específicas relacionadas à educação de seu filho.
Todas as intervenções têm como fim prioritário melhorar a comunicação entre a família e a instituição educacional e fomentar entre elas relações positivas. Portanto, a família é peça fundamental para o tratamento dos problemas de aprendizagem. Segundo Fernández (1991), se o paciente é uma criança ou adolescente, o modo de diagnosticar pode estar relacionado com o olhar-conhecer por meio da família.
A presença da família ajuda a observar mais rapidamente a existência de significações sintomáticas localizadas em vínculos relacionados ao aprender, permite realizar diagnósticos diferenciais entre sintoma (problema de aprendizagem-sintoma) e problema de aprendizagem reativo.
O psicopedagogo deve buscar o que significa o aprender para esse sujeito e sua família, tentando descobrir a função do não aprender. Conhecer como se dá à circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de aprendizagem da criança, não perdendo de vista qual o papel da escola na construção do problema de aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no projeto de atendimento para ampliar seu conhecimento sobre a dificuldade, modificando seu modo de pensar e de agir com relação à criança.
Em cada um de nós, podemos observar uma particular "modalidade de aprendizagem", quer dizer, uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e para conformar seu saber. Tal modalidade de aprendizagem constrói-se desde o nascimento, e através dela nos deparamos com a angústia inerente ao conhecer-desconhecer. A modalidade de aprendizagem é como uma matriz, um molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas diferentes situações de aprendizagem. Fernandez (1991: p. 109).
A modalidade de aprendizagem revela a forma e o conteúdo do processo de estruturação da aprendizagem do sujeito, trazendo em seu bojo a criação do material pedagógico como um objeto resultante do processo de ensino-aprendizagem. Diferentemente do modelo de aprendizagem geral e universalista, a modalidade de aprendizagem é sempre singular e específica.
Fernández (1991) fala de um enfoque clínico que significa preocupar-se com os processos inconscientes e não somente com a patologia; é fazer uma escuta particular do sujeito que possibilite não só encontrar as causas do não-aprendizado, mas também organizar metodologias para facilitar a aprendizagem e o desempenho escolar.
As rupturas no vinculo familiar causam, geralmente, bloqueios e rupturas no vinculo com o "conhecimento". O afetivo e cognitivo permanecem lado a lado. É sabido que toda quebra na vinculação afetiva acarreta perdas e ou bloqueios cognitivos. Pode acontecer de ocorrerem ambos simultaneamente.
É importante que o ensinante introduza o conhecimento ao aprendiz de forma prazerosa através do lúdico, onde de forma inconsciente o brincar vai criando vinculo com conhecimento.
CONCLUSÃO
A psicopedagogia veio introduzir uma contribuição mais rica no enfoque pedagógico. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como um processo muito abrangente, implicando componentes de vários eixos de estruturação.
Percebe-se que as causa do processo de aprendizagem, bem como das dificuldades de aprendizagem, não está localizada somente no aluno e no professor, passa a ser vista como um processo maior com inúmeras variáveis que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo.
O aluno deve ser percebido em toda a sua singularidade e, em toda a sua especificidade, em um programa direcionado a atender as suas necessidades especiais. É a percepção desta singularidade que vai comandar o processo e não um modelo universal de desenvolvimento. Na intervenção psicopedagógica deve-se evitar os prognósticos que o professor lança a respeito do processo de desenvolvimento de seu aluno sem levar em consideração o seu desempenho.
A função do Psicopedagogo é de intervir como mediador. Essa intervenção tem caráter preventivo e curativo, uma vez que tem o propósito de detectar a dificuldade de aprendizagem, resolver essa dificuldade e ainda preveni-la; o trabalho preventivo tem como objetivo prevenir os problemas de aprendizagem através da investigação de todos os indivíduos inseridos na instituição, para que ela se reestruture e resgate sua identidade.
O Psicopedagogo, diante das dificuldades de aprendizagem e numa ação preventiva, inserido no âmbito escolar, deve adotar uma postura crítica, com o objetivo de propor novas alterações de ação voltadas para a melhoria da aprendizagem. Ele deve buscar o que o aprender significa para o indivíduo, sua família, sua comunidade, deve fazer uma pesquisa particular deste indivíduo não só para encontrar as causas do não aprendizado, mas também para facilitar a aprendizagem.
Em sua atuação na esfera escolar, em seu foco de atuação junto a Direção, coordenação e corpo docente, ele se interessa pelo processo de construção do conhecimento. É este seu norte, é para este lugar que dirige o seu olhar inquietante e curioso, que observa tudo e sobre tudo pensa: a história, as condições, as interações de fatores de ordens diversas na construção do conhecimento, daquela criança daquela família daquele professor, e daquela instituição. Observa se os conteúdos trabalhados e se as práticas pedagógicas daquela instituição estão de acordo com o Projeto Pedagógico e com o Regimento Escolar da mesma, para poder dar uma devolutiva de forma que venha a contribuir para o crescimento desta através de mudanças que virão a ocorrer de comum acordo com todos.
... Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.Bossa (1994, p.23)
Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem.
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Fonte: http://www.webartigos
RESUMO Este texto considera a Psicopedagogia como um saber híbrido que possibilita perceber o sujeito que aprende como centro do seu contexto. Nesse sentido, aborda o diagnóstico psicopedagógico na realidade escolar, configurando os possíveis obstáculos que poderão constituir-se em problemas de aprendizagem do educando nos níveis sócio-político, pedagógico e psicopedagógico. Considera o contexto, os fundamentos e os aspectos gerais de um diagnóstico psicopedagógico na ótica do sujeito que constrói sua aprendizagem. Aponta para diferenciações na construção, desconstrução e análise dos estudos propostos no seu nível de intencionalidade e de individualidade. Palavras Chave: Escola; Ação; Transformação; Sociedade.
Quando falamos em diagnóstico, pensamos logo em análise, porém só podemos analisar algo se pudermos encontrar o que estamos analisando. Por esta razão quando dizemos que estamos fazendo um diagnóstico temos que saber o que estamos diagnosticando, para que estamos diagnosticando e por que diagnosticar.
Isto nos leva apensar que iremos analisar o problema de aprendizagem durante o diagnóstico psicopedagógico.
Quando pensamos em problema de aprendizagem imaginamos as várias faces que podem compor este problema: Qual a ordem deste problema? familiar? da escola? Do sujeito? da sociedade? de todos estes fatores associados?
Para que se possa compreender qual o tipo de problema existente é necessário que o psicopedagogo esteja atento buscando todas as pistas possíveis.
O olhar psicopedagógico tem que buscar as respostas para as perguntas: Por que este sujeito não aprende? ou por que ele não está conseguindo utilizar suas potencialidades em toda a plenitude? ou o que está impedindo de se desenvolver?. Não são respostas simples de serem encontradas, mas pode ser possível encontrá-las. Precisamos ver aquilo que não está visível, ver o que está dito na entrelinha, no silêncio, na intenção.
É olhar a queixa trazida, pelos responsáveis, pelo professor, pelo próprio sujeito, para o atendimento psicopedagógico com os olhos de Psicopedagogo: um olhar transdisciplinar, construído.
Esta construção precisa partir do que já se sabe; do conhecimento anterior. É construir o presente visualizando o passado com os olhos no futuro. É este o olhar psicopedagógico.
A partir do momento que nos dirigimos, com este olhar, a alguém que veio a nossa procura já não conseguimos mais ouvir somente porque buscamos sentido naquilo que ouvimos, isto é, a escuta Psicopedagógica. Buscamos o sentido da queixa e nos questionamos: por que estão buscando ajuda agora? O que está acontecendo com esta família? O que tem na sua fala que não está sendo dito? Será que ela sabe o que psicopedagogia?
Assim poderemos pensar em inúmeras questões que vem a nossa mente sempre que iniciamos uma nova história.
E temos que nos questionar a cada fala em cada história; temos que suportar não ter respostas para cada pergunta. Temos que aprender a suportar a dúvida apesar dela ser algo difícil de suportar.
Mas por que isso acontece?
Uma das possíveis explicações é que por vezes queremos ter respostas prontas para tudo o mais rápido possível e fazer com que o outro saiba que nós sabemos o que na verdade não sabemos e é neste momento que muitas vezes dizemos aquilo que acreditamos que tem sentido sem nos perguntarmos: sentido para quem?
Se não estivermos atentos deixamos que nossos sentimentos, angustias e medos sejam transferidos para o outro.
Para que conteúdos nossos possam continuar sendo nossos e de nossos educandos, precisamos através da escuta Psicopedagógica formular perguntas aos nossos educandos e tentar encontrar respostas para estas perguntas.
Assim, ao responder as questões que formulamos, eles estarão reflexionando e, a partir daí poderão ressignificar o fato que estão nos relatando ao mesmo tempo em que nós poderemos contextualizar as suas falas, compreender como é seu mundo, quais são suas fantasias, seus medos e, consequentemente compreender o que significa aprender para este educando.
Existe uma relação dialética: ao mesmo tempo em que vai se compreendendo como o sujeito aprende, vai se modificando o jeito deste sujeito aprender.
Mas, estamos falando de diagnóstico ou de intervenção? Estamos falando de diagnóstico interventivo. Não é possível fazer um diagnóstico ficando neutro, acreditando que nada daquilo está tendo significado para o educando.
Fernandez (1990) diz que o diagnóstico serve para o psicopedagogo como a rede para o equilibrista, isto é, é apenas uma segurança, mas que estaremos no trapézio enquanto fazemos o diagnóstico.
Quando iniciamos um atendimento psicopedagógico, precisamos que o educando consiga reconhecer que algo está faltando, principalmente quando estamos atendendo criança, adolescente ou pais encaminhados pela escola.
Pensemos o seguinte: O que faz com que as crianças sejam enviadas à escola? Por que é importante que elas aprendam? que elas convivam com outras crianças? por os pais precisam trabalhar? por acreditar que na escola ela será cuidada? se ela não for na escola, não poderá ter um bom emprego mais tarde?
Sempre que pensamos em diagnóstico psicopedagógico temos que saber ouvir o que o outro tem a dizer, não podemos ter respostas prontas, não existe um caso igual ao outro, existem situações, que com a experiência conseguimos fazer a pergunta mais apropriada para aquele momento.
Outro fato importante é que a questão do diagnóstico psicopedagógico não seja apenas um rótulo, mas que possa visar os aspectos positivos.
Sempre que vamos fazer um diagnóstico temos que nos propor a conhecer a pessoa por inteiro, temos que entender como ela aprende.
O olhar e a escuta Psicopedagógica deverá ter como objetivo verificar como o educando está aprendendo e o que está dificultando o desenvolvimento de suas potencialidades. Só assim poderemos intervir de maneira adequada.
Portanto durante o atendimento psicopedagógico temos que pensar o educando como alguém capaz que vive em um contexto familiar, escolar e social específico e de que maneira vivencia estes espaços para podermos ajudá-lo a ser autor e ator de sua própria história.
ORIGEM DO TERMO DIAGNÓSTICO
O termo diagnóstico origina-se do grego diagnósticos e significa discernimento, faculdade de conhecer.
Para conhecer são analisados os aspectos, as características e as relações que compõe um todo que seria o conhecimento do fenômeno, utilizando para isso processos de observações, de avaliações e interpretações que se baseiam em nossas percepções, experiências, informações adquiridas e formas de pensamento. É um processo no qual se analisa a situação do aluno com dificuldades dentro do contexto da escola, da sala de aula e da família.
Numa perspectiva Psicopedagógica, o trabalho com as famílias pode ser considerado fundamental e indispensável para modificar as atitudes de alguns alunos, mas, mesmo assim, esse trabalho somente se constituirá em uma das partes do diagnóstico, já que ele estará centralizado, principalmente, no conhecimento e na modificação da situação escolar.Bassedas e Col (1996).
Para estes autores, os sujeitos e os sistemas estão envolvidos no diagnóstico psicopedagógico, podendo a escola como instituição social ser considerada de forma ampla, como um sistema aberto que compartilha funções e que se inter-relaciona com outros sistemas que integram o contexto social cujos protagonistas são todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Enquanto psicopedagoga e docente, em nossa prática observamos que o diagnóstico da aprendizagem escolar se situa num espaço e num tempo pré-determinados para que se possa viabilizar a criação de um ambiente psicopedagógico; lugar espacial onde transcorre a ação educativa no tempo previamente estabelecido pela conforme a complexidade dos fatores que envolvem a instituição.
FUNDAMENTOS DE UM DIAGNÓSTICO ESCOLAR
Um diagnóstico psicopedagógico engloba o professor, o aluno e o conhecimento contextualizado na escola, especificamente na sala de aula, lugar onde se constatam e se priorizam as aprendizagens sistemáticas tendo como pano de fundo a instituição escolar.
Os fundamentos de um diagnóstico também revelam um tempo, um lugar e um espaço que é dado para aquele que aprende e para aquele que ensina.
Historicamente a prática educativa e a prática Psicopedagógica são derivadas das distintas teorias de aprendizagens que sustentam as concepções diferentes em relação à tríade: professor, aluno e conhecimento.
Consideramos o aluno como um sujeito que elabora o seu conhecimento e sua evolução pessoal a partir da atribuição de um sentido próprio e genuíno às situações que vivem e com as quais aprende. Já o lugar do professor é o lugar daquele que gerencia o processo da aprendizagem. Sua principal ação é mediar o objeto do conhecimento.
É necessário também compreender os processos educativos, curriculares, os aspectos organizacional, estrutural e funcional, bem como todos os elementos envolvidos no processo ensino aprendizagem.
Nesse sentido o diagnóstico é sempre uma hipótese diagnóstica.
ASPECTOS GERAIS DE UM DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO
Aprender é incorporar os conhecimentos
Em um saber pessoal. Judite Rodrigues
A idéia de diagnóstico nos remete ao que significa ensinar e aprender, pois deriva da concepção que temos de sujeito da aprendizagem e a aprendizagem do sujeito.
Desta significação os lugares distintos ocupados pelo professor e pelo aluno em relação ao conhecimento contextualizado pela escola é o lugar de aprender e de ensinar e que dinamizam a prática educativa.
Um ponto importante para se perceber este processo de constituição do sujeito se dá através da questão dos limites. Muitas vezes a queixa escolar e a produção da criança gira em torno da dificuldade em aceitar as normas e o formalismo necessário para construir determinados conteúdos acadêmicos. Outras vezes é a dificuldade em aceitar os erros e o esforço que a aprendizagem demanda, ou seja, é o jogo da aceitação dos próprios limites.
Nesta dialética do ensinar e do aprender, qual o lugar do psicopedagogo? Qual sua intervenção?
O eixo principal da questão do diagnóstico sobre o aprender repousa nas dimensões do aluno, do professor, e dos níveis inter-relacionados na ação educativa, ou seja, Sócio-político, Pedagógico e Psicopedagógico.
O sócio-político inclui a própria organização da escola como instituição destinada a ensinar ou a produzir fracassos dos alunos conforme sua classe social.
O pedagógico refere-se ao processo de ensino: a relação dos conteúdos e a didática.
Pensamos que uma didática eficiente possa representar uma ação preventiva de problemas de aprendizagem, pois a didática preventiva é aquela que lança desafios aos alunos para que estes avancem a partir do ponto que se encontram, isto é, do conhecimento já construído.
O psicopedagogo prioriza o sujeito que aprende ou que fracassa ajudando-o a situar-se em um lugar que o possibilite a aprender, pois pode recorrer a critérios de diagnóstico no sentido de compreender os problemas na aprendizagem.
Nesse sentido, Scoz (1994, p. 22) diz que:
(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade.
Aprender significa incorporar os conhecimentos em um saber pessoal, único, diferente em cada sujeito na sua totalidade.
É isto que o psicopedagogo precisa diagnosticar. Diagnosticar também a escola como um lugar onde acontece a aprendizagem. Este diagnóstico consiste na busca de um saber para saber-fazer por meio das informações obtidas nesse processo de investigação.
O diagnóstico Psicopedagógico pode ser entendido como uma avaliação clínica, um exame realizado a partir de uma queixa explícita em relação a alguma dificuldade de aprendizagem.
A avaliação liga-se ao não aprender, ou só conseguí-lo lentamente com falhas e distorções. Encontra-se envolvido neste processo de diagnóstico a leitura de um sistema complexo, onde se faz presente manifestações conscientes e inconscientes.
Interage aí o pessoal, o familiar anterior e atual, o sociocultural, o educacional, e a aprendizagem.
Ao se instrumentalizar um diagnóstico, é necessário que o profissional atente para o significado do sintoma a nível familiar e escolar e não o veja apenas em um recorte, como uma deficiência do sujeito a ser por ele tratado. É essencial procurarmos o não dito, implícito existente no não aprender.
Acreditamos numa aprendizagem que possibilita transformar, sair do lugar estagnado e construir.
É sob este olhar que podemos encaminhar o diagnóstico escolar. Voltamo-nos para a Escola porque é para ela que diariamente dirigem-se muitas crianças.
Olhar para a escola implica em uma visão íntegra de aprendizagem e de mundo.
Um diagnóstico á luz da instituição escolar se concretiza através de uma ampla observação das dimensões que envolvem a aprendizagem e que possibilita uma reflexão e conhecimento dos problemas educacionais que estão vinculados a variáveis como as correntes filosóficas, políticas e educacionais que influenciam a prática pedagógica.
Portanto, o diagnóstico deve ser encarado como busca constante de saber sobre aprender sendo o fio condutor que norteará a intervenção psicopedagogia.
A FUNÇÃO DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO
De acordo com o DSM-IV, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 1994) os Transtornos da Aprendizagem estão incluídos nos Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou Adolescência. Estes transtornos incluem: Transtorno da Leitura, da Matemática, da Expressão Escrita e da Aprendizagem sem outra especificação.
Os Transtornos de Aprendizagem podem incluir problemas em todas as três áreas que interferem no rendimento escolar, embora o desempenho nos testes que medem cada habilidade isoladamente não esteja acentuadamente abaixo do nível esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência medida e a escolaridade apropriada à idade do indivíduo" ( APA, 1994). Serão esses os transtornos que aqui iremos tratar.
O transtorno de aprendizagem é uma perturbação no processo de aprendizagem, não permitindo ao indivíduo aproveitar as suas possibilidades para perceber, compreender, reter na memória e utilizar posteriormente as informações obtidas.
Num enfoque psicopedagógico, encaramos os transtornos de aprendizagem como um sintoma, um sinal de descompensação, no sentido de que não são permanentes, sendo passíveis de transformação.
Para Pain (1986) a hipótese fundamental para avaliar o sintoma é entendê-lo como um estado particular de um sistema que para equilibrar-se precisa adotar esse tipo de comportamento que poderia merecer um nome positivo, mas que caracterizamos como não - aprender.
Esse é o papel inicial do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem: fazer uma análise da situação para poder diagnosticar os problemas e suas causas. Ele levanta hipóteses a partir de uma anamenese para conhecer o sujeito em seus aspectos neurofisiológicos, afetivos, cognitivos e sociais, bem como entender a modalidade de aprendizagem e o vínculo que o indivíduo estabelece com o objeto de aprendizagem, consigo mesmo e com o outro.
O psicopedagogo procura, portanto, compreender o indivíduo em suas várias dimensões para ajudá-lo a reencontrar seu caminho, superando dificuldades que impeçam um desenvolvimento harmônico e que estejam se constituindo num bloqueio da comunicação dele com seu entorno.
São diversos os fatores envolvidos nos transtornos de aprendizagem: orgânicos, cognitivos, emocionais e ambientais, relacionados a três pólos de procedência: o indivíduo, a família e a escola.
Estando a origem de toda a aprendizagem nos esquemas de ação através do corpo, precisamos verificar, primeiramente, como estão sendo processadas as principais funções e a integridade dos órgãos ligados a elas, para podermos, posteriormente, considerar os aspectos cognitivos.
Estes dizem respeito ao desenvolvimento e funcionamento das estruturas que proporcionam a possibilidade de conhecimento por parte do sujeito, em sua interação com o meio. Nessa área podemos incluir as funções de percepção, discriminação, atenção, memória e processamento da informação. Não podemos nos esquecer de que os fatores motivacionais são muito importantes na construção do significado daquilo que se aprende, formando uma rede de inter-relações entre esses conteúdos e aquilo que já se conhece.
Assim, os aspectos emocionais interferem na construção do conhecimento. Abrangem um amplo campo, desde dificuldades para lidar com as frustrações até sérios transtornos emocionais como psicose e depressão.
Para além das causas individuais, estão as de ordem ambiental, oriundas da família, da escola e da sociedade, como um todo. São fatores intervenientes do próprio modelo de funcionamento da família, da escola e as relações aí estabelecidas..
Torna-se necessário lembrarmos que esses fatores não são estanques, nem aparecem isoladamente. Eles têm uma circularidade causal, como diz Fernández (1990):
A origem do problema de aprendizagem não se encontra na estrutura individual. O sintoma se ancora em uma rede particular de vínculos familiares que se entrecruzam com uma também particular estrutura individua.
Se ao papel da família acrescentássemos o papel da escola teríamos a formação de uma rede, como já foi dito acima, pois ambas são responsáveis tanto pela aprendizagem como pela não-aprendizagem do sujeito.
Modificações na estrutura e funcionamento da rede de relações poderiam trazer melhorias para o educando, desmistificando a sua culpa nos transtornos de aprendizagem permitindo assim ao Psicopedagogo avaliar os envolvidos nos transtornos e consequentemente abrir possibilidades de intervenção para, a partir daí iniciar o processo de superação das dificuldades.
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[1] Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas, Matemática, Educação Física, psicopedagoga, Mestre em Educação nas Ciências, Doutora em Ciências do Movimento Humano, autora do livro Educação Física Escolar: Aprender com o Movimento.Docente da FETREMIS-Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/14213/1/DIAGNOSTICO-PSICOPEDAGOGICO-NA-INSTITUICAO-ESCOLAR/pagina1.html.
A Importância do Psicopedagogo Dentro da Instituição Escolar
Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.Surgiu no Brasil devido ao grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.O presente artigo, que surgiu da preocupação existente com nossa prática como educadora e de nossa crença de que cada um constrói seus próprios conhecimentos por meio de estímulos, tem justamente o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.2. A Formação do Psicopedagogo e a Regulamentação da ProfissãoNo Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome. Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de 360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma grande diversificação na formação.Os cursos de psicopedagogia formam profissionais aptos a trabalhar na área clínica e institucional, que pode ser a escolar, a hospitalar e a empresarial. No Brasil, só poderão exercer a profissão de psicopedagogo os portadores de certificado de conclusão em curso de especialização em psicopedagogia em nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da lei vigente - Resolução 12/83, de 06/10/83 - que forma os especialistas, no caso, os então chamados "especialistas em psicopedagogia" ou psicopedagogos.A lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está na câmara dos deputados federais. Psicopedagogos elaboraram vários documentos nos anos de 1995 e 1996, explicitando suas atribuições, seu campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica, um trabalho que contou com a colaboração de muitos.O psicopedagogo possui a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) como elo de interlocução. A ABPp iniciou com um grupo de estudos formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem, sendo que, atualmente, também busca o reconhecimento da profissão.É do Deputado Federal Barbosa Neto o projeto de reconhecimento desse profissional (Projeto de Lei 3124/97). De início, o deputado propôs uma sondagem entre os políticos da época (1996) sobre a aceitação ou não do futuro projeto. Nesse período, o MEC organizava a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), promulgada em dezembro do mesmo ano. A data que formalizou a entrada do Projeto de Lei é 14 de maio de 1997. Em 24 de junho desse mesmo ano, a ABPp assumiu, em visita à câmara, o reiterar do projeto junto às lideranças políticas do país, do que resultou a sua aprovação no dia 03 de setembro de 1997 pela Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público.Após esta aprovação, o projeto foi encaminhado à 2ª Comissão, que é a de Educação, Cultura e Desporto, acontecendo, então, em 18 de junho de 1998 e 06 de junho de 2000, audiências para aprofundamento do tema. A aprovação nessa comissão ocorreu em 12 de setembro de 2001, após um trabalho exaustivo da relatora Marisa Serrano, do Deputado Federal Barbosa Neto e dos psicopedagogos que articularam tal discussão no Brasil.Em 20 de setembro de 2001, houve mais um avanço político com a aprovação do Projeto de Lei 10891, da autoria do Deputado Estadual (SP) Claury Alves da Silva. O Projeto de Lei 10891 "autoriza o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem".Atualmente, o Projeto de Lei que regulamenta a profissão do Psicopedagogo está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação para ser aprovado. Quando aprovado, irá para o Senado onde terá que passar por três comissões: Trabalho, Educação e Constituição, Justiça e Redação para, finalmente, ser sancionado pelo Presidente da República.No momento, a profissão de Psicopedagogo, tendo em vista o trabalho de outras gestões da ABPp ( Associação Brasileira de Psicopedagogia ) e dessa última, tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Isto quer dizer que já existe a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente. Faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada.3. Áreas de Atuação do PsicopedagogoO psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa.4. O Psicopedagogo na Instituiçao EscolarDiante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não sabem mais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o processo considerado normal e não possuem uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem.Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem.Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo.Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição escolar.A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos que, se existissem nas escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor.Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber.Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências sugerem que um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada". Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o educador se olhe como aprendente e como ensinante. Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno grupo de alunos.Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora, principalmente se os professores forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é positiva. Também o é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio.Segundo Bossa (1994, p.23),... cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem.
5. A Intervenção do Psicopedagogo Junto à Família
O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pela criança em contato com o social, dentro da família e no mundo que a cerca. A família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte da sua educação e da sua aprendizagem.É por meio dessa aprendizagem que a criança é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes. Contudo, na realidade, o que temos observado é que as famílias estão perdidas, não estão sabendo lidar com situações novas: pais trabalhando fora o dia inteiro, pais desempregados, brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados e mães solteiras. Essas famílias acabam transferindo suas responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso, presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que desviar de suas funções para suprir essas necessidades.A escola, como observa Sarramona (apud IGEA, 2005, p 19), veio ocupar uma das funções clássicas da família que é a socialização: A escola se converteu na principal instituição socializadora, no único lugar em que os meninos e as meninas têm a possibilidade de interagir com iguais e onde se devem submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva ....Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família das crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista e de uma anamnese com essa família para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social.O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico.Vale lembrar o que diz Bossa (1994, p.74) sobre o diagnóstico:O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento intelectual. Lembramos que a escola e o meio social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento da criança.Concordamos com Souza (1995, p.58) quando diz que... fatores da vida psíquica da criança podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos processos cognitivos, e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com a família, na medida em que atitudes parentais influenciam sobremaneira a relação da criança com o conhecimento.Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo de aprender. E para isso é importante que os pais contribuam para que ela tenha esse desejo.Existe um desejo por parte da família quando a criança é colocada na escola, pois da criança é cobrado que seja bem-sucedida. Porém, quando esse desejo não se realiza como esperado, surgem a frustração e a raiva que acabam colocando a criança num plano de menos valia, surgindo, daí, as dificuldades na aprendizagem.Para Boszormeny (apud Polity, 2000),uma criança pode desistir da escola porque aceita uma responsabilidade emocional, encarregando-se do cuidado de algum membro da família. Isso se produz, em resposta à depressão da mãe e da falta de disponibilidade emocional do pai que, de maneira inconsciente, ratifica a necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide.A intervenção psicopedagógica também se propõe a incluir os pais no processo, por intermédio de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o papel de meros espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando e opinando.
6. Considerações Finais
A profissão do psicopedagogo não está regulamentada, mas se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada. Enquanto isso, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em cursos de pós-graduação oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas.A psicopedagogia surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem, comprometido com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita, mediante dinâmicas em sala de aula, contemplar a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola.O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento, ajudando o aluno a superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo.A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não, o desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são conseqüentes da história individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança, interações sociais, etc.Nesse contexto, é pertinente concluir que:
É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que seja respondida às suas curiosidades por meio de descobertas concretas, desenvolvendo a sua auto-estima, criando em si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida adulta;
É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma boa escola ou de bons programas, mas, principalmente, de como a criança é tratada em casa e dos estímulos que recebe para aprender;
É preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando a criança está em casa.
As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que promovam o desenvolvimento.Portando, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.
7. Referências
BRASIL. Projeto de Lei 10.891. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em 25 de julho de 2005.
BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
FERMINO, Fernandes Sisto; BORUCHOVITH, Evely; DIEHL, Tolaine Lucila Fin. Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
IGEA, Benito del Rincón e colaboradores. Presente e futuro do trabalho psicopedagógico. Porto Alegre : Artmed, 2005.
POLITY, E. Pensando as dificuldades de aprendizagem à luz das relações familiares. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em 18 de junho de 2005.
SOUZA, Audrey Setton Lopes. Pensando a inibição intelectual:perspectiva psicanalítica e proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/48/1/A-Importancia-Do-Psicopedagogo/pagina1.html.
Este estudo deu-se pela necessidade de analisar a importância do psicopedagogo na escola, para verificar o campo de trabalho, o papel que os psicopedagogos estão desempenhando nas escolas, e como está sendo avaliado o trabalho dos mesmos. Foi importante para que pudesse se verificar a atuação dos psicopedagogo, como está o nível de interação entre eles e a escola e qual a forma que está sendo trabalhado. Embora seja uma profissão relativamente nova no Brasil, a psicopedagogia é uma profissão que é reconhecida não só institucionalmente mas também profissionalmente pela importância que tem na ação interativa junto aos professores e alunos de forma a completar o ciclo de aprendizagem. Mas pode-se sentir que embora haja uma grande necessidade do profissional e reconheçam esta importância, ainda não existe um programa de contratação efetiva, pois detecta-se que as escolas não possuem em sua maioria a função de psicopedagogo e outras estão com problemas sérios pela defasagem do profissional em relação ao número de alunos e pelo sistema de atendimento fora da escola, o que quebra o elo de ligação e acompanhamento dos professores em relação aos alunos atendidos. O instrumento para o desenvolvimento deste estudo foi a pesquisa bibliográfica. Espera-se com este estudo conscientizar as autoridades da importância de se ter um psicopedagogo na escola e que isso amplie o campo de trabalho, onde não só beneficiará o profissional mas também o aluno, no processo de aprendizagem
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
O profissional que trabalha com o que chamamos de “problemas de aprendizagem”
Ao refletir um pouco sobre a Aprendizagem, podemos dizer que, desde o momento em que nascemos, iniciamos o processo de aprendizagem. Neste processo, o ser humano constrói sua estrutura de personalidade na trama de relações sociais na qual está inserido.
A aprendizagem vai ocorrendo na estimulação do ambiente sobre o indivíduo maturo, onde, diante de uma situação/problema, se expressa uma mudança de comportamento, recebendo interferência de vários fatores – intelectual, psicomotor, físico, social e emocional. Enquanto transforma a realidade a sua volta, ele constrói a si mesmo, tecendo sua rede de saberes, a partir da qual irá interagir com o meio social, determinando suas ações, suas reações, enfim suas práticas sociais.
Desde o nascimento, o indivíduo faz parte de uma instituição social organizada – a família - e depois, ao longo da vida, integra outras instituições. Nessa interação vai se construindo uma rede de saberes, onde todos os membros da sociedade são parceiros possíveis, contribuindo cada um com seus conhecimentos, suas práticas, valores e crenças. Estas contribuições não são estáticas, se encontram em permanente mudança. Portanto, o conceito de rede de saberes constrói-se a partir do princípio de movimento, de articulação e de co-responsabilidade.
Nossa rede de conhecimentos vai se formando dentro de instituições e assim cada vez mais é necessário inserir a psicopedagogia para estudar como ocorrem as relações interpessoais nestes ambientes. Além da Escola, a Psicopedagogia está cada vez mais presente nos hospitais e empresas. Seu papel é analisar e assinalar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e auxilia no desenvolvimento de projetos favoráveis às mudanças educacionais, visando evitar processos que conduzam as dificuldades da construção do conhecimento.
O Psicopedagogo é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem e tem uma atuação preventiva. Na escola, o psicopedagogo poderá contribuir no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, tais como:
Organização da instituição
Métodos de ensino
Relação professor/aluno
Linguagem do professor, dentre outros
Ele poderá atuar preventivamente junto aos professores:
Explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a aprendizagem
Trabalhando com a formação continuada dos professores
Na reflexão sobre currículos e projetos junto com a coordenação pedagógica
Atuando junto com a família/alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, apoiado em uma visão holística, levando-o a aprender a lidar com seu próprio modelo de aprendizagem, considerando que esses problemas podem ser derivados:
das suas estruturas cognitivas
de suas questões emocionais
da sua resistência em lidar com o novo
ou outra derivação que possa se apresentar.
http://www.colegiosantamaria.com.br/santamaria/aprenda-mais/artigos/ver.asp?artigo_id=35
Simaia Sampaio
1. O que é a psicopedagogia?A Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não só no âmbito escolar, mas alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentes etapas do desenvolvimento, para que possam compreender e entender suas características evitando assim cobranças de atitudes ou pensamentos que não são próprios da idade. Terapeuticamente a psicopedagogia deve identificar, analisar, planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento.2. Quem são os psicopedagogos?São profissionais preparados para atender crianças ou adolescentes com problemas de aprendizagem, atuando na sua prevenção, diagnóstico e tratamento clínico ou institucional.3. Onde atuam?O psicopedagogo poderá atuar em escolas e empresas (psicopedagogia institucional), na clínica (psicopedagogia clínica).4. Como se dá o trabalho na clínica?O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), EOCA, anamnese.Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões, honorários, a importância da freqüência e da presença e o que ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Neste momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá contaminar o diagnóstico interferindo no olhar do psicopedagogo sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou responsáveis.5. O diagnostico é composto de quantas sessões?Entre 8 a 10 sessões, sendo duas sessões por semana, com duração de 50 minutos cada.6. E depois do diagnóstico?O diagnóstico poderá confirmar ou não as suspeitas do psicopedagogo. O profissional poderá identificar problemas de aprendizagem. Neste caso ele indicará um tratamento psicopedagógico, mas poderá também identificar outros problemas e aí ele poderá indicar um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista, ou outro profissional a depender do caso.7. E o tratamento psicopedagógico?O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico, ou poderá ser feito com outro psicopedagogo. Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras situações que forem oportunas. A criança, muitas vezes, não consegue falar sobre seus problemas e é através de desenhos, jogos, brinquedos que ela poderá revelar a causa de sua dificuldade. É através dos jogos que a criança adquire maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder, desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar, adquire maior atenção.O psicopedagogo solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, olhando a organização e os possíveis erros, ajudando-o a compreender estes erros.Irá ajudar a criança ou adolescente, a encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem, organizando, assim, o seu modelo de aprendizagem.O profissional poderá ir até a escola para conversar com o(a) professor(a), afinal é ela que tem um contato diário com o aluno e poderá dar muitas informações que possam ajudar no tratamento.O psicopedagogo precisa estudar muito. E muitas vezes será necessário recorrer a outro profissional para conversar, trocar idéias, pedir opiniões, ou seja, fazer uma supervisão psicopedagógica.8. Como se dá o trabalho na Instituição?O psicopedagogo na instituição escolar poderá:- ajudar os professores, auxiliando-os na melhor forma de elaborar um plano de aula para que os alunos possam entender melhor as aulas;- ajudar na elaboração do projeto pedagógico;- orientar os professores na melhor forma de ajudar, em sala de aula, aquele aluno com dificuldades de aprendizagem;- realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos que possam estar prejudicando o processo ensino-aprendizagem;- encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo etc) a partir de avaliações psicopedagógicos;- conversar com os pais para fornecer orientações;- auxiliar a direção da escola para que os profissionais da instituição possam ter um bom relacionamento entre si;- Conversar com a criança ou adolescente quando este precisar de orientação.9. O que é fundamental na atuação psicopedagógica?A escuta é fundamental para que se possa conhecer como e o que o sujeito aprende, e como diz Nádia Bossa, “perceber o interjogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar”.O psicopedagogo também deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos, lapsos etc.E não parar de buscar, de conhecer, de estudar, para compreender de forma mais completa estas crianças ou adolescentes já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.
http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/a_psicopedagogia.htm
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO
A escola é sem dúvida, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas aos consultórios psicopedagógicos por problemas de aprendizagem, pois a família na maioria das vezes não tem o suficiente conhecimento para detectar tais dificuldades. A família pode achar que alguma coisa não vai bem com a criança, mas é a escola que orienta neste sentido. A escola evidencia e denuncia essas disfunções, mas não tem condições ela mesma de resolver esse problema.
Cabe, portanto, à psicopedagogia contribuir, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar dessas dificuldades, nesses processos instalados, muitas vezes, na própria instituição, a qual cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.
Sabemos que é nas relações entre os indivíduos que se forma o cidadão, e que é através da aprendizagem que a pessoa é inserida, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico. É a sociedade então, que outorga à escola o papel de mediadora nesse processo de inserção no organismo do mundo, sendo ela a responsável por grande parte dessa aprendizagem.
Cada sujeito tem uma história pessoal, da qual fazem parte várias histórias: a familiar, a escolar, o clube e outras, que articuladas, atuam na formação do indivíduo. A escola tem, portanto, um papel importante na formação deste sujeito depois da família e que tanto uma quanto a outra podem contribuir para a formação de algumas dificuldades de aprendizagem que são tratadas em escolas paralelas.
A Psicopedagogia, na instituição escolar, tem uma função complexa e por isso provoca algumas distorções conceituais quanto às atividades desenvolvidas pelo Psicopedagogo. Ela dedica-se a áreas relacionadas ao planejamento educacional e assessoramento pedagógico, colabora com planos educacionais e sanitários no âmbito das organizações, atuando numa modalidade cujo caráter é clínico institucional, ou seja, realizando diagnóstico institucional e propostas operacionais pertinentes.
O campo de atuação até então discreto, pode ser classificado também como da modalidade preventiva muito amplo e complexo, mas pouco explorado. Sobre o trabalho psicopedagógico na escola muito há o que fazer. Como vimos acima grande parte da aprendizagem ocorre dentro da instituição escolar, nas relações estabelecidas entre o professor e o aluno, entre professores, entre currículo, programas e conteúdos, e com o grupo social escolar enquanto um todo, é por isso que se propõe uma visão embasada no modelo sistêmico, onde as relações têm grande relevância.
Pensar a escola à luz da Psicopedagogia é vê-la como num caleidoscópio, multifacetado. Significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade.
Pretendo pontuar aqui minha grande preocupação com os psicopedagogos institucionais atuais que se sentem muitas vezes perdidos com relação à sua função e ao seu papel dentro da escola. Acredito que seu olhar e sua escuta devem estar voltados não só para o compromisso com a escola e com os seus elementos, no caso específico o professor e o aluno, mas que eles também devem incluir neste processo a família e a comunidade que também interferem na aprendizagem assim como estão também incluídos aqueles que decidem sobre as necessidades e prioridades da escola.
Penso que na realidade o Psicopedagogo Institucional deveria se preocupar em detectar as possíveis fraturas do ensinar e do aprender como um todo e propor novas maneiras de ensinar para melhor aprender.
Ao entrar na escola, a criança se depara com um meio com o qual não está habituada: outras crianças, os horários, o professor e o aprender sistemático. Do professor, um profissional da educação, supõe-se que tenha escolhido esta profissão, ensinar o que sabe, e que para tal esteja preparado com técnicas, métodos e estratégias, para que o saber se socialize. Mas as motivações que o levaram a eleger essa tarefa podem ser muito variadas e isso vai determinar a forma de vínculo com seus alunos.
Na sua função clínica-preventiva, após diagnóstico apurado da instituição, cabe ao psicopedagogo:
- detectar possíveis perturbações entre o processo de ensinoe aprendizagem;- participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, afim de favorecer processos de integração e troca;- promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;
- realizar processos de atualização pedagógica para professores dentro deum programa de Educação Continuada.
- rever currículos e programas através de uma visão crítica, entre outras atividades.
Dentro da instituição escolar esta função se confunde com outros profissionais da área de Educação e se mostra ainda muito ampla.
Como a Psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, ela se tem mostrado cada vez mais eficiente para uma atuação clínica-preventiva, pois muitas das dificuldades de aprendizagem se deve à inadequada Metodologia utilizada na escola e aos problemas familiares.
Numa ação clínica-institucional, o psicopedagogo deve adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar visando propor novas alternativas de ação voltadas para a prática pedagógica nas escolas.
O campo de atuação do Psicopedagogo Institucional refere-se não só ao espaço físico onde se dá esse trabalho, mas especificamente ao espaço epistemológico que lhe cabe, ou seja, o lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo.
A forma de abordar o objeto de estudo pode assumir características específicas, dependendo da modalidade: clínica clássica, clínica preventiva institucional e teórica, umas articulando-se às outras. Quero esclarecer que para mim trabalho clínico não deixa de ser preventivo, uma vez que, ao tratar alguns transtornos de aprendizagem, pode evitar o aparecimento de outros. O trabalho preventivo, numa abordagem psicopedagógica, é sempre clínico, levando em conta a singularidade de cada processo. Essas duas formas de atuação, por sua vez, não deixam de resultar num trabalho teórico. Tanto na prática preventiva como na clínica, o profissional, como já vimos anteriormente, procede sempre embasado no referencial teórico adotado.
Na escola algumas das funções do Psicopedagogo são:- de assessoria (ouvidor e falador sobre a escola) é uma visão de articulador entreos elementos do sistema;- de apoio pedagógico - auxiliar o coordenador pedagógico na elaboração dos conteúdos e nas estratégias didáticas, assim como dar assistência ao corpo docente orientando-o quanto às dificuldades encontradas pelo professor e pelos alunos nas modalidades de ensino e aprendizagem em sala de aula.No campo da aprendizagem específica do aluno:- reduzir a freqüência dos distúrbios de aprendizagem,- reduzir a duração das dificuldades de aprendizagem diagnosticando precocemente;- reduzir as seqüelas e deteriorações (reabilitação);- de assistência familiar: - com pais na compreensão sobre a modalidade de aprendizagem de seu filho e como esta circula na família;- qual é a modalidade de aprendizagem da família, ou seja, a maneira como ela aprende as coisas do mundo;- com famílias disfuncionais (ex.: famílias simbióticas, persecutórias, etc.)- de trabalho com os elementos da própria instituição: - promovendo o trabalho em equipe;- incentivando o desenvolvimento profissional e pessoal;- observando e diagnosticando como a modalidade de ensino e aprendizagem circula no grupo e individualmente para orientar o seu trabalho psicopedagógico com os profissionais da educação e com os alunos.- sensibilizando todos os elementos envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem para uma melhoria na qualidade do relacionamento mútuo (ensino-aprendizagem, professor-aluno, aluno-aluno, professor-pessoal técnico e administrativo, etc.)
Sua função, portanto, é abrangente e complexa, pois envolve o diagnóstico da instituição e a atuação na estagnação da escola e de seus elementos em diferentes níveis.
Considerações Finais
Não é minha intenção dar por concluída minha reflexão sobre este tema, porém, ouso sugerir para finalizar algumas conclusões parciais que encontrei na minha prática.
O despreparo dos educadores para lidar com os aspectos afetivos do processo de aprendizagem tem a possibilidade de acarretar distorções na concepção sobre este processo dificultando a realização de um trabalho mais efetivo com os alunos.
Precisamos ainda compreender que nenhuma teoria ou corrente tomada isoladamente pode dar conta do processo educativo e que este trabalho envolve uma multiplicidade de fatores complexos nos quais inúmeras ciências tem importantes colaborações a nos dar.
Uma ação psicopedagógica institucional deverá compreender não só as determinantes fundamentais dos problemas de aprendizagem, mas também o modo específico dessas determinantes agindo nas suas peculiaridades. Devemos estar capacitados para unir a compreensão teórica à ação real com vistas a uma transformação.
Para que ocorra uma ação verdadeiramente transformadora, é necessário ainda abrir mão de posturas educacionais radicais, e abraçar propostas nas quais as denúncias e críticas ao sistema educacional cedam lugar a um trabalho consistente e articulado, que defina o papel das diferentes ciências em relação à educação e considere o ser humano em toda a sua amplitude, em toda a sua dimensão.
Para que isso ocorra, nós, psicopedagogos, precisaríamos adotar algumas atitudes frente ao nosso trabalho. Atitudes como a humildade, a espera, a generosidade, a gratidão, o olhar e a escuta. Atitudes que permeadas por um cuidadoso critério, de um apurado rigor científico e embasamento teórico poderão nos auxiliar a executar nosso trabalho com mais segurança e assertiva.
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A PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
Relato de experiência: Salas de Apoio Psicopedagógico nas Escolas Municipais de São Sebastião
Iara Gambale – psicopedagoga, supervisora do trabalho
Inúmeros teóricos e estudiosos têm se debruçado, nas últimas três décadas, sobre a atuação da escola pública. Inserida no seu tempo, ela vê, no seu trabalho, reflexos dos desequilíbrios dos quais padece nossa sociedade.
A tarefa de passar do pensamento à ação tem sido atropelada, invariavelmente, pela rigidez da burocracia que envolve o sistema público de ensino. Iniciativas de valor têm sido inviabilizadas pela inconsistência e fragilidade das ações: a distância entre o discurso acadêmico e as salas de aula tem se mostrado, muitas vezes, intransponível.
Entretanto, a proximidade das instâncias de decisão e execução, que tiveram início com a municipalização do ensino fundamental, tem sido decisiva para o surgimento de propostas que contribuam para o enfrentamento das dificuldades de ensinar e de aprender que tem permeado nosso sistema público.
O município de São Sebastião (São Paulo) tem, através da Secretaria de Educação, demonstrado sua preocupação que se traduziu, entre outras ações, na criação, em 2001, de 9 Salas de Apoio Psicopedagógico em escolas do município. Para o trabalho nas SAP foram designados professores do ensino fundamental especialistas em Psicopedagogia e que passaram a trabalhar num regime de 40h/semanais.
Inicialmente, o olhar dos psicopedagogos dirigiu-se aos alunos, que ainda não dominavam os processos de leitura e escrita, atendidos em sessões individuais ou em duplas. De 2001 a 2003 o número de Salas de Apoio passou de 9 para 21, e os alunos atendidos de 157 para 460. Até o final de 2.003, foram reintegrados ao seu grupo classe um total de 280 alunos.
Surge a questão, tabu para muitos: clínica na escola?
MACEDO(1999) nos chama a atenção, quando afirma que “A explicação para o fracasso não elimina o fracassado que precisa de nós, agora.” A atuação dos psicopedagogos junto aos alunos se constituiu como reconhecimento de que a situação exigia ações urgentes. Para o aluno, que há três ou quatro anos não consegue alfabetizar-se, não há tempo de esperar novas políticas educacionais!
O olhar psicopedagógico, inaugurado com o advento das SAP, possibilitou que se confirmassem as palavras de PAIN(1996) que diz ser a escola um local onde se promove não só o conhecimento, mas também a emergência de sujeitos. Muitos dos alunos tiveram, em seus atendimentos, a primeira possibilidade de serem ouvidos na sua singularidade e de se experimentarem sujeitos. Não seria exagerado afirmar que tem sido difícil, para a escola, reconhecer que o aprender é uma construção singular que cada sujeito faz a partir do seu saber para transformar informações em conhecimentos.
FERNANDEZ(2001) afirma que “ A psicopedagogia é a produção de tempo para que o sujeito possa inventar-se pensante.” A sociedade, a escola e a família dirigem suas ações remetidos ao tempo cronológico – mensurável e exterior aos sujeitos. Cada dia mais, somos capturados pelo cronômetro, ao qual estamos, obrigatoriamente, submetidos. É impossível negar a fluidez das horas. Cabe, entretanto, à psicopedagogia reconhecer que o tempo do sujeito é lógico: não linear, interior, não mensurável e, ainda, imprevisível. O tempo de compreender, de aprender e de saber só acontece “do lado de dentro”, e isso não é determinado pelo calendário escolar. Pode sim, ser facilitado na medida em que sejam criados espaços de possibilidade para a emergência de alunos/sujeitos.
Os alunos atendidos, marcados por múltiplos insucessos, beneficiaram-se com um trabalho que revelava, aos poucos, a multiplicidade e a complexidade dos fatores que envolvem o não aprender. Reconhecendo que o desejo de saber é algo que caracteriza o humano, os psicopedagogos aceitaram o ritmo próprio de cada um deles, aceitaram o limite e acreditaram na mudança possível. Trabalharam buscando significar a aprendizagem, estabelecendo relações com as histórias de vida daquelas crianças, conferindo um colorido particular àquilo que lhes era oferecido para aprender. O espaço de confiança, inaugurado pelas SAP, possibilitou o brincar, rompendo as estereotipias dos rituais de aprendizagem, dita formal, que se desenrolam nas salas de aula.
Embora os números indiquem o sucesso do atendimento às crianças, muitas foram as dificuldades com as quais o trabalho se deparou. A proximidade com a escola e a pressão por uma produção rápida foi, talvez, a maior queixa dos psicopedagogos. Querer e poder modificar-se são coisas diferentes.Diante de histórias de vida muitas vezes dramáticas, foi preciso reconhecer os limites da ação psicopedagógica, já que a psicopedagogia não pode constituir-se como remédio para todos os males, nem tampouco o profissional acreditar-se onipotente. Foi preciso estar atento para não incorrer, segundo CORDIÉ(1996), nas duas armadilhas possíveis: a pedagógica e a da bondade. A não existência de modelos de intervenção pré-determinados exigiu supervisão e capacitação continuada dos profissionais pois, o que promove mudanças é o significado que a dupla confere às propostas, e não as atividades em si.
Na instituição escolar, os psicopedagogos foram ocupando o lugar de interlocutor qualificado junto à equipe escolar, aos serviços de saúde e assistência social e às famílias. Nos contatos com os professores, puderam promover e enriquecer discussões sobre o aprender e o ensinar, sugerindo temas e reflexões para as reuniões. Entretanto, a incorporação do psicopedagogo ao quadro da equipe escolar não se deu sem dificuldades e tropeços. A escola, historicamente, lida mal com o não saber. Os contatos com os professores se pautaram por serem propositivos, evitando que os mesmos se colocassem como esvaziados de saber e crentes que os psicopedagogos só tinham certezas.
Partindo do pressuposto que as famílias, provenientes de um meio sócio-cultural desfavorecido, ao se ocuparem com a subsistência não dispõe de espaços para outros investimentos, os psicopedagogos inauguraram em suas salas um espaço/tempo para que as crianças atendidas pudessem ser olhadas por seus pais. A partir desses contatos, surgiram projetos contemplando as relações família-escola, contribuindo para reflexões a respeito das expectativas de uma e de outra instituição e reconhecendo o papel fundante que cada uma delas tem na constituição da subjetividade das crianças.
O atendimento, que inicialmente se restringia aos alunos, foi, aos poucos, ultrapassando as paredes das Salas de Apoio: das entrevistas com os professores, surgiram pedidos de espaço para os psicopedagogos nos horários coletivos; pais sugeriram a existência de outros momentos de encontro para discutir dificuldades. Os psicopedagogos puderam, em cada escola, desenvolver diferentes projetos de trabalho com o coletivo da escola e com a comunidade.
Pode-se concluir que, nas escolas de São Sebastião, foi possível que a Psicopedagogia atuasse como produtora de “tempo institucional”: criando espaços nos quais alunos, educadores e pais pudessem se constituir sujeitos/autores pensantes.
BIBLIOGRAFIA
CORDIÉ, A.- Os atrasados não existem. Porto Alegre, Artmed, 1996.
FERNANDEZ, A.- Psicopedagogia em psicodrama: morando no brincar. Petrópolis, Vozes, 2001.
PAÍN, S.- Subjetividade e objetividade: Relação entre desejo e conhecimento. São Paulo, CEVEC, 1996.
MACEDO, L. in RUBINSTEIN, E. - Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo, Casa do Psicólogo. 1999, pág.67.
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A Importância do Psicopedagogo Dentro da Instituição EscolarIntroduçãoA Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.Surgiu no Brasil devido ao grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.O presente artigo, que surgiu da preocupação existente com nossa prática como educadora e de nossa crença de que cada um constrói seus próprios conhecimentos por meio de estímulos, tem justamente o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.A Formação do Psicopedagogo e a Regulamentação da ProfissãoNo Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome. Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de 360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma grande diversificação na formação.Os cursos de psicopedagogia formam profissionais aptos a trabalhar na área clínica e institucional, que pode ser a escolar, a hospitalar e a empresarial. No Brasil, só poderão exercer a profissão de psicopedagogo os portadores de certificado de conclusão em curso de especialização em psicopedagogia em nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da lei vigente - Resolução 12/83, de 06/10/83 - que forma os especialistas, no caso, os então chamados "especialistas em psicopedagogia" ou psicopedagogos.A lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está na câmara dos deputados federais. Psicopedagogos elaboraram vários documentos nos anos de 1995 e 1996, explicitando suas atribuições, seu campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica, um trabalho que contou com a colaboração de muitos.O psicopedagogo possui a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) como elo de interlocução. A ABPp iniciou com um grupo de estudos formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem, sendo que, atualmente, também busca o reconhecimento da profissão.É do Deputado Federal Barbosa Neto o projeto de reconhecimento desse profissional (Projeto de Lei 3124/97). De início, o deputado propôs uma sondagem entre os políticos da época (1996) sobre a aceitação ou não do futuro projeto. Nesse período, o MEC organizava a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), promulgada em dezembro do mesmo ano.A data que formalizou a entrada do Projeto de Lei é 14 de maio de 1997. Em 24 de junho desse mesmo ano, a ABPp assumiu, em visita à câmara, o reiterar do projeto junto às lideranças políticas do país, do que resultou a sua aprovação no dia 03 de setembro de 1997 pela Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público.Após esta aprovação, o projeto foi encaminhado à 2ª Comissão, que é a de Educação, Cultura e Desporto, acontecendo, então, em 18 de junho de 1998 e 06 de junho de 2000, audiências para aprofundamento do tema. A aprovação nessa comissão ocorreu em 12 de setembro de 2001, após um trabalho exaustivo da relatora Marisa Serrano, do Deputado Federal Barbosa Neto e dos psicopedagogos que articularam tal discussão no Brasil.Em 20 de setembro de 2001, houve mais um avanço político com a aprovação do Projeto de Lei 10891, da autoria do Deputado Estadual (SP) Claury Alves da Silva. O Projeto de Lei 10891 "autoriza o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem".Atualmente, o Projeto de Lei que regulamenta a profissão do Psicopedagogo está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação para ser aprovado. Quando aprovado, irá para o Senado onde terá que passar por três comissões: Trabalho, Educação e Constituição, Justiça e Redação para, finalmente, ser sancionado pelo Presidente da República.No momento, a profissão de Psicopedagogo, tendo em vista o trabalho de outras gestões da ABPp ( Associação Brasileira de Psicopedagogia ) e dessa última, tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Isto quer dizer que já existe a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente. Faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada.Áreas de Atuação do PsicopedagogoO psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos.No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa
PSICOPEDAGOGIA NO ÂMBITO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
Sandra Vaz de LimaENTREVISTA PARA EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
Esta entrevista deve ser realizada com a equipe responsável pela instituição, tendo como objetivo identificar a queixa existente sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento do ensinar/ aprender no seu interior.A entrevista se caracteriza por ser aberta e, durante a mesma, realiza-se observações da temática da conversa, a dinâmica dos participantes e o resultado obtido neste momento.A observação da temática, segundo PICHON-RIVIÈRE (1988), está ligada a tudo que é falado durante a entrevista e aos significados latentes que podem ser percebidos através do tipo de comunicação utilizada, do que não é dito mas fica nas entrelinhas, das coerências e incoerências que aparecem no discurso, dos atos falhos que podem surgir, da objetividade ou subjetividade do discurso e do conteúdo abordado.A observação da temática, para identificar a queixa de uma instituição escolar, pode nos auxiliar a delinear melhor a mesma, como por exemplo: a queixa se caracteriza por ser uma queixa lamento, identificada por FERNÁNDEZ (1994) como inibidora do pensamento; isto pode nos levar à hipótese de que a instituição não está conseguindo encontrar soluções por não estar se permitindo pensar, questionar e criticar a situação.Após a realização da entrevista, faz-se necessária a integração dos registros da temática e da dinâmica para que se obtenha um quadro geral a respeito da queixa formulada e se possa proceder a proposta de diagnostico para a instituição, considerando a organização das hipóteses obtidas a partir desta primeira entrevista.
•ENQUADRAMENTO DO PROCESSO DIAGNÓSTICO
O enquadramento é interpretado por VISCA (1987) como um instrumento capaz de manter algumas constantes como um marco, para se poder conhecer a realidade. Segundo o mesmo autor, para se investigar uma realidade, é necessário isolá-la do contexto e integrá-la ao mesmo, e o enquadramento auxiliará na obtenção destes dois critérios.O enquadramento prevê a justificativa e os objetivos do processo diagnóstico a ser desenvolvido, o grupo que será envolvido, o tempo de investigação, o espaço que será utilizado para a mesma, o material que será necessário, os honorários previstos, a entrega de um projeto de diagnóstico após a organização do Primeiro Sistema de Hipóteses.Além do enquadramento junto à instituição, é fundamental que se organize um enquadramento para a equipe responsável pelo diagnóstico psicopedagógico na instituição. Este enquadramento terá como objetivo definir os papéis dos diagnosticadores: quem observará a dinâmica, quem registrará a observação de temática, quem coordenará os trabalhos, quem fará os contatos, quem organizará o material, o tempo necessário para as idas na instituição, o tempo reservado para as reuniões de análise, o espaço reservado para a reunião da equipe de diagnóstico, as leituras que deverão ser realizadas e outras providências especificas para cada caso.A idéia de enquadramento se efetiva na prática, através de um contrato que deve, como diz o nome, ser um trato realizado com, ou seja, em comum acordo.O enquadramento pode ser firmado oralmente ou por escrito; na entanto, quando se trata de um trabalho institucional, que envolve uma enorme malha de relações, é prudente que o mesmo seja documentado, objetivando-se a prevenção de ruídos na comunicação e a eficácia do trabalho.
•OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DO SINTOMA
Em um diagnóstico institucional, os sintomas apresentados na queixa são, primeiramente, vistos como emergentes da dificuldade da instituição. O problema de aprendizagem de um aluno, ou de um grupo de alunos, será analisado a partir das relações que se estabelecem na instituição, e o aluno, ou mesmo o grupo de alunos, será observado, inicialmente, como o “porta voz” ou como o “bode expiatório” da mesma.A observação do sintoma é importante na medida em que nós não partimos de uma percepção do outro, a esse respeito, e sim observamos o sintoma acontecendo, “ao vivo e em cores”, o que facilita a organização do Primeiro Sistema de Hipóteses que norteará a escolha dos instrumentos de investigação.Segundo CARLBERG (1998), esta forma de iniciar o processo diagnóstico possibilita ao profissional uma aproximação do seu objeto de estudos de maneira pouco contaminada.O mesmo autor idealizou um instrumento para a observação e análise do sintoma, o qual denominou EOCMEA (Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino Aprendizagem).Ao explicar sobre o EOCMEA, o autor fala que é necessário uma equipe de três profissionais para a utilização deste instrumento, já que o mesmo será aplicado em grupos: um coordenador e dois observadores que funcionarão como uma unidade operativa, sem caracterizar uma hierarquia entre eles.Iniciar um diagnóstico psicopedagógico institucional pela observação do sintoma, utilizando a EOCMEA, ou qualquer outro instrumento com esse fim, e terminar como o levantamento da história para identificar os elementos causadores de tal sintoma correspondem, segundo VISCA (1987), ao conceito que Jean Piaget toma de Aristóteles: “O primeiro na ordem da gênese é o último na ordem da análise”
O Fracasso Escolar Segundo a Psicopedagogia
.5. A PSICOPEDAGOGIA HOJE
A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final.Vivemos na era do conhecimento. Não se pode pensar no exercício da cidadania sem que o cidadão tenha acesso à formação acadêmica mínima de oito anos mas, na prática, a sociedade demonstra que a exigência real de um segundo grau e, de preferência, com um pós-médio. Temos visto que para exercer qualquer profissão, seja ela a mais simples ou a mais complexa, a pessoa será submetida a treinamentos que devem passar, não apenas por especificidade da função e do local de trabalho, mas por treinamentos de ética, qualidade, perfil de cliente, economia, etc. A pessoa é valorizada por seus diplomas mas também por sua capacidade de construir conhecimento, de gerar instrumentos e serviços adequados ao contexto sócio-econômico-cultural.Estamos vivendo em plena era de globalização, em que o conhecimento e as descobertas científicas circulam com uma incontrolável rapidez e as próprias instituições de ensino têm dificuldade em acompanhar o fluxo dessas informações. É extremamente fácil acontecer um avanço científico em determinada área do conhecimento sem que o profissional especializado saiba, ou ainda, é possível que uma outra pessoa, de outra área do conhecimento venha a saber dessas descobertas antes do especialista. Ao mesmo tempo que o conhecimento circula com facilidade por todos os lados, é necessário saber como encontrá-lo, ter acesso à tecnologia adequada e às fontes de informações seguras do conhecimento.. Diante disso, surge a pergunta: só a informação basta? Sabe-se que não. O que fará a diferença é a forma como a pessoa integra uma informação, transforma-a em aprendizagem e a coloca a serviço da comunidade. Nessa perspectiva, a freqüência à escola não garante o salto qualitativo que requer o movimento social. A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da Psicopedagogia é o ser que aprende, o ser cognoscente e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e adequadamente inserida em um contexto social.
O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se estabelece na relação com o seu "em torno", à medida que se compromete com o seu social estabelecendo redes relacionais. "Para o pensador sistêmico, as relações são fundamentais" (CAPRA, p 47)
A dificuldade de aprendizagem nessa definição é entendida e trabalhada com um agente dificultador para a construção do aprendiz que é um ser biológico, pensante, que tem uma história, emoções, desejos e um compromisso político-social. "A Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo" (RUBINSTEIN, p 127 Nem sempre a Psicopedagogia foi entendida da forma como aqui está caracterizada.A Psicopedagogia, inicialmente, começou tendo como pressuposto que as pessoas que não aprendiam tinham um distúrbio qualquer. (BOSSA, p.42) A preocupação e os profissionais que atendiam essas pessoas eram os médicos, em primeira instância e, em segunda Psicólogos e Pedagogos que pudessem diagnosticar os déficits. Os fatores orgânicos eram responsabilizados pelas dificuldades de aprendizagem na chamada época "patologizante" A criança ficava rotulada e a escola e o sistema a que ela pertencia, se eximiam de suas responsabilidades: "Ela (a criança) tem problemas..."Posteriormente, com a ampliação da visão de que o sujeito não é apenas um ser racional, os psicopedagogos passaram a estudar e a avaliar o processo da aprendizagem. Porém, essa observação levou a uma prática pautada no refazimento do processo de aprendizagem e requeria reposição de conteúdos e repetições até que a criança aprendesse. A criança ficou subdividida em setores e não havia articulação entre o emocional, a cognição, o motor e o social.
Os vários profissionais envolvidos na questão aprendizagem foram percebendo que não bastava retirar o eixo da patologia para a aprendizagem, mas era necessário saber que sujeito era esse, de onde ele vinha e para onde ele queria e podia ir. A constatação que apenas uma área do conhecimento não conseguiria respostas absolutas e definitivas para a situação, deflagrou o que é hoje a Psicopedagogia.
Os profissionais interessados nas questões de aprendizagem entenderam que o caminho era a interdisciplinaridade para compreender a complexidade desse fenômeno. A partir de diferentes referenciais teóricos, tais como a Pedagogia, a Psicologia, a Fonoaudiologia, a Psicanálise, a Sociologia, a Neurologia, etc. foram se construindo e pesquisando outros referenciais, outros instrumentos, outras sínteses. Esse conhecimento foi construído a partir do encontro desses profissionais, pautado em teorias, experimentos, pesquisas, práticas diferenciadas e, o mais provocante, de uma realidade que teimava em incomodar - o fracasso escolar!
Neste raciocínio, a Psicopedagogia não é a justaposição da Psicologia e da Pedagogia e, nem tampouco, um Pedagogo ou um Psicólogo "mais especializado". A Psicopedagogia se propõe a investigar e a entender a aprendizagem com base no diálogo entre as várias disciplinas. O Psicopedagogo é um outro profissional, com um outro referencial, a partir de um outro conhecimento e com um outro olhar.A psicopedagogia, hoje, é entendida num contexto de interdisciplinaridade, sem contudo, perder de vista que "Os diferentes níveis de Realidade são acessíveis ao conhecimento humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em correspondência biunívoca com os níveis de realidade... sem jamais esgotá-la completamente." (NICOLESCU, p 56)
Diante desses avanços, a criança que não está conseguindo aprender é entendida e trabalhada, não como alguém que possui um déficit ou um problema, mas como um aprendiz que possui um estilo de aprender diferente, que está diretamente relacionado ao estilo de família e da comunidade a que pertence.Em face da complexidade das questões aqui levantadas e da delicadeza do nosso objeto e objetivo de trabalho, não prescindimos dos nossos parceiros. Trabalhamos e necessitamos dos Pedagogos, dos Psicólogos, dos Fonodiólogos, etc, mas possuímos os nossos instrumentos de trabalho, os nossos referenciais, a nossa escuta e o nosso olhar.
Analisando a trajetória aqui apresentada, fica claro o entendimento do porquê da formação em Psicopedagogia estar organizada na forma de pós-graduação. Ela exige do aprendiz uma articulação, uma abordagem e um avanço qualitativo inerentes a uma maturidade profissional e acadêmica. Portanto, é necessário muito cuidado na escolha do curso de pós-graduação em Psicopedagogia. Devemos analisar a oferta de disciplinas inerentes a aprendizagem, o número de horas ofertadas, se os professores são psicopedagogos especialistas, se tem estágio supervisionado por um psicopedagogo. Os profissionais psicopedagogos, quando inquirido da necessidade ou relevância do curso de Psicopedagogia ser de especialização, testemunham que apenas a formação é insuficiente para entender e trabalhar, competentemente, com a aprendizagem e seus possíveis percalços.Onde trabalham os psicopedagogos? Como trabalham? Quais as suas ferramentas de trabalho? Os psicopedagogos trabalham em clínicas, em atendimentos individuais, em instituições escolares, hospitais e empresas onde se promova aprendizagem. Os recursos são os que possibilitem entender quais as dificuldades que aquele aprendiz está enfrentando para aprender e quais as possibilidades para mudança que ele apresenta. Os instrumentos não costumam ser os padronizados e sim os jogos, as atividades de expressão artística, a linguagem escrita, as leituras e dramatizações, etc. Enfim, atividades que valorizem o que a criança sabe, que estimulem a expressão pessoal, o desejo de aprender e sua possibilidade de amadurecer, vencer situações e resolver problemas. Os psicopedagogos, tanto em clínicas quanto nas instituições, trabalham com diagnóstico e intervenção.Por tudo o que aqui foi descrito é que estamos lutando pela regulamentação da profissão de Psicopedagogo. Entendemos que, se o projeto de lei que regulamenta a nossa profissão for aprovado, poderemos cuidar da qualidade dos cursos oferecidos e estender o atendimento à comunidade como um todo, já que poderemos participar de concursos públicos, de convênios, etc. A aprovação do projeto de lei será uma oficialização do que já está socialmente reconhecido.
A Associação Brasileira de Psicopedagogia é uma entidade de caráter científico cultural. Fundada em 1980, tem como objetivo principal congregar profissionais psicopedagogos e profissionais afins e promover estudos, pesquisas, cursos, encontros e compartilhamentos. Temos hoje, no Brasil, uma sede nacional localizada em São Paulo, doze(12) seções, onze (11) núcleos que atendem a todo o território nacional.Obviamente que muito ainda necessitamos avançar, mas já conseguimos nos fazer entender, nos diferenciamos e promovemos parcerias sem ocupar ou "invadir o mercado, apenas estamos exigindo uma legalização de uma atuação já legitimada pelo mercado de trabalho" (NOFFS, p 2)
As ações que caracterizam uma comunidade cidadã é a luta por uma comunidade justa, equilibrada, constituída a partir de um objetivo comum e bom para todos. Pois bem, isso nos leva ao entendimento da nossa responsabilidade e do nosso compromisso político social de aprender, em cada novo dia, a promover mais aprendizagens. Como nos ensinou Paulo Freire "Ai de nós, educadores, se deixarmos de sonhar sonhos possíveis..."
A questão da formação do psicopedagogo assume um papel de grande importância na medida em que é a partir dela que se inicia o percurso para a formação da identidade desse profissional.Alicia Fernández afirma o seguinte: "O pensamento é um só, não pensamos por um lado inteligentemente e, depois, como se girássemos o dial, pensamos simbolicamente. O pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio horizontal e o desejo vertical, Ao mesmo tempo, acontecem a significação simbólica e a capacidade de organização lógica" (1990, p. 67).
O trabalho psicopedagógico não pode confundir-se com a prática psicanalítica e nem tampouco com qualquer prática que conceba uma única face do sujeito. Um psicopedagogo, cujo objeto de estudo é a problemática da aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes. Diz Piaget que "o estudo do sujeito ‘epistêmico’ se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar ,etc.) constitutivas da lógica, e não ao sujeito ‘individual’, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte" (1970, p. 20). Desse sujeito individual ocupa-se a psicopedagogia. O conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. Nesse processo interferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas condições intelectuais que são geradas no meio familiar e sociocultural no qual nasce e vive o sujeito. O produto de tal interação é a aprendizagem.
Na maioria das vezes em programas lato sensu regulamentados pela Resolução n° 12/83, de 06.10.83, que forma os especialistas e que os habilita legalmente também para o ensino superior – ainda que não necessariamente, em termos de conhecimentos, o aluno esteja realmente habilitado para tal.Além das diferenças resultantes da própria divergência acerca do que é a Psicopedagogia, ocorre também que, a depender do enfoque priorizado pelo curso, alguns conteúdos são valorizados em detrimento de outros. Outro aspecto a considerar é que o curso se destina a profissionais com diferentes graduações. Estes se identificam com um referencial teórico que irá nortear a sua prática a partir da formação anterior. Interferem também características de personalidade no perfil desse profissional.Conhecer a Psicopedagogia implica um maior conhecimento de várias outras áreas, de forma a construir novos conhecimentos a partir delas. Ao concluir o curso de especialização em Psicopedagogia, o aluno está iniciando a sua formação, o que deve ser um ponto de partida para uma eterna busca do melhor conhecimento.
2.6 A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA
O trabalho psicopedagógico, implica compreender a situação de aprendizagem do sujeito dentro do seu próprio contexto. Tal compreensão requer uma modalidade particular de atuação para a situação em estudo, o que significa que não há procedimentos predeterminados. Defino esta característica como uma configuração clínica da prática psicopedagógica.O psicopedagogo, procura observar o sentido particular que assumem as alterações da aprendizagem do sujeito ou do grupo. Busca o significado de dados que lhe permitirá dar sentido ao observado. Na medicina, o médico observa o paciente, vê o que se passa, escuta o seu discurso para fazer o diagnóstico e proceder ao tratamento. A expressão "olho clínico", emprestada da Medicina, é freqüentemente utilizada na Psicopedagogia Clínica referindo-se à postura terapêutica do profissional.
Ora, na instituição escolar, a prática psicopedagógica também apresenta uma configuração clínica. O psicopedagogo pesquisa as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar, identificando os obstáculos e os elementos facilitadores, numa abordagem preventiva. Uns e outros (elementos facilitadores e obstáculos) são condicionados por diferentes fatores, fazendo com que cada situação seja única e particular. Esse trabalho requer uma atitude de investigação e intervenção.
A Psicopedagogia preventiva se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta, de forma que podemos considerar clínico o seu trabalho.A função preventiva está implícita na atitude de se considerar aquele grupo específico como os sujeitos da aprendizagem, de forma a adequar conteúdos e métodos, ou seja, respeitando as características do grupo a pensar o plano de trabalho. O caráter clínico está na atitude de investigação frente a essa situação como uma situação particular e única, quer dizer, há características problemáticas, experiências condições, manifestações do grupo ou sujeito muitas vezes intransferíveis.O trabalho clínico na Psicopedagogia tem função preventiva na medida em que, ao tratar determinados problemas, pode prevenir o aparecimento de outros.
As características da família, da escola, ou até mesmo do professor podem ser a causa desencadeante do problema de aprendizagem. Assim, essas características que constituem a causa problemática influenciam também na forma de abordagem do profissional. Ainda que o psicopedagogo assim o desejasse, seria-lhe impossível negar a família, a escola, o professor ou mesmo a comunidade.
Para Fernández e Paín, o problema de aprendizagem pode ser gerado por causas internas ou externas à estrutura familiar e individual, ainda que sobrepostas. Os problemas ocasionados pelas causas externas são chamados por essas autoras de problemas de aprendizagem reativos, e aqueles cujas causas são internas à estrutura de personalidade ou familiar do sujeito denomina-se inibição ou sintoma – ambos os termos emprestados da Psicanálise. Segundo essas autoras, quando se atua nas causas externas, o trabalho é preventivo. Já na intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura individual e familiar da criança, o trabalho é terapêutico.
Segundo Alicia Fernández (1990), (para resolver o problema de aprendizagem reativo) necessitamos recorrer principalmente a planos de prevenção nas escolas, porém, uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo deverá também intervir, ajudando através de indicações adequadas para que o fracasso do ensinante, encontrando um terreno fértil na criança e sua família, não se constitua em sintoma neurótico.Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura individual e familiar da criança, vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada. Para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a inteligência e mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar.
É a escola, indubitavelmente, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem. Assim é extremamente importante que a Psicopedagogia dê a sua contribuição à escola, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios nesse processo. "Todo pensamento, todo comportamento humano, remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica" (Paín, apud Fernández, 1990, p. 233).
Quando não se pode negar que o homem é sujeito a uma ordem inconsciente e movido por desejos que desconhece, falar do tratamento psicopedagógico significa muito mais que discorrer sobre métodos definidos de reeducação.Encontramos na literatura orientações de tratamento que estão acompanhadas de um plano de treino de memória visual, onde em síntese as atividades consistem na apresentação de estímulos visuais que, após serem retirados do campo visual da criança, devem ser evocados e representados segundo a instrução do reeducador.
O enquadre que se refere ao estabelecimento do marco fundante da ação terapêutica – a definição do universo da relação clínica – e que, portanto, engloba elementos como tempo, lugar, freqüência, duração, material de trabalho e estabelecimento da atividades, nessa modalidade de tratamento tem como objetivo, sempre, solucionar os problemas de aprendizagem, motivo do encaminhamento.
3. CONCLUSÃO
O fracasso escolar na alfabetização, ainda hoje, faz parte do cotidiano das nossas escolas, acarretando na grande maioria das vezes na reprovação. O trabalho psicopedagógico pode e deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre uma função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.Através da aprendizagem, o sujeito é inserido, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico, que o incorpora à sociedade.A entrada na escola significa antes de mais nada para a criança, uma penetração num círculo social mais amplo, uma ocasião de enfrentar o desconhecido.Esse momento pode representar uma oportunidade para um agravamento de tensões, incertezas e carências que já vem de longe com a criança, mas também pode constituir-se numa oportunidade para que a criança reexperimente o mundo, as pessoa e a vida de outra maneira: mais construtiva, mais confiante, mais feliz.Na sua tarefa junto às instituições escolares o psicopedagogo deve refletir sobre estas questões, buscando dar a sua contribuição no sentido de prevenir ulteriores problemas de escolaridade.O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que essa atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da observação.
Essa constatação reforça a importância do psicopedagogo institucional no sentido de criar condições juntamente com os professores para que a aprendizagem da leitura e da escrita aconteça de maneira eficaz, prazerosa e significativa. Atuando, como assessor, na busca da melhoria do processo de aprendizagem, desenvolvendo um trabalho integrado professor-psicopedagogo-escola no sentido de melhor desenvolver a prática educativa. Isto significa que o professor precisa entender como acontece a aprendizagem da leitura e da escrita, buscando as origens das dificuldades, do fracasso, avaliar, diagnosticar e, acima de tudo, estabelecer um rumo teórico de ação.Portanto, através da intervenção psicopedagógica dirigida aos professores que se acredita no real progresso da aprendizagem voltada sobretudo, a uma educação integrada ao desenvolvimento do aluno como agente produtor do seu meio e não apenas como um resultado.
Se estivermos atentos para isto poderemos contribuir para que a escola corresponda de modo positivo às suas necessidades e expectativas. È uma forma muito eficaz de se prevenir o aparecimento dos temidos problemas de comportamento.Estes, apesar da nossa cautela, muitas vezes se manifestam. Para não agravar ou precipitar a sua evolução a observação continua sendo indispensável e juntamente com ela a atenção e a dedicação.Quando tudo isso não bastar devemos procurar uma orientação especializada pois pode ser que o nosso aluno esteja precisando de algo mais que não depende só de nós
A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação do sintoma. Assim, a relação psicopedagogo-paciente é mediada por atividades bem definidas, cujo objetivo é "solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos" (Pain, 1986, p. 77). Este é um aspecto cuja prática tem me mostrado como bastante complicado na atuação do psicopedagogo, pois está relacionado com a operacionalização do trabalho e conseqüentemente com seu êxito."Somente uma boa avaliação psicopedagógica de fracasso escolar de uma criança pode discernir e ponderar devidamente "o que" e o "quantum" é da criança, da escola, da família e da interação constante dos três vetores na construção das dificuldades de aprendizagem apontadas pela escola".A conquista do espaço na escola significa uma escola aberta, contígua à vida, cheia de presenças humanas, realizando experiências realmente brasileiras.
REFERÊNCIAS
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A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
RESUMO: A Psicopedagogia nasceu da necessidade de se buscar soluções para a questão do problema de aprendizagem; ela vem caminhando com a intenção de contribuir para uma melhor compreensão desse processo. A Psicopedagogia é uma área de estudos recentes, que resultou da união dos conhecimentos não só da Psicologia e da Pedagogia, mas também de diversas outras áreas como Fonoaudiologia, Medicina, Psicanálise. Porém, mesmo sendo a Psicopedagogia uma área interdisciplinar que teve um crescimento considerável nos últimos anos, ela tem, historicamente, se ligado mais a Educação do que à Medicina e a Psicologia. O profissional da psicopedagogia deve atuar como mediador, intervindo entre o indivíduo e suas dificuldades de aprendizagem, deve conhecer os problemas e interpretá-lo para então intervir da maneira mais correta. Dessa forma, o Psicopedagogo irá auxiliar o indivíduo a retornar o percurso normal da aprendizagem, estabelecendo um vínculo positivo com o mesmo e com seus familiares, objetivando resgatar o prazer de aprender. Destacando como referencial teórico. PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia; aprendizagem; conhecimentos; Educação.
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes - psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em processo de construção do conhecimento.
Tem sido muito acentuado os desafios da educação, sendo que os números e a realidade revelam, claramente, que não tem sido fácil superá-los. Acreditamos que há necessidade de um esforço conjunto, envolvendo profissionais de formações distintas, mas complementares, que possam colaborar para a elaboração de novas propostas educacionais, que melhor se ajustem ao perfil da população a ser educada Zorzi apud SCOZ et, al, (2003,p 166).
Surgiu no país baseada em modelos médicos, tendo inicio nos anos 70 cursos de formação de especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com duração de dois anos, preocupados com o grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.
Parente e Renña salienta que:
É necessário "diferenciar com cuidado as crianças com dificuldades de aprendizagem das crianças com dificuldades escolares". Para elas essas últimas revelam a incompetência da instituição educacional no desempenho de seu papel social e não podem ser consideradas como problemas dos alunos. PARENTE e RENÑA- Scoz(1987 op. cit. Sisto 2008)
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.
O presente trabalho tem o objetivo de fazer uma abordagem sobre a atuação e a importância do Psicopedagogo dentro da instituição escolar.
1. A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
1.1. HISTORIA E CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA
Segundo Rubinstein,
A Psicopedagogia surgiu da inquietação e insatisfação dos profissionais que tratavam das dificuldades de aprendizagem. ... quero ressaltar que o que estava em evidencia era o tratamento das dificuldades, pouca preocupação havia sobre sua origem levando em conta a historia do aprendiz. A enfase estava em afastar o mal funcionamento por meio de uma boa "ensinagem", e, como consequencia, o aprendiz poderia interar-se voltando a aaprender normalmente. Rubinstein apud SCOZ, et, al(2003, p. 127-128):
Os primeiros Centros Psicoterápicos foram fundados na Europa, em 1946 por Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam conhecimentos da área da psicologia, psicanálise e pedagogia onde se tentava readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou lar e atender muitas outras com dificuldades de aprendizagem apesar destas serem crianças inteligentes. Esperava-se na época através da união psicologia-psicanálise-pedagogia conhecer a criança e o seu meio para que fosse possível compreender o caso para determinar uma ação reeducadora, diferenciando os que não aprendiam dos que aprendiam daqueles que apresentavam algumas deficiências mentais, físicas ou sensoriais.
Esta corrente européia influenciou significativamente a Argentina, tendo surgido ai há mais de 30 anos sendo Buenos Aires a primeira cidade a oferecer o curso. Foi na década de 70 que surgiram lá os Centros de Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Percebendo estes que um ano após o tratamento os pacientes resolviam seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de personalidade como deslocamento de sintoma. Assim resolveram incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica na sua práxis.
Sisto adverte:
Convém lembrar, também, que a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, na teoria psicanalítica, é de causa e efeito, tendo o desenvolvimento emocional como gerenciador primaz do processo de relação com o mundo e determinante de aprendizagens e seus problemas. Sisto, et al. (2008, p. 43)
Nesta época as dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos. Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por médicos na Europa no século XIX e no Brasil. Ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da Escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que este indivíduo esta apresentando na escola.
A Psicopedagogia foi introduzida aqui no nosso país baseada em modelos médicos e foi assim que se iniciaram nos anos 70 cursos de formação de especialistas em psicopedagogia na clínica médico-pedagógica com duração de dois anos.
De acordo com Visca (1987):
A Psicopedagogia foi num primeiro momento uma ação subsidiada da Medicina e da psicologia, perfilando-se como saber independente e complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. VISCA (1987, op. cit. CHAMAT. 2008)
Em 1996 foi aprovado em Assembléia Geral no III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, o Código de Ética que assinala dentre outras coisas, que a Psicopedagogia é um campo de atuação em saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana, é de natureza interdisciplinar e o trabalho pode se dar na clínica ou instituição, de caráter preventivo e/ou remediativo e cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação, seguir esse código.
1.2 - Regulamentação
No Brasil vivencia-se ainda a luta, para que se regulamente a profissão de psicopedagogo, de modo que este seja formado em cursos de graduação a exemplo do que já acontece na Europa, em especial, na França e em Portugal, além de outros países.
Em 2005 foi reconhecido o primeiro curso de graduação em psicopedagogia, oferecido pela PUC/RS. Na época o Brasil já contava com outros cursos em andamento: no Centro Universitário La Salle, (Canoas, RS) e no Centro Universitário FIEO (Osasco, São Paulo). Nesta última instituição, em 2006, foi recomendado pela CAPES o primeiro mestrado acadêmico com área de concentração em psicopedagogia.
A regulamentação brasileira tem avançado a partir do Projeto de Lei nº 128/2000 e da Lei n.º 10.891. Entretanto, a regulamentação de qualquer nova profissão, a exemplo das tentativas de regulamentação da psicanálise no Brasil, têm encontrado uma forte barreira constitucional, pois o Art. 5º da Constituição Brasileira prevê o "livre exercício profissional", sendo entendido que é desnecessário e oneroso para o Estado a regulamentação de profissões, exceto quando há risco eminente para a sociedade.
1.3- Quem é o Psicopedagogo
Para Mery (1985).
Psicopedagogo é um professor de um tipo particular que realiza a sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os propositos teraupeuticos da sua ação. Qualquer que tenha sido a sua formação (psicologo, pedagogo, fonaudiologo, professor), ele assumirá sempre a dupla polaridade de seu papel, o que determinará seu modo de ser perante a criança e seus familiare, bem como diante da equipe a que pertence. Mery (1985, p. 48)
O trabalho do pesicopedagogo, possui as seguintes especificidades:
·o "disturbio de aprendizagem" é encarado como uma manifestação de uma pertubação que envolve a totalidade da personalidade;
·o desenvolvimento infantil é considerado a partir de uma perspectiva dinamica, e é dentro dessa evolução dinamica que o sintoma "disturbio de aprendizagem" é estudado;
·a neutralidade do papel de psicopedagogo é negada, e este conhece a importancia da relação transferencial entre o profissional e o sujeito da aprendizagem;
·o objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se a vida normal, respeitando as suas possibiliodades e interesses.
O psicopedagogo deverá respeitar a escola tal como ela é, com suas imperfeições, porque é atraves da escola que o aluno se situará em relação aos seus semelhantes, ai ele optará por uma profissão e participará da construção coletiva da sociedade a qual pertence. Porém, esse fato não empedirá que o psicopedagogo colabore com a melhoria das condições de trabalho numa determinada escola ou na conquista de seus objetivos fazendo com que a criança enfrente a escola de hoje e não a de amanhã, sem impor a mesma normas arbitrarias ou sufocar-lhes a individualidade. Busca-se sempre desenvolver e expandir a personalidade do individuo, favorecendo as suas iniciativas pessoais, sucitando os seus interesses, respeitando os gostos.
Fini, conclui que:
Diante do quadro que se apresenta, é compreensível que um grande número de estudiosos e pesquisadores, em especial nos últimos anos, venha se dedicando a investigar e discutir as razões que contribuem para que algumas crianças tenham sucesso na escola e outras, não.
Quais são as causas do insucesso do aluno na escola? Como compreender o rendimento insatisfatório? Quais são as dificuldades dos alunos? Como enfrentar a situação? Como ajudar alunos e educadores?Fini (2008 op. cit. SISTO, 2008, p. 64-5)
Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar. No trabalho clínico, conceber o sujeito que aprende como um sujeito epistêmico-epistemofílico implica procedimentos diagnósticos e terapêuticos que considerem tal concepção. Para isso, é necessária uma leitura clínica na qual, através da escuta psicopedagógica, se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção.
De acordo com Fernández (1991), necessitamos incorporar conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, estando estes quatro níveis basicamente implicados no aprender. Considerando-se o problema de aprendizagem na interseção desses níveis, as teorias que ocupam da inteligência, do inconsciente, do corpo, separadamente, não conseguem resolvê-lo. Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia implica refletir sobre as suas origens teóricas, ou seja, revisar velhos impasses conceituais que subjazem na ação e na atuação da Pedagogia e da Psicologia no apreender do fenômeno educativo.
1.4. Campo de atuação da psicopedagogia
O objetivo basico do diagnostico psicopedagogico é identificar os desvios e os obstaculos basicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social Weiss (2001, p 32).
O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem surgir.
Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.
Segundo Weiss (2001, p 30), o sucesso de um diagnostico não reside no grande numero de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação.
Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológicas, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da pedagogia.
O psicopedagogo pode atuar tanto na Saúde como na Educação, já que o seu saber visa compreender as variadas dimensões da aprendizagem humana. Da mesma forma, pode trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como: psicólogos assistentes sociais, enfermeiros e médicos.
Nesse aspecto, segundo Pinchon-Rivière (1981),
Existe uma estreita ligação entre o vinculo e a aprendizagem. Aquele que se faz portador de uma problemática vincular, inefavelmente terá problema de vinculação com o "Ser que ensina", transferindo isso para o "conhecimento" para com a família e até com amigos. PINCHON-RIVIÈRE (1981, op. cit. CAMAT, 2008, p. 31),
No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham na empresa.
De acordo com o projeto de Lei nº 3.124/97, o psicopedagogo está capacitado para:
·Intervenção psicopedagógica visando à solução dos problemas de aprendizagem, tendo por enfoque o indivíduo ou a instituição de ensino público ou privado;
·Possibilitar intervenção visando à solução dos problemas de aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público ou privado;
·Apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços institucionais;
·Atuar na prevenção dos problemas de aprendizagem;
·Desenvolver pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo de aprendizagem e seus problemas;
·Oferecer assessoria psicopedagógica aos trabalhos realizados em espaços institucionais;
·Orientar, coordenar e supervisionar cursos de especialização de Psicopedagogia, em nível de pós-graduação, expedidos por instituições ou escolas devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação vigente.
Segundo Scoz (1992), a atuação do Psicopedagogo remete-se ora à identidade clínica, ora à institucional, mas ressalta que ambas estão vinculadas ao processo de aprendizagem, sendo assim, o Psicopedagogo é um profissional ligado historicamente à educação.
Entretanto, independentemente da abordagem seguida pelo Psicopedagogo, existem certos princípios éticos que devem fazer parte da atuação deste profissional. Visando assegurar esses princípios, a Associação Brasileira de Psicopedagogia, em assembléia realizada no III Congresso de Psicopedagogia, aprovou o Código de Ética.
2. EDUCAÇÃO E PSICOPEDAGOGIA
2.1. Rendimento escolar e psicopedagogia
PATTO (1991 op. cit. Fini) em seu livro "A Produção do Fracasso Escolar": mostrou que a problemática do fracasso escolar não é contemporânea. Sucessivos levantamentos, dos anos 30 a 90, mostraram sempre elevados índice de evasão e reprovação, principalmente nos primeiros anos na escola publica brasileira, em contraste com a falta de melhoria das mesmas.
É possível que alunos defrontem-se com dificuldades e sejam prejudicados em determinado período escolar. Quaisquer que sejam as razões, os alunos podem ser prejudicados em relação ao melhor aproveitamento de oportunidades de acesso ao saber socialmente valorizado e do desenvolvimento de habilidades e hábitos relacionados ao processo de construção de conhecimento. Tolaine(apud SISTO, et al, 2008 p.65)
Considerando os fatores implicados no processo da aprendizagem, poderíamos pensar no papel de psicopedagogo com relação ao fracasso escolar. O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que diz Bossa (1994) sobre o diagnóstico:
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. Bossa(1994, p. 29)
Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boa parte dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhores rendimentos intelectuais. Lembramos que a escola e o meio social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.
A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo socorro, pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento da criança.
Em muitos alunos/pacientes a causa de dificuldade de aprendizagem é familiar, nesse caso essa deve ser conscientizada e trabalhada. Outros casos são problemas do Ser que ensina, e do Ser que aprende, com causas nas relações vinculares, pois segundo Skrpycsar (1996 op. citChamat, 2008), "a rejeição é sentida desde o útero materno", nesse caso o problema pode ser tratado por um psicólogo levando o sujeito a ter uma vida normal, daí a importância do pedagogo enviar o paciente para o mesmo.
O psicopedagogo deve priorizar o conhecimento do paciente, seu papel é focalizar o problema dentro do contexto causa/sintoma e atuar sobre ele de forma planejada para que possa ser feito o diagnóstico que é comunicado aos pais, para que haja uma interação com estes, o que é fundamental para o direcionamento do tratamento psicopedagógico.
O atendimento psicopedagógico pretende facilitar o diagnostico da dinâmica relacional e da aprendizagem, a fim de propiciar mudanças e facilitar o trabalho preventivo, que segundo Paín (1989), a intervenção tem como objetivo, levantar e sistematizar o perfil do aluno, detectar os principais pontos de dificuldades e necessidades apresentadas nos diferentes momentos de sua formação; desenvolver atividades em conjunto com a área pedagógica, atender individualmente o aluno que procura o programa auxiliando em suas dificuldades acadêmicas e fazer o levantamento do aluno ingressante. O psicopedagogo deve estar sempre atencioso e receptivo para atender as necessidades do sujeito, sua família e escola, lembrando que este deve ter o cuidado de não se envolver emocionalmente no problema e, se necessário ter acompanhamento de um profissional psicoterapeuta.
Muitas vezes o aluno não consegue aprender, não por falta de requisitos intelectuais, mas sim por bloqueio e inibições no pensar, gerado por problemáticas efetivas ou emocionais. Segundo Piaget (1970, op. cit. Chamat, 2008), as rupturas no vinculo familiar causam, geralmente, bloqueios e ruptura no vinculo com o "conhecimento". Dai à afirmação que, "afetivo e cognitivo permanecem lado a lado" e, muitos autores apontam que a quebra ou defasagem na relação do "Ser que ensina" como o "Ser que aprende" é desastrosa do ponto de vista da aprendizagem.
O escasso vínculo com o conhecimento torna a aprendizagem e vida social insatisfatória. Chamat (2008) enfatiza que:
Esse vínculo se encontra evidenciado ou com seqüela da ausência dessa vinculação. Essa vinculação, segundo a autora é responsável, pela criatividade e pelo desejo de busca, de lidar com o conhecido e desconhecido, que é o "conhecimento". Chamat (2008, p. 32),
Ter um olhar psicopedagógico de um processo de aprendizagem é buscar compreender como eles utilizam os elementos do seu sistema cognitivo e emocional para aprender. É também buscar compreender a relação do aluno com o conhecimento, a qual é permeada pela figura do professor e pela escola. A Psicopedagogia preocupa-se, portanto, como a criança aprende.
Segundo Scoz (2003) é na escrita do discurso parental que adquirimos elementos que nortearão a posição da criança na estrutura familiar permitindo-nos localizar no sintoma o que é da criança e o que está na marca familiar.
2.2. A atuação da Psicopedagogia na instituição escolar
Para Pain (1989), no tratamento psicopedagógico, busca-se devolver ao sujeito a dimensão de seu poder (poder escrever, poder saber fazer) para que seu eu acredite em suas potencialidades.
A atuação escolar se constitui na totalidade de seus componentes que expressam seus conhecimentos, suas habilidades, seus desejos. A Psicopedagogia leva em conta o sujeito que pensa e deseja, abre o espaço para a construção do saber real, propiciando maior desejo de conhecer ensinante e aprendentes.
A psicopedagogia dirige-se para a relação entre a modalidade ensinante da escola, e a modalidade de aprendizagem de cada aluno.
Com isso, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar deve direcionar seu olhar e escuta, passando pelas relações pessoais e vínculos entre o ensinar e o aprender, nas modalidades de aprendizagem dos sujeitos envolvidos neste processo, nas relações do poder, no mostrar e esconder, na divisão de papeis, tarefas e funções e nas relações entre escola, família e comunidade. Estas contribuições da Psicopedagogia devem procurar propostas que favoreçam a solução de problemas, vislumbrar mudanças, abrir espaços de pensamentos favorecendo que todos desempenhem suas atividades com mais satisfação.
Segundo Visca (2008):
O psicopedagogo, no papel de agente corretor, deve priorizar o "conhecimento" do paciente, mesmo que para tal tenha de realizar encaminhamento a outros profissionais. Seu papel é de focalizar a problemática dentro do contexto causa/sintoma e atuar sobre eles. Deve planejar sua atuação desde o contato telefônico. Visca (op. cit. CHAMAT, 2008, p. 26)
Após o contato telefônico, virá a entrevista com os responsáveis pelo paciente, expondo a causa dos sintomas e a mudança de atuação dos mesmos em relação ao sujeito. Será marcada entrevista com todos os envolvidos com o sujeito, para ouvir a problemática e levantar o diagnóstico.
Analisar a escola, a luz da psicopedagogia significa no processo que inclui questões metodológicas, relacionais e sócio-culturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo, conforme já foi dito, a participação da família e da sociedade.
Existem diferentes enfoques em relação ao que se entende por Psicopedagogia na escola. (...) è dar-se ao professor e ao aluno tempo; possibilitar-se uma postura critica em relação à estrutura da escola e da sociedade que ela representa. Para isto é necessário um posicionamento sobre o que a escola produz.Bossa (1994, p. 68).
Reconhecendo que o ensino precisava de uma mudança, o Programa de Formação de Profissionais da Educação na SMED, propôs uma transformação não só com os professores, mas, com todos aqueles que tem a ver com ensino aprendizagem.
O projeto de uma escola pública eficaz, que cumpre a função de ensinar a todos, depende fundamentalmente da formulação de uma política comprometida com esse objetivo.
E estas decisões governamentais e a teoria pedagógica privilegiam a formação do professor como meio para implementar transformações no sistema de ensino.
Ao professores cabia o papel de agente modernizador das nossas escolas.
Até inicio da década de 80, na área da alfabetização foram feitas tentativas para inverter a ineficiência da escola em relação à aprendizagem da leitura e da escrita, introduzindo novas metodologias.
Segundo Zorzi (2005):
A leitura corresponde a um ato de compreensão, ou seja, a uma busca daquilo que o texto pode significar. Para que a leitura seja possível, há necessidade de se compreender os símbolos ou letras e a significação por eles representados, ou seja, a relação entre símbolos (significantes) e aquilo que ele simbolizam (significados). Zorzi (2005, p. 23)
Então, teve inicio a teoria construtivista enfocando o desenvolvimento da psicologia genética e da lingüística contemporânea, onde possibilitou uma nova compreensão do processo da leitura e da escrita. Com isto, o processo de mudanças em relação à alfabetização proporcionou uma re-definição da escola enquanto institucional, como a re-definição da ação didática faz parte igualmente deste processo. Essa mudança na postura do ensino continua turbulenta e temerosa, possivelmente, porque pode acarretar no nível de poder insegurança a quem se julga o dono deste.
Renovar, abrir espaço para o novo é se submeter a ser construtor do seu conhecimento, e dar abertura ao pensar, a autonomia.
Questiona-se a postura da a escola permitindo aos nossos professores e alunos o espaço de autoria, ou se é construída dentro de uma falsa autonomia.
Uma proposta pedagógica favorecedora e estimulante ao pensamento critico, a autoria, a cooperação, possibilita ao sujeito fazer parte desta mudança de ensino e, com certeza, uma mudança de vida.
Precisa-se trabalhar no sentido de resgatar o desejo de aprender de alunos e alunas, professores e professoras, em um jogo de troca de lugares de quem ensina e de quem aprende, sem que se perda o seu lugar. É uma das possibilidades de humanizarmos a escola, pois, é o desejo que nos marca como seres humanos.
Para Gandin (1988) o sistema escolar se organiza segundo as linhas estruturais da sociedade em que se insere; não é do tipo de escola que produzum tipo de sociedade, mas, um tipo de sociedade que produz um tipo de escola.
Lidar com esse problema na escola é o que a Psicopedagogia se propõe; ressignificar o desejo, promover o pensar, alargar o olhar e a escuta, construir projetos e possibilitar que se façam, é um dos objetivos da Psicopedagogia.
O trabalho da Psicopedagogia é evitar ou debelar o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem. O ser sob a ótica da Psicopedagogia é cognitivo, afetivo e social. É comprometido com a construção de sua autonomia, que se estabelece na relação com o seu, à medida que se compromete com o seu social estabelecendo redes relacionais.
2.3. Educação e família numa visão psicopedagógica sistêmica
Família e escola têm um objetivo comum: estabelecer as melhores condições para favorecer o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens. Esse objetivo requer atuações de qualidade em cada um dos sistemas dirigidos para que as crianças tenham acesso, progressivamente, à cultura de seu grupo social num processo que repercuta de forma favorável em seu autoconceito, na capacidade de relacionar-se construtivamente com outros e nas suas possibilidades de se inserir paulatinamente em novas estruturas e sistemas.
Propor o pensamento psicopedagógico sistêmico no entendimento das questões educativas, na família e na escola é possibilitar uma visão mais ampla entre o ensinar e o aprender na compreensão do quando, onde e como acontece. Seria possibilita aos alunos, crianças e adolescentes, membros de uma família, assimilarem os conhecimentos que vão adquirindo em seus contextos culturais, reunindo-os, religando-os em novas bases de saber. Munhoz (2001, p. 35)
O objetivo acima também requer a existência do conhecimento mútuo, da formação de vínculos e do estabelecimento de acordos entre esses contextos originários como condição necessária para que o potencial de desenvolvimento de cada um deles chegue a se concretizar. Cada escola é em si mesma, uma comunidade que estabeleceu, ao longo de sua trajetória, uma história de relação e afeto entre seus membros, entre a equipe de docentes, com os alunos, entre a equipe e as famílias. Em cada caso, esses aspectos são diferentes.
Os psicopedagogos podem contribuir de maneira proveitosa para o estabelecimento de canais fluidos de comunicação entre a família e a escola. Quando ocorrem, essas relações são conduzidas pela confiança e pelo respeito mútuos e articulam-se em torno de algumas metas ou objetivos concernentes a ambos os sistemas. São relações nas quais se buscam os aspectos positivos que possuem todos os interlocutores. Paralelamente, os pais respeitam a tarefa educacional da escola, criando-se, desse modo, um contexto de relação cômoda para todos.
O grau em que os familiares possam elaborar expectativas positivas em relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na escola depende da acolhida que esta oferecer não somente aos alunos, mas à família em seu conjunto, assim como dos esforços destinados a manter e a cuidar dessa relação. Assim, há uma variedade de intervenções que estão vinculadas à cultura da escola em relação às famílias.
O psicopedagogo pode colaborar, também, para que a escola sinta interesse em conhecer a opinião dos pais, seja quanto às questões globais, seja quanto a outras mais específicas relacionadas à educação de seu filho.
Todas as intervenções têm como fim prioritário melhorar a comunicação entre a família e a instituição educacional e fomentar entre elas relações positivas. Portanto, a família é peça fundamental para o tratamento dos problemas de aprendizagem. Segundo Fernández (1991), se o paciente é uma criança ou adolescente, o modo de diagnosticar pode estar relacionado com o olhar-conhecer por meio da família.
A presença da família ajuda a observar mais rapidamente a existência de significações sintomáticas localizadas em vínculos relacionados ao aprender, permite realizar diagnósticos diferenciais entre sintoma (problema de aprendizagem-sintoma) e problema de aprendizagem reativo.
O psicopedagogo deve buscar o que significa o aprender para esse sujeito e sua família, tentando descobrir a função do não aprender. Conhecer como se dá à circulação de conhecimento na família, qual a modalidade de aprendizagem da criança, não perdendo de vista qual o papel da escola na construção do problema de aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no projeto de atendimento para ampliar seu conhecimento sobre a dificuldade, modificando seu modo de pensar e de agir com relação à criança.
Em cada um de nós, podemos observar uma particular "modalidade de aprendizagem", quer dizer, uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e para conformar seu saber. Tal modalidade de aprendizagem constrói-se desde o nascimento, e através dela nos deparamos com a angústia inerente ao conhecer-desconhecer. A modalidade de aprendizagem é como uma matriz, um molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas diferentes situações de aprendizagem. Fernandez (1991: p. 109).
A modalidade de aprendizagem revela a forma e o conteúdo do processo de estruturação da aprendizagem do sujeito, trazendo em seu bojo a criação do material pedagógico como um objeto resultante do processo de ensino-aprendizagem. Diferentemente do modelo de aprendizagem geral e universalista, a modalidade de aprendizagem é sempre singular e específica.
Fernández (1991) fala de um enfoque clínico que significa preocupar-se com os processos inconscientes e não somente com a patologia; é fazer uma escuta particular do sujeito que possibilite não só encontrar as causas do não-aprendizado, mas também organizar metodologias para facilitar a aprendizagem e o desempenho escolar.
As rupturas no vinculo familiar causam, geralmente, bloqueios e rupturas no vinculo com o "conhecimento". O afetivo e cognitivo permanecem lado a lado. É sabido que toda quebra na vinculação afetiva acarreta perdas e ou bloqueios cognitivos. Pode acontecer de ocorrerem ambos simultaneamente.
É importante que o ensinante introduza o conhecimento ao aprendiz de forma prazerosa através do lúdico, onde de forma inconsciente o brincar vai criando vinculo com conhecimento.
CONCLUSÃO
A psicopedagogia veio introduzir uma contribuição mais rica no enfoque pedagógico. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como um processo muito abrangente, implicando componentes de vários eixos de estruturação.
Percebe-se que as causa do processo de aprendizagem, bem como das dificuldades de aprendizagem, não está localizada somente no aluno e no professor, passa a ser vista como um processo maior com inúmeras variáveis que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo.
O aluno deve ser percebido em toda a sua singularidade e, em toda a sua especificidade, em um programa direcionado a atender as suas necessidades especiais. É a percepção desta singularidade que vai comandar o processo e não um modelo universal de desenvolvimento. Na intervenção psicopedagógica deve-se evitar os prognósticos que o professor lança a respeito do processo de desenvolvimento de seu aluno sem levar em consideração o seu desempenho.
A função do Psicopedagogo é de intervir como mediador. Essa intervenção tem caráter preventivo e curativo, uma vez que tem o propósito de detectar a dificuldade de aprendizagem, resolver essa dificuldade e ainda preveni-la; o trabalho preventivo tem como objetivo prevenir os problemas de aprendizagem através da investigação de todos os indivíduos inseridos na instituição, para que ela se reestruture e resgate sua identidade.
O Psicopedagogo, diante das dificuldades de aprendizagem e numa ação preventiva, inserido no âmbito escolar, deve adotar uma postura crítica, com o objetivo de propor novas alterações de ação voltadas para a melhoria da aprendizagem. Ele deve buscar o que o aprender significa para o indivíduo, sua família, sua comunidade, deve fazer uma pesquisa particular deste indivíduo não só para encontrar as causas do não aprendizado, mas também para facilitar a aprendizagem.
Em sua atuação na esfera escolar, em seu foco de atuação junto a Direção, coordenação e corpo docente, ele se interessa pelo processo de construção do conhecimento. É este seu norte, é para este lugar que dirige o seu olhar inquietante e curioso, que observa tudo e sobre tudo pensa: a história, as condições, as interações de fatores de ordens diversas na construção do conhecimento, daquela criança daquela família daquele professor, e daquela instituição. Observa se os conteúdos trabalhados e se as práticas pedagógicas daquela instituição estão de acordo com o Projeto Pedagógico e com o Regimento Escolar da mesma, para poder dar uma devolutiva de forma que venha a contribuir para o crescimento desta através de mudanças que virão a ocorrer de comum acordo com todos.
... Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.Bossa (1994, p.23)
Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem.
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Fonte: http://www.webartigos
22 de março de 2011 às 16:21
Parabéns pela postagem...