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Há anos cientistas vêm tentando esclarecer a aprendizagem humana. Várias teorias foram tomando formas significativas e hoje podemos citar três destas abordagens: comportamentalista, humanista e cognitivista. As duas primeiras são totalmente contraditórias, enquanto que a terceira busca um consenso entre as anteriores. Na teoria cognitivista os mecanismos pelos quais as crianças constroem representações internas de conhecimentos são construídos socialmente. Vemos nesta abordagem uma contribuição mais significativa sobre a aprendizagem humana. Temos, entretanto, muitos casos de crianças que se negam a aprender, apesar desta capacidade ser inerente ao ser humano. Daí a indagação: Qual o poder do inconsciente no significado dos erros da leitura, na operação de cálculos matemáticos, outros erros acadêmicos? Vemos neste espaço um elo intermediário entre as Teorias de Aprendizagem e a Psicanálise.
O homem tem necessidade de conhecer e transformar o meio que o cerca. Isto porque somos dotados do poder de aprender, de escolher uma entre várias hipóteses possíveis. Podemos comparar várias formas para alcançar um fim, conseguimos elaborar planos, executá-los e avaliar os resultados obtidos. A este conhecer dá o nome de aprendizagem. Esta tem, portanto, um papel fundamental na constituição do ser humano.
Durante muitos anos cientistas de diversas áreas vêm tentando esclarecer como então se dá esta aprendizagem. As teorias concernentes a este tema foram tomando formas mais significativas e hoje podemos citar sumariamente três formas bem distinta da concepção de aprendizagem humana: comportamentalista, humanista e cognitivista.
Na abordagem comportamentalista ou behaviorista o conhecimento é visto como uma reprodução do que acontece no mundo externo. Pois, é originado no empirismo, onde todo o conhecimento provém de experiências, atendendo às mudanças do ponto de vista dos que defendem o tipo de comportamento ideal. Para eles a aprendizagem pode ser observada através de aspectos objetivos mensuráveis.
Os adeptos desta corrente psicológica, defendida principalmente por Skinner, acreditam que aprendizagem depende da relação compreendida entre o estímulo e a resposta. Para alguns dos estudiosos desta corrente teórica, o número de tentativas, a quantidade do reforço, a intensidade do estímulo, a inibição reativa e a inibição condicionada são funções essenciais para a aprendizagem. Outros acrescentam que e freqüência e o estímulo positivo favorecem ainda mais.

A teoria humanista segue uma trilha bem diferente, Carl Rogers, o seu principal teórico coloca que o objetivo maior a ser alcançado pelo homem é a sua auto-realização. Ele valoriza este homem em sua totalidade como indivíduo capaz de sofrer modificações e transformar o seu mundo. Com esta nova visão de ser humano, que defende um potencial natural para aprender, deu-se um grande passo a frente não só no sentido de avançar no campo da Psicologia, mas em algo muito mais profundo. O homem agora era valorizado em seu todo e tinha como objetivo maior a sua auto-realização.
Rogers, indiscutivelmente, inovou e revolucionou os conceitos de ser humano e, desta forma, demonstrou o quanto o homem é capaz de crescendo individualmente, levar o conhecimento ao mundo e as pessoas que a cercam. Mas esta abordagem da aprendizagem aplicada à educação deixa a desejar, pois o cotidiano de uma escola necessita de algumas regras e a idéia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade de um trabalho planejado, perdendo-se de vista o que deve ser ensinado e aprendido.

Na abordagem cognitivista, que ficou conhecida como psicologia genética e foi defendida principalmente por Jean Piaget, temos aqui que a aprendizagem se dá na interação com o outro, pois o desenvolvimento pessoal é um processo mediante o qual o ser humano assume a cultura do grupo social a que pertence. O desejo do ser mais a experiência humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente produzida e historicamente acumulada, não se excluem nem se confundem, mas interagem.
"(...) o conhecimento não é visto como algo situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia do real, tampouco como algo que o indivíduo constrói independentemente da realidade exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção histórica e social, na qual interferem fatores de ordem cultural e psicológica." (BRASIL, 1997).
A psicologia genética nos propiciou aprofundar a compreensão sobre o processo de desenvolvimento na construção do conhecimento.
Compreender os mecanismos pelos quais as crianças constroem representações internas de conhecimentos construídos socialmente, em uma perspectiva psicogenética, traz uma contribuição mais significativa, ao nosso ver, sobre a aprendizagem humana. Pois, esta perspectiva respeita o principal critério para que o ato de conhecer seja significativo. Em seus postulados podemos observar que para haver aprendizagem o desejo tem que ser respeitado e o significado do aprender dependem da motivação intrínseca do indivíduo, isto é, este sujeito precisa tomar para si a necessidade e a vontade de aprender ou ainda, precisa tornar consciente o seu desejo.
Temos, entretanto, muitos casos de crianças que se negam a aprender, apesar desta capacidade ser inerente ao ser humano. Daí a indagação: Qual o poder do inconsciente no significado dos erros da leitura, na operação de cálculos matemáticos, outros erros acadêmicos? Quais as razões psicológicas segundo as quais as crianças se tornam incapazes de aprender na escola, embora tenham sido avaliadas como normais na maior parte ou em todos os seus aspectos? Segundo a Psicanálise o homem é sujeito a uma ordem inconsciente e movido por desejos que desconhece. Daí a necessidade de pensarmos sempre o homem como um ser desejante, que para se formar como tal teve primeiro a mãe, se impondo a este sujeito, com as marcas do seu próprio desejo. Com o passar do tempo e com a influência de todo o meio que o cerca, este indivíduo colhe outras informações que o leva à representação de si mesmo e da realidade, formando com isto a base da sua personalidade. Mas para que esta personalidade se estruture de maneira sadia, que não negue ao indivíduo a condição de se assumir como ser desejante, é necessário que lhe sejam favorecidos bons contatos pessoais, possibilitando assim a interação entre esta criança com parceiros experientes e emocionalmente equilibrados dentre os quais destacam-se pais, amigos, professores e outros agentes educativos.
Neste sentido os distúrbios da aprendizagem deste ser, do ponto de vista da história evolutiva dos relacionamentos da criança com o seu meio e com os fenômenos relacionados ao desejo que se busca, se posterga ou se recusa, pode ser visto como um exemplo de negação devido a algum desequilíbrio infligido no seu psiquismo que pode levá-la a um estado de desamparo, uma frustração do ego que não consegue processá-lo causando a sensação de atordoamento no indivíduo. Estes traumas geralmente são vistos pela Psicanálise como disfunções materna ou paterna que provoca uma descontinuidade no sentimento do "ser". Esta sensação está ligada à violência que foi cometida contra este ficando representados no ego da criança e podem vir a tona posteriormente com fatos aparentemente banais, sendo representados em alguns casos através da não aprendizagem escolar.
Para que a aprendizagem aconteça de forma significativa é necessária a harmonia dos fatores extrínsecos e intrínsecos ao ser humano, pois é no não entrelaçamento destes fatores que ocorre o insucesso do aprender.
Diante de um problema posto, é necessário que o sujeito aprendente elabore hipóteses e experimente-as. Fatores e processos afetivos, motivacionais e relacionais são importantes nesse momento. Os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa têm um papel determinante na expectativa que, nas suas motivações e interesses, em seu autoconceito e em sua auto-estima. Assim como os significados construídos por este ser estão destinados a ser substituídos por outros no transcurso das atividades, as representações que tem de si e de seu processo de aprendizagem também.
Vemos neste espaço um elo intermediário entre as Teorias de Aprendizagem e a Psicanálise. Os conceitos do inconsciente, subjetividade, interioridade, expressividade e afetividade, referentes aos estudos da Psicanálise expressam a idéia da construção da liberdade do ser. Sua transposição para a educação sistemática, que para poder se constituir necessita de normas, socialmente viáveis, mas que percebam os seres que a elas estão destinados, torna-se evidente.
O que o ser anuncia e se evidencia no grupo, com vistas à formação do cidadão com competência e afetividade para sobreviver na sociedade, acredito ser o eixo de cruzamento entre a Psicanálise e Educação. E pode ser este um caminho viável a ser percorrido no sentido de unir estas duas ciências, buscando achar respostas para o insucesso na aprendizagem de muitos dos nossos alunos.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1997. KLEIN, M. A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego. Em M. Klein. Contribuições à Psicanálise, S. Paulo, Editora Mestre Jou, 1981. MIZUKAMI, Maria das Graças Nicoletti. Ensino - As abordagens do processo, São Paulo - EPU, 1996. MILHOLLAN, Frank e FORISHA, Bill E.. Skinner X Rogers: Maneiras e contrastes de encarar a educação. São Paulo, Summus Editorial, 1978. MOREIRA, Marco Antônio. Ensino e Aprendizagem, enfoques teóricos. São Paulo, Editora Moraes, 1985. OLIVEIRA, Vera Barros e BOSSA, Nádia A. (Orgs.). Avaliação Psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis, Editora Vozes, 1999. ZIMERMAN David E.. Fundamentos Psicanalíticos - Teoria, técnica e clínica. São Paulo, Artmed, 1999.
Hildevana Meire Almeida

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