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Márcia Goulart Tozzi Pego - Pedagoga e Psicopedagoga; Mestre em Psicopedagogia pela Universidade de Santo Amaro autora do livro: a Representação Simbólica na Clínica Psicopedagógica, Ed. Vetor.
algumas informações sobre um período tão importante do desenvolvimento humano que é a adolescência. Isso porque, é importante ao psicopedagogo, frente um adolescente com problemas na aprendizagem, entender as características comuns a este período de modo a ajudar os pais a obterem uma melhor compreensão da fase pela qual passa o filho e poderem juntos discriminar o que é fruto de problemas na aprendizagem e o que faz parte de uma etapa de desenvolvimento normal dos sujeitos, de maneira a ser realizada uma adequada intervenção.

A adolescência não é conhecida como um período temido à toa. Se observarmos os estágios do desenvolvimento humano, poderemos perceber que a adolescência é um período relativamente curto se considerarmos o grande número de transformações a que o sujeito nesta fase é submetido.
Há uma verdadeira revolução que leva a mudanças biopsicossociais.
O surgimento da puberdade, marco de todo esse processo, inicia a entrada do sujeito no mundo adulto. Esta fase é caracterizada por toda uma série de transformações, adquirindo o corpo, as características sexuais secundárias que causarão a definitiva perda do corpo infantil.
A velocidade com que essas mudanças corporais ocorrem pode não ser acompanhada pela necessária mudança em relação à representação mental do próprio corpo, daí a freqüência com que se encontra adolescentes desajeitados.
Isso se deve pelo fato de as alterações corporais que surgem serem mais rápidas que o desenvolvimento da percepção e representação mental.
Há, conseqüentemente, mudanças no comportamento emocional, social e intelectual, isso porque o pensamento que dá um salto no desenvolvimento, passará a funcionar das operações concretas para as abstratas.
O pensamento formal começa a se estruturar a partir dos 11/12 anos. A adolescência é o período no qual se espera que o jovem supere as características do raciocínio lógico concreto e possa estruturar seu pensamento a partir de conceitos abstratos. Passando a relacionar e pensar sobre conteúdos aprendidos e sobre fatos vividos ou imaginados.
O estágio das operações formais será alcançado segundo o estabelecido das fases de desenvolvimento anteriores a ele, e sobre as quais irá alicerçar-se.
A criança que internalizou as figuras parentais e o ambiente segundo o desenvolvimento de sua percepção, passando pelos estágios sensório motor, pré-operatório e operatório concreto terá, com o aprimoramento de sua cognição para as operações abstratas, uma diferente percepção do mundo.
Isso quer dizer que amplia sua percepção do ambiente, passando a manipular idéias quando antes se limitava a manipular objetos. A aquisição da capacidade de abstração e interpretação possibilita refletir sobre situações abstratas, relacionando-as com outras informações e fazer julgamentos. Isso a leva a escolher para si novos valores.
A conseqüência disso recai imediatamente nas figuras parentais que passarão a ser vistas sobre um outro prisma e, com isto, o questionamento às regras e a freqüente rejeição a qualquer idéia ou sugestão vinda deles.
Alterada sua percepção do mundo também terá mudado seus gostos e interesses. Passando a fazer escolhas anteriormente rejeitadas e a se aproximar de pessoas diferentes. Mudam-se os gostos e simpatias.
É uma passagem evolutiva que depende não só de aspectos relacionados à individualidade do sujeito como também do sistema familiar e social do qual ele participa.
Teremos então um sujeito que, simultaneamente às alterações físicas, sofrerá mudanças nos aspectos emocionais, sociais, sexuais e intelectuais. No entanto, apesar dessas mudanças serem desencadeadas simultaneamente, elas evoluirão em ritmos diferentes, repercutindo em um processo de desenvolvimento assimétrico.
A nível orgânico, o término desse processo irá ocorrer aproximadamente aos 16 anos. Não há, no entanto, uma idade limite rígida, havendo a possibilidade de variações segundo cada um.
No entanto, se o organismo tem uma idade aproximada para o fim da adolescência esta fase não se reduz apenas às alterações físicas, mas também psicossociais. Daí que o término da adolescência será considerado a partir da conquista pelo sujeito da maturidade biopsicossocial.
Quanto aos aspectos sociais que determinarão o término da adolescência, estes variarão segundo a cultura e o grupo no qual o jovem está inserido, pois serão suas exigências e expectativas que contribuirão ou retardarão a entrada do sujeito no mundo adulto.

O ADULTO FRENTE O ADOLESCENTE
As inevitáveis modificações físicas e orgânicas desta fase ocasionam um olhar diferente por parte do adulto, pais e professores, que passam a cobrar dos jovens posturas “adultas” segundo as aquisições culturais do grupo.
Submetido às pressões dos grupos sociais surgirão mudanças na personalidade que por um tempo oscilará entre o surgimento de comportamentos ora infantis, ora adultos.
O mundo adulto que antes protegia o jovem passa a cobrar-lhe maturidade segundo as características físicas recentemente adquiridas, sem compreender a desigualdade no desenvolvimento do sujeito que ora se apresenta como adulto, ora como criança.
O jovem, na busca de seu lugar no mundo passa a procurar além do círculo familiar, ajustar-se aos padrões de outros grupos.
O casal parental, quando recorre ao atendimento psicopedagógico de um filho adolescente, apresenta-se freqüentemente com sentimentos de menos valia em relação a seus papéis de pais. Sentem-se confusos com o crescimento dos filhos que já não aceitam sua autoridade e idéias sem questionamento.
O enfrentamento que o jovem passa a manifestar contra qualquer situação que, mesmo remotamente, o lembrem de seu período de infância, leva os pais a responderem com diferentes comportamentos. Alguns apresentam reação depressiva, geralmente as mães, pela perda que sentem da maior proximidade que costumavam ter com os filhos, sendo o crescimento e conseqüente independência, recebido com tristeza e até com o surgimento de distúrbios psicossomáticos.
Encontramos pais absolutos sobre o que é certo e o que é errado em opiniões e atitudes as quais impõe ao jovem, sem considerar sua possibilidade em diferir.
Há pais indiferentes que se omitem em dialogar com o jovem, ou por acharem que ele precisa se decidir sozinho, sem interferência ou por se ressentirem do comportamento desafiador deste e assim deixam o jovem opinar e agir sem parâmetros, pois não há com quem ele possa diferir de opinião. E pais negociadores que, conscientes do poder de decisão que lhe compete enfrentam e argumentam, não temendo contrariar o jovem e nem reconhecer quando este tem razão.
A entrada do filho na puberdade pode ser uma fase de grande sofrimento para pais que se ressentem da perda do corpo infantil. Esse sentimento de perda pode ser indício de problemas se for acompanhado pela negação da natural e crescente autonomia dos filhos.
Observamos com certa freqüência que o jovem que é submetido a uma proteção exagerada, traz consigo prejuízos pela falta de possibilidade de independência e individuação decorrentes da superproteção. Conseqüentemente, apresenta prejuízos no seu potencial criativo e de resolução de problemas.
A falta de possibilidades em tornar-se gradualmente independente culmina em uma entrada na adolescência permeada de insegurança e vergonha pela falta de capacidade em se cuidar sozinho. Isso inevitavelmente repercute em crise no relacionamento com os pais que, acostumados a exercer uma postura superprotetora, entrarão em confronto com o comportamento adolescente de busca de liberdade e enfrentamento aos limites.
Há pais que não se dão conta de que suas preocupações podem sufocar e/ou minar qualquer potencial que o filho possa ter em sua vida.
Alguns pais podem sentir, no crescimento e autonomia dos filhos, a evidência de seu envelhecimento e tornam-se confusos com a sobra de tempo que surge em decorrência de não serem mais tão necessários.
O casal parental pode ter pendente o enfrentamento de questões de seu relacionamento que o cuidado com os filhos ajudaram a protelar. Ter tempo sobrando por não ser mais tão necessário ao filho exigirá um reposicionamento que o casal, muitas vezes, não está preparado para viver.
A ênfase no insucesso que o jovem apresenta, em alguns casos pode ser interpretada como uma maneira de aproximação mantendo os pais em uma posição de cuidados e atenção semelhante aos primeiros anos escolares.
Para muitos pais isso se torna motivo de grandes brigas e recriminações sobre o filho.
As excessivas queixas dos pais podem levar o jovem a mergulhar em um espaço onde só há o errado em sua vida.
O jovem desprovido de qualquer qualidade embarca nas queixas e lamentações que a escola e pais fazem dele, deixando perdida qualquer possibilidade de sucesso.
Às vezes é dotado de qualidades tão diferentes do que a família espera dele que elas passam despercebidas.
Despertar o interesse do jovem pelos estudos e pela busca de caminhos de realização tem relação direta com experiências de sucesso. Isso porque ser bem sucedido desperta o sujeito para a realização de atividades enquanto que, o mau desempenho, o afastará das tentativas de realização. Possibilitar uma visão real sobre os talentos do jovem e prestigiá-lo justamente, sem excessivas críticas, é a melhor postura para ajudá-lo em sua conquista do mundo adulto.
Frente à constante recusa dos jovens em acatar suas palavras, alguns pais passam a sofrer e considerar que educaram mal os filhos, interpretando a necessidade que estes tem de manifestar idéias próprias como desafios à sua autoridade e falta de respeito.
O jovem tende a interpretar a dependência como uma característica infantil e passa a confundi-la com a autoridade dos pais, indo contra qualquer pedido ou sugestão destes por considerá-los manipulação. É uma ação de recusa em continuar criança, uma demonstração de que já é capaz de ter vontade própria.
As mudanças físicas, psicológicas e sociais que ocorrem repercutem na conscientização de que não são mais crianças e passam a ser mais forte em suas exigências, entendem que ser independente é fazer o que tem vontade e isso levará a conflitos por ainda serem dependentes economicamente.
Lamentavelmente existe a tendência nas famílias de utilizarem os aspectos econômicos como o elo mais forte ao qual mantém os jovens submetidos, utilizando-se deles com freqüência para impor sua vontade.
O sujeito superará a fase de adolescência quando ultrapassar a necessidade de oposição e auto-afirmação, ouvindo com tranqüilidade opiniões diferentes das suas sem sentimentos de ameaça à sua pessoa, bem como aceitar para si as idéias que lhe transmitem que lhe são convenientes.


O ADOLESCENTE E A ESCOLA
O período em que se desenvolve o pensamento formal é a adolescência e este período será mais bem desenvolvido quanto melhor estiver a vivência social do sujeito, o que dá à escola um papel muito importante.
Enquanto o desenvolvimento das fases anteriores ocorre independente da criança ir ou não à escola, o bom desenvolvimento do pensamento formal está relacionado à interação entre o desenvolvimento maturacional e as experiências de vida.
O gradual desenvolvimento que ocorre em cada estágio envolve condutas sociais que levarão a criança a confrontar-se com situações, onde lhe é exigido considerar o outro em detrimento da realização de seus desejos. A princípio voltada só para seus desejos, não considera ou percebe desejos e opiniões que não são dela.
A descentração que ocorre então, possibilitará a interação entre as idéias que o sujeito traz com as de outros, repercutindo em uma troca que, para ocorrer satisfatoriamente, exigirá de cada sujeito envolvido que se comunique de modo organizado e claro de maneira que consiga sustentar sua opinião.
O papel da escola neste período é de fundamental importância pelo leque de experiências sociais que oferece aos jovens e pelo exercício constante que exige deles na elaboração de seu pensamento, na medida que utiliza a linguagem para a transmissão de informações e cobra do jovem a organização destas, e da sua própria maneira de comunicá-las.
A vida acadêmica exige um desenvolvimento crescente das aquisições que envolvem a linguagem trazendo vocabulários diferentes dos utilizados e que são muitas vezes difíceis de associar a palavras conhecidas. A evolução da linguagem passa da utilização de palavras de sentido concreto para o abstrato.
A escola não só oferece palavras novas, mas também utiliza uma estrutura de frases onde o sujeito da oração não está imediatamente após ou antes do verbo e, nem sempre aparece, o que pode levar alguns alunos a se confundirem ao tentar compreender as informações.
As regras gramaticais podem levar a conflitos daí encontrarmos jovens que se expressam com palavras ou frases curtas, de modo a não se verem obrigados a porem o pensamento em ordem na oração.
Esses jovens, não conseguem organizar suas idéias de modo a transformá-las em orações compreensíveis.
Percebemos em suas verbalizações e produções escritas, ordem confusa na colocação do sujeito e do verbo na oração além de má utilização dos tempos verbais.
Frente à dificuldade em compreender orações complexas as informações nelas contidas ficam sem sentido.
Do Ensino Fundamental II ao Ensino Médio a complexidade em relação à estrutura das orações aumenta exigindo dos estudantes a compreensão de mensagens implícitas, das ironias e dos trocadilhos.
Alunos com dificuldade no uso da linguagem terão declínio no desempenho acadêmico conforme a evolução e complexidade das diferentes disciplinas.
Os professores, para dar conta das diferentes maneiras que cada aluno tem de se apropriar do conhecimento, devem se utilizar não só da oralidade, mas também de ilustrações, da escrita, enfim de todas as formas de expressão para alcançar seus alunos respeitando assim suas diferentes maneiras de estruturar o pensamento.
O sucesso escolar é possível para aqueles que conseguem utilizar a linguagem com facilidade isso porque as seguidas instruções e informações apresentadas em sala de aula requerem uma certa facilidade em se apropriar de todo o significado das mensagens para acompanhar o ritmo das aulas.
O professor que deseja manter seus alunos motivados deve possibilitar situações de desafio e sucesso para todos e não só para alguns, os eleitos melhores.
É comum a escola estabelecer um trabalho pedagógico que atende a necessidade infantil até o término do ensino fundamental I. A partir da entrada no ensino fundamental II (5a série) há uma mudança brusca no método que desconsidera a assimetria do processo de desenvolvimento pelo qual está passando a criança.
Isso repercutirá em grande angústia para pais e professores que elevam o nível de exigência sem que todos estejam aptos a cumpri-la. Daí o surgimento do mito sobre a quinta série, muitos alunos ainda estão com as características psicossociais bastante infantis e conseqüentemente, sua qualidade de pensamento também.
Os pais que se empenharam na transmissão de valores e referenciais que foram aceitos na primeira infância, passam a ter suas ações e opiniões vistas com desconfiança pelo jovem que não as reconhece mais como universais.
A ocorrência de conflitos é inevitável tanto em relação à aprendizagem de conceitos que exigem uma maior abstração quanto em relação ao comportamento social que passa a exigir escolhas, surgindo turmas, grupinhos, que cobrarão dos jovens mudanças em seu comportamento para que este se sinta “parte” do grupo.
É comum haver uma queda do rendimento escolar no período em que a criança entra na adolescência.
Mesmo o jovem que nunca apresentou grandes dificuldades escolares pode passar por um declínio no seu rendimento escolar e isso não deve ser interpretado como prenúncio de problema na aprendizagem porque quando há uma boa estabilidade na fase de adolescência o jovem volta a se interessar e se empenhar nos estudos.

A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E O ADOLESCENTE
O adolescente encaminhado para atendimento psicopedagógico está vivendo um período muito especial de sua vida. É o reconhecimento de que algo não vai bem com ele somado a um período turbulento de seu desenvolvimento.
A adolescência se somada a problemas na aprendizagem pode levar a um grande sofrimento.
Lamentavelmente, quando encontramos um jovem que apresenta problemas na aprendizagem, constatamos com uma certa freqüência que ele já apresentava um desempenho escolar aquém de suas reais possibilidades, denunciando antigas dificuldades.
Geralmente é uma dificuldade que se arrastou por anos e que somada à turbulência da adolescência toma proporções maiores a ponto de levar os pais a buscar ajuda.
A intervenção psicopedagógica deve trabalhar em paralelo com os pais, marcando encontros regularmente de modo a esclarecer dúvidas sobre a intervenção além de liberar angústias e medos. Isso porque essa proximidade, com os pais possibilita uma parceria onde todos se unem para alcançar algo comum.
Os pais podem se encontrar, de tal forma cansados e decepcionados, que nutrem sentimentos ambivalentes pelo jovem e, proporcionar que eles coloquem esses sentimentos em palavras para melhor lidar com eles é um passo importante para a compreensão e o encontro de equilíbrio entre o que é real, possível em relação ao filho e o que é imaginário e ofusca suas reais possibilidades.Uma boa intervenção psicopedagógica deve alcançar e sensibilizar pais e professores a juntos contribuírem para o não agravamento da dificuldade além de por meio de medidas preventivas, evitar o surgimento de outras.
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1 comentários:

  1. Olá, parabéns pelo blog, sou Valeria Tiusso, psicopedagoga e mantenedora do site www.psicopedagogavaleria.com.br onde ministramos oficinas online de atualização profissional, por favor me envie um e-mail para atendimento@psicopedagogavaleria.com.br para que eu possa lhe enviar uma parceria.

    Abraços

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