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Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que se mostra fundamental para o trabalho do profissional
Por que a escolha da psicanálise para embasar seu trabalho psicopedagógico?
Após ter militado nas diferentes áreas do conhecimento por meio de grupos de estudo e supervisões e não ter encontrado respostas para todas as minhas indagações, busquei a Psicanálise para embasar meu trabalho, por ser um referencial teórico fundamental sobre a mente humana. A Psicanálise foi buscada por mim por meio do estudo de Freud e isso me levou a conhecer os trabalhos desenvolvidos por Melaine Klein e Bion. Acredito que o estudo da Psicanálise é uma forma de lidar com a personalidade inigualável, pois possibilita conhecer o ser humano, o modo como este se conhece, seu objeto de desejo, seus impulsos e seus valores. Enfim, permite conhecer a estrutura do mundo mental e sua organização. Acredito que para trabalhar a aprendizagem, é necessário conhecer a teoria psicanalítica, uma vez que ela auxilia o entendimento do ser e de seus relacionamentos, e portanto de seu mundo, o que se mostra fundamental para o trabalho do profissional.
Quais são os pontos de contribuições da psicanálise para a psicopedagogia?
As principais contribuições da Psicanálise a Psicopedagogia abrangem fundamentalmente o funcionamento e a dinâmica da estrutura da personalidade, o modo como cada indivíduo lida com seus impulsos e desejos (função do id), a maneira que cada aprendiz lida com a percepção de si (função egóica), o modo como a criança, o adolescente ou o adulto lidam com seus objetos internos, o modo como cada pessoa valoriza ou não seus objetos internos (função superegóica) e a maneira como valoriza e aproveita seus valores adquiridos de seus pais, professores, amigos, etc. A Psicanálise auxilia o psicopedagogo a dar um significado maior ao vínculo e à relação com o indivíduo que ele atua. Existem pessoas que necessitam serem trabalhadas com uma metodologia psicanalítica mais clássica para lidar com suas dificuldades, e portanto podem ser beneficiadas pelo uso da associação livre. Há outras metodologias de trabalho aplicadas em crianças e adolescentes que resolvem suas dificuldades por meio de jogos e atividades artísticas que também contribuem para o progresso do indivíduo.O psicopedagogo precisa estar atento para perceber que tipo de metodologia deverá utilizar em cada cliente/paciente. Para isso é importante analisar o vínculo que estabelecemos com cada paciente, suas necessidades e a maneira de trabalhar que combina melhor com suas características individuais e/ou sociais. No caso da Psicopedagogia, o que determina qual a linha de trabalho, além das mencionadas acima, são os valores familiares, os valores da escola que o indivíduo estuda, e sua cultura.
O psicopedagogo não corre o risco de estar fazendo uma terapia emocional e deixar de lado a sua função que é lidar com a aprendizagem?
Se o psicopedagogo for um investigador das necessidades da criança ou do adolescente que for procurá-lo ao consultório, ele saberá distinguir essas diferentes funções sem prejuízo dos seus objetivos. Ao lidar com a aprendizagem, o efeito terapêutico acaba ocorrendo naturalmente quando há cuidados com a linha teórica escolhida. No entanto, ele é secundário. É importante entender como o indivíduo se conhece como pessoa, como ele se vê e qual seu envolvimento com o mundo ao seu redor, mas isso não representa deixar de lado a função de lidar com a aprendizagem. Apenas ajuda a alcançar êxito nessa tarefa de um modo mais simples, mais claro e portanto mais eficiente. Acredito que isso possa ocorrer quando se tem em mente que as pessoas são um todo, isto é, possuem seu mundo mental e suas organizações social e cultural. Precisamos sempre ter claro que o uso de diferentes metodologias deve ser feito não por submissão ao método, mas porque acreditamos nele. É por isso que o psicopedagogo tem que saber com quem está lidando, quem é seu paciente, como ele vê os seus desejos, os valores adquiridos, e conseqüentemente a aprendizagem, para poder assim, escolher o método que considera mais adequado para cada paciente.
Profissionais da psicopedagogia que vem de outras áreas como: pedagogos, fonoaudiólogos não tiveram a psicanálise como fonte teórica. Qual a necessidade do psicopedagogo optar por uma teoria?
A diferente origem dos atuais profissionais da Psicopedagogia é algo que me preocupa muito. O psicopedagogo advindo da área de saúde ou da educação, que são áreas afins, deverá buscar uma linha teórica que se identifique mais com ele como indivíduo. Além disso, ao se aprofundar em alguma linha específica, o profissional poderá utilizá-la cada vez melhor. É isso que diferencia um bom profissional de outro e cria sua identidade de psicopedagogo diferenciada e única. Acredito que o processo deverá ser criativo, mas um referencial teórico é fundamental para o embasamento do profissional, que não deve cair no erro de ser eclético, isto é, saber um pouco de tudo e não se aprofundar em nada.O conhecimento cuidadoso e constante transformará o psicopedagogo num profissional cada vez mais qualificado.
Qual foi o caminho que você percorreu na sua formação pessoal em psicopedagogia?
Durante meu curso de psicopedagogia, percebi que o mundo mental não era tão simples quanto eu estava olhando. Vi assim a necessidade de aprofundar-me, e desta forma fiz supervisões durante todo o período que fiz o curso, tanto as dadas durante o curso, como também nas áreas psicomotora, cognitiva e familiar, com outros profissionais advindos de minha formação.Comecei estudando os autores ligados a psicomotricidade e depois fiz grupos de estudo de Lowen, Melaine Klein, Jung. Fiz também um estudo de linguagem não verbal por vários anos e atualmente continuo a estudar, porque acho que um bom referencial teórico é importante, e a fazer supervisões que permitem analisar a prática desses referenciais. Estou terminando um grupo de estudo sobre Freud e sua obra completa. Por isso acredito que quando busquei a Psicanálise para entender a estrutura da personalidade, eu já tinha um bom referencial teórico.
Qual a importância para o profissional da psicopedagogia o trabalho pessoal? Por quanto tempo se deve fazê-lo?
O trabalho pessoal a meu ver é necessário e eu questiono se não seria também fundamental. Acredito que o tempo de terapia ou de psicanálise dependerá de vários fatores, e que é onipotente um profissional querer determinar sua exata duração. Na verdade o tempo irá depender das características de cada pessoa. Assim percebe-se porque é difícil determinar o tempo exato para o trabalho com qualquer um de nossos pacientes. O essencial é que nós profissionais nos conheçamos bem para saber como lidar com nossa clientela. Quem não passa por um processo terapêutico dificilmente conseguirá entender o ser humano na sua essência. Eu percebo também que a supervisão é indispensável ao longo do trabalho. Você precisa reconhecer no seu dia-a-dia, por exemplo, o que é uma identificação projetiva e não apenas conhecê-la na teoria. Isso é um trabalho que requer grandes investimentos, mas é sem dúvida nenhuma o que diferencia um profissional qualificado dos demais sendo por isso extremamente necessário. Outra questão que sempre vejo quando se discute esse tema é a reflexão sobre a possibilidade de fazer psicanálise em grupo. Ao meu ver, se estivermos na busca individual do conhecimento mental e de suas organizações, não é possível que o alcancemos com um trabalho em grupo. Mas isso é tema para uma discussão posterior em outra entrevista.
Quais são os problemas de aprendizagem mais comuns observados por você?
Cada ano que passa, percebo que tanto a criança como o adolescente e o adulto apresentam uma configuração muito mais complexa de suas dificuldades de aprendizagem. Acredito que isto esteja ligado aos atuais problemas sociais, ao emocional, ao cognitivo, e não exclusivamente ao psicopedagógico. Essa dificuldade também abrange o uso da auto imagem. É devido a isso que, para mim, os problemas de aprendizagem, e portanto as dificuldades cognitivas geralmente não vêm desvinculadas da problemática emocional. Percebo também que as dificuldades de se vincular com os conhecimentos de modo geral podem ser também uma conseqüência da dificuldade de lidar com as pessoas. A curiosidade pelo desconhecido é inata no ser humano, todo mundo se mostra curioso com o novo, e a criança que não tem curiosidade, que se mostra "preguiçosa", certamente tem alguma coisa que não está adequada.
Qual a responsabilidade da escola no quadro atual?
A escola deverá se preocupar com a formação do aluno e com a cultura que ele está inserido. Para tal, deverá também estar sempre atenta ao ritmo de aprendizagem de cada um de seus alunos. Percebo que algumas escolas estão muito preocupadas com o conteúdo. Acredito que isso seja uma conseqüência da sociedade que vivemos, cada vez mais competitiva. As escolas não deveriam se esquecer do ritmo de aprendizagem da criança, da boa estrutura do pensamento, da lógica no raciocínio e da utilização de uma linguagem cada vez mais adequada para ser usada ao longo da vida. Com esses pré-requisitos qualquer pessoa poderá se aprofundar no conhecimento que quiser, respeitando-se suas individualidades e seus diferentes talentos. A melhor instrumentalização para tudo isso, é o papel que a escola deverá desempenhar. Generalizando, podemos dizer que normalmente não são as escolas que são fortes ou fracas, adequadas ou inadequadas, como muitos gostam de rotular, mas na verdade cada criança, cada família, necessita de um tipo de escola. Cada pessoa tem um perfil, assim como a escola.
Qual o papel do psicopedagogo na orientação de escolas para o paciente?
O papel do psicopedagogo é evitar o troca-troca de escola que é a princípio contraproducente. É preciso buscar a escola correta para determinado paciente e para isso a orientação familiar é básica, principalmente na questão dos valores que esta família tem, no que ela acredita.É necessário que se faça uma análise deste paciente para saber se a escola está adequada à família e vice-versa. Vejo casos de famílias que acabam colocando o filho em escolas com valores opostos aos seus, o que é prejudicial. Aproximadamente aos 11 anos de idade, a criança passa por uma época em que se refaz o complexo de Édipo e, portanto, se reorganiza sua personalidade. É também nesta época, que as escolas deixam de respeitar o ritmo individual de seus alunos, acreditando que eles estão mais aptos a terem um ritmo social de aprendizagem. Essa etapa deverá ser vista com bastante cuidado tanto pela família quanto pela escola. Quando esta etapa não ocorre com tranqüilidade, e as escolas percebem que as crianças não estão aptas ao ritmo social de aprendizagem, aparece o momento em que o psicopedagogo deverá interferir.

Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues - Pedagoga e Psicopedagoga formada pelo Instituto Sedes Sapientiae. Formação Psicanalítica. Desenvolve trabalho clínico. Vice-Presidente da ABPp 1992/1994. Diretora Cultural e Conselheira da ABPp 1999/2000 Ana Lisete Frontini Pereira Rodrigues






Já sou formada em Psicopedagogia clínica, mas me disseram que eu só poderia abrir um consultório junto com uma psicóloga, isto é verdade?
Não. Com a formação de Psicopedagoga clínica, você poderá alugar sua sala e abrir seu consultório e atuar como Psicopedagoga. O que você não pode fazer é aplicar provas exclusivas de Psicólogas pois estaria invadindo uma área que não é sua mesmo que alguém te ensine como aplicá-las você não poderá fazê-lo.
Estou terminando o curso de psicologia e gostaria de saber se posso abrir uma clínica de Psicopedagogia e atuar como tal, mas enquanto psicóloga. Posteriormente ou concomitantemente estarei fazendo a pós em Psicopedagogia. Gostaria de saber também se é correto oferecer reforço escolar na mesma clínica.
Você só poderá atuar como psicopedagoga depois que terminar a pós-graduação em Psicopedagogia clínica e receber seu certificado. A função de psicopedagogo não é de fazer reforço escolar. Se por acaso sua clínica oferecer este tipo de serviço a indicação é que ele seja dado por alguém que se proponha a dar o reforço escolar somente. Se por acaso for um psicopedagogo não é indicado realizar o tratamento e ao mesmo tempo dar reforço.

Sou psicopedagoga clínica. Gostaria de saber quais os fins da supervisão psicopedagógica e, quanto tempo de supervisão é necessário para poder clinicar com mais segurança?
A supervisão é para dar suporte ao psicopedagogo na sua atuação. Se você está fazendo um diagnóstico e não se sente segura, poderá fazer uma supervisão no início e outra no final antes da devolução. Durante o tratamento com a criança o supervisor irá te orientar, trocar idéias sobre o tratamento, mas sempre ouvindo a sua opinião como psicopedagoga e ajudando você nas suas conclusões. O supervisor não é para dar respostas prontas é para te auxiliar e mostrar algumas possibilidades de intervenção. Não existe um tempo para começar a clinicar com segurança, até mesmo porque esta segurança virá com a prática. Você já pode fazer uma supervisão para saber como agir na primeira entrevista, o que deve fazer. Quando surgir um cliente você faz a supervisão para este diagnóstico.
Para se tornar associado titular da ABPp também é necessário ter feito 5 anos de supervisão.
Faço psicopedagogia, com habilitação intitucional, gostaria de saber onde posso atuar e como; esse curso é de um ano? A organizadora do curso propôs que depois desse um ano poderei fazer em seis meses outra pós-graduação em Ed. Especial!É possível isso?
Com a formação institucional você poderá trabalhar em escolas, ong´s, empresas, mas não poderá clinicar. Se desejar clinicar terá que fazer uma especialização em psicopedagogia clínica. Sobre a informação de educação especial ser feita em pouco tempo não tenho conhecimento. Você deverá se informar com a coordenação do curso.

Tenho visitado seu site com freqüência, mas ainda não tirei esta duvida: fiz uma pós-graduação em Psicopedagogia e quero começar a clinicar. Existe alguma anuidade? Com a pós posso clinicar? Na oportunidade, apresento meus parabéns pelo site de sua responsabilidade.

Quando você se associar à ABPp deverá contribuir com uma semestralidade a ser paga na ABPp seção do seu estado. Você poderá clinicar com a pós em Psicopedagogia clínica ou clínica com institucional, mas se for somente institucional não. Obrigada pelo reconhecimento.

Sou psicopedagoga institucional. Gostaria muito de ter a habilitação para clínica. O que devo fazer? Devo fazer outro curso, ou posso fazer apenas a complementação?
É necessário fazer outro curso com abordagem clínica. Mas verifique junto à pós em que irá cursar se existe alguma complementação que a habilite.
Sou Pós-Graduada em psicopedagogia Clínica e Escolar e gostaria de me associar, pois pretendo montar um consultório assim que tirar todas as minhas dúvidas. Como faço?
Procure a ABPp do seu estado para associação. Se deseja montar um consultório é importante que faça uma supervisão para ir tirando suas dúvidas e mesmo quando estiver atendendo deve continuar com a supervisão aliás mais do que nunca. Veja se tem algum psicopedagogo na sua cidade que possa fazer supervisão
Moro em São Paulo e estou procurando indicações para realização de análise para saber o grau de minha dislexia. Vocês poderiam indicar locais devidamente qualificados para tal análise em São Paulo?
Em São Paulo você poderá procurar a Associação Brasileira de Dislexia.http://www.dislexia.org.br/
Oi Simaia, ainda vou defender minha tese de conclusão do curso posso alugar uma sala para clinicar antes mesmo de receber meu diploma , ou tenho que esperar esta burocracia toda, só recebo o diploma depois que eu defender, aproximadamente dois meses depois... Posso ir a procura de alugar minha sala num consultório ou devo esperar chegar o documento ? Devo deixá-lo exposto em um quadro para que as pessoas visualizem ou não o meu diploma de pós graduada em psicopedagogia ?
Você não precisa pendurar nenhum diploma na parede, isto não se usa. Se alguém pedir você mostra a documentação que deverá estar numa pasta no armário do seu consultório. Quanto a atuar, você poderá solicitar um certificado de conclusão junto à coordenação enquanto sai seu diploma.
Não se esqueça de já se afiliar à Abpp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), você não precisa estar formada. Estudante pode se inscrever. Você já adquire o número de sócia e pode utilizá-lo no cartão de visita.
Tenho lido muito sobre diversos temas e gostaria que me indicasse um livro de Jorge Visca ou outro autor sobre provas operatórias. Se tiver disponibilidade pode enviar outras bibliografias,ficarei grata.
Os livros de Jorge Visca sobre provas operatórias estão esgotados nas livrarias, você só os encontrará no site: http://www.tekoa.hpg.ig.com.br/
Você poderá encontrar informações sobre as provas operatórias também no livro de Maria Lúcia Weiss (Psicopedagogia clínica) e no livro de Jean-Marie Dolle (Essas crianças que não aprendem). Dê uma olhada na sessão dica de livros.
Com a formação institucional eu posso assinar avaliações do aluno? Sei que não posso aplicar alguns testes por não ter a formação em
Psicologia.
Você pode atuar como psicopedagoga institucional, mas não é indicado clinicar dentro da escola, ou seja, não poderá aplicar as provas operatórias, projetivas com intuito de fazer um diagnóstico clínico. Se a criança está apresentando dificuldades deverá ser encaminhada para o psicopedagogo clínico.
Verifiquei no curso de psicopedagogia que fiz e não consta na certificação psicopedagogia clínica, a certificação fala da formação institucional, porém gostaria muito de complementar a formação com a parte clínica.
E realmente estou muito identificada com o processo da psicopedagogia
clínica. Tenho estudado muito sobre o assunto.
Como posso complementar o estudo? Posso atuar junto as minhas
colegas?
Seu trabalho tem me auxiliado muito. Obrigada!
Tenho recebido muitos e-mails de pessoas que só descobrem que não estão habilitas para psicopedagogia clínica quando terminam o curso. Verifique junto a sua instituição para tirar esta dúvida. Verifique no contrato inicial se eles mencionam que é só institucional.
Eu visitei o seu site e me interessei muito, faço psicopedagogia e gostaria de comprar um livro que falasse sobre a psicopedagogia que nem tem no seu site: o que é? como se dá o trabalho na clínica, o tratamento psicopedagógico... eu gostaria de livro com uma leitura gostosa, que eu tivesse essas informações (pode ser em livros separados, não precisa ser tudo em um livro só), mas percebo que livros na área da psicopedagogia não são muito fáceis.

Existem diversos livros de psicopedagogia que podem te dar uma visão bastante ampla do que é a psicopedagogia e como é o trabalho na clínica.
Posso te indicar alguns:
- Psicopedagogia clínica de Maria Lúcia Weiss
- Diagnóstico psicopedagógico de Sara Paín
- Inteligência Aprisionada - Alícia Fernandez
- Todos os livros de Nádia Bossa: Avaliação psicopedagógica de 0 a 6 anos,
Avaliação psicopedagógicaoutro de 7 a 11 anos e Avaliação psicopedagógica do
adolescente, outro: dificuldades de aprendizagem. Todos estão no meu site
na sessão dica de livros e lá tem muitos livros que falam do trabalho
psicopedagógico.
Tem também os livros de Jorge Visca que estão esgotados, mas você pode
achar no site http://www.tekoa.hpg.ig.com.br/

O que é E.O.C.A.?
A sigla E.O.C.A. significa Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem e deve ser realizada no início do diagnóstico, antes da aplicação das provas. De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA são “...seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc (1987, p. 73). É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema de hipóteses e definirá sua linha de pesquisa. Logo após são selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares.
O que é anamnese?
Anamnese é uma entrevista que fazemos com os pais ou responsáveis do sujeito que está sendo diagnosticado. A depender da linha de trabalho realiza-se no início ou no final do diagnóstico.
De que forma o psicopedagogo pode atuar na empresa?
A empresa poderá contratar o psicopedagogo para ajudar seus funcionários a superarem as dificuldades de relacionamento no grupo, ajudar a empresa a superar as fragmentações de setores e trabalhar de forma interdisciplinar. Através de intervenções o psicopedagogo auxiliará o grupo observando sua movimentação, como funcionam, como lidam com suas frustrações, como reagem ao erro etc. Antes de tudo deve dar atenção a queixa da empresa e observar seu histórico para assim fazer as intervenções cabíveis. Para cada empresa um trabalho diferente, porque nenhum grupo é igual.
As escolas psicológicas (Freud, Piaget, Vygotski, entre outros) podem contribuir para a psicopedagogia?
Sem dúvida. As escolas de psicologia dão suporte indispensável para a psicopedagogia, entre elas a psicologia genética de Jean Piaget de onde tiramos as provas operatórias que aplicamos no diagnóstico, a psicologia social de Pichon Rivière que nos orienta a cerca do processo grupal e sua dinâmica, a Psicanálise de Freud que também nos dá suporte. Trabalhamos com a Epistemologia Convergente uma linha teórica criada por Jorge Visca que orienta o trabalho psicopedagógico que se baseia nas três teorias: Psicologia Genética de Piaget, Psicanálise de Freud, e Psicologia Social de Pichòn. Outros teóricos também nos ajudam a entender como se dá o processo de aprendizagem e desenvolvimento, como Vygotski, Wallon etc.
Meu filho foi encaminhado (pelo neurologista) aos serviços de psicologia, psicopedagogia e fonoaudiologia. Eu não sei exatamente qual a formação acadêmica de um psicopedagogo, ou seja, se é uma especialização do psicólogo ou do pedagogo (ou de ambos). Será q vc pode esclarecer minha dúvida?
A especialização em Psicopedagogia pode ser feita tanto por um pedagogo como por um psicólogo ou outro profissional de área afim como fonoaudiólogo por exemplo.
O Psicopedagogo irá trabalhar com as dificuldades de aprendizagem. Primeiramente ele irá fazer um diagnóstico que varia de 8 a 10 sessões. Se ao final do diagnóstico o psicopedagogo verificar que ele precisa de um tratamento psicopedagógico, ele fará o encaminhamento para um psicopedagogo fazer o tratamento que pode ser ele mesmo ou outro psicopedagogo. Poderá encaminhar também para um psicólogo e/ou fonoaudiólogo. Só através do diagnóstico é que podemos verificar de que acompanhamento ele precisará.
Sou estudante de psicopedagogia clínica e já como trabalho me foi pedido para fazer um diagnóstico sobre uma determinada pessoa, só que eu não tenho nenhum roteiro e nem exemplos de como fazer esse diagnóstico. Pode me ajudar?
Você poderá usar o livro de Jorge Visca: El diagnostico operatorio en la practica psicopedagogica. Como ele é difícil de ser encontrado em livrarias peça a algum professor ou coordenador de seu curso, eles devem ter, mas não deixe de adquirir porque ele explica minunciosamente como aplicar as provas operatórias, diz quando uma criança é ou não conservadora etc. Outro livro é Clínica Psicopedagógica: Epistemologia Convergente, Editora Artes médicas, do mesmo autor.
Para as provas projetivas você poderá usar o livro Técnicas Proyetivas, também de Visca.Tem o livro de Maria Lúcia Weiss: Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem que também é excelente. O de Sara Paín: Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem, Artes Médica também é excelente sobre diagnóstico e tratamento.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas no início desta profissão?
No início da profissão tudo parece ser mais difícil, mas à medida que você vai praticando e adquirindo experiência as coisas vão ficando mais fáceis. Entretanto cada caso é um caso e o estudo deve ser permanente e contínuo. Abaixo relaciono algumas dificuldades que poderão ser encontradas:
- A princípio, um local para se trabalhar. Se abrir um consultório tem as despesas com local, telefone, luz, material, etc.
- Até você ser conhecido e conseguir cliente também é um obstáculo a ser superado. Você deve investir bastante na divulgação do seu trabalho em locais como escolas, clínicas de áreas como fonoaudiologia que possam encaminhar clientes, consultórios de pediatria. Fazer folders, cartões de visita é fundamental.
- Os pais reclamam também do valor das sessões, muitos chegam a desistir. Como a psicopedagogia não é coberta pelos planos de saúde, em algumas situações precisamos negociar o valor da sessão.
- Dúvidas na hora de aplicar as provas operatórias é um problema que pode ter consequências no resultado do diagnóstico. Portanto, é necessário estar muito segura durante sua aplicação.
- Fazer a devolução, é algo delicado para um psicopedagogo inexperiente. O psicopedagogo deve estar muito seguro do seu diagnóstico e passá-lo com muita tranquilidade, você terá que contar com uma supervisão.
- Outras dificuldades poderão ser encontradas, mas nada que não possa ser superado se o psicopedagogo tiver muita dedicação

Não sei se para fazer clinica e institucional vale o mesmo curso ou preciso fazer um em cada área , de quantas horas em média é o curso e se logo que concluido já posso atuar?
A maioria dos cursos oferecem psicopedagogia clínica e institucional num mesmo curso, mas outros oferecem apenas um, você deverá verificar isso antes de se matricular.
Alguns cursos são uma semana por mês, outros um final de semana por mês, e variam de um ano e meio a dois anos com o estágio.
Assim que tiver concluído o curso você já pode trabalhar em seu consultório como psicopedagoga clínica ou em escolas ou empresas como psicopedagoga institucional, porém, neste último caso, certamente lhe exigirão experiência.
Para montar seu consultório basta alugar uma sala e montá-lo de acordo com as necessidades que a psicopedagogia exige: uma mesa, cadeira para você e duas do outro lado da mesa, almofadas em um canto da sala (se desejar), armário para guardar os materiais, banheiro interno, uma anti-sala, ar condicionado ou ventilador de teto e o que mais achar importante, não precisa ser nada grande, mas também não pode ser um cubículo. É interessante que você tire seu cartão de autônoma junto à prefeitura.



Márcia Goulart Tozzi Pego - Pedagoga e Psicopedagoga; Mestre em Psicopedagogia pela Universidade de Santo Amaro autora do livro: a Representação Simbólica na Clínica Psicopedagógica, Ed. Vetor.
algumas informações sobre um período tão importante do desenvolvimento humano que é a adolescência. Isso porque, é importante ao psicopedagogo, frente um adolescente com problemas na aprendizagem, entender as características comuns a este período de modo a ajudar os pais a obterem uma melhor compreensão da fase pela qual passa o filho e poderem juntos discriminar o que é fruto de problemas na aprendizagem e o que faz parte de uma etapa de desenvolvimento normal dos sujeitos, de maneira a ser realizada uma adequada intervenção.

A adolescência não é conhecida como um período temido à toa. Se observarmos os estágios do desenvolvimento humano, poderemos perceber que a adolescência é um período relativamente curto se considerarmos o grande número de transformações a que o sujeito nesta fase é submetido.
Há uma verdadeira revolução que leva a mudanças biopsicossociais.
O surgimento da puberdade, marco de todo esse processo, inicia a entrada do sujeito no mundo adulto. Esta fase é caracterizada por toda uma série de transformações, adquirindo o corpo, as características sexuais secundárias que causarão a definitiva perda do corpo infantil.
A velocidade com que essas mudanças corporais ocorrem pode não ser acompanhada pela necessária mudança em relação à representação mental do próprio corpo, daí a freqüência com que se encontra adolescentes desajeitados.
Isso se deve pelo fato de as alterações corporais que surgem serem mais rápidas que o desenvolvimento da percepção e representação mental.
Há, conseqüentemente, mudanças no comportamento emocional, social e intelectual, isso porque o pensamento que dá um salto no desenvolvimento, passará a funcionar das operações concretas para as abstratas.
O pensamento formal começa a se estruturar a partir dos 11/12 anos. A adolescência é o período no qual se espera que o jovem supere as características do raciocínio lógico concreto e possa estruturar seu pensamento a partir de conceitos abstratos. Passando a relacionar e pensar sobre conteúdos aprendidos e sobre fatos vividos ou imaginados.
O estágio das operações formais será alcançado segundo o estabelecido das fases de desenvolvimento anteriores a ele, e sobre as quais irá alicerçar-se.
A criança que internalizou as figuras parentais e o ambiente segundo o desenvolvimento de sua percepção, passando pelos estágios sensório motor, pré-operatório e operatório concreto terá, com o aprimoramento de sua cognição para as operações abstratas, uma diferente percepção do mundo.
Isso quer dizer que amplia sua percepção do ambiente, passando a manipular idéias quando antes se limitava a manipular objetos. A aquisição da capacidade de abstração e interpretação possibilita refletir sobre situações abstratas, relacionando-as com outras informações e fazer julgamentos. Isso a leva a escolher para si novos valores.
A conseqüência disso recai imediatamente nas figuras parentais que passarão a ser vistas sobre um outro prisma e, com isto, o questionamento às regras e a freqüente rejeição a qualquer idéia ou sugestão vinda deles.
Alterada sua percepção do mundo também terá mudado seus gostos e interesses. Passando a fazer escolhas anteriormente rejeitadas e a se aproximar de pessoas diferentes. Mudam-se os gostos e simpatias.
É uma passagem evolutiva que depende não só de aspectos relacionados à individualidade do sujeito como também do sistema familiar e social do qual ele participa.
Teremos então um sujeito que, simultaneamente às alterações físicas, sofrerá mudanças nos aspectos emocionais, sociais, sexuais e intelectuais. No entanto, apesar dessas mudanças serem desencadeadas simultaneamente, elas evoluirão em ritmos diferentes, repercutindo em um processo de desenvolvimento assimétrico.
A nível orgânico, o término desse processo irá ocorrer aproximadamente aos 16 anos. Não há, no entanto, uma idade limite rígida, havendo a possibilidade de variações segundo cada um.
No entanto, se o organismo tem uma idade aproximada para o fim da adolescência esta fase não se reduz apenas às alterações físicas, mas também psicossociais. Daí que o término da adolescência será considerado a partir da conquista pelo sujeito da maturidade biopsicossocial.
Quanto aos aspectos sociais que determinarão o término da adolescência, estes variarão segundo a cultura e o grupo no qual o jovem está inserido, pois serão suas exigências e expectativas que contribuirão ou retardarão a entrada do sujeito no mundo adulto.

O ADULTO FRENTE O ADOLESCENTE
As inevitáveis modificações físicas e orgânicas desta fase ocasionam um olhar diferente por parte do adulto, pais e professores, que passam a cobrar dos jovens posturas “adultas” segundo as aquisições culturais do grupo.
Submetido às pressões dos grupos sociais surgirão mudanças na personalidade que por um tempo oscilará entre o surgimento de comportamentos ora infantis, ora adultos.
O mundo adulto que antes protegia o jovem passa a cobrar-lhe maturidade segundo as características físicas recentemente adquiridas, sem compreender a desigualdade no desenvolvimento do sujeito que ora se apresenta como adulto, ora como criança.
O jovem, na busca de seu lugar no mundo passa a procurar além do círculo familiar, ajustar-se aos padrões de outros grupos.
O casal parental, quando recorre ao atendimento psicopedagógico de um filho adolescente, apresenta-se freqüentemente com sentimentos de menos valia em relação a seus papéis de pais. Sentem-se confusos com o crescimento dos filhos que já não aceitam sua autoridade e idéias sem questionamento.
O enfrentamento que o jovem passa a manifestar contra qualquer situação que, mesmo remotamente, o lembrem de seu período de infância, leva os pais a responderem com diferentes comportamentos. Alguns apresentam reação depressiva, geralmente as mães, pela perda que sentem da maior proximidade que costumavam ter com os filhos, sendo o crescimento e conseqüente independência, recebido com tristeza e até com o surgimento de distúrbios psicossomáticos.
Encontramos pais absolutos sobre o que é certo e o que é errado em opiniões e atitudes as quais impõe ao jovem, sem considerar sua possibilidade em diferir.
Há pais indiferentes que se omitem em dialogar com o jovem, ou por acharem que ele precisa se decidir sozinho, sem interferência ou por se ressentirem do comportamento desafiador deste e assim deixam o jovem opinar e agir sem parâmetros, pois não há com quem ele possa diferir de opinião. E pais negociadores que, conscientes do poder de decisão que lhe compete enfrentam e argumentam, não temendo contrariar o jovem e nem reconhecer quando este tem razão.
A entrada do filho na puberdade pode ser uma fase de grande sofrimento para pais que se ressentem da perda do corpo infantil. Esse sentimento de perda pode ser indício de problemas se for acompanhado pela negação da natural e crescente autonomia dos filhos.
Observamos com certa freqüência que o jovem que é submetido a uma proteção exagerada, traz consigo prejuízos pela falta de possibilidade de independência e individuação decorrentes da superproteção. Conseqüentemente, apresenta prejuízos no seu potencial criativo e de resolução de problemas.
A falta de possibilidades em tornar-se gradualmente independente culmina em uma entrada na adolescência permeada de insegurança e vergonha pela falta de capacidade em se cuidar sozinho. Isso inevitavelmente repercute em crise no relacionamento com os pais que, acostumados a exercer uma postura superprotetora, entrarão em confronto com o comportamento adolescente de busca de liberdade e enfrentamento aos limites.
Há pais que não se dão conta de que suas preocupações podem sufocar e/ou minar qualquer potencial que o filho possa ter em sua vida.
Alguns pais podem sentir, no crescimento e autonomia dos filhos, a evidência de seu envelhecimento e tornam-se confusos com a sobra de tempo que surge em decorrência de não serem mais tão necessários.
O casal parental pode ter pendente o enfrentamento de questões de seu relacionamento que o cuidado com os filhos ajudaram a protelar. Ter tempo sobrando por não ser mais tão necessário ao filho exigirá um reposicionamento que o casal, muitas vezes, não está preparado para viver.
A ênfase no insucesso que o jovem apresenta, em alguns casos pode ser interpretada como uma maneira de aproximação mantendo os pais em uma posição de cuidados e atenção semelhante aos primeiros anos escolares.
Para muitos pais isso se torna motivo de grandes brigas e recriminações sobre o filho.
As excessivas queixas dos pais podem levar o jovem a mergulhar em um espaço onde só há o errado em sua vida.
O jovem desprovido de qualquer qualidade embarca nas queixas e lamentações que a escola e pais fazem dele, deixando perdida qualquer possibilidade de sucesso.
Às vezes é dotado de qualidades tão diferentes do que a família espera dele que elas passam despercebidas.
Despertar o interesse do jovem pelos estudos e pela busca de caminhos de realização tem relação direta com experiências de sucesso. Isso porque ser bem sucedido desperta o sujeito para a realização de atividades enquanto que, o mau desempenho, o afastará das tentativas de realização. Possibilitar uma visão real sobre os talentos do jovem e prestigiá-lo justamente, sem excessivas críticas, é a melhor postura para ajudá-lo em sua conquista do mundo adulto.
Frente à constante recusa dos jovens em acatar suas palavras, alguns pais passam a sofrer e considerar que educaram mal os filhos, interpretando a necessidade que estes tem de manifestar idéias próprias como desafios à sua autoridade e falta de respeito.
O jovem tende a interpretar a dependência como uma característica infantil e passa a confundi-la com a autoridade dos pais, indo contra qualquer pedido ou sugestão destes por considerá-los manipulação. É uma ação de recusa em continuar criança, uma demonstração de que já é capaz de ter vontade própria.
As mudanças físicas, psicológicas e sociais que ocorrem repercutem na conscientização de que não são mais crianças e passam a ser mais forte em suas exigências, entendem que ser independente é fazer o que tem vontade e isso levará a conflitos por ainda serem dependentes economicamente.
Lamentavelmente existe a tendência nas famílias de utilizarem os aspectos econômicos como o elo mais forte ao qual mantém os jovens submetidos, utilizando-se deles com freqüência para impor sua vontade.
O sujeito superará a fase de adolescência quando ultrapassar a necessidade de oposição e auto-afirmação, ouvindo com tranqüilidade opiniões diferentes das suas sem sentimentos de ameaça à sua pessoa, bem como aceitar para si as idéias que lhe transmitem que lhe são convenientes.


O ADOLESCENTE E A ESCOLA
O período em que se desenvolve o pensamento formal é a adolescência e este período será mais bem desenvolvido quanto melhor estiver a vivência social do sujeito, o que dá à escola um papel muito importante.
Enquanto o desenvolvimento das fases anteriores ocorre independente da criança ir ou não à escola, o bom desenvolvimento do pensamento formal está relacionado à interação entre o desenvolvimento maturacional e as experiências de vida.
O gradual desenvolvimento que ocorre em cada estágio envolve condutas sociais que levarão a criança a confrontar-se com situações, onde lhe é exigido considerar o outro em detrimento da realização de seus desejos. A princípio voltada só para seus desejos, não considera ou percebe desejos e opiniões que não são dela.
A descentração que ocorre então, possibilitará a interação entre as idéias que o sujeito traz com as de outros, repercutindo em uma troca que, para ocorrer satisfatoriamente, exigirá de cada sujeito envolvido que se comunique de modo organizado e claro de maneira que consiga sustentar sua opinião.
O papel da escola neste período é de fundamental importância pelo leque de experiências sociais que oferece aos jovens e pelo exercício constante que exige deles na elaboração de seu pensamento, na medida que utiliza a linguagem para a transmissão de informações e cobra do jovem a organização destas, e da sua própria maneira de comunicá-las.
A vida acadêmica exige um desenvolvimento crescente das aquisições que envolvem a linguagem trazendo vocabulários diferentes dos utilizados e que são muitas vezes difíceis de associar a palavras conhecidas. A evolução da linguagem passa da utilização de palavras de sentido concreto para o abstrato.
A escola não só oferece palavras novas, mas também utiliza uma estrutura de frases onde o sujeito da oração não está imediatamente após ou antes do verbo e, nem sempre aparece, o que pode levar alguns alunos a se confundirem ao tentar compreender as informações.
As regras gramaticais podem levar a conflitos daí encontrarmos jovens que se expressam com palavras ou frases curtas, de modo a não se verem obrigados a porem o pensamento em ordem na oração.
Esses jovens, não conseguem organizar suas idéias de modo a transformá-las em orações compreensíveis.
Percebemos em suas verbalizações e produções escritas, ordem confusa na colocação do sujeito e do verbo na oração além de má utilização dos tempos verbais.
Frente à dificuldade em compreender orações complexas as informações nelas contidas ficam sem sentido.
Do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio a complexidade em relação à estrutura das orações aumenta exigindo dos estudantes a compreensão de mensagens implícitas, das ironias e dos trocadilhos.
Alunos com dificuldade no uso da linguagem terão declínio no desempenho acadêmico conforme a evolução e complexidade das diferentes disciplinas.
Os professores, para dar conta das diferentes maneiras que cada aluno tem de se apropriar do conhecimento, devem se utilizar não só da oralidade, mas também de ilustrações, da escrita, enfim de todas as formas de expressão para alcançar seus alunos respeitando assim suas diferentes maneiras de estruturar o pensamento.
O sucesso escolar é possível para aqueles que conseguem utilizar a linguagem com facilidade isso porque as seguidas instruções e informações apresentadas em sala de aula requerem uma certa facilidade em se apropriar de todo o significado das mensagens para acompanhar o ritmo das aulas.
O professor que deseja manter seus alunos motivados deve possibilitar situações de desafio e sucesso para todos e não só para alguns, os eleitos melhores.
É comum a escola estabelecer um trabalho pedagógico que atende a necessidade infantil até o término do ensino fundamental I. A partir da entrada no ensino fundamental II (5a série) há uma mudança brusca no método que desconsidera a assimetria do processo de desenvolvimento pelo qual está passando a criança.
Isso repercutirá em grande angústia para pais e professores que elevam o nível de exigência sem que todos estejam aptos a cumpri-la. Daí o surgimento do mito sobre a quinta série, muitos alunos ainda estão com as características psicossociais bastante infantis e conseqüentemente, sua qualidade de pensamento também.
Os pais que se empenharam na transmissão de valores e referenciais que foram aceitos na primeira infância, passam a ter suas ações e opiniões vistas com desconfiança pelo jovem que não as reconhece mais como universais.
A ocorrência de conflitos é inevitável tanto em relação à aprendizagem de conceitos que exigem uma maior abstração quanto em relação ao comportamento social que passa a exigir escolhas, surgindo turmas, grupinhos, que cobrarão dos jovens mudanças em seu comportamento para que este se sinta “parte” do grupo.
É comum haver uma queda do rendimento escolar no período em que a criança entra na adolescência.
Mesmo o jovem que nunca apresentou grandes dificuldades escolares pode passar por um declínio no seu rendimento escolar e isso não deve ser interpretado como prenúncio de problema na aprendizagem porque quando há uma boa estabilidade na fase de adolescência o jovem volta a se interessar e se empenhar nos estudos.

A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E O ADOLESCENTE
O adolescente encaminhado para atendimento psicopedagógico está vivendo um período muito especial de sua vida. É o reconhecimento de que algo não vai bem com ele somado a um período turbulento de seu desenvolvimento.
A adolescência se somada a problemas na aprendizagem pode levar a um grande sofrimento.
Lamentavelmente, quando encontramos um jovem que apresenta problemas na aprendizagem, constatamos com uma certa freqüência que ele já apresentava um desempenho escolar aquém de suas reais possibilidades, denunciando antigas dificuldades.
Geralmente é uma dificuldade que se arrastou por anos e que somada à turbulência da adolescência toma proporções maiores a ponto de levar os pais a buscar ajuda.
A intervenção psicopedagógica deve trabalhar em paralelo com os pais, marcando encontros regularmente de modo a esclarecer dúvidas sobre a intervenção além de liberar angústias e medos. Isso porque essa proximidade, com os pais possibilita uma parceria onde todos se unem para alcançar algo comum.
Os pais podem se encontrar, de tal forma cansados e decepcionados, que nutrem sentimentos ambivalentes pelo jovem e, proporcionar que eles coloquem esses sentimentos em palavras para melhor lidar com eles é um passo importante para a compreensão e o encontro de equilíbrio entre o que é real, possível em relação ao filho e o que é imaginário e ofusca suas reais possibilidades.Uma boa intervenção psicopedagógica deve alcançar e sensibilizar pais e professores a juntos contribuírem para o não agravamento da dificuldade além de por meio de medidas preventivas, evitar o surgimento de outras.
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