Começam as aulas neste mês. Terei serviço aos montes assim que as primeiras provas aparecerem nas casas para os pais assinarem, como é em todos os anos. Mas, não fico feliz, não.
É realmente triste ver famílias em sofrimento pelos problemas emocionais ou cognitivos dos filhos. Ajudar a superá-los é tarefa dos psicólogos e demais profissionais da saúde, quando necessário.
Os filhos aparecem com notas muito baixas e os pais, depois do terceiro ou quarto sermão irritantemente inútil na construção do estudante perfeito, encaminham os filhos para psicólogos, psicopedagogos e professores particulares.
Caro leitor, eu gostaria mesmo é de trabalhar com mais estimulação às crianças que possuem distúrbios de aprendizagem de base neurológica, estas as que realmente precisam de um diagnóstico seguro, de reabilitação permanente e as que mais demoram a chegar à clínica.
Os que necessitam de apoio psicopedagógico por falta de base educacional adequada e de limites em casa, chegam às clínicas e consultórios, mas não prosseguem o tratamento porque, na maioria das vezes, a mobilização para a mudança é necessária nos pais.
Então, quando os pais descobrem que quem deve mudar são eles próprios antes das crianças, o profissional passa a ser visto com desconfiança e logo o filho evapora do consultório.
Para um pai imaturo, é melhor admitir que errou na escolha do psicólogo ou do fonoaudiólogo do que admitir que vem errando na educação dos filhos. Embora não se considera erro uma má postura dos pais, quando involuntária.
Todos erram, vez por outra, em qualquer campo. Tirar a síndrome da perfeição dos pais é difícil. Muitos, por culpa ou medo do espelho, sequer admitem problemas ou meras dificuldades nos filhos... dar de cara com falhas dói.
Aí entra um dos grandes pilares da escola: o acompanhamento contínuo dos alunos com dificuldades de aprender em sala. Desde o início do ano, desde as primeiras notas baixas, desde os primeiros problemas de relacionamento e de compreensão, desde os primeiros trabalhos não entregues ou mal-feitos.
Chamada dos alunos, dos pais, avaliação pedagógica, tarefas extras e organização de grupos de trabalho no contra-turno e encaminhamento para diagnóstico médico e psicológico são algumas das atribuições de orientadores e coordenadores pedagógicos.
Mas, ANTES DE TUDO, É A OBSERVAÇÀO DO PROFESSOR SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS NAS ATIVIDADES, DESDE O PRIMEIRO DIA, QUE SALVA OS ALUNOS DO FRACASSO ESCOLAR!
Um aluno com um diagnóstico da sua situação de aprendizagem, feita por profissional capacitado, com um trabalho de reabilitação estruturado pela escola e uma família consciente de suas tarefas é o mínimo que se espera para termos Educação com Qualidade. Mas isso só funciona se acontecer no início, quando chegarem as avaliações abaixo do esperado, ainda no bimestre inicial.
O aluno passa por aulas especiais, tarefas diferenciadas, métodos alternativos que em geral funcionam muito bem, com excelentes resultados, alunos aprendendo bem e felizes por isso.
Não é possível esperar que alunos com dificuldades passem por Conselhos de Classe (muitas vezes sedentos do sangue da reprovação-vingança) no final do ano e somente ali sejam aprovados.
Pior ainda é reprová-los, como ainda hoje acontece, sem avaliações adequadas, sem diagnóstico, sem acompanhamento, sem coerência e preparo pedagógico.
Não se fracassa na Escola no final do ano letivo: o fracasso escolar advém do mau aproveitamento e do mau acompanhamento desde o primeiro dia letivo. Assim como o sucesso nos estudos (que é muito mais amplo do que mera aprovação), que advém da observação de professores e pais e o devido acompanhamento desde o primeiro dia de aula.
Psicólogo clínico e institucional; especialista em Neuropsicologia e Aprendizagem e Mestre em Educação e Cultura.
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