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O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou:
-Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco
-E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
-Estou escrevendo sobre você, é verdade.
Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial. E disse:
- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
No entanto, a avó respondeu:
- Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo:
Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Essa mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.
Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor.
Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.
Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.
Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação.

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou:
-Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco
-E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
-Estou escrevendo sobre você, é verdade.
Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial. E disse:
- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
No entanto, a avó respondeu:
- Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo:
Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Essa mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.
Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor.
Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.
Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.
Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação.

Quando criança, por causa de meu caráter impulsivo, tinha raiva à menor provocação.

Na maioria das vezes, depois de um desses incidentes me sentia envergonhado e me esforçava por consolar a quem tinha magoado.

Um dia, meu professor me viu pedindo desculpas, depois de uma explosão de raiva, e entregou-me uma folha de papel lisa e me disse:

Amasse-a!

Com medo, obedeci e fiz com ela uma bolinha.

- Agora, deixe-a como estava antes. Voltou a dizer-me.

Óbvio que não pude deixá-la como antes. Por mais que tentasse, o papel continuava cheio de pregas.

O professor me disse, então:

- O coração das pessoas é como esse papel. A impressão que neles deixamos será tão difícil de apagar como esses amassados.

Assim, aprendi a ser mais compreensivo mais paciente.

Quando sinto vontade de estourar, lembro daquele papel amassado.

A impressão que deixamos nas pessoas é impossível de apagar.

Quando magoamos alguém com nossas ações ou com nossas palavras, logo queremos consertar o erro, mas é tarde demais...

Alguém já disse, certa vez:

- Fale somente quando suas palavras possam ser tão suaves como o silêncio.

Mas não deixe de falar, por medo da reação do outro.

Acredite, principalmente em seus sentimentos!

“Seremos sempre responsáveis pelos nossos atos – nunca se esqueça”.

Começam as aulas neste mês. Terei serviço aos montes assim que as primeiras provas aparecerem nas casas para os pais assinarem, como é em todos os anos. Mas, não fico feliz, não.
É realmente triste ver famílias em sofrimento pelos problemas emocionais ou cognitivos dos filhos. Ajudar a superá-los é tarefa dos psicólogos e demais profissionais da saúde, quando necessário.
Os filhos aparecem com notas muito baixas e os pais, depois do terceiro ou quarto sermão irritantemente inútil na construção do estudante perfeito, encaminham os filhos para psicólogos, psicopedagogos e professores particulares.
Caro leitor, eu gostaria mesmo é de trabalhar com mais estimulação às crianças que possuem distúrbios de aprendizagem de base neurológica, estas as que realmente precisam de um diagnóstico seguro, de reabilitação permanente e as que mais demoram a chegar à clínica.
Os que necessitam de apoio psicopedagógico por falta de base educacional adequada e de limites em casa, chegam às clínicas e consultórios, mas não prosseguem o tratamento porque, na maioria das vezes, a mobilização para a mudança é necessária nos pais.
Então, quando os pais descobrem que quem deve mudar são eles próprios antes das crianças, o profissional passa a ser visto com desconfiança e logo o filho evapora do consultório.
Para um pai imaturo, é melhor admitir que errou na escolha do psicólogo ou do fonoaudiólogo do que admitir que vem errando na educação dos filhos. Embora não se considera erro uma má postura dos pais, quando involuntária.
Todos erram, vez por outra, em qualquer campo. Tirar a síndrome da perfeição dos pais é difícil. Muitos, por culpa ou medo do espelho, sequer admitem problemas ou meras dificuldades nos filhos... dar de cara com falhas dói.
Aí entra um dos grandes pilares da escola: o acompanhamento contínuo dos alunos com dificuldades de aprender em sala. Desde o início do ano, desde as primeiras notas baixas, desde os primeiros problemas de relacionamento e de compreensão, desde os primeiros trabalhos não entregues ou mal-feitos.
Chamada dos alunos, dos pais, avaliação pedagógica, tarefas extras e organização de grupos de trabalho no contra-turno e encaminhamento para diagnóstico médico e psicológico são algumas das atribuições de orientadores e coordenadores pedagógicos.
Mas, ANTES DE TUDO, É A OBSERVAÇÀO DO PROFESSOR SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS NAS ATIVIDADES, DESDE O PRIMEIRO DIA, QUE SALVA OS ALUNOS DO FRACASSO ESCOLAR!
Um aluno com um diagnóstico da sua situação de aprendizagem, feita por profissional capacitado, com um trabalho de reabilitação estruturado pela escola e uma família consciente de suas tarefas é o mínimo que se espera para termos Educação com Qualidade. Mas isso só funciona se acontecer no início, quando chegarem as avaliações abaixo do esperado, ainda no bimestre inicial.
O aluno passa por aulas especiais, tarefas diferenciadas, métodos alternativos que em geral funcionam muito bem, com excelentes resultados, alunos aprendendo bem e felizes por isso.
Não é possível esperar que alunos com dificuldades passem por Conselhos de Classe (muitas vezes sedentos do sangue da reprovação-vingança) no final do ano e somente ali sejam aprovados.
Pior ainda é reprová-los, como ainda hoje acontece, sem avaliações adequadas, sem diagnóstico, sem acompanhamento, sem coerência e preparo pedagógico.
Não se fracassa na Escola no final do ano letivo: o fracasso escolar advém do mau aproveitamento e do mau acompanhamento desde o primeiro dia letivo. Assim como o sucesso nos estudos (que é muito mais amplo do que mera aprovação), que advém da observação de professores e pais e o devido acompanhamento desde o primeiro dia de aula.

Psicólogo clínico e institucional; especialista em Neuropsicologia e Aprendizagem e Mestre em Educação e Cultura.

Introdução
Nas literaturas sobre aprendizagem, muito se tem discutido sobre distúrbios versos dificuldade de aprendizagem, ficando claro que não são sinônimos.
Sem pretensão de esgotar o assunto, apresentamos uma revisão bibliográfica na visão de diversos autores sobre as terminologias adotadas.
No Brasil, foi ( Lefèvre:1975) que introduziu o termo distúrbio de aprendizagem como sendo:
“síndrome que se refere à criança de inteligência próxima à média, média ou superior à média, com problemas de aprendizagem e/ou certos distúrbios do comportamento de grau leve a severo, associados a discretos desvios de funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), que podem ser caracterizados por várias combinações de déficit na percepção, conceituação, linguagem, memória, atenção e na função motora”.
Após esta data, muito se tem discutido e abordado sobre o assunto, visto a importância no contexto da aprendizagem, surgindo diversos trabalhos e outras definições sobre o assunto.
Conforme (Fonseca: 1995) distúrbio de aprendizagem está relacionado a um grupo de dificuldades específicas e pontuais, caracterizadas pela presença de uma disfunção neurológica. Já a dificuldade de aprendizagem é um termo mais global e abrangente com causas relacionadas ao sujeito que aprende, aos conteúdos pedagógicos, ao professor, aos métodos de ensino, ao ambiente físico e social da escola.
Já em (Ciasca e Rossini: 2000) as autoras defendem que a dificuldade de aprendizagem é um déficit específico da atividade acadêmica, enquanto o distúrbio de aprendizagem é uma disfunção intrínseca da criança relacionada aos fatores neurológicos.
Os fatores neurológicos citados pelos autores, significa que essas dificuldades estão relacionadas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas que se referem as disfunções no sistema nervoso central. Não podemos também deixar de considerar que as dificuldades de aprendizagem muitas vezes podem ocorrer concomitantemente com outras situações desfavoráveis, como: alteração sensorial, retardo mental, distúrbio emocional, ou social, ou mesmo influências ambientais de qualquer natureza.
Diante de todo o contexto envolvendo distúrbios de aprendizagem, é necessário que muito se reflita acerca de como podemos contribuir na aprendizagem dessas crianças. Uma conclusão prévia que já nos atrevemos a traçar é de que não é prudente inserirmos todas as crianças com distúrbio de aprendizagem num mesmo grupo. Para melhor distinção entre os distúrbios de aprendizagem, é evidente que devemos tomar como base as manifestações mais evidentes que produzem impacto no desempenho da criança. Há pelo menos dois grupos que se distinguem pelo quadro que apresentam. Enquanto num podemos encontrar crianças com um quadro de deficiência mental, sensorial (visual, auditiva) ou motora, resultem de retardo mental, afecções neurológicas ou sensoriais, de outro lado, ou outro grupo de crianças que apresentam como manifestação os problemas escolares decorrentes de alterações de linguagem cuja inteligência, audição, visão e capacidade motora estão adequadas, sendo, então, o quadro de distúrbio de aprendizagem decorrente de disfunções neuropsicológicas que acometem o processamento da informação, resultando em problemas de percepção, processamento, organização e execução da linguagem oral e escrita.
Uma das questões fundamentais nesse contexto é detectar as manifestações desses distúrbios. A princípio parece-nos óbvio que alguns casos é perfeitamente perceptível, porem é relevante e necessário que saibamos como podem aparecer as manifestações de distúrbio de aprendizagem.
Alguns autores já abordaram o assunto de uma forma que nos fica evidente como os sintomas aparecem ou são manifestados.
Um dos autores que trata esse assunto de uma forma bastante clara é Lerner (1989), que descreveu as manifestações da seguinte forma:
• Distúrbios da atenção e concentração que retrata os comportamentos das crianças com e sem hiperatividade e impulsividade;
• Problemas receptivos e de processamento da informação diz respeito à competência lingüística, como as atividades de escrita, distinção de sons e de estímulos visuais, aquisição de léxico, compreensão e expressão verbal;
• Dificuldades de leitura manifestada pela aquisição das competências básicas relacionadas a fase de decodificação, como sendo a compreensão e interpretação de textos, as dificuldades de escrita e presença de erros ortográficos em gera.
• Dificuldades na matemática, que se revelam na aquisição da noção de números, no lidar com quantidades e relações espaços-temporais e problemas de aquisição e utilização de estratégias para aprender, manifestados na falta de organização e utilização de funções metacognitivas, comprometendo o sucesso na aprendizagem.
Definições sobre Aprendizagem:
- Aprendizagem é a aquisição de conhecimento ou especialização; faz-nos ignorar todo processo oculto existente no ato de aprender;
- Mudança permanente de comportamento, resultado de exposição a condições do meio ambiente;
- Um processo evolutivo e constante, que implica uma seqüência de modificações observáveis e reais no comportamento do indivíduo, de forma global (físico e biológico), e do meio que o rodeia, onde esse processo se traduz pelo aparecimento de formas realmente novas compromissadas com o comportamento.
Tanto na visão neurológica como em diversas correntes psicológicas, a aprendizagem, apresenta pontos comuns e com significados intrínsecos, que convergem para o fato de que tudo aquilo que se sabe, o homem deve aprendê-lo, porém, é na escola que há um vínculo integrativo da sociedade, cuja principal forma de ação é sobre o indivíduo em seu desenvolvimento global, direta e abrangentemente, visando à maior possibilidade de renovação e liberdade.
O aprendiz é concebido como um manipulador inteligente e flexível que busca a informação e trata de organizá-la, integrá-la, armazená-la e recuperá-la, de forma ativa e ajustada às estruturas cognitivas de que dispõe internamente.
Prestar atenção, compreender, aceitar, reter, transferir e agir são alguns dos componentes principais da aprendizagem. Todavia, se isso não ocorrer, com o aprendiz, implica que há nessa criança um Distúrbio de Aprendizagem.
Mas o que é Distúrbio de Aprendizagem?
Designam-se crianças que apresentam dificuldades de aquisição de matéria teórica, embora apresentem inteligência normal, e não demonstrem desfavorecimento físico, emocional ou social.
Segundo essa definição, as crianças portadoras de distúrbio de aprendizagem não são incapazes de aprender, pois os distúrbios não é uma deficiência irreversível, mas uma forma de imaturidade que requer atenção e métodos de ensino apropriados. Os distúrbios de aprendizagem não devem ser confundidos com deficiência mental.
Considera-se que uma criança tenha distúrbio de aprendizagem quando: a) Não apresenta um desempenho compatível com sua idade quando lhe são fornecidas experiências de aprendizagem apropriadas; b) Apresenta discrepância entre seu desempenho e sua habilidade intelectual em uma ou mais das seguintes áreas; expressão oral e escrita, compreensão de ordens orais, habilidades de leitura e compreensão e cálculo e raciocínio matemático.
Além disso, costuma-se considerar quatro critérios adicionais no diagnóstico de distúrbios de aprendizagem. Para que a criança possa ser incluída neste grupo, ela deverá: a) Apresentar problemas de aprendizagem em uma ou mais áreas; b) Apresentar uma discrepância significativa entre seu potencial e seu desempenho real; c) Apresentar um desempenho irregular, isto é, a criança tem desempenho satisfatório e insatisfatório alternadamente, no mesmo tipo de tarefa; d) O problema de aprendizagem não é devido a deficiências visuais, auditivas, nem a carências ambientais ou culturais, nem problemas emocionais.
Principais distúrbios de aprendizagem:
1- Dislexia
Refere-se à falha no processamento da habilidade da leitura e da escrita durante o desenvolvimento, é um atraso no desenvolvimento ou a diminuição em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender qualquer material escrito. São de três tipos: visual, mediada pelo lóbulo occipital fonológica, ediada pelo lóbulo temporal; e mista, com mediação das áreas frontal, occipital, temporal e pré-frontal.
2- Disgrafia
Falha na aquisição da escrita implicando uma inabilidade ou diminuição no desenvolvimento da escrita.
3- Discalculia
Falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e símbolos matemáticos.
Diagnósticos de distúrbios de aprendizagem
O processo de diagnosticar é como levantar hipóteses. Uma boa hipótese ou teoria explica uma grande quantidade de dados observáveis que são originados de diferentes níveis de análise.
O diagnosticador apresenta vantagens importantes que compensam. Uma delas é que ele possui muito mais dados sobre um sujeito do que geralmente um pesquisador tem sobre todo o grupo de sujeitos.
Para diagnosticar deve haver:
• Sintomas apresentados;
• O histórico inicial do desenvolvimento;
• Histórico escolar;
• O comportamento durante os testes;
• Os resultados dos testes;
Como diagnosticadores e terapeutas, é importante ter um bom domínio de quais características caem em qual categoria (algumas são típicas da espécie e outras são únicas do indivíduo).
Embora um bom clínico deva estar consciente e fazer uso dos atributos únicos de um paciente, o processo científico na compreensão e no tratamento dos distúrbios mentais dependem de como eles apresentam variação “moderada”, diferenciando características de grupos dentro de nossa espécie. Se assim, não for, o trabalho com saúde mental se reduz apenas a tratar os problemas que cada um enfrenta na vida ou a recriar o campo para cada indivíduo único.
Outra crítica pressupõe um único modelo de causalidade física para todos os distúrbios comportamentais. A maioria dos diagnósticos não fornece uma explicação para todos os aspectos do paciente. Eles permitem tratamento e identificação eficiente, e a pesquisa sobre um dado diagnóstico pode levar a identificação precoce ou a prevenção. Podem contribuir para pesquisa básica em desenvolvimento humano.
Finalmente, o diagnóstico em si pode ser terapêutico para pais e pacientes, porque um diagnóstico acurado fornece uma explicação para os sintomas que perturbam o paciente e um foco para os esforços que os pais e a criança já estão fazendo para aliviar os sintomas.
Diagnóstico diferencial
Os diagnósticos são um emaranhado de situações associadas, que dependem de algumas poucas restrições de peso e de muitas restrições mais leves. Nem todos os pacientes com determinados distúrbios apresentam os sintomas característicos. Ex: Nem sempre um autismo têm estereotipias motoras ou aversão à fixação do olhar, embora sejam sintomas freqüentes do autismo. Estes sintomas oferecem evidências para este diagnóstico, mas sua ausência não viola uma restrição de peso. A tomada de decisão diagnóstica envolve a ponderação da adequação de diferentes diagnósticos competitivos às restrições de peso e às leves, fornecidas pelos dados.
Um outro componente importante no processo de diagnóstico é o reconhecimento de que isto é um processo e de que as decisões diagnósticas não são possíveis até que haja dados suficientes.
Como há poucas restrições de peso em diagnósticos, diagnósticos duplos (ou triplos) são possíveis e mesmo desejáveis. Crianças com distúrbios de aprendizagem têm freqüentemente um segundo diagnóstico psiquiátricos co-morbido, que pode ou não estar etiologicamente separado dos distúrbios de aprendizagem. No modelo o “espaço diagnóstico” é definido por duas dimensões, uma para distúrbios de aprendizagem e a outra para distúrbios psiquiátricos. A finalidade do diagnóstico é encontrar o ponto neste espaço bidimensional que melhor se ajuste ao funcionamento cognitivo e emocional presente do paciente.
Não se supõe que os dois eixos tenham diferentes implicações etiológicas, com os distúrbios de aprendizagem sendo mais orgânico e os distúrbios emocionais mais “ambientais”. Ao contrário, todos os diagnósticos em cada eixo são conceitualizados como resultado do funcionamento alterado do sistema nervoso central (SNC), sendo estas alterações causadas por certa mistura de influências genéticas e ambientais, em que influências ambientais se referem a fatores de riscos tanto neuro-evolutivos, como ferimento na cabeça, quanto à história de aprendizagem social da criança.
Uma parte importante e às vezes negligenciada da avaliação da criança com distúrbios de aprendizagem é o fornecimento de um feedback ou retorno aos pais, a profissionais e à criança que é o paciente.
Aspectos psicopedagógicos
As causas mais freqüentes para as dificuldades de aprendizagem:
1- Escola
Além da instituição escola, estão incluídos nestes item os fatores intra-escolares como inadequação de currículos, de programas, de sistemas de avaliação, de métodos de ensino, e relacionamento professor - aluno. Vale salientar a necessidade de diferenciar com uma especial atenção, as crianças com dificuldades de aprendizagem das crianças com dificuldades escolares. Para elas essas últimas revelam a incompetência da instituição educacional no desempenho de seu papel social e não podem ser consideradas como problemas dos alunos.
É comum vermos professores usando material de ensino desestimulante, desatualizado, totalmente desprovido de significado para muitas crianças, sem levar em consideração suas diferenças individuais. O aluno não se envolve no processo de ensino-aprendizagem e fica mais difícil a assimilação de conhecimentos.
2- Fatores intelectuais ou cognitivos.
3- Déficits físicos e ou sensoriais.
4- Desenvolvimento da linguagem.
5- Fatores afetivos-emocionais.
6- Fatores ambientais (nutrição e saúde).
7- Diferenças culturais e ou sociais.
8- Dislexia.
9- Deficiência não verbais.
Numa criança com DA o desenvolvimento se processa mais lentamente do que em outra criança, especialmente na área da atenção seletiva. Não considere essas crianças defeituosas, deficientes ou permanentemente inaptas. Podem aprender!
Procure uma forma de ensino. Não procure algo que esteja errado na criança. É provável que seu método de ensino e a forma de aprendizagem pela criança estejam em defasagem. Nem a criança nem o professor devem ser responsabilizados por isso, mas o professor pode ser responsável se não tentar algo mais.
Conclusões e considerações finais
Ao nos depararmos com quadros de crianças com distúrbios de aprendizagem, nos surge a preocupação em que nós professores podemos contribuir para que esse aluno, mesmo diante de suas dificuldades possa aprender? A esse questionamento refletimos sobre o papel da escola e a inter-relação com a família.
Consideremos que o papel da escola deveria ser o de desenvolver o potencial de cada um, respeitando as características individuais do aluno e sempre procurando reforçar os pontos fracos e auxiliando na superação dos pontos fracos, evitando dessa forma que as dificuldades que as crianças possuem na sejam motivos para serem excluídas no processo de aprendizagem e muito menos possam ser rotuladas ou discriminadas.
Outro fator que muito colabora no papel da escola, é a família, pois permite a troca de experiência entre pais e professores. É muito importante que haja uma integração entre os ambientes (escola e família) para se compor o quadro de uma forma real e objetiva. Tanto os pais quanto os professores precisam entender que as dificuldades que a criança possua não é culpa de ninguém, e que se tiver um trabalho em conjunto todos serão beneficiados, principalmente a criança.
Temos que ter em mente que não há criança que não aprenda, o que ocorre é que algumas aprendem de modo mais rápido, outras não, mas sem sombras de dúvida, chega-se a conclusão que independentemente da via neurológica utilizada, o sucesso escolar de crianças com distúrbios de aprendizagem possa ser uma associação de fatores que envolvam ambiente adequado + estímulo+ motivação + organismo, possibilitando que o professor na sua árdua tarefa de lidar com as mais diferentes adversidades saiba que antes de tudo, ser necessário saber avaliar, distinguir e principalmente querer mudar, respeitando cada criança em seu estado de desenvolvimento.
Referências Bibliográficas
• CIASCA, S.M. & ROSSINI, S.D.R.: Distúrbio de aprendizagem: mudanças ou não? Correlação de uma década de atendimento. Temas sobre desenvolvimento, 8(48): 11-16, 2000.
• FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
• LEFRÈVE, AB. ( Coord. ) Disfunção Cerebral Mínima. São Paulo: Editora Sarvier, 1975.
• CIASCA, Sylvia M. Distúrbio de Aprendizagem: Proposta de Avaliação Interdisciplinar. S.P: Casa do Psicólogo, 2003. Pp 19 – 29.
• LERNER, J. Learning disabilities: theories, diagnosis and teaching strategies. Boston: Houghton Mifflin Comp., 1989.
• PENNINGTON, Bruce F. Diagnóstico de Distúrbios de Aprendizagem. S.P: Pioneira, 1997. Pp 34 – 40. Cap.3, Parte I.
http://www.abpp.com.br/artigos/58.htm

Mais um início de ano letivo. Mais uma oportunidade de retirarmos os rótulos que, muitas vezes, colocamos nos alunos já no primeiro dia de aula. “Este aqui não passa de ano”, “desse jeito, sem um milagre, vai reprovar!” São frases comuns ouvidas na sala dos professores.
A maioria dos déficits na aprendizagem ocorre em alunos que não apresentam problemas clínicos que os impedem de aprender. Mas pense: mais do que um problema orgânico ou emocional, mais até do que a desestrutura familiar, é a desestrutura da escola e seus vícios a maior dificuldade de aprender. Já comentei neste espaço outras vezes o fato da escola ser chata e não ter meios de competir com a TV e os “games”. Mas irei focar noutro aspecto importante para uma inclusão adequada e real: a amplitude daqueles que apresentam dificuldades de acompanhamento e rendimento escolar. Quantos foram diagnosticados por especialistas, com laudo assinado e tudo? A minoria, imensa minoria. E quando se tem o diagnóstico, o que se faz para lançar mão de um processo de ensinagem coerente ao caso?
Mais um início de ano letivo. Mais uma oportunidade de retirarmos os rótulos que, muitas vezes, colocamos nos alunos já no primeiro dia de aula. “Este aqui não passa de ano”, “desse jeito, sem um milagre, vai reprovar!” São frases comuns ouvidas na sala dos professores.
A maioria dos déficits na aprendizagem ocorre em alunos que não apresentam problemas clínicos que os impedem de aprender. Mas pense: mais do que um problema orgânico ou emocional, mais até do que a desestrutura familiar, é a desestrutura da escola e seus vícios a maior dificuldade de aprender. Já comentei neste espaço outras vezes o fato da escola ser chata e não ter meios de competir com a TV e os “games”. Mas irei focar noutro aspecto importante para uma inclusão adequada e real: a amplitude daqueles que apresentam dificuldades de acompanhamento e rendimento escolar. Quantos foram diagnosticados por especialistas, com laudo assinado e tudo? A minoria, imensa minoria. E quando se tem o diagnóstico, o que se faz para lançar mão de um processo de ensinagem coerente ao caso?
É fundamental de se lembrar, neste início de ano, que até a famosa preguiça é um sintoma, não a causa da dificuldade de aprendizagem. Um sintoma que traz algo maior, que deve ser identificado e minimizado. Pois, como todo ser humano, o aluno está programado geneticamente para aprender. A aversão por assuntos da escola, a negativa de aprender ou vivenciar novos conteúdos e a indisciplina do aluno disfarçam dificuldades de aprendizagem. Problemas como a dislexia, o Déficit de Atenção ou a dispraxia são, muitas vezes, até fáceis de identificar. Difícil é entender que todo aluno que não acompanha a classe tem direito a um diagnóstico preciso e do acompanhamento pedagógico correto.
Uma equipe multidisciplinar, a partir dos relatórios da orientação educacional, diagnostica e orienta o tratamento e o acompanhamento escolar. É um direito do aluno e do professor.
Não deve existir prazer em ver um aluno reprovar de ano, mesmo que ele seja indisciplinado ou preguiçoso. Nem é “justiça” reprovar o aluno apático ou bagunceiro.
Aluno que debocha do professor ou da aula está sofrendo e não sabe. Triste é o professor levar para o lado pessoal. Pior é usar nota (este grande mal da educação) para punir. Horrível é um aluno reprovar sem se saber a causa do desinteresse, do fraco rendimento. Não há reprovação quando um programa de reestruturação do aprendizado é promovido.
A depressão infantil ou juvenil, o atraso no desenvolvimento cognitivo, alterações emocionais (bloqueios, fobias, ansiedade) podem ser a causa do baixo rendimento na escola.
Ou seja, por causa física ou emocional (ou ambas), ou por “descompromisso” com a realidade do aluno é que ocorre o fracasso na escola. Mas algo precisa ser feito, tanto no âmbito político quanto no individual: que cada especialista ou professor encaminhe a família para um especialista, peça a montagem de um programa de acompanhamento pedagógico, oriente a família ou denuncie a negligência ao Conselho Tutelar ou ao Ministério Público, se for o caso. Existem causas diferentes em cada caso de déficit na aprendizagem, mesmo com diagnóstico semelhante, cada caso tem suas particularidades.
O que deve ser obrigatório: que cada caso seja estudado, diagnosticado e acompanhado desde o primeiro dia de aula, se possível.
São comuns os relatos de jovens e adultos que abandonaram os estudos após vários fracassos na escola, eles mesmos afirmando que não são bons para o estudo, apenas para o “trabalho duro”. Muitos desses “excluídos da escola” ingressam no crime. Se na escola não o aceitam, na rua ele é aceito. Muito se fala em inclusão. Mas, como disse Penna Firme, em sua palestra: a inclusão inicia no resgate do aluno com déficit de aprendizagem e da escola de qualidade.

Escrito por Gilmar de Oliveira

Resumo: Este artigo vem mostrar a importância da escola na ajuda às crianças com transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e nessa trajetória percorremos vários caminhos, entre eles a análise sintomática. Nosso objetivo em falarmos do sintoma, foi fazer uma reflexão acerca dessa palavra tão significativa e que na maioria das vezes, pais e professores não prestam atenção no que ela quer transmitir.
Assim, falamos que as dificuldades de aprendizagens tanto podem ter origem orgânica, como também, provenientes das crises familiares vivenciadas pela criança. Citamos os principais sintomas do TDAH, como possíveis causas destas dificuldades.
Abordamos a relação entre a família, a escola e a criança, constatando a importância do vínculo familiar e a força que ele transmite nas crenças que são passadas pelos pais a seus filhos. Quanto à escola, enfatizamos a necessidade de levarmos para a sala de aula uma educação pautada em valores humanos, na qual haja valorização do ser humano em todos os aspectos.
No atendimento à criança com TDAH citamos entre outros autores, Izabel Parolin (2005) que partindo da idéia que todo sujeito é único, com formas diferentes de agir e reagir, com hábitos de vida que influenciam seu desenvolvimento, considera necessário buscar soluções para o transtorno com todos os envolvidos (a criança a família, a escola) e também com profissionais especializados (médicos, psicólogos, terapeutas ).
Finalizamos o nosso artigo com a apresentação de uma pesquisa de campo, realizada com mães de crianças com TDAH e também com professores, cuja finalidade foi mostrar a prática da vivência diária com essas crianças, quando eles perceberam que algo diferente estava acontecendo e que providências foram tomadas.
Esperamos ter contribuído um pouco com essas informações sobre como tratar os TDAH numa visão mais ampla, na qual, tanto a família como a escola esteja trabalhando em conjunto para uma melhor compreensão desta criança, para que ela possa se relacionar melhor com aqueles que estão interagindo com ela.
1. Introdução
O espírito investigativo deve estar presente na vida do individuo. A pesquisa ajuda na compreensão do objeto que se deseja alcançar e quando estamos imbuídos de um ideal, muitos questionamentos vão surgindo e à medida que vamos nos dando conta que nem sempre há respostas , paramos e vamos atrás dos porquês.
O que nos fez pesquisar sobre o assunto foi à curiosidade em saber por que há, no momento tantas crianças com hiperatividade. O que está por trás do transtorno? Geralmente a maioria das pessoas não procura saber o que os sintomas querem dizer.
Quando a criança apresenta um comportamento diferente das demais, a família fica dividida. Uma parte não dá muita importância e diz que é uma fase, outra procuram logo um profissional para achar soluções, mas nunca se procura saber qual o significado que os sintomas querem transmitir.
Ao chegar à escola e ao fazer contato com a vida social, os sintomas vão ficando mais visíveis, os desafios tanto para os pais como para os professores, se intensificam e a partir daí, começa a peregrinação dos pais pelos consultórios dos especialistas.
Os estudos da terapia familiar sistêmica vêm comprovando cada vez mais a importância do sistema familiar na história do individuo, confirmando que estamos interligados como numa rede de conexão a um grupo familiar, um sistema maior.
As famílias precisam rever algumas posturas, pois estamos vivendo período de grandes mudanças e muitos paradigmas estão sendo quebrados, assim é momento para refletirmos e nos darmos conta que algo está acontecendo no seio da família.
Os motivos que nos levaram a viabilizar esse artigo têm como finalidade mostrar que em toda sintomatologia que a criança hiperativa demonstra, há necessidade de se pesquisar quais os fatores que precisam ser vistos e todas as suas relações e mediações.
Precisamos ter um olhar mais apurado, alargando nossos horizontes, procurando aceitar, compreender e conhecer melhor a criança portadora de transtorno. Portanto, é importante a participação da família, como da escola na ajuda e valorização desse sujeito.
Os instrumentos utilizados para desenvolver esse trabalho será a pesquisa de campo: Estudo de caso acompanhando os cuidados de uma criança com TDAH e entrevista com pais e professores.
Ao trazermos mais informações acerca desse assunto, vai permitir um maior conhecimento para os pais e professores que estão lidando com essa criança. Os dados comprovam quando a escola e a família trabalham juntas, certamente haverá diminuição dos sintomas, favorecendo uma vida mais tranqüila e saudável para o individuo portador desse transtorno.
2. TDAH: Definição
O livro do neurologista Vicente José Assencio Ferreira (2005), “O que todo professor precisa saber sobre Neurologia”, traz este conceito: “Crianças hiperativas, são crianças agitadas, inquietas e com muitas dificuldades de estabelecer ordens e regras. Elas não conseguem ficar paradas para ouvir uma explicação. São também desatentas, impulsivas e com atividades motoras excessivas”. Afirma ainda, que a “hiperatividade” não é doença, e sim um sintoma que pode acompanhar tanto a criança com deficiência mental, autista, síndrome genética, como também crianças mal educadas e sem limites.
Assim, a criança que apresenta alguns sintomas citados acima, já começa a ser olhada de forma diferente. O sintoma exige nossa atenção e a intenção adequada é fazer desaparecer a causa, embora a maioria dos tratamentos vise à eliminação do sintoma, por exemplo: quando estamos com uma dor de cabeça, procuramos logo tomar um remédio para que ela desapareça imediatamente e quase não paramos para nos perguntarmos o que ocasionou essa dor.
A definição de Sintoma segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, Ed. Nova Fronteira 1986 é: Sintoma. S.M.1..Med. Qualquer fenômeno ou mudança provocada no organismo por uma doença, e que, descritos pelo paciente, auxiliam, em grau maior ou menor, a estabelecer um diagnostico. 2. Fig. Sinal, indício. 3. Presságio, pressentimento, agouro etc...
Isabel Parolin (2005) também fala do sintoma. Segundo ela, ao diagnosticar uma criança com TDAH, é preciso procurar saber qual o significado desses sintomas em sua família. Segundo a autora, o sintoma expressa o que não pode ser verbalizado, sendo a oportunidade para aquele grupo familiar entrar em equilíbrio. Entendemos que os sintomas permitam que todo o sistema familiar se dê conta que algo errado existe e precisa ser modificado.
Ao questionarmos sobre o que está por trás do sintoma, o nosso propósito é levar à reflexão. Sabemos o quanto os pais, irmãos, familiares ficam exaustos com o comportamento diferente dessa criança e na maioria das vezes acabam desenvolvendo alguns cuidados e proteção excessiva, interferindo e prejudicando ainda mais suas ações.
Quando dominamos bem o assunto que estamos pesquisando, temos mais condições de investigar a sintomatologia que uma criança está apresentando, daí a importância dos pais se informarem e serem conhecedores do assunto para poderem compreender esse filho e ajudá-lo na sua educação. A autora fala também da necessidade dos pais se auto-avaliarem, procurando em si mesmo algumas características, como a desatenção e a impulsividade, pois já é comprovado que esse distúrbio pode ter componente genético.
Conhecemos alguns casos de crianças hiperativas, filhas de pais que apresentam características semelhantes, no qual tanto a desatenção, como a impulsividade estão presentes, como também encontramos essas características em outros membros da família.
Ana Beatriz em seu livro Mentes Inquietas (2003 pág..53), fala dos três principais sintomas do TDAH, são eles: distração, impulsividade e hiperatividade. O grande instrumento do profissional é a observação. Esse observador, segundo a autora, deve estar atento a todas as informações da família, escola e pessoas que convivem com a criança. Todos esses fatos serão avaliados de forma criteriosa.
* As características descritas por Ana Beatriz no livro de referencia são:
1. Com freqüência mexe ou sacode os pés e mãos, se remexendo no assento, se levanta da carteira.
2. É facilmente distraída por estímulos externos.
3. Tem dificuldade de esperar sua vez em brincadeiras ou em situação de grupo.
4. Com freqüência dispara respostas para perguntas que ainda não foram completadas.
5. Tem dificuldade em seguir instruções e ordem.
6. Tem dificuldade em manter a atenção em tarefa ou mesmo atividades lúdicas.
7. Freqüentemente muda de uma atividade inacabada para outra.
8. Tem dificuldade em brincar em silencio ou tranqüilamente.
9. Às vezes, fala excessivamente.
10. Vive perdendo itens necessários para tarefas ou atividades escolares.
Para maiores esclarecimentos, voltamos a falar que algumas crianças podem estarem passando por algum sintoma de TDAH, como desatenção, comportamentos agitados e até mesmo dificuldades no seu rendimento escolar, em conseqüência de alguns problemas emocionais e não dar-nos conta do mesmo, sub valorizando tal comportamento.
Atualmente, em conseqüência dos pais estarem trabalhando fora, os filhos na grande maioria, ficam privados da presença deles e assume esse papel outra pessoa de confiança da família. Outro fato que deve ser levado em conta: A cada dia que passa aumenta o número de casais separados, conseqüentemente, os filhos sofrem a ausência dos pais, causando transtornos emocionais. Daí estar chamando à atenção no cuidado na investigação dessa criança.
Vicente José (2005) comenta algo de grande importância: “É inadmissível aceitar como diagnóstico da causa da dificuldade no aprendizado a “doença” denominada “hiperatividade”. É comum os pais procurarem o neuropediatra informando que: “meu filho tem o diagnóstico de hiperatividade” e na maioria das vezes é mais cômodo para os pais ter esse parecer, de que procurar saber o que está por trás do sintoma. Os pais precisam estar atentos para não se deixarem levar por informações que não estão fundamentadas, pois nem toda criança agitada é portadora de TDAH.
Izabel Parolin (2005), no seu livro Família, a Escola e a Aprendizagem aborda questões bem pertinentes, relacionadas à família e à escola. “A cultura delivery construiu um paradigma que prega que quem não é normal, deve ser ajustado, controlado, medicado para que se torne o que esperamos dele. Desse movimento social, surgem às dificuldades com a aprendizagem”. É comum ouvirmos algumas pessoas falarem dessa forma: “aquele menino não para, deve ser hiperativo”, afirmam isso sem estarem embasados em fundamentação teórica.
Seguindo o seu pensamento, precisamos nos dar conta “que cada sujeito é único, tem forma diferente e suas histórias de vida influenciam no seu desenvolvimento”. É importante saber a opinião de uma educadora que conhece tão bem a estrutura organizacional de uma família. Segundo a autora, a forma como o seu núcleo familiar entende aceita ou não aceita, age ou não reage, será determinante na leitura e no prognóstico da situação.
Na busca de soluções, todos esses envolvidos tentam de todas as formas, por meio de diversos tratamentos resolver o problema, mas não se dão conta que precisam rever também suas ações e posturas dentro do próprio lar. É comum surgirem conflitos e discussões por causa do problema da criança e ela acaba sendo o bode expiatório da família.
Portanto, a leitura dessa família é muito importante, pois permite que o profissional possa ajudá-la a superar os conflitos que estão lhe angustiando. Na maioria das vezes, alguns fatos são ocultados, histórias contraditórias são contadas e elas começam a desenvolver comportamentos agressivos, passando a fazerem parte daqueles alunos que são mal vistos e excluídos dos demais.
A caminhada é longa para os pais e na maioria das vezes sentem-se frustrados, pois aquele filho não corresponde às suas expectativas, olham para outras crianças da mesma idade e o sentimento de tristeza se torna presente. Daí a importância dos pais se informarem o suficiente, para poderem estabelecer uma boa relação com esse filho e se darem conta, que cada sujeito tem uma forma de aprender.
No relacionamento com os colegas, por ser desatenta, é comum ocorrerem situações constrangedoras para essa criança, passando a ser incompreendida pelos demais colegas, em virtude da dificuldade que tem em adequar-se às rotinas e não dar conta das tarefas exigidas pelo professor. Daí, a importância do professor ser inserido no processo de ajuda a essa criança, para poder integrá-la ao grupo, afirma Ana Beatriz ( 2005).
A hiperatividade é considerada um distúrbio biopsicossocial que atinge de 3% a 5% das crianças em idade escolar, de preferência meninos. Cresce a preocupação em relação aos cuidados e tratamentos a essas crianças, pois ainda existem pais que preferem aguardar que essa fase passe ou não, para a partir daí, ver qual é a forma mais eficaz de trabalhar essa criança, o que acaba sendo uma tamanha irresponsabilidade e descaso com o déficit da criança, podendo mais tarde, vir afetar a sua adolescência no que se refere à aprendizagem, como também nos relacionamentos.
Afirma Parolin (2005, pág. 87), “a psicopedagogia procura ver o aprendiz em seu processo de aprender e ensinar, levando em consideração a realidade objetiva e subjetiva e o contexto que a criança e o adolescente estão inseridos. Considera também, que o conhecimento em toda a sua complexibilidade em uma dinâmica, em que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais estão entrelaçados”.
Como é importante o processo de avaliação do comportamento de uma criança, pois nem todo aluno agitado, sem limite e desatencioso é hiperativo. Na maioria das vezes, quando é solucionada alguma questão familiar, o sintoma na criança desaparece. Mais uma vez é comprovado o quanto a força do vínculo familiar interfere nos processos familiares, em determinadas crianças.
Durante muito tempo ouviu-se essa frase: “sou burro e não dou para os estudos”. A rigidez em determinadas famílias em não aceitarem o seu filho como ele é, deixava marcas profundas na criança, pois alguns pais estavam sempre reprimindo ou castigando e a auto-estima da criança acabava sendo afetada. Esses são relatos que sempre ouvimos contar, isso ocorria por falta de informações na maioria das famílias.
Quando uma criança apresenta distúrbio de aprendizagem, isso interfere não apenas no trabalho escolar, mas em todos os aspectos da vida, em casa, na comunidade e em outras atividades. Os pais desempenham papel importante no auxilio a sua criança no trato com esses distúrbios e a criança vai precisar de muita compreensão, apoio e ajuda da família. Gostaríamos de salientar, que esses transtornos podem acompanhar o indivíduo até a fase adulta.
Como ajudar esse aluno? Tanto a família como os profissionais e a escola devem constantemente estar conversando a respeito de uma estratégia metodológica, que melhor se adapte a essa criança. Essas reuniões como diz Parolin (2005), devem definir bem o papel de cada uma das partes envolvidas e que haja coerência entre as diferentes propostas. Ao concluir sua fala, faz esse comentário: “entendo que uma família ou uma escola que tem uma criança com TDAH não tem um problema, mas uma situação para administrar. Porem se não for encarada com seriedade, competência e sensibilidade, aí sim, pode vir a tornar-se um transtorno em suas vidas”.
De tudo que foi comentado, ressaltamos a necessidade da família da criança que está desenvolvendo esses sintomas, procurar profissional especializado no apoio a esses tipos de transtornos. Faz-se necessário lembrar a existência de terapias alternativas auxiliares. Conhecemos casos de crianças atendidas na equoterapia, arte-terapia e musicoterapia que reagiram bem nesses tratamentos, melhorando seus comportamentos.
3. O papel da família
É na família que se estrutura o sujeito, iniciam-se as aprendizagens e que em todo processo avaliativo a sondagem mais importante é sobre as informações da vida desses individuos. Os fatos narrados vão ajudar a conhecer o perfil da criança e o contexto em que ela está inserida. Ao construir a história da família, conhecendo todos os membros desse núcleo familiar, fica mais fácil detectar de onde surgem às dificuldades de aprendizagem, afirma Mara M. Monteiro (2004), em seu livro Leitura e Escrita.
A leitura dessa família vai ajudar o profissional a entender e compreender essa criança. É na interação com os membros da família, que a criança vai estabelecendo os modelos e nesse convívio, vai observando os padrões que vão se cristalizando e enraizando ao longo do tempo.
Izabel Parolin (2005), ao falar do papel da família faz esse comentário: “Cada família tem suas crenças, seus medos, suas ideologias e seus objetivos e isso reflete no cotidiano do grupo familiar e que tudo está relacionado à história dos antepassados dos pais e se estende no dia a dia dos filhos”.
O que foi relatado por esses autores, vem confirmar que essa criança que está desenvolvendo esses sintomas traz padrões repetitivos do sistema familiar, exemplificando: há casos comprovados em que outros membros dessa família possuem características idênticas ao da criança que está passando por esse processo avaliativo de sondagem.
A terapia familiar sistêmica procura dar outro significado ao sintoma. Essa visão sistêmica como diz Parolin, ver o sujeito de forma não-linear, isso quer dizer, que os sintomas que se apresentam nem sempre são de causas aparentemente conhecidas.
Como a família lida com o sintoma? Nessa perspectiva de procurar compreender essa criança com TDAH, há algo que precisa ser entendido, os ciclos evolutivos. Todas as famílias passam por esses processos. Precisamos quebrar os paradigmas modificando as nossas crenças para podermos avançar. É necessário revermos nossas posturas a determinados acontecimentos, essa concepção de mundo que carregamos ao longo da nossa existência, na maioria das vezes nos atrapalha. É comum ouvirmos: “Pra que mudar se sempre deu certo dessa forma, essas inovações não vão ajudar em nada...”.
No inicio, falamos que o sintoma exige que prestemos atenção no que ele quer dizer, mas na maioria das vezes ele passa despercebido.
Quando os pais suspeitam que há algo errado com a criança, normalmente levam a vários especialistas até acharem um diagnóstico. Nesse percurso esquecem de comunicar a criança o que está lhe acontecendo, talvez isso ocorra porque querem poupar o seu filho, tentando encobrir as suas preocupações e nada é dito. Outro ponto que deve ser destacado: os irmãos dessa criança precisam estar cientes, pois eles também fazem parte da família.
Quando um membro da família sofre, cada um da família sente a dor e demonstra de várias formas. Às vezes acontece que um dos irmãos demonstra reações de indiferença, sentindo vergonha do comportamento do irmão, daí a necessidade de se prestar atenção nesses irmãos, explicando o que estar acontecendo com a criança, para que possam compreender as reações e comportamento do irmão. Daí estar mostrando o quanto o papel da família é fundamental para o desenvolvimento integral dessa criança.
Os pais desempenham papel muito importante no auxílio à sua criança, portanto devem procurar se informar e conhecer tudo a respeito da problemática dos seus filhos, para poderem advogar a causa deles, mas também precisam cuidar de si, ficando atentos às necessidades de outros membros da família. A família estando bem beneficiará a criança.
Ter um filho com TDAH afeta sentimentos e a maioria dos pais não estão preparados para essa situação. A relação do casal sofre abalos, sendo comum ficarem angustiados, com sentimentos de raiva, impotência, culpa, vergonha, tudo isso ao mesmo tempo, como também há casos em que os pais se separam por não saberem lidar com a situação. Entendemos que são reações normais e além de serem mães e pais são também seres humanos.
O livro “Quem Ama não Adoece” do Doutor Marcos Aurélio Dias da Silva (2000), no capitulo que fala das relações de amor com os filhos, (pág. 292) traz este comentário: “A construção de um mundo melhor passa necessariamente pelo aprimoramento das relações entre pais e filhos”. Mais adiante comenta: “A psicanálise nos ensina que todas as formas de doença mental e comportamento anti-social se derivam, direta ou indiretamente de dificuldades nos relacionamentos entre pais e filhos”. Comentando esse pensamento, nos damos conta de quanto é importante um bom relacionamento entre pais e filhos para evitar problemas dessa ordem.
Ao abordamos a psicanálise, queremos mostrar a importância dos pais também passarem por um processo analítico, pois é fato comprovado que os filhos são reflexos da mente dos pais. Há uma imensa variedade de abordagens terapêuticas e cada família deve procurar aquela que mais se identifica. Ao realizarem um trabalho terapêutico, estão aprendendo a lidar com suas emoções, como também entendendo os processos que seus filhos estão vivenciando, aceitando-os com realmente são.
Queremos dizer aos pais, que a criança que necessita de compreensão está nos ensinando algo. Ela é muito especial, encantadora e freqüentemente são muito inteligentes. Nos Estados unidos elas são conhecidas como Crianças Índigos. “São aquelas crianças que apresentam um conjunto de características psicológicas incomuns e um padrão de comportamento ainda não classificado pela ciência. Esse tipo de comportamento faz com que todos os que interagem com ela (principalmente os seus pais) tenham de se adaptar a circunstâncias diferentes e a um tipo especifico de criação”.
4. Escola, um espaço prazeroso...
Quando os pais escolhem esse espaço para ajudar na educação dos seus filhos procuram sempre um lugar que satisfaça às suas expectativas, para continuarem a passarem os seus valores, como também a escolha do método que eles acreditam. É na escola que o individuo complementa a sua educação e nesse espaço prazeroso o sujeito vai a busca de novas formas de conhecimento, que já foi iniciado no ambiente familiar.
É importante que os educadores estejam bem informados para poder posicionar-se a respeito de seu aluno, estando atentos para identificar e encaminhar para tratamento multidisciplinar a criança que está desenvolvendo algum sintoma. A vivencia da criança na escola torna-se bastante complicada na medida em que seus professores desconhecem o que está por trás dessa mudança de comportamento.
Ana Rita (1999, p. 104) em seu livro A emoção na sala de aula, ao falar da relação professor-aluno, traz esse comentário: “A criança é fortemente influenciada pelo tipo de relação que mantém com cada componente de sua constelação familiar, daí a importância, para o desenvolvimento psíquico da criança, dos papéis que cada um representa e das relações que cada um estabelece com ela”. Segundo ela, tanto a escola como a família tem o seu papel no desenvolvimento infantil desta criança.
Como a escola compreende e lida com esse aluno? Segundo Parolin (2005), é importante analisar como os professores lidam com as diferentes formas de ser, de aprender e as diversas formas das crianças se expressarem e também, como enriquecer seus currículos, seus grupos de sala de aula e a si mesmo, a partir do entendimento e do convívio com as diferenças individuais. É necessário que os professores procurem alternativas para ajudar a criança a enfrentar as dificuldades, criando alternativas de auto-avaliação, ou seja, esses conhecimentos possibilitarão uma compreensão mais cuidadosa e dedicada sobre o comportamento dos seus alunos hiperativos.
É importante falarmos um pouco da inclusão de alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais. Salientamos a importância da contribuição do professor na Inclusão desses alunos no contexto da escola, pois dele depende a integração desses alunos com os demais. Sabemos de casos em que a escola matricula esses alunos, somente porque existe uma lei que obriga, entretanto não dedicam atenção especial a eles. Nos casos de crianças com déficit de atenção, alguns professores costumam dizer que eles não aprendem, acham que são deficientes mentais e que devem ser encaminhados para as escolas especializadas. Daí a importância do professor conhecer um pouco sobre neurologia, como afirma Vicente José (2005 ).
Alguns alunos demoram muito na fase de adaptação quando chegam à escola, e alguns desses casos têm a ver com a sintomatologia que a criança apresenta, pois cada caso responde de uma forma diferente. Relataremos um deles: A criança não ficava em ambiente com portas fechadas e para os pais deixava a impressão que a criança se sentia numa prisão, e quando isso ocorria ela chorava o tempo todo. A solução dada pela profissional que tratava do caso foi deixá-la no parque da escola, permanecendo a sala com a porta aberta. A criança ficava a maior parte do tempo no parque. A mãe ficava por perto. De vez em quando a criança entrava na sala, ficava por algum tempo e depois saia. A presença da mãe na escola dava-lhe segurança. Depois de vários meses, consegui-se sua adaptação na turma e aos poucos foi interagindo com os demais colegas.
É comum algumas crianças passarem por essas dificuldades. Para Vicente José (2005), isso ocorre em conseqüência dos pais não estarem totalmente seguros e confiantes em deixar sua criança afastada deles, principalmente a mãe. Segundo o autor, eles podem estar sendo os “agentes” desencadeadores do medo. Interpretando essa fala, a nível inconsciente a criança percebe toda essa insegurança, daí haver uma demora no processo de adaptação na escola.
Conforme Ana Beatriz (2005), é importante que o educador conheça bastante sobre a patologia dessa criança, para poder ajudá-la na sua integração com os demais colegas. Como na maioria das vezes elas são desatentas e não costumam ouvir as orientações, sofrem isolamentos e são muito criticadas. A escola precisa conhecer esse aluno como um todo (emoção, sentimento, limites, medos, vontade e necessidades).
O papel do professor é muito importante, pois é ele quem vai estabelecer um vinculo entre a escola e a criança. Quando há um bom entrosamento entre a criança e o professor, os pais ficam tranqüilos, pois estão confiando o seu filho a essa pessoa, como também à escola. Para Vicente José (2005), o professor é a “ponte de ligação do mundo particular da criança para o mundo da coletividade” (pág 80).
A humanidade passa por grandes transformações, a escola como parte desse todo precisa rever algumas posturas que ao longo do tempo foram sendo incorporadas. Portanto, há necessidade de levarmos para a sala de aula uma educação pautada em valores humanos, uma educação integral, na qual haja a valorização do ser humano em todos os aspectos.
Maribel Barreto (2005), no seu livro O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação, faz esse comentário: “Quando falamos de educação, devemos lembrar que ela pressupõe um movimento de dentro para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a necessidade de investirmos nas nossas potencialidades.” Comentando a sua fala, esse educador precisa despertar em si o desejo de se autoconhecer e através do “conhecer a si mesmo” passa a compreender a vida, ficando mais fácil ajudar a “criança que necessita de compreensão”.
A concepção de mundo desse educador interfere nessa relação. Esse professor precisa ter boa vontade, carinho, para que esse vínculo se estabeleça da melhor maneira possível. A escola é também um sistema e está interligado à família. Portanto, essa parceria escola – família deve atuar juntas, para promover na criança sua autonomia, valorizando suas capacidades e com amor, que é o elemento primordial nas relações, é possível realizar um trabalho produtivo com a criança que apresenta esse transtorno denominado de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
A família e a escola formam um sistema, uma rede que precisa promover um trabalho em conjunto que contemple o individuo, não isoladamente, mas com todos que estão inseridos no contexto. Dentro dessa abordagem, um terapeuta alemão Bert Hellinger desenvolveu uma terapia chamada Constelação Familiar, que tem obtido inúmeros sucessos em várias partes do mundo.
Na Alemanha, crianças com esses transtornos vêm sendo trabalhadas com essa abordagem com bastante resultado, ajudando os professores a entenderem as dinâmicas das famílias. O livro “Você é um de Nós” já publicado no Brasil foi escrito por uma terapeuta e professora Marianne Franke-Gricksch, vem confirmar a força do vinculo à família de origem. A autora, através da aplicação da abordagem “sistêmica” da terapia familiar dentro da rotina diária de uma escola, encontrou soluções para problemas vivenciados pelos professores, como dificuldades de aprendizagens, conflitos entre eles ou entre eles e professores e comportamentos agressivos. Aqui no Brasil alguns profissionais já estão trabalhando em seus consultórios com esse enfoque.
Ao trazermos essas informações, queremos mostrar como é importante a atuação da escola no encaminhamento para solucionar os problemas.
5. A criança
“Quando observamos os sentimentos infantis somente através do estreito olhar do adulto, não conseguimos traduzir as suas mensagens”, Marcos Meira, Educação Infantil no tempo presente (2002).
Estamos sempre em processo de mudanças e na maioria das vezes não percebemos as sinalizações que as crianças estão nos passando e por estarmos “fechados” não conseguimos detectar as “mensagens” que elas querem transmitir. Essas crianças tão espontâneas nas suas atitudes, não são compreendidas, sendo rotuladas como preguiçosas, esquecidas, agitadas, como se estivessem no “mundo da lua”.
Quem é essa criança que se apresenta com um olhar tão assustado? O que ela quer nos dizer? Porque é tão difícil encararmos o que está por trás do sintoma?
Pais, familiares e a escola precisam compreender os diversos aspectos do desenvolvimento infantil para entenderem as suas crianças. Essas crianças são muito inteligentes e criativas e ao lidarmos com elas, percebemos o quanto são amorosas e os determinados “comportamentos” apresentados por elas, não os fazem diferentes das demais.
Relataremos uma das muitas histórias que conhecemos sobre essas crianças ditas “diferentes”: Certa vez perguntou a sua mãe: “Como vamos para o céu?” Logo em seguida respondeu: “Crescendo as pernas”. Como é surpreendente a reação frente aos problemas naturais da vida humana! Outro caso relatado por outra mãe: “Quando crescer vou trabalhar e vou comprar uma casa bem grande com piscina, e só quem vai morar nesta casa é a minha mãe, a minha princesa”. Realmente, estas crianças são fantásticas!
A criança está sempre num processo de criação. A música “Aquarela” de Toquinho expressa muito bem quem é esse ser, nas suas potencialidades. “Numa folha de papel qualquer eu desenho um sol amarelo e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo... Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul de papel, num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu”...
Essa composição demonstra o quanto é capaz uma criança. Na sua linda imaginação, vai construindo o seu mundo e às vezes “esse mundo” não é compreendido pela família, sociedade e terminam quebrando essa fase de encantamento. Ela se retrai, não expressando mais os seus sentimentos.
A criança que necessita de compreensão está aqui em nossa frente. Seu olhar é um pedido de socorro. É preciso refletir: seja qual for a situação que a criança esteja vivenciando, tanto a família como a escola precisam se unir, procurando uma solução para ajudar essa criança a se libertar dos estigmas, dos rótulos que lhe são atribuídos. Pais e professores precisam estar bem informados sobre o TDAH. Os tratamentos nessa área estão bem adiantados, permitindo que essas crianças tenham uma vida saudável e que seus pais possam ficar mais tranqüilos e sem culpa.
“Tudo na vida tem o seu tempo, o que significa, naturalmente, perceber que também é necessário tempo para ser criança, tempo para aprender a assumir as responsabilidades e, acima de tudo, o tempo que leva uma educação”, como afirma Marcos Meira em seu livro, Educação Infantil no Tempo Presente.
6. Primeira entrevista:
Idade da criança: 13 anos. 2ª série. Escola pública.
Diagnóstico dado pela equipe: Transtorno de Déficit de Atenção.
1 - Em algum momento vocês notaram mudanças no comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Sim. Porque ficava comparando com seu irmão mais velho. Ficava me questionando a mim mesma.
2 – Notaram ou sentiram algumas alterações ou mudanças de comportamento da criança no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas?
Sim. Porque achava estranho o comportamento dele em relação aos professores, pois ficava beijando toda hora e eles reclamavam e perguntavam por que ele se comportava daquela maneira.
3 - A criança manifestou para os familiares ou pessoas mais intimas algum sonho ou sonhos, no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas? (Sonhos tipo pesadelos).
Não.
4 - Houve algum problema sério com familiares da criança como morte, separação, perda de emprego, etc.
Sim. Houve separação, pois viajei para outro estado, ficando ele com a avó. Nesse período o pai também perdeu o emprego.
5 – A criança já apresentou anteriormente sintoma semelhante, ou mesmo de outra modalidade?
Sim. Pois costumava ficar aéreo, meio desligado. Na escola, a professora dizia que ele não aprendia e nos orientou a procurar uma escola especializada.
6 - Vocês tiveram a preocupação em pesquisar se na família existiam alguns casos, parecidos com o que está acontecendo com o seu filho?
Sim. Porque quando era pequeno tinha convulsão e havia um tio avô por parte do pai que também tinha convulsão. Também o meu irmão nasceu com síndrome de down.
7 - Já passaram por essa situação, como: Isso é de família, ele age assim desde pequeno, isso é uma fase, depois passa...
Não dessa forma, mas, lembro que minha mãe costumava dizer: “ um dia você vai ter um filho e alguém vai lhe dizer que seu filho é maluco, para você sentir na pele”. Ela falava isso porque, quem tomava conta dele quando ela ia trabalhar era eu. Tinha apenas oito anos e às vezes eu queria brincar com outras meninas, colocava ele para dormir e saia para rua. O meu irmão acordava, caia da cama e se machucava. Quando ela chegava que via ele sozinho e chorando, ela me batia e me agredia com palavras.
8 - Já se perguntaram: por que está acontecendo com o meu filho esses comportamentos...
Sim, porque aquelas palavras que ela me disse quando era criança, ficaram na minha mente e quando vi o meu filho com esses comportamentos achava que era castigo. Ficava me questionando: “Será que isto está acontecendo é porque não cuidei tão bem dele, do meu irmão...”
9 - Que atendimentos médicos, psicológicos, etc, têm feito a criança?
Logo no inicio quando apresentou aqueles comportamentos de abraçar e beijar as professoras, a professora não gostava dele, achava que ele era muito bobo. Ele entrou na escola pública com 7 anos. Hoje está sendo acompanhado por uma neurologista, uma Psicóloga, uma fonoaudióloga. Tem melhorado bastante na escola, já consegue prestar atenção nas aulas e nas atividades que são realizadas, tanto na escola, como na clinica. Recentemente ganhou uma medalha do melhor aluno da escola em comportamento.
Fiz esta outra pergunta: Como é o dia a dia de seu filho?
Hoje ele já tem um comportamento bem melhor devido os tratamentos que vem fazendo. Em casa ele é nota mil, porque não dar trabalho algum e está sempre procurando ajudar de todas as maneiras. Se estou lavando roupa, ele quer ajudar, enfim, tudo que estou fazendo ele quer me ajudar.
Fiz mais uma intervenção: A partir de quando vocês notaram a melhora dele?
Quando iniciou o tratamento com a médica começou a tomar remédio, e depois com os tratamentos dos outros profissionais. Na escola senti a mudança quando entrou outra professora e se interessou mais por ele, à escola está mais presente e mais aberta e tem procurado ajudá-lo a vencer as dificuldades. Em casa os irmãos também estão sempre ajudando. Tenho consciência, que a partir do momento que eu e meu marido paramos mais de brigar, ele melhorou bastante. Antes quando a gente brigava, ele chegava na escola brigando e batendo nos colegas. Quando acontecia isso, a professora mandava um bilhete perguntando porque ele estava agindo dessa maneira. Lá na clínica também é feito um grupo de estudo para as mães e agora estou mais tranqüila.
7. Segunda entrevista:
Idade da criança: 9 anos. 3ª série. Escola particular.
Diagnóstico dado pela equipe: Transtorno de Déficit de Atenção
1 - Em algum momento vocês notaram mudanças no comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Sim, sempre notei que meu filho era uma criança muito agitada, inquieta e ansiosa, e que mesmo dormindo apresentava-se agitado. Achava que fosse uma fase e que iria passar, porém, quando ele começou cursar a alfabetização que os sintomas se acentuaram percebi que havia algo errado e que ia precisar de ajuda para entender o que estava acontecendo. Busquei um tratamento espiritual e logo depois um tratamento com um psicoterapeuta para nós dois (mãe e filho). Um dia por acaso conversando com uma amiga sobre criança hiperativa ela me falou de um livro chamado no Mundo da Lua, resolvi comprar e ler, foi quando percebi que o comportamento dele era muito parecido com os relatos no livro sobre crianças com TDAH. Conversei com a psicóloga que já havia percebido e estava aguardando um melhor momento para conversar comigo e encaminhá-lo para um neurologista. Quando levei ao médico o diagnóstico apresentado foi TDAH, porém no grau leve.
2 - Notaram ou sentiram algumas alterações ou mudanças de comportamento da criança no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas?
Sim, agitação, e outra característica forte é o esquecimento, perde material escolar (desligado).
3 – A criança manifestou para os familiares ou pessoas mais íntimas algum sonho, ou sonhos, no
período que antecedeu o aparecimento dos sintomas? (sonhos tipo pesadelos ).
Sim, ele relatava que tinha pesadelos com sombras e monstros e ia dormir na nossa cama porque tinha medo.
4 – Houve algum problema sério com familiares da criança, como morte, separação, perda de
emprego, etc ?
Não, houve a morte da avó paterna quando ele tinha 2 anos, porém não observei mudança de comportamento em função dessa morte, porque ele era muito pequeno e não tinha uma relação muito próxima com essa avó. Ela morava no interior e tinha problema de depressão.
5 - A criança já apresentou anteriormente sintoma semelhante, ou mesmo de outra modalidade?
Sim, quando bebê ele teve refluxo o que contribuiu para deixá-lo mais agitado e por volta dos 4 anos ele tinha medo de escuro, muitos pesadelos e ia toda noite para minha cama e finalmente aos 7 anos apresentou gastrite.
6 - Vocês tiveram a preocupação em pesquisar se na família existiam alguns casos, parecidos com o que está acontecendo com seu filho?
Sim, depois que li o livro no Mundo da Lua e respondi alguns questionários da neurologista percebi que o pai tem comportamento parecido com o do meu filho e que alguns irmãos do pai (tios) também têm.
7 - Já passaram por essa situação, como: Isso é de família, ele age assim desde pequeno, isso é uma fase, depois passa...
Sim, já escutei isso do pai, dos familiares do pai e de amigos. Isso é coisa de criança, todo menino é danado, depois passa.
8- Já se perguntaram porque está acontecendo com o seu filho esses comportamentos...
Sim, antes de conhecer os sintomas, pensava, porque logo com meu filho?, justo eu que sou uma pessoa organizada e perfeccionista e gosto de tudo certo e no lugar. Porém, depois de muita leitura, ajuda espiritual e de profissionais especializados, percebi que precisava fazer concessões, ser mais flexível e educá-lo com muito amor. Foi muito bom porque buscando alternativas para melhorar a vida dele terminei descobrindo que eu também estava melhorando a minha vida, como ser humano,como mãe e como esposa e até mesmo como filha.
9- Que atendimentos médicos, psicológicos, etc, têm feito a criança?
Hoje ele está bem, recentemente foi dispensado da terapia e estamos observando o comportamento dele. Ele tem uma rotina estabelecida para facilitar o seu dia a dia e deixá-lo mais tranqüilo. A psicóloga achou que a nossa conduta enquanto pais era muito boa e que o acompanhamento que a família tinha com ele era excelente, por isso é que resolveu dispensá-lo e deixar sobre observação dos pais e no caso de uma alteração no comportamento retornar.
8. Terceira entrevista:
Idade da criança: 8 anos. 1ª série - Escola pública.
Apresenta sintoma de TDAH na visão da professora.
Perguntas Direcionadas aos pais:
1 – Em algum momento vocês notaram mudanças no comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Eu sempre achei normal o comportamento dele. Para mim tudo era coisa de criança. Meu irmão que vivia me dizendo que ele não era igual às outras crianças da idade dele. Ele sempre falava assim: “esse menino não é normal, parece que é até maluco”.
2 – Notaram ou sentiram algumas alterações ou mudanças de comportamento da criança e se preocuparam em saber as causas prováveis desses sintomas?
Nunca parei para observar essas coisas, achava tudo normal, só me dei conta mesmo do problema no dia que meu irmão mandou que levasse ele no médico e ao chegar na escola à professora dele me chamou para conversar sobre o comportamento dele e me fez a mesma recomendação. Foi aí que passei a observar melhor seus comportamentos e buscar ajudar mais ele, querendo entender porque ele era “diferente” dos outros colegas.
3 – A criança manifestou para os familiares ou pessoas mais íntimas algum sonho ou sonhos, no período que antecedeu o aparecimento dos sintomas? (sonhos tipo pesadelos).
Meu filho sempre tem sonhos agitados, mas acho natural. Toda pessoa sonha e tem pesadelos e não acho que seja por causa do seu problema.
4 – Houve algum problema sério com familiares da criança como morte, separação, perda de emprego, etc,?
Moramos só ele e eu, porque o pai dele um dia saiu para comprar alguma coisa e não voltou mais, até a sua família diz não saber onde ele está, mais eu não acredito muito nisso, e sei que isso deixa o meu filho muito triste e magoado. Toda vez que alguém pergunta pelo pai ele diz que sou eu. Antes morávamos com minha família, mas comecei a achar que ninguém tem paciência com ele e também não me dão força para ajudá-lo, aí resolvi morar só com ele.
5 – A criança já apresentou anteriormente sintoma semelhante ou mesmo de outra modalidade?
Sempre achei ele um pouco agressivo, toda vez que se irritava batia. Hoje já não acho que bata tanto assim, acho que seus colegas é que batem toda hora nele pela coisas que ele faz e acaba deixando seus coleginhas aborrecidos.
6 – Vocês tiveram a preocupação em pesquisar se na família existiam alguns casos, parecidos com o que está acontecendo com o seu filho?
Não tenho muito conhecimento sobre o assunto. Só agora é que estou ouvindo falar sobre ele mas, ele tem um outro tio que tem um comportamento bastante parecido com o dele. Algumas pessoas chegam a perguntar se é o pai dele.
7- Já passaram por essa situação, como: Isso é de família, ele age assim desde pequeno, isso é uma fase, depois passa...
Tanto já passei, como já disse essas coisas muitas vezes, pois na verdade achava coisa de criança, só que cada vez mais sinto que ele está agitado.
8 – Já se perguntaram: porque está acontecendo com o meu filho esses comportamentos?
Eu já me perguntei muito. E sofro com isso. Penso também nele crescer assim e ter mais problemas ainda, sofro quando vejo os colegas se afastarem dele e até a própria família.
9 – Que atendimentos médicos, psicológicos e outros, tem feito a criança?
Ele ainda não recebe nenhum atendimento especializado, porque só a pouco tempo que vim me dar conta da real situação dele e estou procurando ajuda, já que não tenho condições de pagar esses tratamentos, mas, quero muito ajudá-lo, porque amo muito meu filho.
Outra pergunta no decorrer da entrevista: Como é a relação dele com os colegas?
É bastante complicado para ele participar das brincadeiras, os coleginhas não querem deixar. Logo chora, briga e acaba ficando irritado e algumas mães também não querem que seus filhos brinquem com ele, dizem que ele é maluco. Nunca levam ele a sério e tudo que ele diz todos riem e começam a fazer brincadeira que deixa ele chateado, sem falar nos apelidos que são muitos.
9. Entrevistas direcionadas aos professores:
1 - Como você lida com uma criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na sua sala de aula?
Acredito que para determinada situação faz-se necessário uma capacitação ou um preparo específico para tal prática, sendo assim, por não ter este preparo, o primeiro passo é muita calma para trabalhar com esta criança, percebendo os seus interesses e assim desenvolver atividades.
2 - Como é o ambiente em sala de aula? O material utilizado é adequado e interessante para todos os alunos?
Apesar da sala ter um espaço confortável, limpo e agradável, não tem muitos materiais e o pouco que tem não é interessante para todos os alunos mesmo sendo adequado para a sua idade.
2 - Se alguns alunos têm dificuldades para entender a matéria, você adapta ou modifica para que todos entendam? No caso do TDAH o que você faz?
As explicações para serem necessárias fazem parte das atividades, mas as crianças sempre desviam a utilização para a sua forma.
3 - Crianças que não prestam atenção as aulas são colocadas em locais diferentes, longe dos objetos que as faz distrair?
De certa forma sim, pois quando deixo perto das demais crianças, acaba se distraindo.
4 - O que você pode fazer dentro do sistema atual para ajudar um aluno que tem TDAH?
Acompanhá-lo para um especialista, aprimorando formas de desenvolver diversas atividades e de forma prazerosa tanto para ele como para todos os outros que estão na sala.
5 - O currículo é flexível e varia de uma aula para outra de acordo com o interesse dos alunos?
Sim, sempre que planejo, acabo alterando ou retirando atividades e fazendo algumas adaptações conforme o processo de desenvolvimento da turma.
6 - Os professores têm autonomia para decidir como agir em relação aos alunos?
Nem sempre, pois não são todos os pais que aceitam determinadas ações.
7 - Como acha que a família pode contribuir no aprendizado do aluno com TDAH?
Levando o mais rápido possível para um psicólogo, e principalmente diretamente de todas as ações da escola e de seus médicos.
Outra pergunta foi feita em relação ao rendimento escolar da criança.
Para mim é muito difícil trabalhar com ele, às vezes perco a paciência e acabo agindo de forma incorreta. Sei que ele tem suas limitações e por isso não consegue acompanhar seus colegas, sei também que tenho culpa nessa situação; na verdade ele está bem distante. Tenho tentado de várias formas mudar esse quadro e às vezes me sinto incapaz por não está conseguindo e vivo me perguntando onde estou errando.
10. Análise das entrevistas com as mães
Analisando as respostas das mães entrevistadas, verificamos em cada uma delas a ocasião que constataram que seus filhos desenvolviam alguns sintomas e a atitude tomada por elas em ajudar seus filhos. Constatamos também, o quanto elas procuravam respostas, uma explicação para o que estava acontecendo.
Em outra característica observada, as três mães relatam que outros membros da família apresentam comportamento parecido, vindo a confirmar o que os autores citados anteriormente, falaram: “Na maioria dos casos há um componente genético e o que a terapia sistêmica fala, também é comprovado”.
No relato da primeira mãe, percebe-se muito bem o vínculo forte da família exercendo influencia na mãe, na crença de que seu filho desenvolvia esse comportamento por “castigo”, originado nas palavras fortes da sua genitora, quando ela ainda tinha oito anos. Izabel Parolin (2005), afirma que cada família tem suas crenças, seus medos, e isso reflete no cotidiano do grupo familiar.
A psicanálise também afirma “A construção de um mundo melhor passa necessariamente pelo aprimoramento das relações entre pais e filhos” (Marcos Aurélio Dias da Silva (2000) em seu livro “ Quem ama não adoece”).
No terceiro caso, a professora da escola é que, verificando o comportamento diferente da criança, orientou à mãe para procurar um médico. Essa mãe relatou de que somente a partir daí, é que ela se deu conta que havia algo estranho com o seu filho. Nos sintomas descritos no desenvolvimento do nosso artigo, falamos que algumas crianças podem estar tendo alguns sintomas de TDAH, e até mesmo tendo dificuldades no seu rendimento escolar, em conseqüência de estarem passando por alguns problemas emocionais. No caso desta criança houve um abandono do pai, como também o afastamento de outros membros da família, pois relata que resolveu morar sozinha com seu filho, mas somente uma equipe multidisciplinar poderá dar o diagnóstico correto.
As entrevistas mobilizaram bastante as mães, principalmente a primeira e a terceira. Notamos na segunda entrevista, uma postura mais esclarecedora da mãe, pois relata que percebeu desde cedo que a criança precisava de ajuda, a partir do momento que começou a ter refluxo e por volta dos quatro anos tinha pesadelo e medo de escuro. Em relação à terceira pergunta, que se refere ao aparecimento de sonhos com pesadelos, no período que antecedeu ao surgimento dos problemas, vem confirmar que os pesadelos e sonhos agitados eram sintomas que a criança estava demonstrando, talvez por ser a mãe mais esclarecida, procurou ajuda tanto em tratamentos espirituais por causa da sua crença, como também começou a fazer análise na abordagem Junguiana.
A terceira mãe agora mais conscientizada, já começa a se dar conta que seu filho precisa de ajuda. A sua fala já é um “pedido de socorro”, diz que a sua família não procura ajudá-la e que se preocupa com o seu futuro, quando ele ficar adulto. Novamente volto o meu foco para a escola. É preciso que a instituição pública tome determinadas atitudes nestes casos, conhecendo lugares onde realizam esses atendimentos para poder enviar a família a buscar ajuda e orientação. Nas instituições particulares já tomam determinadas providencias nessas situações.
11. Análise das entrevistas dos professores
Como é importante a relação do aluno com professor, dele depende também o sucesso do aprendizado do aluno. Essa relação “professor-aluno”precisa ser olhada com muito carinho para podermos entender qual o lugar dele e sua liderança na escola, na comunidade e na sala de aula, como afirma Elizabety Polity (2003) em seu livro Ensinando a Ensinar.
A autora citada fala da importância de uma educação com afeto. Para ela, esse vínculo afetivo é à base de uma estruturação das relações nas questões que se referem às aprendizagens. Ao trazermos essa abordagem, faremos um comentário sobre a fala da mãe na primeira entrevista, ao se referir que a primeira professora costumava dizer que seu filho não aprendia e somente houve um grande progresso, quando iniciou o seu tratamento e mudança de professor. Segundo ela, essa professora se interessou mais por seu filho e ao receber uma medalha de melhor aluno em comportamento na escola, vem comprovar o quanto é importante essa aproximação entre escola e família, principalmente a relação professor-aluno, como afirma também os outros autores citados no artigo. A entrevista desta professora até o presente momento não chegou às nossas mãos, ela ficou de responder em casa e depois nos enviar. A escola nos falou que por motivos pessoais ela se afastou temporariamente da escola.
A professora do segundo aluno não quis responder o questionário alegando falta de tempo. Sabemos que o processo de autoconhecimento não se dá de uma hora para outra. Às vezes, “embutido” numa desculpa pode estar escondido uma resistência nossa. Com esse comentário não estamos afirmando que a professora está com resistência, mas para entendermos o papel do professor precisamos entender como se dá o processo de ensinar.
Conforme Polity (2003), precisamos despertar em nós o desejo de autorizarmos a ensinar. Essa autoridade interna, segundo ela, está ligada a uma “capacidade que outorga ao sujeito, a permissão para no sentir / fazer, poder desempenhar satisfatoriamente aquelas coisas advindas do seu desejo interno”. Portanto, comentando essa fala, nos damos conta que o professor precisa gostar do que faz para poder desenvolver bem a sua prática pedagógica. Como é importante para o professor procurar investir no seu autoconhecimento. Maribel Barreto (2005) em seu livro O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação, fala que “a educação é um movimento que acontece de dentro para fora, mais precisamente no gênero humano. Daí a necessidade de investirmos em nossas potencialidades internas”, isso vem confirmar o que Polity (2003), comenta em seu livro, da importância do professor “autorizar-se a ensinar”.
A terceira professora foi muito atenciosa, percebe-se o seu interesse em querer ajudá-lo e se preocupa com a sua aprendizagem, mas às vezes sente-se culpada e impotente por não conseguir resultados satisfatórios em relação ao restante da turma, trazendo alguns questionamentos: “Quem é o culpado? A escola, a família ou a criança”?
Conforme Polity (2003), “é preciso que o professor conheça um pouco do desenvolvimento psíquico da criança à luz da psicanálise e quais suas implicações no processo de aprendizagem, como também que se pense o papel do professor à luz desses conceitos”. Comentando essa fala, é importante que seja abordado nos cursos de formação de professores a disciplina Psicanálise e a Educação, dessa forma o professor terá mais condição de conhecer o seu aluno e os aspectos do desenvolvimento cognitivo da criança, para não acontecer o que esta professora nos relatou, a sua “incapacidade, se sentido culpada”.
12. Configurações finais
A busca do autoconhecimento é fator preponderante para entendermos as situações vivenciadas pelo indivíduo no contexto onde ele está inserido, inclusive as “crianças que necessitam de compreensão”, que é o titulo deste artigo.
Durante todo o desenvolvimento deste estudo, ficamos nos questionando qual seria a melhor forma de abordar essas questões, para os pais que vivenciam essa problemática com os seus filhos que apresentam dificuldades de aprendizagens, ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Ao introduzirmos como uma das palavras-chaves o sintoma, o nosso objetivo foi questionar, chamar à atenção, refletir sobre o significado que ele quer transmitir e que na maioria das vezes não prestamos muita atenção e não damos a devida importância, deixando ele passar despercebido.
O que precisa ser observado nesses comportamentos que a criança está desenvolvendo, é que nem todo sintoma apresentado pode estar querendo dizer que a criança tem dificuldades de aprendizagens, outros fatores pode estar desencadeando, em virtude da família estar passando por algumas crises. Ao nos referirmos ao autoconhecimento, queremos mostrar o quanto é necessário, tanto para as famílias como também para os professores, terem informações que possibilitem ajudar e compreender os sintomas que a criança apresenta.
Precisamos olhar a família como um todo e não somente a criança isoladamente. Sabemos que a família é uma rede de conexão e que as partes estão interligadas ao todo, daí a importância do estudo da família para compreender o grupo onde ela está inserida.
Portanto, quando os pais procuram uma ajuda terapêutica para o seu filho, com certeza vai ajudá-lo a melhorar seu desenvolvimento tanto pessoal como social e tanto a família como a escola, têm papel fundamental na ajuda a esta criança.
Ao analisarmos as entrevistas com as mães e professores, constatamos que, quando a família está conscientizada da situação, aceitando e compreendendo, surgem alternativas para melhorar a qualidade de vida dela e de toda a família. Em relação à escola, podemos perceber o quanto o professor pode ajudar esse aluno. “Ele precisa estar mobilizado no desejo de querer ajudá-lo, e esse “querer” precisa ser despertado internamente, uma permissão para no “sentir / fazer” poder desempenhar satisfatoriamente aquelas coisas advindas do seu desejo interno”, como afirma Elizabeth Polity (2003) em seu livro Ensinando a Ensinar.
Queremos também mostrar a importância da comunicação entre pais, escola e profissionais para ajudar a criança a superar as suas dificuldades e que a mensagem transmitida pelo sintoma seja compreendida por todos.
A criança que necessita de compreensão está nos falando algo, na sua “linguagem simbólica” ela vem nos mostrar o quanto o vínculo é forte e atuante nas relações familiares e que há necessidades urgentes em serem demolidas as “crenças” que tanto influenciam a família e a escola. A teoria sistêmica tanto no âmbito da família, como na instituição escolar, tem trazido grandes contribuições nos estudos da criança com distúrbio de aprendizagem. O estudo da família tem uma grande importância na compreensão do sintoma e, se incluirmos a visão sistêmica nesse estudo, como também a psicanálise e outras abordagens terapêuticas, a criança com certeza será olhada de outras formas.

13. Referências bibliográficas
* ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. Campinas, SP: Papirus , 1999. ( coleção papirus educação).
* ASSENCIO Ferreira, Vicente José. O que todo professor precisa saber sobre neurologia. São José dos Campos: Pulso; 2005.
* BARRETO, Maribel Oliveira. O papel da consciência em face dos desafios atuais da educação.
1ª ed. Salvador: Satthyarte, 2005.
* BRITO, Maria Cristina Anjos Guimarães. Minha Caminhada II. Equoterapia: Calvagar é preciso. 2ª Edição. Salvador: SMG Gráfica, 2006.
* CARROL, Lee , Jan Tober. Crianças Índigos; tradução Yma Vick. São Paulo: Butterfly Editora, 2005.
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* HELLINGER, Bert. Constelações Familiares. São Paulo: Editora Cultrix, 2001.
* MATOS, Paulo. No Mundo da Lua. São Paulo: Lemos Editorial, 2005.
* MONTEIRO, Mara M. Leitura e escrita: Uma análise dos problemas de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2004.
* MEIRA, Marcos Antônio. Educação Infantil no Tempo Presente. São Paulo: Érica, 2002.
* PAROLIN, Izabel. Professores formadores: A relação entre a família, a escola e a aprendizagem. Curitiba: Positivo. 2005.
* POLITY, Elizabeth. Ensinando a Ensinar: Educação com afeto. 2. ed. rev. São Paulo: Vetor, 2003.
* SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas: Entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas. Ana Beatriz B. Silva. São Paulo: Editora Gente, 2003.
* SILVA, Marcos Aurélio Dias, Quem Ama Não Adoece. São Paulo: Editora Best Seller, 2000.
* SILVER, B. Larry. A Criança Incompreendida. Tradução Jorge Enéas Fortes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.

Todos nós somos avaliados todos os dias, por todas as pessoas. No ambiente escolar, porém, a avaliação só faz sentido se estiver a serviço da aprendizagem através de pedagogia dinâmica. Avaliar é detectar necessidades e comprometer-se com sua superação. Em qualquer situação de vida, a questão básica da avaliação é: o que eu estou avaliando? Na escola, ela só deve acontecer para que haja intervenção no processo de ensino e aprendizagem. É sua função contribuir para que o aluno assuma controle sobre si mesmo, tenha consciência do que já é capaz e em que deve melhorar. Ela é sempre uma operação de leitura orientada da realidade, uma poderosa alavanca para a ampliação do êxito da escola.
Como proposta de avaliação em nossa escola, antes de tudo, deixamos claro aos nossos alunos aonde queremos chegar com cada uma das tarefas propostas: expomos aos estudantes para que serve o aprendizado. Da mesma forma, são criadas práticas adequadas ao desenvolvimento e à medição de competências. E, acima de tudo, temos e queremos que nossos alunos tenham a coragem de ousar.
É nossa meta ter sempre em mãos diversas possibilidades de execução de tarefas significativas, em vez de exercícios formais esvaziados de sentido, pois não podemos esquecer de que todo desempenho exige interpretação. O aluno precisa corrigir sua ação após cada processo, para aprender com os erros, não cometê-los mais e, assim, progredir.
A prática de avaliar pode ser dividida em quatro categorias:
A primeira é o conteúdo , na qual se percebe o conteúdo cognitivo do aluno;

A segunda é a forma de avaliar : dar notas ou conceitos? Fazer ou não uma semana só de exames? Dar questões longas ou curtas?

Outra categoria é formada pelas relações que a avaliação estabelece na prática de ensino: a avaliação e o tipo de aula;

A última é a intencionalidade . Mudanças nos outros aspectos sem mudar a intenção com a qual se avalia não levam a nada. Intenção e realidade, ou seja, o desejo traduzido em práticas concretas.
Uma estratégia inicial e simples é o diálogo, a exposição dialogada, onde podemos perceber de que maneira o aluno vem desempenhando suas atividades pedagógicas. Mas existem técnicas mais ativas, como:
• Avaliação objetiva, para determinar quanto o aluno aprendeu sobre dados singulares do conteúdo;
• Avaliação dissertativa, que verifica a capacidade de análise, de abstração, de formulação de idéias e redação;
• Seminário, para avaliar a eficácia da transmissão verbal do que foi pesquisado;
• Trabalhos em grupo, que possibilitam a interação, a colaboração e a socialização.
• Debate, que avalia a capacidade de defender e fundamentar pontos de vista;
• Relatório individual, com o intuito de averiguar se o aluno conhece as estruturas de texto;
• Observação, para colher informações sobre as áreas afetivas, cognitivas e psicomotoras;
• Auto-avaliação, para o aluno construir sua capacidade de perceber suas aptidões e atitudes;
• Conselho de classe, que auxilia no coletivo a tomada de decisões quanto ao desempenho da turma e de cada aluno.
Em cada uma delas podemos perceber o nível de elaboração do aluno. A metodologia participativa é fundamental na concretização da nova intencionalidade.

Enfim, avaliamos para quê? Para detectar as necessidades do aluno e para atender à superação. E quando então temos um aluno, ou vários, que não estão acompanhando? É preciso parar para atendê-los. Quando a dificuldade é localizada, há o compromisso com a busca de uma estratégia e com a superação da barreira.

Para tanto existe o momento da recuperação, que vem sendo tradicionalmente concebido como repetição, retrocesso, retorno, voltar atrás. Os estudos paralelos de recuperação são inerentes a uma prática avaliativa mediadora, com a intenção de subsidiar, provocar, promover a evolução do aluno em todas as áreas do seu desenvolvimento. Nessa concepção, os estudos de recuperação são direcionados ao futuro, porque não se trata de repetir explicações ou trabalhos, mas de organizar experiências educativas subseqüentes que desafiem o estudante a avançar na busca do conhecimento, pois este não segue um caminho linear, mas prossegue entre descobertas, dúvidas, retomadas, obstáculos e avanços.
Nossa intenção ao avaliar é acompanhar o modo singular de aprender de cada aluno e agir direcionados ao futuro, no sentido de promover a evolução deste em todas as áreas, o que exige uma atenção diferenciada em termos de análise qualitativa de suas tarefas, registros consistentes das trajetórias individuais e o ajuste contínuo à heterogeneidade da turma.

http://www.escoladinamica.com.br/paginas/avaliacao.php

A psicopedagogia ocupa-se do aprendiz em seu processo de aprender e de ensinar, levando em consideração as realidades objetivas e subjetivas que habitam o entorno da criança e do adolescente. Considera também o conhecimento em sua complexidade e numa dinâmica em que os aspectos afetivos, cognitivos e sociais se complementam. Sendo assim, não apenas o desempenho escolar interessa, mas todas as relações de aprendizagem que a criança ou o jovem estabelece. Esse conjunto dimensiona e caracteriza a queixa.
Tendo como objeto de estudo o ser cognoscente e todo o seu universo relacional, a psicopedagogia se estrutura como interdisciplinar e tem tomado para si a tarefa de não fragmentar o aprendiz em compartimentos estanques, ou ainda, não supervalorizar determinados episódios em detrimento de outros. Vale dizer que ao fazermos uma avaliação diagnóstica não é suficiente conhecer em que patologia ele foi “enquadrado”, mas como ele se comporta e vem desenvolvendo ao longo de sua vida, qual o significado desses sintomas em sua família, como a escola entende e acolhe as manifestações da criança e, finalmente, se a família e a escola estão realmente mobilizadas para acabar com as queixas.
Entende-se que o objetivo da psicopedagogia é ajudar na adequação da realidade da criança à sua possibilidade de aprendizagem, promovendo uma ponte entre a criança e o conhecimento. Investigar e considerar como ela aprende, o que ela aprende e quando ela não aprende, por que não aprende, investigando também o seu “prazer de aprender”.
Alícia Fernández afirma que:
Entre o ensinante e o aprendente abre-se um campo de diferenças onde se situa o prazer de aprender. O ensinante entrega algo, mas para poder apropriar-se daquilo o aprendente necessita inventá-lo de novo. É uma experiência de alegria, que facilita ou perturba, conforme se posiciona o ensinante. Ensinantes são os pais, os irmãos, os tios, os avós e demais integrantes da família, como também os professores e os companheiros na escola.
(2001, pg 29)
É importante analisar, para tanto, do que a família exatamente se queixa quando procura um psicopedagogo. Ela pode vir ao consultório porque está exausta e precisa de ajuda, ou porque a escola pediu uma avaliação, ou ainda, porque a psicóloga quer uma visão psicopedagógica para traçar uma estratégia de abordagem junto à escola, ou ainda porque o neurologista mandou. Para cada demanda, lê-se uma necessidade diferente e uma possibilidade de envolvimento mais ou menos comprometida com a criança e seu desenvolvimento. É diferente se a queixa se concentra na preocupação dos pais com o futuro de seus filhos, ou se a queixa tem por interesse o bom andamento das avaliações escolares.
Posto dessa forma interessa-nos não apenas se a criança sofre de um transtorno, um déficit ou uma síndrome, mas também quem são os ensinantes dessa criança. Esse dado será fundamental para traçarmos um plano de ação que se estenda à família, à escola e aos outros profissionais que podem estar envolvidos no processo.
Os pontos em comum
Tem sido muito comum nos consultórios de psicopedagogia a queixa de pais que verdadeiramente desabam, denunciando estarem exaustos com a rotina estressante que seus filhos lhes impõem. Discorrem as várias estratégias já tentadas com o objetivo de atendê-los em suas necessidades e agitação, todas elas, na maioria das vezes, ineficazes. Os pais compreendem o que acontece com seus filhos e ficam perplexos diante do tumultuo que causam em suas famílias. À medida que se estabelece a anamnese, é comum os pais se referirem ao transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH).No entanto, junto com a demonstração de conhecimento do fato, aparece o discurso de que seus filhos são inteligentes, que quando lhes interessa prestam atenção, que eles aprendem só o que não é para aprender, que eles esquecem as matérias da escola, mas lembram com detalhes das regras de um game. Enfim, evidencia-se a dúvida em relação ao transtorno por entenderem que, se tivessem o transtorno (TDAH) teriam de ser menos inteligentes e menos competentes de forma geral.
O mesmo acontece com os professores. Quando procurados para saber o motivo pelo qual encaminharam ou deram apoio para a procura de um diagnóstico psicopedagógico de determinado aluno, é comum revelarem que ficam na dúvida entre um transtorno de Déficit de Atenção e o perfil de preguiçoso. Muitos professores entendem o comportamento de uma criança agitada e dispersa como falta de vontade para estudar, para fazer as lições, terminar uma prova, etc. Quando tentamos tipificar o comportamento, os professores afirmam que quando eles desejam, fazem; que eles não param quietos, no entanto ficam horas e horas na frente do computador ou tocando um instrumento, não decoram a tabuada, mas sabem cantar uma música inteira. Alguns professores reclamam que esses alunos são terríveis, não param quietos e não respeitam regras e contratos disciplinares, porém sabem todas as regras do futebol. Percebem que a criança é inteligente para algumas coisas e muito ágeis mentalmente para tudo que lhes interessa, menos para os estudos.
Ouvindo tanto os pais quanto os profissionais da escola o que se percebe é o cansaço que essas crianças causam em seus pais e professores e a dúvida de como eles, sendo tão ágeis e inteligentes, não conseguem prestar atenção e desenvolver, com sucesso, atividades corriqueiras do dia-a-dia, que são propostas tanto pela família quanto pela escola, tais como arrumar o quarto, fazer as lições escolares, obedecer a regras combinadas, dentre outras. A incapacidade de prestar atenção ou de ficar quieto leva os adultos que convivem com essas crianças a considerá-las malandras e, freqüentemente, são rotuladas de irresponsáveis, malcriadas, endiabradas, avoadas, surdas e até mesmo, pouco inteligentes. O rol costuma ser de adjetivos pejorativos e, como resultado, os pais e educadores vivem conflitos entre sentirem-se impotentes diante da criança e a vontade de ajudá-los. Não percebem o esforço que essas crianças fazem para obter sucesso em suas tarefas e que se fazem coisas com aparente facilidade é porque estavam altamente estimulados para aquela investida.
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Esse transtorno tem por característica essencial “um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, mais freqüente e grave do que aquele tipicamente observado nos indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento”. (Manual de Transtornos Mentais – DSM)
Quando a criança apresenta problemas de convívio social, de rendimento escolar, ou ambos, fica mais fácil identificá-los e encaminhá-la para atendimento. O diagnóstico é clínico e caracteriza-se por duas formas: predomínio do padrão hiperativo-impulsivo e tipo predominantemente desatento, embora possa haver o tipo combinado, que apresenta características dos dois grupos.
Para ser considerado portadora de TDAH é preciso que a criança apresente os sintomas há mais de seis meses e que eles apareçam em situações diversas. A criança predominantemente hiperativa-impulsiva apresenta inquietação, não parando sentada ou quieta - não se mantém sentada por muito tempo, cai da cadeira, se mexe mais do que o necessário, anda mais do que o necessário, fala excessivamente, não consegue esperar que o outro termine o que está falando, tem muita dificuldade em permanecer em silêncio, responde a perguntas antes que elas sejam formuladas completamente, age como se fosse “movida a motor” e tem dificuldade para esperar sua vez.
A predominantemente desatenta tem dificuldade para prestar atenção, esquece coisas rotineiras ou deixa de fazer coisas importantes, parece não ouvir quando se fala com ela, tem dificuldade de organização e não enxerga detalhes. Freqüentemente perde objetos e não suporta atividades que requeiram esforço mental prolongado.
Ambas podem, ainda, apresentar dificuldade para terminar uma tarefa, para respeitar limites e regras, para dormir e para relacionar-se. Algumas crianças não suportam frustrações e, por conseqüência, frustram-se muito; outras não avaliam o perigo, não aprendem com os erros do passado e são difíceis de agradar. Há, também, as que são agressivas, inflexíveis e com percepção sensorial baixa. Muitas crianças têm dificuldades com a aprendizagem e com as tarefas escolares.
O diagnóstico: como avaliar?
Para se chegar a um diagnóstico satisfatório, é necessário que a criança apresente pelo menos seis dos sintomas acima relacionados, em ambientes diferentes como casa, escola, clube, casa de parentes, etc., e que os sintomas tenham aparecido antes dos sete anos de idade.
O encaminhamento para um neuropediatra é imprescindível para isolar outras possibilidades diagnósticas como depressão, ansiedade, conduta destrutiva, e outros diagnósticos.Paralelamente ao exame médico, busca-se entender as queixas da família e as queixas da escola. Algumas crianças já têm atendimento psicológico, outras necessitarão desse atendimento.
Precisamos tipificar a dinâmica familiar da criança: a qualidade das relações parentais e filiais, o exercício da autoridade, a divisão de tarefas domésticas, a circulação do conhecimento, o lugar de cada um na família, assim como é imprescindível conhecer o seu contexto educacional: o colégio e a metodologia adotada por ele, as exigências acadêmicas, o tipo de atividades propostas pelos professores, como trabalham os conteúdos, o tempo destinado a cada aula, como lidam com a indisciplina e o tipo de avaliação de desempenho escolar.
Como o TDAH é considerado um distúrbio biopsicossocial que atinge de 3% a 5% as crianças em idade escolar, e preferencialmente meninos, o seu conhecimento e a existência de um plano estratégico construído para cada criança é diferencial determinante no tratamento. Muitas famílias acreditam que, com a maturidade, o déficit desapareça e optam por aguardar “que essa fase passe”. No entanto, o mais comum é persistir a dúvida, apesar do diagnóstico quanto à forma mais eficaz de trabalhar com a criança, ou até mesmo, duvidar da veracidade das informações e dos sintomas listados, “Se estivesse interessado, lembraria....” ou ainda, “Isso para mim é pura irresponsabilidade...”
O diagnóstico é clínico e não existem exames laboratoriais para detectar o déficit, portanto, é importantíssimo um conjunto de observadores atentos e criteriosos voltados ao objetivo de avaliar cada criança em suas especificidades.
É ponto de concordância que avaliar é necessário para que possamos entender e atender com competência a criança com TDAH, no entanto, não é raro a escola ou a família receber o diagnóstico e não saber o que fazer com ele. Não basta termos o diagnóstico em mãos, é necessário avaliarmos a situação sob o ponto de vista biológico, social e acadêmico. É importante destacar que a TDAH tende a perdurar ao longo da vida, ou seja, ela pode ser controlada, mas os adolescentes e adultos também sofrem as suas manifestações, principalmente se não forem tratadas.
No diagnóstico clínico, o neuropediatra dará as informações da situação orgânica da criança, mas geralmente a queixa aparece por uma necessidade escolar ou de relacionamento.
Nessa perspectiva, a avaliação visa reorganizar a vida escolar e doméstica da criança e do adolescente e, somente neste foco ela deve ser encaminhada. Vale dizer que fica vazio o pedido de avaliação apenas para justificar um processo que está descomprometido com o aluno e com sua aprendizagem. “De fato, se pensarmos em termos bem objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer com sua superação” (VASCONCELOS, 2002, p 83).
Devemos ter muito cuidado ao avaliarmos uma criança, pois a hiperatividade está “em moda”. Todas as crianças agitadas são chamadas de hiperativas, o que, na grande maioria das vezes, não é verdade. A falta de limites e da presença de pais e professores educadores e disciplinadores pode vir a confundir e a rotular, inadequadamente, crianças e adolescentes que, de fato, não precisam de medicamentos, mas da presença de adultos comprometidos com sua formação e desenvolvimento.
O insucesso escolar
As crianças com TDAH, em sua maioria, até sabem o que deveriam fazer, mas devido à inabilidade de controlarem-se, não agem como sabem que deveriam – agem antes de pensar! Vale dizer que elas sabem que deveriam prestar atenção na aula, mas não prestam, levantam-se apesar de saberem que não deveriam levantar.
O TDAH não afeta a inteligência da criança, mas a sua aprendizagem. Na maioria dos casos, as crianças e adolescentes tem uma boa ou até meso excelente condição de aprendizagem, fato que se dissocia das produções escolares que chegam a ser medíocres, em muitas situações.
Na escola, por exemplo, se é dado um exercício com uma seqüência de operações, muito possivelmente ela consiga fazer as duas primeiras e depois não veja as próximas, ou esqueça algum sinal. Na leitura de um enunciado, ao chegar ao final não lembra do que leu e afirma não ter entendido, ou ainda, esquece o que leu. Se for impulsiva, responde algo que lhe vem na mente naquele momento. Ao ler um livro, depois de ter lido umas dez páginas não sabe do que está tratando o livro. Em um teste escrito, poderá responder às questões da primeira página e entregar sem perceber que o teste continuava no verso da folha. Basta um cachorro latir lá fora para essa a criança ou adolescente perder a sua concentração. É o tipo de criança que, quando se dá conta, já fez o que prometeu não fazer, já perdeu a explicação que precisava tanto, já brigou, enfim...
Em casa necessitam de ajuda para fazer as lições, têm suas coisas em desordem, não sabem o que é para fazer ou estudar, esquecem a agenda na escola, levantam-se para pegar um copo de água e não voltam para suas tarefas...
Nesse cenário, o insucesso escolar fica vinculado à compreensão que se tem do papel da escola. Se entendermos que o papel da escola é construir conhecimento com “todos” os alunos, certamente os profissionais da escola procurarão formas de promover aprendizagens. A rigidez da escola pode gerar, além do fracasso escolar e do sentimento de incapacidade, uma situação emocional desfavorável à aprendizagem, gerando baixa auto-estima e desestimulando e dificultando, ainda mais, a aprendizagem da criança ou do adolescente. Não é raro um aprendiz apresentar-se dizendo: “Sou burro para os estudos.”Igualmente importante e, talvez até mais determinante, é a rigidez da família ao não aceitar seu filho como ele é e entender que cada um de nós tem suas dificuldades e pontos a serem superados. Respeitar e apoiar o aprendiz em seus propósitos de desenvolver-se é fundamental no caso das crianças hiperativas.
Como intervir?
Não basta termos um diagnóstico adequado e nem a escola propor-se a adequar estratégias metodológicas para que a criança ou o adolescente consigam aprender e se instrumentalizar academicamente.
É importante reunir, para conversarem, os profissionais que atendem a criança, a família e os professores e coordenadores pedagógicos da escola que freqüenta, para que seja traçado, para cada caso, uma linha de ação em termos de responsabilidades da escola, da família e dos profissionais que lidam com a criança. O que deve permear essa reunião é a coerência entre as diferentes propostas e possibilidades concretas de se realizar o que se propõe.
A escola assume o papel pedagógico do processo, no entanto, respaldada pelos profissionais que atendem a criança e validado pelos pais. Os pais montam estratégias domésticas, orientados pelos profissionais e validados pelos professores da escola. E os profissionais traçam objetivos que atendam às demandas dos pais e dos professores. Todos devem se reunir sistematicamente para avaliar a evolução e reprogramar estratégias.
Para cada criança ou adolescente deve-se estabelecer uma estratégia diferente que esteja em consonância com os objetivos e queixas dos pais e professores. Para cada escola um tipo de atendimento e de trocas. Com isso queremos dizer que não existe receita e nem uma proposta de “comece por aqui”, mas uma forma de entender e atender a cada uma das crianças, individualmente.
Entendemos como o mais importante, a disposição dos pais em modificar comportamentos e hábitos, ou seja, sair da queixa, entendendo que todos devem mudar juntos para continuarem sendo família. Também é primordial a escola abrir-se para esse “multiálogo” até conseguir acertar uma forma de atingir a criança e motivá-la a trabalhar. Certamente que não se acerta de primeira, que é preciso persistir, conversar, tentar novamente, reavaliar e continuar estudando.
Entendemos que o grande objetivo da escola e da educação é construir sujeitos aprendizes, autores de sua vida e resilientes para promoverem aprendizagens e enfrentarem suas dificuldades.
Temos de nos reunir, em posturas de parceria de modo que todos se voltem ao ajustamento de procedimentos que viabilizem o desempenho acadêmico e social das crianças que apresentem dificuldades com sua aprendizagem. Entendo que uma família ou uma escola que tem uma criança ou adolescente com TDAH não tem um problema, mas uma situação para administrar. Porém, se não for encarada com seriedade, competência e sensibilidade, aí sim, pode vir a tornar-se um transtorno em suas vidas.
Urge passar à ação, assumindo a idéia de que o desenvolvimento de capacidades de desenvolvimento no sentido de tornar as pessoas e as organizações mais resilientes é uma prioridade na formação do novo cidadão. Mais é um imperativo social e comunitário não só a nível local, mas também regional e global planetário. O mundo está a ficar demasiado rígido e intolerante, autoritário, ditaturial, para defender os interesses egoístas de um número cada vez mais reduzidos de privilegiados face à grande maioria dos que vivem com dificuldades, desprotegidos, e, até, em extrema pobreza, miséria e outras formas de exclusão.
(Tavares, 2001, p.63)
Referências bibliográficas:
FERNÁNDEZ, A O saber em jogo A psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre, Artmed, 2001.

Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais – DSM-IV-TR, da Associação Psiquiátrica Americana.

TAVARES, J. Resiliência e Educação. São Paulo: Cortez, 2001

VASCONCELLOS, C. Avaliação da aprendizagem: construindo uma práxis. In: Temas em educação - I Livro das Jornadas de 2002. Futuro Eventos.